sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

FME 30 anos


FME 30 anos

Notas para um álbum histórico


Por F. Ventura


Este ano comemoramos 30 anos de criação da Escola de Música Mestre Elísio José de Souza que, dirigida pelo mestre Bubu, viabilizou a formação da Banda de Música (atual Filarmônica) Mestre Elísio. Mais recente formação de música instrumental, esta herda a tradição de bandas na cidade de Piranhas com sua conexão mais remota às atividades do maestro José Emiliano de Souza e à Philarmonica Piranhense, no início do século 20.
Professor de ensino primário, compositor e regente, José Emiliano foi uma personalidade bem estimada nesta parte do sertão alagoano, não obstante os piranhenses hoje ignorarem seu passado ilustre. Sua atuação mantinha pontos de contato com a tradição de bandas da vizinha cidade de Pão de Açúcar, especialmente revela uma amistosa relação com o maestro de origem pernambucana Abílio Mendonça (1879-1963) – radicado naquela cidade, antes do advento do grande Mestre Nozinho (1895-1960) e a Sociedade Musical Guarany, fundada em 1918.
Uma amostra do intercâmbio que havia está registrada no periódico A Ideia (1910-1911), da cidade de Pão de Açúcar, que em junho de 1910 publica:

"PHILARMONICA PIRANHENSE
 A convite do commercio, veio abrilhantar a 
novena por este patrocinada, esta destincta 
corporação musical, regida pelo competente 
maestro José Emiliano de Souza. Após a 
novena, em que a philarmonica piranhense 
exibiu repertorio rico de lindas composições, 
foi-lhe offerecida singela manifestação por 
parte do commercio, em casa do Snr. Olegario 
Simas; orando nesta occasião em nome do 
commercio agradecido, Alvaro Machado e em 
nome da philarmonica seu regente José 
Emiliano de Souza. 
Terça-feira accompanhada até o porto pela 
marcial daqui e por grande numero de 
commerciantes, a philarmonica piranhense 
tomou passagem na “Moxotó”, deixando 
recordações, pela sympathia que soube inspirar 
em toda população daqui."

Por sua vez, o maestro da philarmonica piranhense faz publicar a seguinte nota de agradecimento:
"AGRADECIMENTO
Chamado a funcionar na 6ª noite da brilhante festividade do S. S. Coração de Jesus, cuja noite estava ao encargo do corpo commercial dessa cidade, venho pela imprensa agradecer aos dignos cavalheiros:
Alvaro Machado, Pereira Filho, Manoel Gonzaga de Campos Machado, a maneira afavel e delicada com que trataram-me, e bem assim os meus companheiros de arte. Aproveitando a opportunidade venho também agradecer aos illustres Snrs. Cel. Luiz José, Cel. Miguel Machado, Rvmo. Vigario Pe. Julio de Albuquerque e a destincta corporação musical derigida pelo habil maestro Abilio Mendonça. A todos minhas expressões vivas de sincero reconhecimento.
Piranhas, 8 de junho de 1910.
José Emiliano de Souza."

Da cidade de Penedo, o periódico A Fé Cristã (1902-1907), 5 anos antes de A Ideia, registra o que parece ser a mais antiga referência à atuação musical do maestro José Emiliano na cidade de Piranhas – pelo menos até onde a pesquisa atual pôde alcançar, haja vista que não existe o menor vestígio da produção original do compositor, partituras ou material didático de que dispunha.

"COMMUNICADO
Com relação ao exercicio mariano nos transmitiram de Piranhas as seguintes linhas:
– Com grande concurso de pessoas encerrou-se o Mez Mariano nesta villa, sendo o acto revestido do maior brilhantismo e pompa religiosa. Os habitantes de Piranhas e seus arredores affluiam desde o alvorecer, tirando longas jornadas, afim de assistirem com attenção que é peculiar aos habitantes destas plagas, à missa cantada pelo Rvmo. Pe. José Nicodemos, na qual se exhibiu a orquestra, hábil e competentemente regida pelo maestro José Emiliano, que nos deliciou com um Credo, primorosa composição sua."
(A Fe Christã, 1905)

É a esta tradição centenária que a Filarmônica Mestre Elísio se reporta quando hoje, nos 30 anos do restabelecimento da banda municipal, reverencia os mestres músicos do passado que fizeram história na cidade de Piranhas: José Emiliano de Souza, Avelino Oliveira, Manoel Vieira Ramos (Vieirinha), Elísio José de Souza, Afrânio Menezes Silva (Bubu), Cícero Francisco de Brito (Cafau), Damião Ferreira Lima e Cícero Campos de Brito. Entre estes, é preciso fazer menção especial ao Mestre Nemésio Teixeira (1904-1978), que não foi regente de banda; músico clarinetista e professor de música, ele foi responsável na década de 1950 pela iniciação musical daquele que viria revelar-se como o maior expoente musical já nascido nesta cidade: Egildo Vieira (1947-2015).




Nota: Referências aos jornais de época foram extraídas da recente pesquisa de Billy Magno (a quem agradecemos) que, focado na história dos que fizeram a música instrumental na cidade de Pão de Açúcar, tem descoberto afinidade destes com a música praticada na cidade de Piranhas no início do século, o que nos tem ajudado a revelar parte importante de nossa história. 





domingo, 30 de dezembro de 2018

João e Jorge (Maxixe ♪ 1919)



(Áudio ilustrativo produzido no programa Sibelius com o Noteperformer integrado)

JOÃO & JORGE

Maxixe de autor anônimo
Por Billy Magno[i]

Quase no final da Belle Époque, em 1919, na cidade de Pão de Açúcar-AL, o clarinetista, violinista, futuro contrabaixista e compositor Américo Castro Barbosa (1903-1967), na época executante de requinta e copista na banda de música da Sociedade União e Perseverança (cujo maestro na época era o seu irmão Manoel Victorino Filho[ii]) eterniza na pauta, no dia 3 de outubro, os compassos do maxixe João e Jorge.
Américo Castro Barbosa
De autoria não creditada (talvez por descuido do copista, o que não era incomum na época) e escrito no verso (outra prática comum daquele  período) da valsa Guiomar  (1915) do compositor e maestro Agérico Lins (1862-1935), esse maxixe ao que parece teve pouca repercussão na época e por isso mesmo acabou se tornando um autêntico lado B. Só seria lembrado 25 anos depois, em 1944 na sua primeira revisão quando no dia 7 de junho Mestre Nozinho adiciona uma parte para saxofone alto (inexistente na orquestração original), já a parte do piston seria refeita no dia 30 do mesmo mês.
É de se observar que das partes originais de 1919 as únicas não localizadas foram as de 1º e 2º piston, sendo que na parte refeita encontra-se grafado somente Piston, sem designação de posição, dando a entender que não existia parte para o 2º piston na orquestração original. Logicamente se existisse, teria sido automaticamente refeita em 44.
Nesta segunda revisão feita em dezembro deste ano de 2018 por Flavio Ventura[iii] sob minha supervisão, pela primeira vez temos as terceiras vozes com o acréscimo do 3º clarinete, 3º trombone e 3ª trompa, 2º e 3º pistons, sax tenor, sax barítono e flautim/flauta (que não constam da instrumentação original), assim como foram revisadas as partes de sax alto e (1º) piston da revisão de 1944 e todas as primitivas de 1919. Foram eliminados os erros costumazes dos copistas, principalmente de harmonia, sem prejuízo da intenção original do compositor.
Em linhas gerais, o maxixe João e Jorge é uma obra muito bem acabada, cumprindo muito bem o papel a que se presta: a dança.
Com uma introdução forte e primeira parte em dó menor, já na segunda parte temos uma modulação para mi bemol com um breve retorno ao primeiro tema seguindo depois para o trio agora em dó maior com uma parte mais calma para retornar ao primeiro tema, concluindo a obra em modo menor. Obra que une beleza melódica com pujança rítmica atestada na forma sacudida com que o baixo conduz toda a peça, amparando a melodia e sugerindo todos os requebros do maxixe. Prestes a completar 100 anos e graças ao sr. Antônio Melo Barbosa[iv], que tão bem preservou esta e outras obras em seu acervo particular, temos a primeira edição do maxixe João e Jorge, totalmente revista e ampliada, livre dos preconceitos que tanto tolheram a criatividade de seus autores (ao ponto de muitos deles se esconderem sob o manto do anonimato), hoje tão injustamente esquecidos e a quem procuramos, com a edição deste trabalho, fazer justiça.

São Paulo, dezembro de 2018



Pequena história do maxixe em Alagoas
                                                                
                                                      
Na definição do pesquisador e crítico musical José Ramos Tinhorão (*1928) o maxixe é uma “forma malandra e exagerada de dançar a polca-tango, que acabaria por fazer surgir o maxixe como gênero musical autônomo”.
La Matchiche (Edouard Stebbing)
No livro Maxixe – A Dança Excomungada, de 1974, Jota Efegê (1902-1987) afirma que a primeira citação ao ritmo apareceu na propaganda de um baile de carnaval que iria acontecer no Clube dos Democráticos no Rio de Janeiro, publicada no Jornal do Brasil, em fevereiro de 1883. O nome, tomado emprestado da hortaliça, faz uma associação irônica a seu pouco valor. (MACHADO, 2015)
O teatro de revista, que fazia uma crítica acirrada aos costumes durante o período da Belle Époque, em breve se apropriaria do gênero. Escrita por Arthur Azevedo, A República estreou em 26 de março de 1890 e foi responsável por popularizar o primeiro grande sucesso do maxixe, intitulado As Laranjas da Sabina(MACHADO, 2015)
Apesar de as poucas músicas que chegaram a ser editadas se encontrarem sempre em forma de redução para piano, foi na Banda de Música que o maxixe encontrou o seu mais expressivo meio de execução. Antes mesmo das primeiras gravações e bem antes do rádio, eram as bandas (civis e militares) a forma mais popular de divulgação deste gênero, além de ser em muitos lugares o único meio disponível para se ouvir música. É certo que existiam os saraus com pequenas orquestras ou música executada ao piano, porém, eram formas restritas à elite da época, estando os coretos das praças para o povo como os teatros para os endinheirados.         
Teatro Maceioense (1846-1911)
 O maxixe parece ter chegado a Alagoas em meados da última década do século XIX. Uma das primeiras citações ao gênero, mas se referindo à dança e não à música – esta chegaria pouco depois e mesmo assim disfarçada de tango –, aparece em 07/12/1898 na edição nº 107 do jornal O Orbe, num conto denominado A cartola do tio: “Uma das bandas federaes executava um maxixe, e, em tudo que alli estacionava – cousas ou individuos, real ou apparentemente, havia um saracoteamento languido e voluptuoso ao passo d'aquella adoravel e diabolica tentação acustica”.
Seria ele colocado em prática no ano seguinte e, acredite se quiser, numa encenação de Fausto, de Goethe, como narra o crítico Aristobulo, do jornal Gutenberg: “Notamos o correcto valsar de Josephina Ely[v] e Delphica de Araujo[vi] que n'um desmanchamento por demais dengoso machucaram n'uns requebros de maxixe, inadmissiveis no entrecho da obra de Goethe”.
Josephina Ely em 1922.
          É na virada do século, bem dentro da chamada Belle Époque alagoana que surgem ou se firmam compositores que cultivam o gênero em todo o estado, como veremos mais adiante, estando esses à altura dos melhores compositores da matriz carioca.
         Por ser sua dança considerada lasciva e de forte apelo sexual, logo o maxixe seria taxado de vulgar e chulo, considerado de mau gosto, despachado como música das classes mais baixas, perseguido e atacado pela elite moralista da época tendo a igreja católica na linha de frente, não sendo diferente em Alagoas como atesta o artigo intitulado Companhia Molasso, publicado na edição nº 165 de 01/12/1916 do jornal O Semeador:

Por mais que sem nenhum outro interesse, como é claro, que não pela moralidade dos nossos costumes, brademos contra os maus theatros, cada dia, num despreso e revolta, num desrespeito formal pelas nossas tradições de povo simples e honesto, os theatros como que de proposito procuram offender a dignidade da nossa gente. Assim é que hoje a Companhia Molasso vae apresentar espectaculos de maxixe e tango, e no grande theatro da terra. É muito triste! Dizem que quando a imprensa catholica protesta contra os maus theatros, a enchente é maior. Pouco nos importa isso. Cumprimos com o nosso dever. Demais conhecemos bem as nossas familias e por isso temos a certeza de que a apregoada enchente não será de pessoas pouco escrupulosas no que diz os bons costumes. O theatro Deodoro, hoje não deve ser frequentado, principalmente pelas nossas dignas familias tão respeitaveis pelas suas conhecidas virtudes, que não devem ser expostas aos perigos evidentes dos maus theatros.

 Os compositores, patrulhados, foram obrigados a escondê-lo sob a forma de outros gêneros sendo o mais comum o tango, que na sua forma brasileira parece ter como única semelhança com o irmão argentino o compasso binário. Outros que assinaram o gênero se esconderam sob pseudônimo ou ficaram propositadamente no anonimato e somente pouquíssimos assumiram o gênero e a identidade. As primeiras partituras a assumir o gênero só aparecem por volta de 1902/1903.
Jornais da época, como o Gutenberg, divulgavam espetáculos teatrais que tinham o ritmo como trilha sonora.
De cima para baixo:
os atores João de Deus e
Esther Bergerat;
o autor teatral Rodrigues de Melo;
a atriz chilena Aminta Circe e
o ator Brandão Sobrinho
Os atores João de Deus[vii] e Esther Bergerat[viii] cantam em dueto a cançoneta "O Maxixe", na peça apresentada em 3 atos, com tradução de Lucio Pires, "Os maridos da viuva" de C. Grenet e Dancourt, apresentada em 1910 no recém inaugurado Theatro Deodoro e tendo a orquestra regida por Benedicto Silva (1859-1921), o versátil compositor alagoano.
O maestro Benedicto, aliás, musicara as revistas de costumes de Manoel Rodrigues de Mello (1876-1946) "Maceió na rua" (1908)[ix], encenada com grande sucesso no velho e modesto teatro Maceioense[x] e uma das primeiras peças encenadas no Theatro Deodoro: "Maceió moderno" (1911), do mesmo autor cujo score estava repleto de maxixes.
De 1911 é também o espetáculo Bella Zazá, que estreara em abril no cinema Helvética – inaugurado menos de dois meses antes do Deodoro – onde (como noticiado pelo Gutenberg de 12 de abril) na última cena era dançado o famoso maxixe "O corta-jaca", de Chiquinha Gonzaga (1847-1935), em que a dançarina “com muita graça erguia os folhos[xi] do saiote para que com maior liberdade os seus travessos pés dessem nas táboas do palco os ameudados[xii] talhos característicos da cançoneta”.
Um ano antes, em março e também no Helvética, num programa que exibia em sua primeira parte três filmes (comédias curtas) e na segunda parte números musicais, os atores Brandão Sobrinho[xiii] e Aminta Circe[xiv] cantam em dueto um número chamado "Maxixe Aristocrata".
A Maceió da Belle Époque não ficaria imune ao maxixe, nascido pelas mãos dos negros na segunda metade do século XIX no Rio de Janeiro, logo se espalhando por todo o país e depois pelo mundo.
Em Alagoas, os principais compositores incorporam o maxixe ao seu repertório: Valério de Farias Pinheiro, Benedicto Silva e Agérico Lins contribuem significativamente para a música brasileira ao comporem também o seu próprio material original.
A partir de meados da década de 1920, o maxixe gradativamente vai perdendo terreno para o samba que se popularizava desde o carnaval de 1917 com a gravação de Pelo Telefone (de Donga[xv] e Mauro de Almeida[xvi]) e já na década seguinte era considerado coisa do passado. Saia de cena o que hoje é considerado o nosso primeiro ritmo urbano.




REFERÊNCIAS

DICIONÁRIO CRAVO ALBIN (edição on-line). Maxixe. Disponível em: <http://dicionariompb.com.br/maxixe/dados-artisticos> Acesso em: 28 de dezembro de 2018.
LIMA JUNIOR, Félix. Maceió Antigo. Diário de Pernambuco, Recife, 10 fev. 1952. 2ª seção, nº 00035.
Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/029033_13/9704> Acesso em: 2 de dezembro de 2018.
MACHADO, Sandra. O excomungado maxixe, 2015. Disponível em: <http://www.multirio.rj.gov.br/index.php/leia/reportagens-artigos/reportagens/1047-o-excomungado-maxixe> Acesso em: 11 de setembro de 2018.
SANT’ANA, Moacir Medeiros de. Benedito Silva e sua época. Maceió: Arquivo Público de Alagoas/SENEC, 1966.
TICIANELI. Rodrigues de Melo, negro triunfante num mundo de hegemonia branca. In: História de Alagoas (on-line), 2016. Disponível em: <https://www.historiadealagoas.com.br/rodrigues-de-melo-negro-triunfante-num-mundo-de-hegemonia-branca.html> Acesso em: 27 de dezembro de 2018.

JORNAIS E PERIÓDICOS:

Cidade do Rio nº 181 de 13-08-1889.
Correio da Manhã. (RJ) nº 20031 de 16-07-1958.
Gazeta de Noticias  (RJ) nº 208 de 05-09-1911.
Gutenberg (Órgão da Associação Typographica Alagoana de Socorros Mutuos), O. edição nº 181 de 26-08-1899, nº 244 de 03-11-1907, nº 87 de 21-04-1908, nº 259 de 01-12-1910, nº 51 de 10-03-1911 e nº 78 de 12-04-1911.
Imprensa, A. nº 202 de 28-06-1908.
Jornal, O. (RJ) nº 3564 de 27-06-1930.
Jornal do Brasil nº 89 de 30-03-1902 e nº 199 de 18-07-1911.
Jornal do Commercio (RJ) nº 264 de 23-09-1919.
Jornal de Theatro e Sports nº 255 de 27-09-1919.
Noite, A. (RJ) nº 3720 de 14-04-1922 e nº 8803 de 23-07-1936.
Noticia, A. (RJ) nº 70 de 25-11-1894 e nº 199 de 25-08-1911.
Orbe, O. nº 107 de 07-12-1898.
Paiz, O. (RJ) nº 16685 de 27-06-1930.
Republica, A. (RJ) nº 90 de 21-04-1891.
Semeador, O. nº 165 de 01-12-1916



[i] BILLY MAGNO nome artístico de Williams Magno Barbosa Fialho (Pão de Açúcar-AL 05/07/1978). Músico multi-instrumentista e arranjador. Na adolescência, foi estudar orquestração e regência em Salvador (BA). Iniciou na profissão em 1984 e teve como professores José Ramos dos Santos e Paulo Henrique Lima Brandão (teoria), Petrúcio Ramos de Souza (orquestração e regência), Maria Mercedes Ribeiro Gomes (piano) José Ramos de Souza (saxofone) e Edvaldo Gomes (contraponto), tendo ainda participado de Master Class de arranjo com Cristóvão Bastos, harmonia com Nelson Faria e trilha sonora com David Tygel. Dedicou-se, ao longo do tempo, à causa da música instrumental na qual tem atuado com mais frequência, trabalhando no Brasil e na Europa. Em junho de 2004, passa a viver em São Paulo. (Fonte: ABC das Alagoas on-line. http://abcdasalagoas.com.br/verbetes.php)  
[ii] O Mestre Nozinho (1895-1960) – executante de piston, violão e violino e que em 1917 assumira a regência da banda de música.
[iii] Trompetista e pesquisador nascido em 1978 na cidade de Paulo Afonso (BA).
[iv] Nascido em 19 de março de 1932, Tonho do Mestre (como é conhecido), é filho de Mestre Nozinho e sobrinho de Américo, iniciou-se musicalmente com o seu genitor aos 12 anos de idade. Na banda tocou tambor, trompa, trombone e tuba em si bemol.  Em paralelo, assim como seu pai, também viveu do ofício de alfaiate. É detentor de grande e importante acervo musical e fotográfico herdado de seu pai. Hoje aos 86 anos, reside em Maceió.
[v] Josephina Ely foi uma atriz pioneira do teatro brasileiro, atuando a partir de meados da década de 1880. Em 1889, no Theatro Eldorado, interpretou o tango baiano "Muqueca", da revista Bendegó, tendo que retornar ao palco cinco vezes, aplaudidíssima. Consta que em 1921 estava desempregada e sobrevivia com dificuldade quando no ano seguinte foi vítima de agressão física por um casal estrangeiro que era seu vizinho. Por muitos anos cultivou o hábito de desejar boas festas aos jornais e revistas que sempre divulgaram seus espetáculos. Não foi possível apurar quando faleceu, mas ainda vivia em 1936, fazendo-se supor que faleceu bem idosa.
[vi] Delphica de Araújo foi uma atriz muito atuante desde as últimas décadas do século XIX, tendo formado em 1891 a sua própria companhia teatral chamada Companhia Dramática. Trabalhou longos anos na empresa Dias Braga e no Theatro Recreio dentre outros. Manteve-se ativa até a sua morte em 22 de setembro de 1919, sendo enterrada no cemitério São João Baptista, no Rio de Janeiro. Teve seu funeral pago pela "Casa dos Artistas", visto que mesmo trabalhando, se encontrava em situação financeira delicada.
[vii] João de Deus foi um dos mais importantes atores e diretores teatrais do Brasil na primeira metade do século XX. Iniciou-se na carreira ainda na primeira década do século, trabalhando em várias companhias teatrais e em diversas peças do teatro de revista.
[viii] Esther Bergerat foi estrela da Cia. do Teatro São José na época áurea dos espetáculos de revista da praça Tiradentes no Rio de Janeiro. Registros de suas atuações foram encontrados desde 1902 e em 1958 ainda vivia, indicando que faleceu idosa.
[ix] Com a atriz Cândida Palácio no elenco. Sobre esta atriz, conseguiu-se apurar que iniciou a carreira no Rio de Janeiro no início década de 1890. Em 1894, depois de retornar de Lisboa em Portugal, é contrata pela companhia do Theatro Lucinda (chamada "Liga Theatral"), onde estreia em 5 de dezembro, sob a direção de Joaquim de Almeida na opereta "O burro do senhor Alcaide", no papel de Affonso, criado por ela. Muito atuante até a primeira metade do século XX, retornaria a Maceió em junho de 1930 como artista contratada da companhia teatral de Palmeirim Silva para uma série de espetáculos no Theatro Deodoro, graças ao antigo empresário teatral coronel Américo Rêgo. Na época, a atriz já era tratada pela imprensa como "a decana das artistas brasileiras".
[x] Localizado na Rua do Sol cujo prédio serviria depois ao cinema Delícia, sendo demolido em fins da década de 1940.
[xi] Segundo o Aurélio, folhos “são adornos pregueados com que se guarnecem vestidos, toalhas, colchas etc.’’
[xii] Ameudados: antiga grafia de “amiudados” = frequentes.
[xiii] Franco Soares Brandão Sobrinho (Portugal 21/08/1880 – Recife-PE 26/06/1930), chegou ao Brasil ainda pequeno com os pais Francisco Soares Brandão e Maria Soares Brandão. Sobrinho de Brandão, o popularíssimo (João Augusto Soares Brandão, 1844-1921) e primo do ator Brandão Filho (1910-1998), estreou em 1902 no drama A revolta do mal. Fértil em recursos de improvisação era dotado de uma veia cômica inesgotável bem como grande versatilidade indo do drama ao teatro musicado. Foi um dos mais populares cômicos de sua geração, trabalhando em 1925 ao lado de Bibi Ferreira (então com 3 anos de idade) na peça Folha caída. Sua última atuação na revista Amor sem dinheiro, de Rubens Gil e Alfredo Breda em 1926. Estava numa tournée pelo Nordeste quando faleceu no Hospital Centenário vitimado por uma febre tifoide depois de ter se submetido a uma cirurgia.
[xiv] As informações sobre Aminta Circe são escassas. Sabe-se apenas que era chilena. Os registros sobre ela na imprensa restringem-se aos anos de 1908 e 1911. Atriz e cantora, atuou em diversos espetáculos cantando canções (internacionais inclusive). Trabalhou no Palace-Theatre, no Theatro Royal com a ópera em 1 ato "A Raiz", criação dela e do ator Brandão Sobrinho e foi estrela do Cine-Theatro Rio Branco onde atuava sob direção de Antônio Serra no espetáculo "Tim-Tim", tendo como colega de elenco a atriz Pepa Ruiz”.
[xv] Ernesto Joaquim Maria dos Santos (1891-1974) foi junto com Pixinguinha (1897-1973) e João da Baiana (1887-1974) um pioneiro da música popular brasileira. Violonista, foi cofundador de “Os Oito Batutas”.
[xvi] João Mauro de Almeida (1882-1956) foi um jornalista que entrou para a história da Música Popular Brasileira por ter escrito parte da letra de "Pelo telefone", uma das composições mais polêmicas de todos os tempos desde o seu lançamento, em dezembro de 1916.


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domingo, 23 de dezembro de 2018

Dobrado N.º 2 — Benedito Raimundo da Silva (1859-1921)

Revisto  e atualizado em 20 de fevereiro de 2020 às 18h30min.


(Áudio ilustrativo produzido no programa Sibelius com o Noteperformer integrado)

Uma breve visão sobre o Dobrado nº 2 de Benedito da Silva

Fellipe Teixeira[1]
Universidade Federal de Alagoas – UFAL
Espaço de Compreensão e Invenção Musical – ECIM


O “Dobrado nº 2”, de Benedito da Silva, à primeira vista e audição, já encanta pelo colorido instrumental e caráter alegre e até dançante. Analisando mais a fundo a composição, observamos um emaranhado social e cultural que gerou esta bela obra, composta por um alagoano em sua terra natal.
Falando sobre estilo, a obra em questão trata-se de uma Polca, ritmo de origem europeia, mais precisamente da região da Boêmia (República Tcheca) e que rapidamente ganhou espaço nos salões europeus do século XIX. Neste mesmo século ela chegou ao Brasil e contagiou os salões de bailes das noites populares, ao lado de outros ritmos musicais, ganhando características brasileiras. Segundo a Enciclopédia da Música Brasileira:

Originalmente dança rústica da Boêmia (parte do império austro-húngaro e atual província da  Checoslováquia), chegou à capital Praga em 1837. Nesse ano, editou-se a primeira partitura para piano da dança que iria espalhar-se rapidamente pela Europa. Binária de andamento allegro, a polca apresenta melodia saltitante e configuração rítmica baseada em colcheias e semicolcheias com pausas no segundo tempo do binário. No Brasil foi apresentada pela primeira vez em 3 de julho de 1845, no Teatro São Pedro, no Rio de Janeiro RJ. Tornou-se mania, a ponto de ocasionar a formação da Sociedade Constante Polca, no ano seguinte. Começando como dança de salão, a polca logo ganhou teatros e ruas, tornando-se música eminentemente popular. Praticaram-na conjuntos de choro e grandes sociedades carnavalescas. Calado, Irineu de Almeida, Miguel Emídio Pestana, Henrique Alves de Mesquita, Anacleto de Medeiros e Ernesto Nazaré compuseram polcas famosas. Fundindo-se com outros gêneros, chegou a ser polca-lundu, polca-fadinho, polca-militar. Completando o ciclo, ganhou a polca o mundo rural, folclorizando-se. (p. 619)[2]

Assim, a Polca ganhou grande espaço e notoriedade para suas audições, estimulando também diversos compositores de diferentes locais do Brasil a escrever dentro do estilo, como aparentemente também recebeu Benedito da Silva.
Sobre a forma, observo algo peculiar, não muito característico do estilo “Dobrado”. Este, geralmente é escrito em três partes: uma primeira parte (A¹), com uma instrumentação mais leve; uma segunda parte (B²) de clima mais robusto; eventualmente pode voltar para a primeira parte (A²) uma terceira parte (C) por isto chamada de trio; e repete a primeira parte (A³) para encerrar, logo, apresentando-se como A-B-A-C-A, forma também chamada de Rondó, por dar voltas e voltar ao mesmo ponto. Na obra “Dobrado nº 2”, a forma é apresentada no estilo ternário, também conhecido como A-B-A. Temos uma introdução, como fanfarra de metais e resposta das madeiras, do compasso 1 ao compasso 16; a primeira parte da obra se inicia no compasso 18 e estende-se até o compasso 86, subdividindo-se em 4 partes: Aa¹ do compasso 18 ao 35 com o tema principal em p; Ab¹ do compasso 36 ao 51, como resposta enérgica em f; Aa² 53 ao 57, onde ele retorna o tema em mf; e Ab² do 58 ao 87, com um novo tema. A parte B surge a partir do compasso 92, seguindo até a barra final, e é antecedida com 4 compassos de ponte. O interessante nesta seção é a modulação, que antes estava em Mi bemol e agora sobe uma quarta, para Lá bemol. A seção B está dividida em três partes. O B¹, do compasso 92 ao 109, que apesar de ainda escrito em compasso binário simples, apresenta-se aos ouvidos e na escrita como um composto por 6/8, tornando-o bem marcante como quebra de seção; O B² é uma resposta das madeiras, novamente em 2/4 e entre os compassos 111 e 126, mas agora em Fá menor, como movimento contrastante à seção que o antecedia; o B³ retorna o tema da seção e está compreendido entre os compassos 127 ao 146. Finda a seção, voltamos ao A onde repete-se a forma da seção e assim caracterizamos a forma geral como um ternário, ou ABA.
É uma obra magnifica, encantadora em sua aparente simplicidade, mas carregada de significados humanos e musicais, remetendo com precisão aos ouvintes, músicos e estudiosos a uma época distinta da atual. É de fato uma obra que não só merece fazer parte do repertório das bandas de música como também precisa.


Benedito Raimundo da Silva[i]
Compositor e Regente
“Alagoas acaba de perder o seu maior talento musical - Benedicto Raymundo da Silva, tão conhecido pelo nome de ‘Benedicto Piston’. É elle o autor do ‘Hymno Alagoano’ e de muitas composições musicaes que lhe deram, entre as liades de nosso estado, uma grande nomeada. Benedicto (...) estava em grande pobreza, pois a arte já não lhe rendia os mesmos beneficios, que lhe dera nos aureos tempos de uma carreira triumphal.” (Diário de Pernambuco, em 21 de maio de 1921)

Benedito Raimundo da Silva – célebre maestro alagoano conhecido em seu tempo por Benedito Piston, Pai Véio ou, simplesmente, Benedito Silva – nasceu na cidade de Maceió no dia 31 de agosto de 1859. Musicalmente iniciado pelo pai (Francisco Antônio da Silva), já dava mostras, aos 11 anos de idade, do grande instrumentista que viria ser e, aos 18, apresentava suas próprias composições[3]. Aliás, o nome artístico Benedito Piston vem exatamente da fama de sua destreza no instrumento.
Principiou carreira em 1877 na banda de música “Dos Artistas”, que pertencia à Sociedade Recreio Filarmônico Artístico[4]. Com a saída do maestro Valério de Farias Pinheiro[5], em 1884, Benedito Silva assume a regência. Mais tarde, foi maestro da banda rival na Sociedade Recreio Filarmônico Minerva (1887-89). Viria assumir ainda as bandas de música da Escola Central (1890), da Sociedade Beneficente Euterpe Alagoana (1895), da Escola de Aprendizes Marinheiros (1899) e do Batalhão Policial (1903-04 e 1909-11). Dirigiu e organizou as bandas do Montepio dos Artistas Alagoanos, da Filarmônica Eufrosina, da 5.ª Companhia de Caçadores, da Euterpe Miguelense e do Tiro Alagoano. Fora de Alagoas, foi regente de orquestras e ensaiador do 40.º Batalhão de Manaus, do 4.º Batalhão de Recife, além de corpos musicais da Bahia e Rio de Janeiro. 
Autor da música do Hino Alagoano (1894)[6], do Hino do IV centenário do descobrimento do Brasil (1899)[7] e do Hino do Centenário de Alagoas (1917), Benedito Raimundo da Silva compôs peças de variados gêneros, como dobrados, marchas, polcas, tangos, mazurcas, maxixes, valsas etc. Nos hinos, fez música para os versos de Almeida Leite, Luiz Mesquita (1861-1918), Jaime de Altavila (1895-1970) e Rosália Sandoval (1876-1956).
O levantamento de suas obras feito pelo pesquisador Moacir Medeiros de Sant’Ana – no livro Benedito Silva e sua época (1966) – mais os dados levantados por Billy Magno[8] de obras encontradas nos Acervos da Sociedade Musical Guarany e de Antônio Melo Barbosa[9] e desconhecidas pelo distinto pesquisador, nos dá uma ideia do autor inventivo que foi Benedito Raimundo da Silva. São, pelo menos em números parciais, 291 títulos identificados, dos quais uma pequena porcentagem fora impressa ou publicada em revista durante a vida do compositor, sendo a valsa (107) o gênero mais cultivado, seguida pelo dobrado (75) e a marcha (29). Aparentemente, não houve gênero musical que o compositor não tenha trabalhado mesmo que uma única vez, como é o caso do lundu, do romance e da serenata, seguidos em número crescente por habaneras e pas-de-quatres (2), fantasias e schottisches (4), boleros e cavatinas (4), mazurcas (5) e “marchas graves” (6)[10], tangos (7), maxixes (10), hinos (12) e polcas (18), assim como descrito no quadro comparativo, a seguir, que registra apenas obras originais (ignorando dezenas de arranjos de peças clássicas, árias de óperas e operetas que elevariam as obras a mais de trezentas) e, evidentemente, será atualizado assim que “novas” partituras (como as 42 compostas para as revistas teatrais de Rodrigues de Melo), até agora perdidas, venham à luz.

Quadro comparativo das composições do Maestro Benedito Silva, classificadas por gênero.

A despeito de sua longa lista de relevantes serviços prestados à música de seu estado natal e outras regiões no Brasil, Benedito Silva foi um músico pouco favorecido em termos financeiros. Pobre, o destino do outrora festejado compositor foi o mesmo de tantos outros célebres músicos na história que, depois de um período prolífico e intenso, são subestimados na velhice – quando não, proscritos. No ano de sua morte (1921), os jornais da época evidenciaram o contraste entre as glórias de tempos distantes e a pobreza dos últimos anos.
Se em 1906 o maestro tencionava junto com o Dr. Miguel Omena (1870-1911) fundar uma sociedade de concertos, em 1907 publicava notas disponibilizando à venda seu acervo. Entre o entusiasmo do ano anterior e a súbita necessidade de se desfazer do patrimônio musical logo depois, denota uma insólita mudança de humor.
Assim, publicou o jornal Evolucionista no dia 15 de março de 1906:

Pretendem os srs. Dr. Miguel Omena, e professor Benedito Silva fundarem uma sociedade musical nesta cidade. Não a primeira que se fundará, com o seu programa, porém, parece-nos que nenhuma ainda tivemos e por isso desejamos que se realize esse projeto. Lembramos aos dignos apreciadores da arte musical que um dos principais intentos da nova sociedade deverá ser a formação de uma Orquestra que execute música clássica, que procure interpretar as obras primas dos grandes mestres, adquirindo partituras originais dos bons compositores e abandonando as peças de baile e outras composições monótonas e sem gosto.

Em 1907, aos 48 anos, reiteradas notas públicas sugerem alguma urgência em fazer dinheiro com o material que dispunha, como esta do Gutenberg[11]: “O professor Benedicto Silva não desejando procurar recurso na arte musical, tem para vender seu esplendido archivo a qualquer banda  marcial”.
Nos anos seguintes, temos mais essas publicações que revelam sua movimentação para sobreviver de música, após os 50 anos de idade: “Professor Benedicto Silva acha-se ensaiando um grupo de musicistas para constituir uma pequena orchestra a fim de acceitar contractos para bailes, theatros, banquetes etc.”. (GUTENBERG, 1910); e “O conhecido e inspirado compositor Benedicto Silva, tenciona mandar editar uma de suas produções mensalmente. Quem não desejará com uma insignificante quantia ter um exemplar de suas obras?” (GUTENBERG, 1911)
De fato, sua situação financeira ficaria mais delicada a partir de 1912, quando é extinta a Banda do Batalhão de Polícia, onde era mestre contratado. Com isso, não exerce mais regência de banda nos últimos nove anos de vida. No entanto, resignado, dá aulas particulares em sua própria casa ou na de famílias economicamente mais bem posicionadas e passa a compor com maior frequência para vender logo em seguida a produção. Depois de vendida, a música passa a ter o nome de seu comprador.
A época de ouro das sociedades filarmônicas tinha ficado para trás. A mais célebre batalha de bandas como a que aconteceu na Festa dos Martírios no ano de 1887 foi um dos pontos altos de protagonismo do maestro e compositor. A partir dali sua presença musical se tornou cada vez mais relevante. Não havia banda que pudesse prescindir dos serviços do maestro Benedito Silva e ele passou por várias em Alagoas, Pernambuco, Rio de Janeiro, Bahia e Amazonas.
Fato pitoresco na história das bandas de Alagoas, assim o escritor Moacir Medeiros de Sant’Ana recolhe de fontes contemporâneas do maestro a descrição da batalha entre as rivais Filarmônica Minerva e a Banda dos Artistas, ocorrida no dia 28 de outubro de 1887:

Numa das noites da aludida festa (...) aquelas bandas de música deram começo a um dos inúmeros desafios que travaram. Estavam dispostas a não repetir nenhuma peça, saindo esgotada a que primeiro esgotasse o repertório.
Cada uma procurava superar a rival na execução das “peças de harmonia”. Um dobrado era respondido incontinente com outro dobrado; tocada uma polca logo surgia o revide com a execução de outra polca, assim por diante.
E tocaram a noite inteira sem parar, desde às 21 horas até às 11 do dia seguinte quando por força de um conflito entre seus fervorosos adeptos, as duas filarmônicas tiveram de encerrar apressadamente o curioso desafio. (SANT’ANA, 1966, p. 10)

Félix Lima Junior[12] acrescenta: “tendo havido pancadaria grossa entre os músicos e torcedores. Com a intervenção do então chefe de polícia, dr. Leite e Oiticica, solucionou-se o impasse, saindo elas, simultaneamente ainda tocando” (LIMA JUNIOR, 1952).
Já no último decênio do século 19, Benedito Silva era um músico consagrado, principalmente depois da apoteótica recepção à sua música para o hino estadual alagoano com letra de Luiz Mesquita, no ano de 1894.
Melhor retrato do maestro foi feito pelo escritor Felix Lima Junior na crônica Maceió antigo[13]:
Ia ele pela calçada, à paisana com uma bengala à mão direita e não à frente dos seus subordinados. Caminhava ao lado, dirigindo a banda, vestindo roupa pobre de brim ordinário, cabeça inclinada para a frente e coberta com velho chapéu que fora preto in illo tempore. Jamais envergou a farda da corporação, apesar da insistência do comandante e de outras autoridades, o governador à frente. Resistiu sempre aos pedidos e jamais vestiu aquela indumentária.
                                                                                 
Personalidade austera, não poupava seus alunos da dura correção, nem a moça pianeira que, desavisada, machucava o instrumento na terrível coincidência de ter o rigoroso músico transitando em sua rua, como nesta outra cena descrita por Lima Jr.:

Passava, certo dia, pela rua do Livramento, rumo ao quartel, e em certo prédio estavam tocando piano. Era uma das filhas da dona da casa assassinando barbaramente bela valsa de Strauss. Mestre Benedito parou, horrorizado, indignado, colérico. Não se contendo, bateu à porta, sendo atendido pela pianista.
— Era a senhora que tocava piano? — indagou, indiscreto.
E ante a resposta afirmativa da jovem que, certamente, esperava receber um elogio, explodiu:
— Se não sabe tocar piano, não toque! Mas, por favor, por São Benedito, por Nossa Senhora das Graças, por Bom Jesus dos Navegantes, execute bem a música alheia. E que música!
Partiu, então, vermelho de cólera, cabeça baixa, deixando a moça estupefata, indignada...

No plano familiar, casado com Odorica Augusta da Silva, teve seis filhos[14], dos quais Marieta Silva, que na época do falecimento do pai dizia ter completos 17 anos de idade, foi mais tarde (em 1965) entrevistada por Moacir Medeiros, ilustre pioneiro na pesquisa sobre o compositor, quando revelou ignorar aspectos particulares da vida profissional do pai, mas sobre o acervo de partituras ou, se não todo, o que restou dele foi doado por ela ao maestro Antônio Passinha (1894-1936)[15] que, por sua vez, cedeu-o ao 20.º Batalhão de Caçadores.

Avenida Bráulio Cavalcante em Pão de Açúcar (1918).  

Na cidade de Pão de Açúcar, terra natal dos maestros Antônio e Manoel Passinha[16], há diversas obras de Benedito Silva que pertenceram ao acervo da Sociedade Musical Guarany. Dos vários copistas, os principais são os irmãos Américo Castro Barbosa[17] e Manoel Vitorino Filho (o Mestre Nozinho, 1895-1960). As obras são as seguintes: os dobrados N.º 2 (cuja cópia foi de responsabilidade de Américo, então com 16 anos, em 1919), Abílio Mendonça Joaquim Alvino (arranjo extraído de operetas); mais Anna Roza Campos (valsa), Gonzaga Netto (polca), Hino da Sociedade GladianteLaura Rego (valsa), Marcha Fúnebre N.º 1 e o Hino Alagoano (em cópias de 1914)[18].

Américo Castro Barbosa (Acervo Antônio Melo Barbosa)

Marcha Fúnebre N.º 2 está em cópias originadas na Banda da PM (Maceió: Centro Musical – Ajudância geral, 1963-97). Editada em 2016, está disponível no Banco de Partituras on-line da Filarmônica Mestre Elísio.
Das peças citadas com nomes genéricos e numeradas, como o dobrado n.º 2 e as marchas-fúnebres é provável que existam na lista levantada por Moacir Medeiros com outros nomes, já que era costume de o compositor vender as partituras nomeando-as de modo a referenciar o comprador.
Na revista O Malho podem ser encontradas ainda cinco composições de Benedito Silva que também não constam na bibliografia musical preparada por Moacir Medeiros. São elas: Álvaro Craveiro (valsa), José Soares dos Prazeres (valsa), Nina Taveiros (valsa), Pedro Taveiros (valsa) e o schottisch X.X. Tais informações foram recolhidas da recente pesquisa de Billy Magno.
Além do estudo da obra original de Benedito Silva, há ainda que nos determos em seus inúmeros arranjos para a música extraída da produção operística de grandes autores do período Romântico – como os italianos Gioachino Rossini (Semíramis), Giuseppe Verdi (AídaA força do destinoO trovadorOtelo, Rigoleto), Vicenzo Bellini (Os puritanos), Gaetano Donizetti (Don Pasquale, Lucia di Lammermoor) e o verista Pietro Mascagni (Cavalleria Rusticana); o alemão Giacomo Meyerbeer (Le Prophète) e o brasileiro Carlos Gomes (O Guarani).
Enfim, pelo muito que fez à música alagoana em seus 62 anos de atividade musical prestigiosa, o maestro, instrumentista virtuoso e compositor Benedito Raimundo da Silva mereceria bem mais reverência do que a já considerada pelas autoridades locais que, após a morte do grande músico (no dia 14 de maio de 1921), deram seu nome a uma obscura rua de Maceió. Em 1922, para socorrer à viúva, em situação de extrema vulnerabilidade social, a câmara dos deputados concede-lhe uma pensão vitalícia.
Mais do que ser reconhecido como apenas o compositor do hino de seu estado natal, Benedito Raimundo da Silva precisa ser estudado, editado e, principalmente, ouvido. Executada, que essa música cumpra plenamente sua função ao reverenciarmos a memória dos mestres músicos do passado  que contribuíram significativamente para construir o caráter musical de nossa gente.

Piranhas, dezembro de 2018.


Cronologia

           
1859 – Filho de Francisco Antônio da Silva e Luiza Romana da Conceição[19], Benedito Raimundo da Silva nasce a 31 de agosto na cidade de Maceió.

1870 – Destaca-se, aos 11 anos, como jovem instrumentista iniciado pelo pai que desde muito cedo, mesmo antes de o filho ter vida escolar, encarrega-se de sua educação musical.

1877 – Integra a Banda dos Artistas, da Sociedade Recreio Filarmônico Artístico (fundada em 15 de agosto de 1876), do notável maestro Valério de Farias Pinheiro (185? -1895). Pistonista virtuoso, passa a ser conhecido pelo nome artístico de Benedito Piston.

1884 – Assume a regência da Filarmônica dos Artistas, substituindo o maestro Valério Pinheiro que mudara sua residência para a cidade do Pilar, onde dirige a Euterpe Pilarense (fundada em 1880).
                                                                                        
1885 – Transfere-se para a Sociedade Filarmônica Minerva (fundada em 1.º de novembro de 1885), conduzindo essa corporação até 15 de março de 1887[20].

1887 – Readmitido pela Sociedade Filarmônica Minerva, protagoniza (em outubro) junto com o maestro Valério Pinheiro a mais célebre batalha musical já travada por duas bandas alagoanas. É a partir deste ano que seu nome passa a aparecer nos jornais com maior frequência, tanto por mérito artístico quanto pelo episódio com o professor Valério que havia regressado a Maceió e conduzia na ocasião a Filarmônica dos Artistas, na Festa dos Martírios.

1888 – Inspirado na abolição da escravatura, compõe o que hoje é uma das suas mais antigas produções impressas, a grande valsa para piano O Brasil Livre.

1889 – É impressa a polca Cysne Maceioense pela Tipographia e Lytographia Norte (Maceió).
10 de setembro: envolve-se em nova contenda quando a Banda de Música Minerva e a Filarmônica dos Artistas “estiveram na iminência de se encontrarem e decidirem-se por meio de armas de que cada uma estava melhor provida", segundo notícia publicada no jornal O Liberal do dia seguinte e em parte contestada dias depois pela diretoria da "Minerva". (SANT’ANA, 1966)

1890 – É regente da Banda de Música da Escola Central, educandário fundado em 1887 pela Sociedade Libertadora Alagoana, inicialmente destinado à educação dos escravos e de menores abandonados e dirigida – sem nenhuma remuneração – pelo professor Francisco Domingues da Silva, grande abolicionista alagoano. 

1892 – De seu casamento com Odorica Augusta da Silva, nasce às 14 horas do dia 4 de outubro, na Rua Barão de Maceió, o filho Benedito.

1893 – Conduz a Sociedade Filarmônica Minerva na abertura da temporada de concertos, em 30 de julho, no jardim da Praça da Matriz. Ainda neste ano, passa a reger a Banda de Música da Sociedade Beneficente Euterpe Alagoana, substituindo Pedro Adolpho Diniz Maceió (maestro e clarinetista falecido em 1906).

1894 – Vence a concorrência pública para a escolha da música do hino oficial do estado de Alagoas. Foram apresentadas, perante comissão julgadora e público numeroso, 9 composições, no dia 27 de maio. Apesar da aclamação popular obtida pela composição de Benedito Silva, o governador Gabino Besouro (1851-1930)[21] aguardou o juízo da comissão especialmente formada e, no dia 6 de junho de 1894, assina o decreto-lei que institui a música do maestro Benedito Raimundo da Silva e versos do bacharel e poeta Luiz Mesquita (1861-1918) como hino oficial do Estado de Alagoas.

1895 – Dirige a banda da Sociedade Beneficente Euterpe Alagoana. No dia 4 de novembro, nasce seu filho Carlos.

1896 – A 22 de outubro nasce João, seu terceiro filho da união com dona Odorica.

1898 – É mencionado por O Orbe — que notifica a popularidade de sua obra, na edição de 30 de setembro — com um inusual prenome composto, nos seguintes termos: “Os discursos eram seguidos da execução do bello hymno do Estado das Alagoas, composição do maestro Benedicto Hippolyto Raymundo da Silva”.
Em 24 dezembro, nasce-lhe o quarto filho, Manoel.

1899 – Conduz a Banda da Escola de Aprendizes Marinheiros, onde vem ser seu aluno o jovem João Ulysses Moreira[22], tocando pistom.

1900 – Em 2 de fevereiro à rua Pedro Paulino, então residência do casal Silva, Odorica dá à luz Maria, conhecida mais tarde por Marieta.

1901 – No dia 9 de março, nasce Elísio Rodrigues da Silva, o sexto filho.

1903 – Em Recife, é rescindido seu contrato de ensaiador do 40.º Batalhão de Infantaria[23]. No estado do Amazonas, é saudado pelo jornal manauense O Debate, que o felicita por proporcionar à comunidade a execução de rico repertório[24].
De volta a Maceió, em 20 de setembro, é contratado para reger a banda do batalhão policial (hoje banda de música da PM-AL) pelo seu comandante, o tenente-coronel Salustiano Sarmento, onde permanecerá até 28 de agosto do ano seguinte.

1904 – É impressa pela Casa Préalle & Cia (Recife) a valsa As Proezas de Ataíde.

1906 – Publica pela primeira vez uma composição num veículo de circulação nacional. A valsa O Malho sai na edição n.º 200 do dia 14 de julho da revista homônima carioca. É a primeira publicação de uma série que alternadamente se manterá até 1917.

Rodrigues de Melo

Teatro Maceioense

1908 – Colabora com o autor teatral Manuel Rodrigues de Melo (1876-1946)[25] na revista de costumes Maceió na Rua, estreada com grande sucesso em 13 de fevereiro no antigo Teatro Maceioense[26].

1909 – Publica na edição do dia 29 de maio da revista O Malho (Rio de Janeiro) a valsa Álvaro Craveiro. Antes, em abril, compõe o Hino do Tiro Alagoano.
            11 de outubro: a Ordem do dia N.º 22 que incorpora o Tiro Alagoano (criado em 1908) à Confederação Brasileira de Tiros de Guerra, também inclui o maestro Benedito Silva no efetivo, como músico, no posto de 2.º tenente da 1.ª Companhia, do 1.º Batalhão (o 20.º B.C.).

Partitura da valsa Álvaro Craveiro – Revista O Malho (Rio de Janeiro) nº 350 de
29-05-1909
 .

1911 – Na edição de 11 de março de O Malho apresenta a valsa Pedro Taveiros.
15 de abril: estreia, no recém-inaugurado Teatro Deodoro, a nova revista de Rodrigues de Melo Maceió Moderno, para a qual compôs 22 músicas.
13 de maio: é publicada n’O Malho mais uma valsa de sua autoria: José Soares dos Prazeres

Teatro Deodoro, em 1915.

1912 – Com a extinção da Banda do Batalhão de Polícia, onde era maestro contratado, tem por encerrada sua carreira de regente de banda.

1916 – Na edição n.º 710 de 22 de abril de O Malho, apresenta a valsa Nina Taveiros.
Antes, em março, no domingo de carnaval, o Clube do Sururu desfila entoando sua canção composta por Benedito Silva em parceria com o dr. Virgílio Guedes[27]. “Para musicar suas canções, o Sururu pagou a Benedito Silva a quantia de 50$000 [50 mil réis], uma pequena fortuna para a época.” (LIMA JUNIOR, 1953)

1917 – Compõe a marcha Gabino Besouro.
            Na edição n.º 750, de 27 de janeiro de 1917, da revista O Malho, apresenta o schottisch X.X., classificado no concurso musical organizado pela revista, em 1916, sob o n.º 40 do grupo II. Esta é a última vez que uma obra sua é publicada pela revista carioca, encerrando assim um ciclo de 11 anos.
            16 de setembro: em evento cívico no Teatro Deodoro, é executado o Hino do Centenário (da emancipação política de Alagoas), composto especialmente para esta data, com letra de Jaime de Altavila[28].

1920 – Compõe neste ano o que será uma de suas últimas obras, o dobrado Regresso do 20.º B.C. a Alagoas, quando da volta deste batalhão da viagem à Bahia para onde seguira com o intuito de abafar uma revolução.

1921 – Falece no dia 14 de maio. A câmara de vereadores de Maceió o homenageará postumamente, conferindo a uma rua no bairro de Bebedouro o nome do grande maestro alagoano.

1922 – Através de um projeto de lei do deputado José Avelino Silva, é concedida pela câmara de deputados de Alagoas uma pensão vitalícia a viúva Odorica Augusta da Silva.

1947 – Em 28 de novembro, é concedido o prêmio Benedito Silva ao melhor valor artístico dos calouros de 1946. Oferecido pela direção do colégio Guido de Fontgalland, o prêmio é conquistado pelo estudante Geraldo de Majela Melo Fortes[29].

1957 – O Hino do Estado de Alagoas, composto há 63 anos, é gravado pela Banda da Polícia Militar de Pernambuco.

1966 – O pesquisador Moacir Medeiros de Sant’Ana[30] publica estudo biobibliográfico inédito, intitulado Benedito Silva e sua época, em que avalia o maestro como “o mais brilhante e fecundo talento musical de Alagoas, (...) um indisciplinado que rompeu com alguns esquemas da música popular em voga, assim como as convenções da sociedade da época”. (SOARES, 1999. p. 72)

1978 – Os maestros Regis e Rogério Duprat, em pesquisas realizadas para a série Três séculos de música brasileira – valsas e polcasgravam para a Copacabana discos as valsas Francisco Calheiros (Francisca na anotação de Moacir Medeiros de Sant’Ana), de 1893, e Ferreira D’Almeida (na pesquisa realizada por eles, datada de 1904).

1983 – A Banda de Música da FENABB (Federação nacional das associações atléticas Banco do Brasil) registra no LP Banda de Música de ontem e de sempre schottisch Os Boêmios.
          Numa ação conjunta da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Arquivo Público de Alagoas (APA) e Secretaria de Cultura (SEC) é publicado o livro Benedito Silva – Valsas – Polcas – Schottisch, contendo algumas de suas composições para piano.

1987 – O schottisch Os Boêmios integra o LP Valsas, Polkas e Mazurkas - A Música Alagoana do Início do Século, do pianista Joel Bello Soares[31] que, além de Benedito Silva, também interpreta Misael Domingues[32], Tavares de Figueiredo[33], João Ulisses[34] e Heitor Cardoso[35].
            
1991 – A Banda de Música da FENABB registra no LP Banda de Música de ontem e de sempre Vol. II a polca José e Ritinha brincando – composição de 1913.




REFERÊNCIAS



ABC DAS ALAGOAS on-line. Disponível em: <http://abcdasalagoas.com.br/verbetes.php> Acesso em: 29 de novembro de 2018.

BARROS, Francisco Reinaldo Amorim de. ABC das Alagoas: Dicionário Biobibliográfico, Histórico e Geográfico das Alagoas. Edições do Senado Federal: Brasília, 2005. PDF. Disponível em: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/1104> Acesso em: 2 de maio de 2018.

BISPO, Antônio Alexandre. Pesquisa Histórica de Hinos Alagoanos (excertos). In: Brasil-Europa 1991- Correspondência Euro-Brasileira 10. Disponível em: <http://www.revista.akademie-brasil-europa.org/CM10-08.htm> Acesso em: 24 de agosto de 2017.

DICIONÁRIO CRAVO-ALBINBenedito Piston. Disponível em: <http://dicionariompb.com.br/benedito-piston/dados-artisticos> Acesso em: 27 de agosto de 2017.

MARCONDES, Marcos Antonio (Org.). Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica, popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora: Itaú Cultural, 1998.

LIMA JUNIOR, Félix. Maceió Antigo. Diário de Pernambuco, Recife, 10 fev. 1952. 2ª seção, nº 00035. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/029033_13/9704> Acesso em: 2 de dezembro de 2018.
                                        Carnaval de 1903 em Maceió. Diário de Pernambuco, Recife, 15 fev. 1953. 2ª seção, Edição 00039. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/029033_13/14675> Acesso em: 2 de dezembro de 2018.

LUCENA, Wilson José Lisboa. Tocando amor e tradição – As bandas de música em Alagoas. Maceió: Editora Viva, 2016.

SANT’ANA, Moacir Medeiros de. Benedito Silva e sua época. Maceió: SENEC/Arquivo Público de Alagoas, 1966.

SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA-ALHino de Alagoas. Disponível em: <http://www.cultura.al.gov.br/politicas-e-acoes/pro-bandas/hino-de-alagoas> Acesso em: 24 de agosto de 2017.

SOARES, Joel Bello. Alagoas e seus músicos. Brasília: Thesaurus, 1999.


JORNAIS E PERIÓDICOS:


Debate: órgão popular (AM), O. Ano 1903. Edição 0001. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/716618/7> Acesso em: 14 de dezembro de 2018.

Diário de Pernambuco (PE). Ano 1921. Edição 00134. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/029033_10/3885> Acesso em: 2 de dezembro de 2018.

Diário do Povo: Órgão do Partido Republicano Conservador (AL). Ano 1917. Edição 598. Disponível em: < http://memoria.bn.br/DocReader/215414/914> Acesso em: 24 de novembro de 2018.

Evolucionista: Jornal da Tarde (AL). Ano 1906. Edição 61. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=219037&pesq=benedicto%20silva&pasta=ano%20190> Acesso em: 24 de novembro de 2018.

Fé Christã: Hebdomadário dedicado aos interesses da religião catholica (AL), A. Ano 1904. Edição 19. Disponível em:<http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=213217&pesq=benedicto%20silva&pasta=ano%20190> Acesso em: 24 de novembro de 2018.

Gutenberg: Órgão da Associação Typographica Alagoana de Socorros Mutuos (AL), O. Ano 1911. Edição 223. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=809250&pesq=compositor%20benedicto%20silva> Acesso em: 24 de novembro de 2018.

Mocidade: Revista para a Mocidade Estudiosa (AL). Ano 1948. Edição 00011. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/761648/367> Acesso em: 02 de dezembro de 2018.

Província: Órgão do Partido Liberal (PE), A. Ano 1903. N.º 173. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=128066_01&pesq=benedicto%20raymundo%20da%20silva&pasta=ano%20190> Acesso em: 02 de dezembro de 2018.


BENEDITO SILVA EM DISCOS (LPs):


Banda da Polícia Militar de Pernambuco. Hino do Estado de Alagoas. Recife: Mocambo, 1957. LP. 78 RPM. Faixa 1.

Banda de Música de ontem e de sempre Vol. IOs Boêmios (schottisch). Brasília: FENAB, 1983. LP.

Banda de Música de ontem e de sempre – Vol. IIJosé e Ritinha brincando (polca). Brasília: FENAB, 1991. LP. Disco 3. Lado B. Faixa 10 (2’18’’)

Joel Bello Soares: Valsas, Polkas e Mazurkas - A Música Alagoana do Início do SéculoOs Boêmios. Rio de Janeiro, 1987. LP. Lado B, Faixa 4 (2’09”)

Valsas & Polcas -- Três Séculos de Música Brasileira Vol. IFrancisco Calheiros. Rio de Janeiro: Copacabana, 1978. LP. Disco 1, Lado A, Faixa 5 (3’55”)

Valsas & Polcas -- Três Séculos de Música Brasileira Vol. IFerreira d’Almeida. Rio de Janeiro: Copacabana, 1978. LP. Disco 1, Lado B, Faixa 2 (3’50”).





[1] Natural de Palmeira dos Índios, Alagoas, Fellipe Teixeira nasceu em 1990.  É Professor Substituto de Regência e Teoria Musical na Universidade Federal de Alagoas.  É regente e saxofonista, Mestre em Música - Regência, com Ênfase em práticas interpretativas em música do século XX e XXI, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2017) e Licenciado e Música pela Universidade Federal de Alagoas (2015). É também Regente Titular e diretor artístico da Banda Sinfônica da UFAL; foi Regente Titular da Camerata Nova de Música Contemporânea da UFRN (2017), Regente Assistente da Orquestra Sinfônica da UFRN (2016) e da Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte (2018) e Regente convidado da Banda Sinfônica da UFRN (2018). Em 2014 ganhou o concurso Jovens Solistas e Regentes, na categoria Regente, no XIV Festival Eleazar de Carvalho em Fortaleza-CE e em 2015 frequentou a International Conducting Academy, em Braga, Portugal.
[2] Enciclopédia da música brasileira: op. cit, v. 2, p. 619
[3] SANT’ANA, 1966. p. 9.
[4] Também conhecida como Recreio Artístico Philarmonico ou Philarmonica dos Artistas, é mais antiga banda de música maceioense, fundada em 15 de agosto de 1876.
[5] Lendário maestro da mais festejada banda alagoana no final do século 19. Faleceu em 1895.
[6] Com letra do poeta e jornalista Luiz Mesquita, teve estreia pública no dia 7 de maio de 1894.
[7] Classificado em 2º lugar no concurso realizado no Rio de Janeiro.
[8] BILLY MAGNO nome artístico de Williams Magno Barbosa Fialho (Pão de Açúcar-AL 05/07/1978). Músico multi-instrumentista e arranjador. Na adolescência, foi estudar orquestração e regência em Salvador (BA). Iniciou na profissão em 1984 e teve como professores Paulo Henrique Lima Brandão (teoria), Petrúcio Ramos de Souza (orquestração e regência), Maria Mercedes Ribeiro Gomes (piano) e Edvaldo Gomes (contraponto), tendo ainda participado de Master Class de arranjo com Cristóvão Bastos, harmonia com Nelson Faria e trilha sonora com David Tygel. Dedicou-se, ao longo do tempo, à causa da música instrumental na qual tem atuado com mais frequência, trabalhando no Brasil e na Europa. Em junho de 2004, passa a viver em São Paulo. (Fonte: ABC das Alagoas on-line <http://abcdasalagoas.com.br/verbetes.php>).
[9] Antônio Melo Barbosa (Pão de Açúcar, 1932) – mais conhecido por Tonho do Mestre –, assim como o seu pai (Mestre Nozinho), paralelamente à música, viveu do ofício de alfaiate, mantendo sua loja até o final dos anos 1980. Ex-tubista, depois da morte do pai, dirigiu a Sociedade Musical Guarany por pouco tempo ainda nos anos 1960. Detém hoje um dos mais importantes acervos musicais do Baixo São Francisco. Atualmente, reside em Maceió. (Nota: Billy Magno)
[10] “Marcha grave”, segundo a classificação de Sant’Ana, que faz referência às marchas cerimoniais, de procissão ou fúnebre.
[11] O Gutenberg – Jornal. Fundado em 8/1/1881, por Antônio Alves, e publicado em Maceió, até 1911. (...). Foi órgão da Associação Tipográfica Alagoana de Socorros Mútuos e também órgão do Centro Republicano Federal das Alagoas. (ABC das Alagoas, 2005. Vol. 2, p 52)
[12] LIMA JÚNIOR, Félix (Maceió-AL, 6/3/1901 – Maceió-AL, 10/6/1986) Historiador, bancário. (...). Especializado no passado e nas  tradições maceioenses. (Abc das Alagoas, 2005. Vol. 2, p. 146)
[13] LIMA JUNIOR, Félix. Maceió Antigo. In: Diário de Pernambuco. Recife, 1952. 2ª seção, nº 35.
[14] “Três filhos”, indicamos anteriormente, porém, a pesquisa atual nos impele à correção. De fato, foram 6: Benedito, Carlos, João, Manoel, Marieta e Elísio. Vide nota 19.
[15] Antônio Capitulino de Castro (Pão de Açúcar-AL, 24/12/1894 – Rio de Janeiro-RJ, 02/08/1936) – compositor talentoso, era irmão mais velho de Manoel Passinha (1908-1993), outro notável maestro alagoano. Entre suas obras, estão os dobrados Tenente NascimentoTenente Portugal Ramalho, Sargento Baptista e Experiência, recentemente revisado por Billy Magno e editado por F. Ventura, disponível no blog da Filarmônica Mestre Elísio, através do link https://goo.gl/xUapr5.
[16] Manoel Capitulino de Castro, o Manoel Passinha (Pão de Açúcar/AL, 11/10/1908 - Maceió, 03/06/1993).
[17] Américo Castro Barbosa (Pão de Açúcar-AL 03/12/1903 – Rio de Janeiro-GB 1967) tocava clarinete na Banda de Música da Sociedade União e Perseverança (SUP) onde tinha o irmão como maestro. Começou a carreira nos primeiros anos da década de 1910 e já estava na Banda em 1917. No início da década seguinte (provavelmente 1922) transfere-se para Maceió e como violinista mantem sua própria orquestra, a jazz band A. Castro, que tem ao trombone Manoel Passinha, o muito jovem e futuro maestro da Banda de Música do 20º B.C. No final de 1937, Américo ruma para o Rio de Janeiro, então capital da república, onde faz parte da orquestra do maestro Fon-Fon/Octaviano Assis Romeiro Monteiro  (Santa Luzia do Norte-AL, 31/01/1908 – Athenas-GR, 10/08/1951) como contrabaixista, com ela excursionando pela Argentina em 1941. Fez parte também da orquestra do maestro Carioca/Ivan Paulo da Silva (Taubaté-SP, 19/12/ 1910 – Rio de Janeiro-RJ, 11/04/1991) atuando na rádio Tupi em 1952 e excursionando pelo Uruguai (Montevideo) em 1953. Algumas de suas composições foram registradas em disco como o choro Aguenta a mão por Fon-Fon com o compositor ao contrabaixo em 1946, Corridinho nº 100 por Juca do Acordeon em 1954 também com a presença de Américo e seu contrabaixo e o Baião da despedida (com Ary Vieira), lançado pela estreante Claudete Soares em julho de 1954 pelo selo Columbia. (Nota: Billy Magno)
[18] Ainda há outra versão do Hino Alagoano produzida naquela cidade – nos anos 1933, 1947 e 1956 – que hoje integra o acervo da Filarmônica Mestre Elísio, em Piranhas.
[19] Contrariamente ao que escreve Moacir Medeiros de Sant’Ana no livro Benedito Silva e sua época (1965), e em conformidade com a recente pesquisa de Billy Magno, que localizou os registros de nascimento dos filhos do casamento de Benedito R. da Silva com Odorica Augusta — Benedito (1892), Carlos (1895), João (1896), Manoel (1898), Marieta (1900) e Elísio (1901)—, revimos o nome da mãe do Maestro, que na edição anterior, anexada à partitura do Dobrado Nº 2 (disponível em http://bit.ly/2KewuXA), consta como “Ana Maria da Conceição”. Segundo Sant’Ana, a informação fora extraída do alistamento para o Exército publicado n’O Liberal de novembro de 1878, embora tivesse conhecimento de que o deputado Avelino Silva em seu projeto de pensão para Odorica (após a morte do Maestro, em 1921) afirma ser o nome da matriarca “Luiza” e não “Ana Maria”.
[20] Seu desligamento foi noticiado na edição nº 58 do jornal Gutenberg de 18 de março: “A Sociedade Filarmônica Minerva faz ciente a todos os seus consórcios, e ao público em geral, que por motivos não estranhos a todos estes, deixou de amestrar esta filarmônica o professor Benedito Raimundo da Silva desde 15 do corrente. Maceió 16 de março de 87”. (GUTENBERG, 1887)
[21] Gabino Suzano de Araújo Besouro (Penedo-AL, 22/06/1851 - Rio de Janeiro-DF, 31/01/1930). Governador, deputado federal, engenheiro e militar veterano da guerra do Paraguai. (Fonte: ABC das Alagoas on-line, 2018)
[22] João Ulysses Moreira (São Miguel dos Campos, 11/06/1882 – Maceió, 15/07/1955). Este revelar-se-á grande músico e compositor, exercendo cargos de relevância em várias instituições, como a direção musical da Companhia de Fiação e Tecidos Alagoana, na década de 1940. Dentre os alunos mais destacados do professor João Ulysses, destaca-se o pianista, professor e pesquisador Joel Bello Soares.
[23] PROVÍNCIA: ÓRGÃO DO PARTIDO LIBERAL (PE), A. Ano 1903. Nº 00173 (1). Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/128066_01/13803> Acesso em: 02 de dezembro de 2018.
[24] DEBATE: ÓRGÃO POPULAR (AM), O. Ano 1903. Edição 0001. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/716618/7> Acesso em: 14 de dezembro de 2018.
[25] MELO, Rodrigues de (...) Teatrólogo, jornalista, compositor, cantor sacro, deputado estadual, promotor público, advogado. (ABC das Alagoas, 2005. Vol. 2, p. 251)
[26] O Teatro Maceioense funcionou de 1846 a 1911.
[27] GUEDES, Virgílio ... Correia Lima (Maceió-AL, 2/1/1884 – Maceió-AL, 18/1/1940) Poeta, professor, jornalista, funcionário público, advogado. (ABC das Alagoas, 2005. Vol. 2, p. 43)
[28] ALTAVILA, Jaime de - nome literário de Anfilófio de Oliveira Melo (Maceió-AL, 16 ou 17/10/1895 – Maceió, 26/3/1970). Professor, escritor, poeta, promotor público, juiz federal e político. (ABC das Alagoas, 2005. Vol. 1, p. 60)
[29] MOCIDADE, 1948. p. 22.
[30] SANT’ANA, Moacir Medeiros de (Maceió AL 25/9/1932). Historiador, professor, bacharel em ciências jurídicas e sociais. (...) Membro da AAL onde ocupa a cadeira 29. Sócio do IHGA (...).  Sócio honorário da AML. (ABC das Alagoas, 2005. Vol. 2, p. 516)
[31] Músico, professor e pianista nascido em Rio Largo (AL) a 14 de setembro de 1934.
[32] (Marechal Deodoro - AL, 21/12/1857 – Recife - PE, 02/10/ 1932)
[33] (Maceió - AL, 25/06/1891 – Maceió - AL, 15/06/1925)
[34] (São Miguel dos Campos - AL, 11/06/1882 – Maceió - AL, 15/07/1955)
[35] (Maceió - AL, 20/2/1890 – Rio de Janeiro - RJ, 12/9/1960)




[i] Por Flávio Ventura (1978), músico da Filarmônica Mestre Elísio (Piranhas-AL), em colaboração com Billy Magno, ex-integrante da Sociedade Musical Guarany (Pão de Açúcar-AL).