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terça-feira, 30 de julho de 2019

GMAP e o legado de Egildo Vieira

Atualizado em 15 de janeiro de 2020 às 00h40min.

Mestre Egildo Vieira (1947-2015)

Há exatamente 4 anos falecia nosso mestre maior Egildo Vieira do Nascimento — flautista, compositor, pesquisador, luthier nascido na cidade de Piranhas a 20 de julho de 1947, filho de dona Alaíde Vieira com o sr. Antônio Balbino do Nascimento.

Artista multifacetado retornou à cidade natal há 10 anos com o objetivo de reformar a educação musical dos conterrâneos e mais: fazer desta parte do sertão — através da pesquisa que desenvolvera com materiais como taquaras e cabaças, etc. — referência em confecção artesanal e prática de instrumentos de cordas, sopro e percussão (rústicos) para os quais havia composto um repertório exclusivo de temática armorial, inédita na região. Ilustra muito bem esse projeto o trio que desenvolveu para o SESC - Sonora Brasil de 2007, onde junto com os músicos Jean Elton (contrabaixo) e Aglaia C. Ferreira (violino e rabeca) excursionou pelo Brasil apresentando repertório original para vários instrumentos de sua própria confecção, como o ariano, o pirrabecaço, o marimpífano e o violão basso, além de pífanos variados com sua assinatura.




Assim, Sônia Guimarães, para o catálogo do Sonora Brasil 2007, testifica sobre Egildo Vieira e sua arte:
Pouca diferença separa o menino de cinco anos que, contente por chover no sertão de Piranhas, Alagoas,comemorava cantando os solfejos de Alex Garaudé e o menino de 59 que hoje inventa, com materiais como cabaça, bambu e taquara, instrumentos que atendam ás necessidades da música que de si deságua.
O menino Egildo começou a tocar seu primeiro instrumento, a flauta de canudo de mamoeiro, criado por seu pai Demésio
[sic] Teixeira, clarinetista com quem iniciou os primeiros estudos de teoria e solfejo; aos sete anos ingressou na banda de música do município tocando clarinete e mais tarde participou de folguedos como o Reisado e Marujada, seguindo sua verve criadora fundando bandas de pífanos nos Colégios Diocesano de Penedo e o Estadual Liceu Alagoano de Maceió.
O homem Egildo foi aprofundando e reinventando o traço musical de quando foi convidado por Ariano Suassuna em 1972 a participar do Movimento Armorial em Recife 
 Pernambuco, onde constam vários registros de sua autoria. Não foi difícil para Egildo Vieira, perceber a ideia de Música Armorial, pois ela já era parte integrante de sua criação, através de suas experiencias com a música escrita e a música produzida pelos cantadores, emboladores, cantadores de coco e rezadeiras. Amante da musica brasileira chegou a criar vários conjuntos de choro juntamente com Canhoto da Paraíba entre outros. No recife, cursou a Escola de Belas Artes da UFPE e continuou a sua pesquisa sobre instrumentos musicais.
Um dos fatos que apontam para a contemporaneidade da produção musical de Egildo Vieira é a pesquisa e produção de instrumentos para a sua execução. Nesta produção transparece, embalada no modalismo peculiar tanto da tradição quanto da música contemporânea, manifestações já diluídas na prática do fazer musical da região nordeste do Brasil. Como tais, suas formas variam de duas e trés partes, com mudança de andamentos e modulações que por serem instrumentais, abrigam um espaço sutil para tratamentos musicais de origem acadêmica, fundamentando a busca original de sonoridades advindas dos materiais que utiliza em sua pesquisa como Luthier.
Assim é que a produção musical de Egildo Vieira se destaca pela utilização de recursos idiomáticos novos, viabilizados através de instrumentos musicais inventados por ele mesmo, resultando aspecto de inusitada criatividade. Numa perspectiva de tradição contemporânea, nos mesmos moldes empreendida por músicos da tradição moderna, Egildo Vieira parte de elementos estabelecidos para criar, de forma inovadora, um conjunto de recursos novos voltados para a interpretação de materiais musicais, especialmente rítmico-melódicos, que reportam ao nordeste do Brasil, produzindo resultado de grande originalidade. (In: Nova Organologia Egildo Vieira e Conjunto. Sonora Brasil. SESC, 2007)



(...)

Em Piranhas, sob a tutela do mestre Nemésio Teixeira (1904-1978), Egildo Vieira deu os primeiros passos na arte musical em meados da década de 1950; em seguida integrou, tocando clarinete, a banda do Mestre Elísio José de Souza (1911-1978) e, mais tarde, em Maceió, com o saxofone, orquestras de baile até a um ponto da carreira (no início da década de 1970) em que optou pelo trabalho exclusivo com a flauta e migrou para o Recife onde integrou vários grupos musicais. Graduou-se em Música pela UFPE, passando a lecionar em cursos de extensão até aposentar-se, retornando mais tarde, em 2009, para a cidade do interior das Alagoas que lhe dera "régua e compasso", como diria certo poeta.

Sua morte, 6 anos depois, abalou o projeto de maneira profunda, porém ainda se pode ouvir os acordes do último grupo que ele criou naquela primeira semana de agosto de 2010 e liderou até pouco tempo antes de ser vencido pela doença fatal no dia 30 de julho de 2015.

Desde então, o GMAP resiste com Farney (flauta, pífano e ariano), Jadeilton (flauta e pífano), Cícero (violão), Maciel (trompete) e os percussionistas Dalvo Lima, Marcelo e Ronildo Lobo, todos sob a liderança do último secretário do maestro Egildo Vieira, Gisfle Fernando (o Giso do Trombone), com apresentações como estas recentes que ilustram a postagem.
Ao final, conferimos o making of de momento único registrado em dezembro de 2013 quando para propaganda oficial do governo de Alagoas foram reunidos esses dois expoentes da música alagoana, Eliezer Setton (Maceió, 1957) e Egildo Vieira (Piranhas, 1947-2015) com o GMAP — dois extremos geográficos do Estado unindo arte regional do litoral ao sertão.