Marchinha surgida de uma controvérsia na folia piranhense, Era um notório integra o repertório tanto dos Trovadores (1924) quanto das Borboletas (1927). De autor desconhecido, expõe o dilema do bloco tradicional ao ter sua apresentação anual ameaçada.
Enquanto que nos Trovadores remanescem catorze marchas, nas Borboletas são apenas cinco, duas das quais compartilham com o bloco rival: Era um notório e Cabrocha Baiana. As demais são Borboletas somos nós, Tirolesa e Revestindo de saudade.
Quando, no início dos anos 2000, eu e o Maestro Cafau contatamos dona Julinha dos Santos ̶ cunhada do fundador e diretora herdeira do bloco ̶ para escrever as partituras, ela fez questão de destacar que as exclusivas eram poucas, que a maioria era do repertório comum dos antigos carnavais (de Recife, Salvador ou Rio de Janeiro), entre as décadas de 1930 e 1960.
Último porto do Baixo São Francisco para quem subia o rio, Piranhas acolhia os músicos em trânsito que atualizavam o repertório seresteiro e carnavalesco do sertão.
O Bloco As Borboletas foi fundado por Manoel Leandro dos Santos (1907-1982), o Mané Cego, antes parceiro de Zé Nego n'Os Trovadores.
Luciano Brito (1995), pesquisador da folia piranhense, registra que As Borboletas foi a contrapartida popular ao bloco da elite (Os Trovadores) nos anos 1920. No entanto, os herdeiros relatam sua origem como uma iniciativa limpa de controvérsias enquanto que o bloco rival chama-o de dissidência.
O fato é que o convívio pacífico da atualidade contrasta com as histórias dos embates públicos nas ruas estreitas do centro histórico.
A três semanas da Micareme Piranhense, que ocorre sempre no final da Quaresma, este ano de 19 a 22 de abril, atualmente importa menos a polêmica e mais a história de resistência que ambos os blocos compartilham heroicamente.
F. Ventura (2025)
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