Esta composição do alagoano Egildo Vieira (1947-2015) integra o primeiro LP do Quinteto Armorial, Do Romance ao Galope Nordestino (1974). Evoca as novenas nas noites de uma cidadezinha do interior e comenta musicalmente o fluxo de fiéis que, ao chamado dos sinos, movimentam-se ao som de benditos e ladainhas no interior da igreja e de grupos de pífano no pátio externo, assim como o autor percebia em sua infância.
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domingo, 25 de fevereiro de 2024
quarta-feira, 8 de junho de 2016
Egildo Vieira – Mestre armorial no sertão de Alagoas
O músico multi-instrumentista e compositor Egildo Vieira do Nascimento nasceu na cidade de Piranhas/AL em 20 de julho de 1947. Sua iniciação musical se deu a partir dos cinco anos de idade com o mestre Nemézio Teixeira. Mais tarde passou a integrar a banda de música do mestre Elísio José de Souza. Paralelamente, junto com os amigos e colegas conterrâneos Rosiane Rodrigues (sanfona) e João Gilberto Cordeiro Folha (trombone), criou na década de 1960 um grupo de iê-iê-iê chamado The Boys Life. Tocava clarinete e saxofone.
Em
meados da década de 1960, vai concluir os estudos regulares no Colégio
Diocesano de Penedo/AL e, posteriormente, no Liceu Estadual, em Maceió.
No final da década, já
estabelecido em Maceió, integra o grupo LSD (Luz Som Dimensão)
em que também figuravam o cantor Djavan, em início
de carreira, e o baterista Beto Batera (falecido em 2010); este viria nas décadas de 1970 e 80 tocar com Roberto Carlos, Moacir Franco e Waldik Soriano, entre outros. Beto é irmão
mais velho do hoje renomado baterista alagoano Carlos Balla. O LSD tocava em
praças, clubes, praias, palanques, até igrejas, geralmente interpretando os Beatles.
Antes
de alcançar renome nacional, Egildo Vieira integrou orquestras de
baile, como a do Iate Clube Pajuçara, em Maceió.
No início da década de 1970, integrando o GAPEMA
(Grupo Artístico de Pesquisas Musicais de Alagoas), participa do
Festival de Música de Goiânia/GO.
Ariano Suassuna, que procurava um flautista para integrar seu grupo de música
armorial, ao ter conhecimento de sua bem sucedida atuação
através de jornal alagoano, convida-o para integrar o Quinteto Armorial.
Com
o Quinteto Armorial percorreu todo o Brasil. Na época de lançamento do primeiro disco (Do Romance ao Galope Nordestino, 1974) o grupo foi recebido com entusiasmo pelo crítico José Ramos Tinhorão em artigo do Jornal do Brasil de dezembro de 1974:
"Quantas vezes, na história de qualquer país do mundo, se conseguiu fundir em uma dúzia de peças musicais o regional no universal e o popular no erudito? A julgar pela trajetória da cultura ocidental (...) esses momentos (...) não foram muitos. Por isso mesmo, o aparecimento de um desses raros exemplos no Brasil (...) só pode ser saudado como milagre. O milagre, no caso, é representado pelas músicas do LP Quinteto Armorial -Do Romance ao Galope Nordestino (...). Ao som da viola sertaneja do compositor Antônio Madureira, da rabeca de Antônio Nóbrega, do violão de Edilson Eulálio, do pífano e flauta de Egildo Vieira e do marimbau de Fernando Torres, composições como "Revoada" e "Ponteio Acutilado" transportam numa ponte de quatro séculos a Renascença para o Nordeste, para repetir a experiência fantástica da fusão da plangente monodia do marimbau dos cegos com a polifonia do violão, esse descendente do alaúde, enquanto a viola soa cortante e metálica como um clavicórdio". (...) "A revelação musical do Quinteto Armorial vem mostrar que, das profundezas da criação popular, também se pode tirar uma cultura autenticamente nacional. Quem ouvir dirá se não estamos com a razão. Mas, pelo amor de Deus, não deixem de ouvir". [Jornal do Brasil, 10 de dezembro de 1974]
Participou
dos grupos LSD, Gapema (Grupo Artístico de Pesquisas Musicais de
Alagoas), Quinteto Armorial, Conjunto Pernambucano de Choro, Orquestra de Pau e
Corda, Som da Terra, Ororubá, entre outros.
Graduado
em música pela Universidade Federal de Pernambuco, lecionou em cursos de extensão.
Ministrou
palestras e oficinas de pífano por todo o Brasil e a partir de 2009, baseado em Piranhas, pretendeu tornar a cidade referência
nacional na confecção artesanal aliada à prática
musical desse instrumento, desejando com isso resgatar a cultura regional dos grupos de pífano e percussão, então menos preservados em
Alagoas do que já fora.
Quando integrou a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, idealizou o Conservatório Municipal Cacilda Damasceno Freitas (inaugurado em 18 de outubro de 2009) e criou o Bloco Cheiro de Saudade (2009-2012), o Grupo Musical Armorial de Piranhas (GMAP, 2010) e o Grupo
Chorões de Piranhas (2010), além de uma extensão
do grupo armorial para crianças chamado “Gmapinho” (2011).
Luthier
renomado confeccionava seus próprios instrumentos. Sua matéria
prima era composta por elementos retirados da natureza: taquaras,
cabaças, quenga de coco, entre outros. Seus pífanos,
frutos de anos de pesquisa, para os quais desenvolveu uma escala (tabela de
digitação básica) própria, eram vendidos em todo o território
nacional e também para o exterior –
Europa e Estados Unidos.
Em 17 de janeiro de 2014, foi homenageado pelo Governo do Estado de Alagoas que
lhe conferiu a comenda Cavaleiro da Ordem do Mérito dos Palmares.
Faleceu no dia 30 de julho de 2015 na cidade de Maceió. Velório e sepultamento ocorreram na tarde do dia 31 em sua cidade natal, no sertão de Alagoas.
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