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domingo, 29 de julho de 2018

Triunfo da Virgem (Marcha de procissão)


(Áudio ilustrativo produzido no programa Sibelius com o Noteperformer integrado)


“A presença da banda militar, no acompanhamento das procissões, fez surgir a necessidade da criação de um estilo de marcha próprio a ser executado durante a realização dos préstitos religiosos. Uma marcha que, diferente do dobrado e da marcha militar, que podem atingir o andamento de duzentos e dez semínimas por minuto, fosse mais lenta, permanecendo o seu andamento de oitenta a cem semínimas por minuto. Um andamento compatível com o passo das irmandades, devotos e seguidores das procissões. Marchas processionais, marcadas pelas pancadas cadenciadas do surdo e o retinir de pratos…” (Leonardo Dantas Silva)


Seu Tico, o copista


Das dezenas de partituras legadas por nosso colega veterano Francisco Costa, o Seu Tico, da cidade de Petrolândia, Triunfo da Virgem foi a primeira marcha de procissão. Santo Antônio e Santa Izabel vieram em seguida enriquecer nosso acervo, além de várias obras de autores diversos, tais como Joaquim Naegele (Gov. Leonel Brizola, Passeio Trágico e Maestro João Macedo), Gilberto Gagliardi (Cidade de Antonina), Pedro Salgado (Maestro João Massaini), J. V. de Brito Filho (Alvorada Brasileira), Mário Zan (IV Centenário), Arlindo Previtale (Dep. Freitas Nobre), Prisco de Freitas (Saudades de Antonina) e ainda anônimos (Lira de Ouro, Miguel Lima Dias, Porto, Passo, Uberaba, etc.) — são exemplos do muito que nos foi generosamente cedido, algumas partituras copiadas integralmente à mão e fotocópias de edições originais.

No caso da marcha religiosa aqui divulgada, não foi possível descobrir autoria. Certamente, não havia indicação na partitura-fonte ou, havendo, poderia estar inelegível. Chama-se atenção para isso porque nosso personagem era zeloso em indicar o autor nas cópias que produzia.

Questionado sobre a origem das partituras religiosas, disse-nos que não eram do acervo da banda local, mas conseguidas com as bandas de Floresta ou Belém do São Francisco quando estas se apresentavam em Petrolândia. Xerocava o que conseguia, mas a boa parte delas dava-se a obrigação de renovar as cópias.

O tipo de copista que, na falta de papel pautado, desenha milimetricamente os pentagramas de todas as partes, não obstante seus problemas de visão, Seu Tico também tocou trompete conosco — um tanto limitado na função, é verdade, porém devotado à Música e ao ambiente em que ela se revela.

Casado com dona Alaíde Costa, é cunhado dos músicos piranhenses Expedito e Elias “Balaio” que integraram o coral sacro da Igreja de Nossa Senhora da Saúde com o Mestre Elísio (1911-1978) na década de 1960, em Piranhas. Elias foi ainda trombonista na banda junto com os sobrinhos Toinho (trompete) e Divacy (clarinete). Este último é hoje o único remanescente ainda ativo daquela banda que resistiu em Piranhas até meados dos anos 1960 graças ao trabalho abnegado do maestro Elísio José de Souza, pernambucano de Jatobá.

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Em Jatobá, distrito de Tacaratu, ficava a última estação da Estrada de Ferro Paulo Afonso — do trem que partia de Piranhas entre os anos de 1882 e 1964. Em 1909 o distrito foi elevado à categoria de cidade e em 1943 mudou o nome para Petrolândia em homenagem ao imperador D. Pedro II.

A cidade velha não existe mais; foi inundada pela represa de Itaparica, obrigando os moradores a mudarem em 1988 para a atual cidade. Antes, em 1964, com a desativação da ferrovia, vários piranhenses haviam se radicado na velha Petrolândia; entre eles, Divacy.

Durante os primeiros 4 anos da Filarmônica Mestre Elísio, à época chamada Banda de Música Mestre Elísio José de Souza, anos 1990-94, éramos reforçados na principal festa (2 de fevereiro) pelos músicos de Petrolândia: Miguel e Jardiel (trompetes); Etinho (trombone) e Divacy (sax-tenor). Seu Tico, a partir de 1993, sempre que vinha para os festejos anuais com a família juntava-se a nós, munido de material próprio (trompete, estante e partituras) e boa disposição para colaborar.

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Em 1938, o maestro Edson da Silva Porto, de passagem pela cidade, criou a primeira banda de música de Petrolândia. Mais tarde, viria se chamar Banda Musical Adolfo Alexandre de Melo. Hoje desativada, teve como último maestro Seu Dédinho (José Costa da Silva) — não por acaso, irmão de nosso copista Tico. Mas, graças à atuação do Maestro Deison Bezerra com a Filarmônica Som do Velho Chico, fundada no ano de 2013, a música instrumental ainda resiste naquela região.

No último dia 1.º de julho, a Mestre Elísio participou das comemorações dos 109 anos de emancipação política de Petrolândia. Oportunamente, homenageamos nosso amigo e colega Francisco Costa da Silva "Seu Tico", hoje aos 84 anos e já afastado das atividades musicais, pelo tempo de dedicação e considerações mútuas.


Maestro Leléo (à esquerda), Francisco Costa "Seu" Tico (ao centro) e 
Augusto Fontes "Bujão" (à direita) apresentando ao público nosso homenageado.
Petrolândia-PE, 1/7/2018.
(Arquivo Filarmônica Mestre Elísio)

Francisco Costa "Seu" Tico e Maestro Leléo.
Petrolândia-PE, 1/7/2018.
(Arquivo Filarmônica Mestre Elísio)
Francisco Costa "Seu" Tico recebe de Augusto Fontes "Bujão" placa comemorativa.
Petrolândia-PE 1/7/2018.
(Arquivo Filarmônica Mestre Elísio)