segunda-feira, 22 de outubro de 2018

IX Jornada Pedagógica para Músicos de Banda


JPMB  2018




Nos dias  25, 26  e 27 de outubro ocorrerá na cidade de Penedo a 9.ª edição da Jornada Pedagógica para Músicos de Banda (JPMB), realizada pela UFAL e parceiros.

Com a coordenação do professor Marcos Moreira, a JPMB é o mais importante evento do país direcionado às bandas civis/filarmônicas.








 
 
 
 
 
 





quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Risonha (1911)

Atualizada em 23/05/2019.


(Áudio ilustrativo produzido no programa Sibelius com o Noteperformer integrado)


RISONHA

Mazurca de autor desconhecido (1911)

Por Billy Magno[i]

Originária da Polônia, Mazurca designa uma dança feita por pares formando desenhos e figuras diferentes, música tocada em ritmo vivo e compasso ternário (3/4 ou 3/8) com acentuação característica no 2º e 3º tempo; “coreograficamente complexa, (...) mais aristocrática do que a polca, afirmou-se como forma musical no século XIX através de Frédéric Chopin [1810-1849] e outros compositores românticos”[1], como Stanislaw Moniuszko (1819-1872).
De acordo com a Encyclopaedia Britannica[2]:

A Mazurca originou-se, aproximadamente, no século XVI na região da Mazóvia na Polônia (...) e foi rapidamente adotada na corte polonesa, mas permaneceu como uma dança folclórica. Espalhou-se eventualmente aos salões de baile russos e alemães e, a partir de 1830, tinha alcançado a Inglaterra e a França. Como uma dança de salão para quatro ou oito casais, a Mazurca mantém espaço para a improvisação. O volume de Mazurcas composta para piano por Frédéric Chopin (cerca de 57) reflete seu interesse na música de sua pátria, bem como a popularidade da dança em seu dia.

A mazurca chega ao Brasil entre 1837 e 1851, a princípio como dança teatral no Rio de Janeiro, logo se espalhando para todos os recantos do país, tendo seu auge durante a Belle Époque e perdendo força ao final desta, na década de 1920, caindo em desuso até ser praticamente declarada extinta tanto na Europa como no Brasil, sendo as exceções Cabo Verde, onde ainda é praticada principalmente nas ilhas de Santo Antão, São Nicolau e Boa Vista, e o condado de Nice na França.
 Datada de janeiro de 1911, quando o gênero vivia o seu auge, a obra aqui apresentada foi encontrada no antigo arquivo da Sociedade Musical Guarany, na cidade de Pão de Açúcar-AL, e foi escrita no verso do dobrado Silvino Rodrigues (em uma de suas primeiras versões).
Assim como o famoso dobrado, a mazurca Risonha também não tem autoria conhecida. Neste caso, graças ao copista da época que não creditou o compositor nas partes, se é que o reconhecia. Curiosamente, em boa parte dessas peças anônimas, eles (os copistas), conscientes ou não da importância de se legar o mínimo de referência sobre o uso desse material a qualquer que no futuro se interesse pela história da formação do acervo de sua instituição musical, apunham suas próprias assinaturas ou iniciais com alguma indicação de local e data – o que não é o caso aqui.
Encontrada incompleta, faltando as partes de 1º clarinete, 1º piston, 2º trombone, 2ª trompa em mi bemol, bombardino, tuba em si bemol, tuba em mi bemol e percussão, esta peça estava parcialmente preservada e sua recuperação tornou-se possível graças ao tipo de orquestração empregado na época.


Crianças polonesas dançam mazurca, cerca de 1900. (Acervo Tamara Kasavina)

        No início do século XX a instrumentação de uma banda de música comum do interior era composta em pares: requinta, 2 clarinetes, 2 pistons, 2 trombones, 2 trompas em mi bemol, tuba em si bemol, tuba em mi bemol (na época uma espécie de tuba chamada helicon, hoje em desuso) e percussão, sendo ainda possível algumas variações como o acréscimo do flautim em mi bemol, saxofones soprano e alto, bugle (hoje chamado de flugelhorn), tuba em dó e oficleide (em desuso desde os anos 1930,  substituído pelo sax tenor).
O tipo de orquestração empregada na maioria das peças dessa época era muito simples e funcionava da seguinte forma: a banda era dividida em instrumentos de canto (normalmente as madeiras: requinta, flautim, clarinetes, saxofones alto e soprano e metais, como os pistons); contraponto (sax tenor, bombardino e barítono em si bemol); harmonia (trompas em mi bemol e as vezes, os trombones, reforçando e ampliando a harmonia quando não estavam dobrando a melodia dos pistons uma oitava abaixo); e o baixo (feito pelas tubas). Quase não havia abertura de vozes na melodia (quando havia era em terças paralelas), o que facilitava o trabalho do maestro quando alguma parte se perdia e precisava ser refeita.
É por essa forma de orquestrar que mesmo estando a obra incompleta ainda assim sua recuperação se torna possível, bastando apenas que exista uma parte de canto, outra de contraponto, uma com a harmonia e outra com o baixo. Em resumo, são necessárias uma parte de clarinete ou piston (canto), bombardino ou barítono em si bemol (contraponto), trompa (harmonia) e tuba (baixo) para que a peça possa ser recuperada. É este o caso desta mazurca que apresenta das originais apenas sete partes remanescentes: requinta, 2º clarinete, bugle, 1º saxhorn, 1º trombone, barítono e baixo em dó.
Maestro Abílio Mendonça
O maestro da Banda de Música, entre 1910 e 1911, era Abílio de Carvalho Mendonça – pernambucano de Floresta do Navio, nascido no dia 2 de junho de 1879 e radicado em Pão de Açúcar desde 1882, quando chegara com apenas três anos de idade acompanhado da mãe e um irmão, e ali falecido a 30 de dezembro de 1963.
Conduzia, então, a Banda de Música Sociedade União e Perseverança quando da visita, em junho de 1910, do maestro da “Philarmonica” piranhense José Emiliano de Souza que havia sido "chamado a funcionar na 6ª noite da brilhante festividade do S.S. Coração de Jesus, cuja noite estava no encargo do corpo commercial desta cidade" – conforme carta datada de 8 de junho de 1910[3]. Entre os vários agradecimentos do maestro José Emiliano, um é especialmente destinado a "destinta corporação musical regida pelo hábil maestro Abílio Mendonça" (A IDEIA, 1910).


Maestro José Emiliano de Souza
(Acervo Etevaldo Amorim)
Segundo Aldemar de Mendonça (1911-1983)[4], em 15 de abril de 1911 é fundada a Banda de Música Euterpe de Pão de Açúcar, tendo como maestro Abílio Mendonça e instrumentos comprados em Recife. Na ocasião, um dos oradores foi o Dr. Bráulio Cavalcante (1887-1912)[5], sendo a cerimônia realizada  no Politheama J. M. Goulart de Andrade[6].
Como fica claro, no ano em que a mazurca Risonha foi copiada – e este é o termo, pois 1911 pode não ser o ano original da composição – Pão de Açúcar dispunha de duas Bandas de Música, a já citada Sociedade União e Perseverança (cujas pistas e citações encontradas vão de 1905 a 1919) e a Euterpe de Pão de Açúcar, que ao que tudo indica teve vida efêmera.
No tocante a peça musical em si há uma curiosidade: apesar de se chamar "Risonha", ela foi escrita em tom menor (Fá menor), o que sugere, a princípio, uma certa melancolia que se dissipa na 2ª parte quando a melodia passa para o tom de Lá bemol maior, estabelecendo a alegria que se mantém na 3ª parte, já na tonalidade de Fá maior para, em seguida, retornar ao clima melancólico de Fá menor concluindo assim esta peça musical.
Tem-se, portanto, uma peça escrita em forma rondó: três partes com reexposição da primeira, cujo esquema formal seria aproveitado e muito utilizado no choro dos primeiros tempos por vários autores – entre eles, Pixinguinha (1897-1973)[7].
Na época, por escassez de papel pentagramado, principalmente em cidades do interior, era comum o hábito de se aproveitar o verso de uma música escrevendo outra, ficando assim como uma espécie de disco 78 rpm com lado A e lado B, sendo neste caso esta mazurca o lado B pois é sabido que depois de 1927 ela caiu no esquecimento, ao contrário do dobrado Silvino Rodrigues que se transformaria num clássico do repertório marcial e até hoje é executado pelo Brasil.
A primeira revisão desta obra data de outubro de 1927 quando foi acrescentada uma parte de 2º piston (na realidade, a de bugle, hoje chamado de flugelhorn, já existente em 1911) e uma de baixo em dó datada de 21 de outubro de 1927 grafada “Basso C” – à maneira italiana – e assinada pelo então maestro Manoel Victorino Filho, o Mestre Nozinho (Villa Nova, atual Neópolis-SE, 17/10/1895 – Maceió-AL, 18/04/1960), sendo a única das partes de tuba que sobreviveu.
A segunda revisão ocorreu em março de 1995 realizada por mim, onde foram refeitas as partes faltantes de 1º clarinete, 1º piston, 2º trombone, 2ª trompa em mi bemol, bombardino, baixo em si bemol e baixo em mi bemol e acrescentadas as partes de sax alto e sax tenor.
A terceira e mais recente foi também realizada por mim em outubro de 2015, onde ampliei a orquestração acrescentando as partes de flauta, 3º clarinete, sax barítono, 3º piston, 3º trombone e 3ª trompa, além de novamente revisar as originais de 1911 que chegaram até aqui: requinta, 2º clarinete, bugle (2º piston em 1927), 1º trombone (a única com data, aqui transcrita textualmente: “17 de janneiro de 1911”), 1ª trompa em mi bemol, barítono em si bemol e baixo em dó (também oriunda de 1927), assim como as de 1º clarinete, 1º piston, 2º trombone, 2ª trompa em mi bemol, baixo em si bemol e baixo em mi bemol, bombardino, sax alto e sax tenor da revisão de 1995.
Finalmente, após 107 anos desde as primeiras cópias, apresentamos a edição definitiva, resultado do meu trabalho em parceria com Flávio Ventura[8]. Foram eliminados os tradicionais erros e enganos contumazes dos copistas da época (principalmente na parte harmônica), realçando toda a beleza desta obra e assim revivendo um gênero musical em voga há um século e hoje completamente desaparecido.


São Paulo, setembro de 2018.
 







Referências


A Ideia: Orgão Litterario Noticioso e Humoristico (AL). Pão de Açúcar, 12/06/1910. Disponível em:<http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=402060&pesq=Jos%C3%A9%20Emiliano&pasta=ano%20191> Acesso em: 17 de agosto de 2018.
Barros, Francisco Reinaldo Amorim de. ABC das Alagoas: Dicionário Biobibliográfico, Histórico e Geográfico das Alagoas. [PDF]. Edições do Senado Federal: Brasília, 2005. p. 233.
Encyclopaedia Britannica. Mazurka – Dance. Disponível em: <https://www.britannica.com/art/mazurka> Acesso em: 27 de agosto de 2018.
Glossário de termos e expressões musicais. Mazurka. Disponível em: <https://www.meloteca.com/dicionario-musica.htm > Acesso em: 10 de maio de 2018.
Mendonça, Aldemar de. Pão de Açúcar - História e Efemérides. 2a. edição, revista e ampliada por Amorim, Etevaldo Alves. Maceió AL: Ecos, 2004.
Sadie, Stanley (org.). Grove Dictionary of Music and Musicians, s/d. [Word]. p. 1622.
Sant’Ana, Moacir Medeiros. Efemérides Alagoanas. Maceió: Instituto Arnon de Mello, 1992.
Wikipedia, a enciclopédia livre. Mazurca. Disponível em: <https:\\pt.wikipedia.org\wiki\Mazurca> Acesso em: 23 de maio de 2018.



[1] Glossário de termos e expressões musicais. Mazurca. Disponível em: <https://www.meloteca.com/dicionario-musica.htm > Acesso em: 10 de maio de 2018.
[2] Encyclopaedia Britannica. Mazurka – Dance. Disponível em: <https://www.britannica.com/art/mazurka> Acesso em: 27 de agosto de 2018.
[3] Publicada em 12/06/1910 em A Ideia, jornal de propriedade de Álvaro Machado (1886-1956) que circulou em Pão de Açúcar entre 1909 e 1911.
[4] Escritor, historiador e filho do maestro Abílio de Carvalho Mendonça e América Maciel Mendonça (Sinhasinha) em seu livro História e Efemérides (1974).
[5] Advogado, jornalista e poeta pão-de-açucarense assassinado em um comício na cidade de Maceió.
[6] Teatro da época — homenagem ao engenheiro, geógrafo, jornalista, poeta, cronista, romancista e dramaturgo alagoano José Maria Goulart de Andrade (Porto de Jaraguá, Maceió, 06/04/1881 — Rio de Janeiro, 19/12/1936). 
[7] Alfredo da Rocha Vianna Jr. nasceu, viveu e morreu no Rio de Janeiro-RJ. Compositor, arranjador, maestro e instrumentista. Considerado o maior compositor de choro de todos os tempos.
[8] Nascido em Paulo Afonso-BA em 1978. Pesquisador e músico na Filarmônica Mestre Elísio da cidade de Piranhas-AL



[i] BILLY MAGNO nome artístico de Williams Magno Barbosa Fialho (Pão de Açúcar-AL 05/07/1978). Músico multi-instrumentista e arranjador. Na adolescência, foi estudar orquestração e regência em Salvador (BA). Iniciou na profissão em 1984 e teve como professores José Ramos dos Santos e Paulo Henrique Lima Brandão (teoria), Petrúcio Ramos de Souza (orquestração e regência), Maria Mercedes Ribeiro Gomes (piano) José Ramos de Souza (saxofone) e Edvaldo Gomes (contraponto), tendo ainda participado de Master Class de arranjo com Cristóvão Bastos, harmonia com Nelson Faria e trilha sonora com David Tygel. Dedicou-se, ao longo do tempo, à causa da música instrumental na qual tem atuado com mais frequência, trabalhando no Brasil e na Europa. Em junho de 2004, passa a viver em São Paulo. (Fonte: <http://abcdasalagoas.com.br/verbetes.php>)