quarta-feira, 8 de junho de 2016

Egildo Vieira – Mestre armorial no sertão de Alagoas



O músico multi-instrumentista e compositor Egildo Vieira do Nascimento nasceu na cidade de Piranhas/AL em 20 de julho de 1947. Sua iniciação musical se deu a partir dos cinco anos de idade com o mestre Nemézio Teixeira. Mais tarde passou a integrar a banda de música do mestre Elísio José de Souza. Paralelamente, junto com os amigos e colegas conterrâneos Rosiane Rodrigues (sanfona) e João Gilberto Cordeiro Folha (trombone), criou na década de 1960 um grupo de iê-iê-iê chamado The Boys Life. Tocava clarinete e saxofone.

Em meados da década de 1960, vai concluir os estudos regulares no Colégio Diocesano de Penedo/AL e, posteriormente, no Liceu Estadual, em Maceió. No final da década, já estabelecido em Maceió, integra o grupo LSD (Luz Som Dimensão) em que também figuravam o cantor Djavan, em início de carreira, e o baterista Beto Batera (falecido em 2010); este viria nas décadas de 1970 e 80 tocar com Roberto Carlos, Moacir Franco e Waldik Soriano, entre outros. Beto é irmão mais velho do hoje renomado baterista alagoano Carlos Balla. O LSD tocava em praças, clubes, praias, palanques, até igrejas,  geralmente interpretando os Beatles.

Antes de alcançar renome nacional, Egildo Vieira integrou orquestras de baile, como a do Iate Clube Pajuçara, em Maceió. No início da década de 1970, integrando o GAPEMA (Grupo Artístico de Pesquisas Musicais de Alagoas), participa do Festival de Música de Goiânia/GO. Ariano Suassuna, que procurava um flautista para integrar seu grupo de música armorial, ao ter conhecimento de sua bem sucedida atuação através de jornal alagoano, convida-o para integrar o Quinteto Armorial.

Com o Quinteto Armorial percorreu todo o Brasil. Na época de lançamento do primeiro disco (Do Romance ao Galope Nordestino, 1974) o grupo foi recebido com entusiasmo  pelo crítico José Ramos Tinhorão em artigo do Jornal do Brasil de dezembro de 1974:
"Quantas vezes, na história de qualquer país do mundo, se conseguiu fundir em uma dúzia de peças musicais o regional no universal e o popular no erudito? A julgar pela trajetória da cultura ocidental (...) esses momentos (...) não foram muitos. Por isso mesmo, o aparecimento de um desses raros exemplos no Brasil (...) só pode ser saudado como milagre. O milagre, no caso, é representado pelas músicas do LP Quinteto Armorial -Do Romance ao Galope Nordestino (...). Ao som da viola sertaneja do compositor Antônio Madureira, da rabeca de Antônio Nóbrega, do violão de Edilson Eulálio, do pífano e flauta de Egildo Vieira e do marimbau de Fernando Torres, composições como "Revoada" e "Ponteio Acutilado" transportam numa ponte de quatro séculos a Renascença para o Nordeste, para repetir a experiência fantástica da fusão da plangente monodia do marimbau dos cegos com a polifonia do violão, esse descendente do alaúde, enquanto a viola soa cortante e metálica como um clavicórdio". (...) "A revelação musical do Quinteto Armorial vem mostrar que, das profundezas da criação popular, também se pode tirar uma cultura autenticamente nacional. Quem ouvir dirá se não estamos com a razão. Mas, pelo amor de Deus, não deixem de ouvir". [Jornal do Brasil, 10 de dezembro de 1974]
Participou dos grupos LSD, Gapema (Grupo Artístico de Pesquisas Musicais de Alagoas), Quinteto Armorial, Conjunto Pernambucano de Choro, Orquestra de Pau e Corda, Som da Terra, Ororubá, entre outros.

Graduado em música pela Universidade Federal de Pernambuco, lecionou em cursos de extensão.

Ministrou palestras e oficinas de pífano por todo o Brasil e a partir de 2009, baseado em Piranhas, pretendeu tornar a cidade referência nacional na confecção artesanal aliada à prática musical desse instrumento, desejando com isso resgatar a cultura regional dos grupos de pífano e percussão, então menos preservados em Alagoas do que já fora.

Quando integrou a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, idealizou o Conservatório Municipal Cacilda Damasceno Freitas (inaugurado em 18 de outubro de 2009) e criou o Bloco Cheiro de Saudade (2009-2012), o Grupo Musical Armorial de Piranhas (GMAP, 2010) e o Grupo Chorões de Piranhas (2010), além de uma extensão do grupo armorial para crianças chamado  Gmapinho” (2011).

Luthier renomado confeccionava seus próprios instrumentos. Sua matéria prima era composta por elementos retirados da natureza: taquaras, cabaças, quenga de coco, entre outros. Seus pífanos, frutos de anos de pesquisa, para os quais desenvolveu uma escala (tabela de digitação básica) própria, eram vendidos em todo o território nacional e também para o exterior Europa e Estados Unidos.

Em 17 de janeiro de 2014, foi homenageado pelo Governo do Estado de Alagoas que lhe conferiu a comenda Cavaleiro da Ordem do Mérito dos Palmares.

Faleceu no dia 30 de julho de 2015 na cidade de Maceió. Velório e sepultamento ocorreram na tarde do dia 31 em sua cidade natal, no sertão  de Alagoas.





 Maestro Egildo Vieira - Revista Piranhas
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terça-feira, 7 de junho de 2016

Maestro Cafau (*1938+2009)




Cícero Francisco de Brito (Maestro Cafau) era natural de Pão de Açúcar. Subtenente reformado da Polícia Militar de Sergipe, foi uma figura legendária. Comandou a Filarmônica Mestre Elísio por 16 anos e meio até ser “compulsoriamente” afastado para tratar da saúde. Ficou maestro emérito.

Em fevereiro de 1991 Cafau viera tocar carnaval com Zé Broinha e Damião. Naquela oportunidade, foi convidado a “reforçar” a Banda na festa da Padroeira. Tocou sax-tenor. Sequer podia imaginar que dez meses depois viria definitivamente para Piranhas, então como maestro.

Músico militar, Cafau fora primeiro clarinetista da Banda da Polícia Militar de Sergipe durante 30 anos. Chegou a regê-la. E, por ser militar, também fora delegado em Porto da Folha/SE e ainda maestro da Banda dessa cidade. Embora ele mesmo se subestimasse, era um excelente músico.

(...)








sexta-feira, 3 de junho de 2016

Filarmônica Mestre Elísio - 27 anos


Filarmônica Mestre Elísio



Ativa desde 1989, a Filarmônica Mestre Elísio deve seu nome à figura do eminente maestro Elísio José de Souza, pernambucano que veio a atuar no município de Piranhas/AL nos anos findos da década de 1950 e começos de 1960. Antes de sua atuação na Banda da cidade, àquela época inativa, o mestre Nemézio Teixeira já se estabelecera professor de música na região, iniciando musicalmente toda uma geração de jovens piranhenses, entre os quais, a Dr.ª Rosiane Rodrigues Cavalcanti – médica e compositora – e Egildo Vieira, renomado músico alagoano de saudosa memória.

Mestre Nemézio (falecido no ano de 1979) foi digno representante de uma linhagem notável de mestres músicos no sertão alagoano – como o mestre Nozinho/Manoel Vitorino Filho (1895-1960) em Pão de Açúcar na primeira metade do século XX ou o mestre Vieirinha (Manoel Vieira Ramos, na década de 1930 em Piranhas) ou ainda o maestro José Emiliano atuante em Piranhas e Água Branca no limiar do século.

Dos músicos iniciados ou iniciantes daquela época, integraram a banda do mestre Elísio: Bujão, Jackson, Afonsinho e Toinho seu irmão, percussionistas; Elias “Balaio” e Ezequias filho do mestre Elísio (trombones); João Gilberto (bombardino); Joãozinho Batista, Toinho “de Expedito Balaio” e Jason (trompetes); Zé Norberto “Boca Rica” (sax-alto); Dorinho, Divacy, Norberto e Egildo (clarinetas).

Bujão (Augusto José Neto) tocava pratos nessa época, estudou trompa e viria quase trinta anos depois tocar bombardino na banda reativada. Seu Elias “Balaio” também voltaria quando adulto a tocar na banda de Piranhas. Importante notar que eram todos crianças ou adolescentes na época do mestre Elísio.

Em 1989, na administração Inácio Loiola Damasceno Freitas, a banda do município é reativada à memória do maestro Elísio José de Souza, falecido em julho de 1978 na cidade de Delmiro Gouveia.

De Pão de Açúcar vieram, para tornar viável essa última formação, os dois primeiros maestros: Bubu (Afrânio Menezes Silva), de maio de 1989 a dezembro de 1991 e Cafau (Cícero Francisco de Brito), em dois períodos distintos, de janeiro de 1992 a dezembro de 1996 e, posteriormente, de agosto de 1998 a agosto de 2009. O mestre Damião Ferreira Lima, outro pão-de-açucarense distinto, instrutor de  fanfarras, dirige a banda de janeiro de 1997 a meados de 1998. A partir do afastamento de maestro Cafau, em 2009, seu filho Cicinho (maestro Cícero Campos) assume o comando até dezembro de 2013. Atualmente, a Filarmônica Mestre Elísio é capitaneada pelo maestro Leleo (Willamy Franciel dos Santos Isidoro).