(Áudio ilustrativo produzido no programa Sibelius com o Noteperformer integrado)
TEMPORADA
— Dobrado de autoria desconhecida
Por
Billy Magno
Restaurado a partir das antigas
partes originais encontradas no arquivo da Sociedade Musical Guarany, da cidade
de Pão de Açúcar/AL, o dobrado Temporada
foi muito executado, sobretudo nos anos 70 e 80 do século passado, nas
procissões que a banda acompanhava sob a regência do maestro Afrânio Menezes
Silva (Pão de Açúcar, 03/01/1936 - 08/12/1991), o saudoso Bubu. Esse dobrado
teria sido composto na cidade de Capim, atual Olivença, conforme dá a entender o
que está grafado nas cópias originais, e teve três copistas: P. Abreu (que escreveu as partes de 1. clarinete, 2. clarinete, sax soprano, piston, barítono e bombardino) e Jovino Azevedo (requinta e flautim mi
bemol, 1. trombone, 2. trombone, 1. trompa mi bemol, 2. trompa mi bemol e helicon
– espécie de tuba em mi bemol muito usada na época) que copiaram as partes em
18 de junho de 1920, e ainda Américo
Castro Barbosa, que copiou a parte de baixo (tuba) em si bemol já em 7 de
agosto de 1920, provável data em que o dobrado chegou à cidade de Pão de
Açúcar.
Segundo o músico pesquisador
Flávio Ventura (1978), Jovino Azevedo teve posição de destaque nas bandas daquela
região e foi maestro da Filarmônica Santanense, também chamada
"Aratanha", criada em 1922 para os festejos do centenário da Independência.
Na banda rival, chamada "Carapeba", atuava, nessa mesma época, Pedro
de Abreu. É provável que seja o mesmo "P. Abreu" que também assina as
cópias do dobrado Temporada.
Sobre o terceiro copista,
Américo Castro Barbosa nasceu em Pão de Açúcar em 03 de dezembro de 1903. Era
irmão caçula de Manoel Victorino Filho, o Mestre Nozinho (Neópolis/SE, 17/10/1895
– Maceió/AL, 18/04/1960), e tocava clarinete na banda União e Perseverança de Pão de Açúcar (atual Sociedade Musical Guarany), onde tinha o irmão como maestro. Ele
começou a carreira ainda nos primeiros anos na década de 1910. Já estava na
banda em 1917, conforme atesta uma fotografia do mesmo ano. Na década seguinte
vai para Maceió e mantém sua própria orquestra, a Jazz Band A. Castro, que tem ao trombone o muito jovem e futuro
maestro da banda do 20.º BC, Manoel Capitulino de Castro, que virá ser o famoso
maestro Passinha (Pão de Açúcar/AL, 11/10/1908 Maceió, 03/06/1993).
No final dos anos 1930, [Américo]
ruma para o Rio de Janeiro, então capital da república, onde faz parte da
orquestra do maestro Fon-Fon (Otaviano Assis Romeiro — n. Santa Luzia do
Norte/AL, 31/01/1908 – Atenas/GR, 10/08/1951), como contrabaixista, tocava
também violino, excursionando com ela pela Argentina em 1941 e Uruguai
(Montevidéu), em 1953. Deixou registrado em disco o "Corridinho n.
100" e o choro "Aguenta a mão" em 1946. Faleceu no Rio de Janeiro,
em 1967.
♫
Do dobrado Temporada, houve também revisões feitas
pelo maestro Bubu (em 1972 e 1980, quando foi acrescentada a parte de sax alto)
e por mim, em maio de 1997, quando foram acrescentadas as partes de 3.
clarinete, 3. piston, 3. trombone, 3. trompa, sax tenor, sax barítono e
percussão. Este dobrado também é muito popular na cidade de Piranhas, para onde
foi levado pelo maestro Afrânio (Bubu) em 1989 quando este assumiu os trabalhos
na Escola de Música Mestre Elísio José
de Souza (atual Filarmônica Mestre Elísio), refundada em fevereiro daquele
ano.
Nesta nova edição, feita por
Flávio Ventura e supervisionada por mim, foram eliminados erros e incoerências
harmônicas que perduravam há quase 100 anos e foram negligenciados nas revisões
anteriores; foram revisadas as partes acrescentadas em 1997 que não faziam
parte da orquestração original de 1920 e outras, como sax alto, que foi
acrescentada em 1980, e 1. Piston, foram finalmente reescritas respeitando
sempre a estrutura original da antiga orquestração.
Ainda não nos foi possível
descobrir a autoria deste dobrado assim como de tantos outros da mesma época. Assim
sendo, estamos abertos a qualquer informação e cooperação com outras bandas de
música do estado e do Brasil sobre esta e outras obras que nos leve a saber a
sua verdadeira autoria para que se lance luz para as novas gerações sobre o que
foi a música na região do Baixo São Francisco e no Estado de Alagoas.
São
Paulo, fevereiro de 2018
Da tradição santanense: Temporada
Flávio Ventura
Em 1918, Capim, atual município alagoano de
Olivença — na época parte do território de Santana do Ipanema —, tem organizada
uma pequena banda de música com 15 instrumentos pertencentes aos próprios
integrantes músicos, entre os quais, Amabílio[1] e
Miguel Bulhões[2],
Jonas Aragão[3],
Pedrinho Preto e Jovino Azevedo[4].
Desde 1914, existia em Santana uma banda
denominada Carapeba.
Notório foi o sucesso da banda da povoação Capim
quando convidada para se apresentar na sede do município, em 1920.
Em 1922, sob a regência de Jovino Azevedo, é
criada (com músicos também selecionados entre os componentes da banda de Capim)
a Filarmônica Santanense, popularmente conhecida por “Aratanha”. Ambas,
Aratanha e Carapeba coexistem com algum ranço de rivalidade e cessam
atividades, respectivamente, em 1924 e 1926.
Só 9 anos depois remanescentes das duas bandas
são reunidos, sob regência do maestro Abílio Mendonça (Floresta do Navio/PE,
02/06/1879 - Pão de Açúcar, 30/12/1963)[5],
para formarem a Santa Cecília, logo após dirigida por Miguel Bulhões e, nos
anos 1940, pelo jovem maestro José Ricardo Sobrinho, morto em consequências
trágicas no carnaval de 1947, aos 28 anos.
♫
Dessa tradição musical santanense sobreviveu-nos
um dobrado, preservado no acervo da cidade de Pão de Açúcar (núcleo catalisador
da atividade musical nesta parte do Baixo São Francisco) e na Mestre Elísio
pela consequente atividade de mestres dessa cidade em Piranhas.
De autoria desconhecida, o dobrado Temporada resiste em cópias de P. Abreu
e Jovino Azevedo datadas de junho de 1920, produzidas na povoação de Capim.
Entre elas há ainda, da mesma época, uma cópia de parte para baixo sib feita em
Pão de Açúcar por Américo Castro (1903-1967)[6].
No início dos anos 1990 com cópias e adaptações
de Mestre Bubu[7]
e cerca de 10 anos depois, data da última cópia renovada, foi regularmente
praticado pela banda de Piranhas.
Este ano, no que seria o centenário da banda de
Capim, apresentamos a primeira edição do dobrado Temporada. Edição recentemente revisada por Billy Magno[8]
que em maio de 1997 já o havia revisto e ampliado.
♪
Fontes:
[1]
Amabílio Bulhões seguirá carreira de militar músico no Rio de Janeiro.
[2]
Miguel Bulhões será maestro da Banda Santa Cecília, criada na década de 1930.
[3]
Jonas Aragão se destacará nacionalmente. Falece no Peru.
[4]
Apelidado Jovino “Sebança”.
[5] Natural de Floresta do Navio, Pernambuco, maestro
Abílio Mendonça dirige bandas nas cidades de Neópolis/SE, Santana do Ipanema e
Pão de Açúcar.
[6] Um dos irmãos músicos de mestre Nozinho (Manoel
Vitorino Filho, 1895-1960), Américo, clarinete e violino, viria a ser
contrabaixista da orquestra de Fon-Fon, no Rio de Janeiro.
[7]
Afrânio Menezes Silva (1936-1991), maestro
da Filarmônica Mestre Elísio no período 1989-1991.
[8] BILLY MAGNO nome artístico de Williams Magno Barbosa
Fialho (Pão
de Açúcar-AL 05/07/1978). Músico multi-instrumentista e arranjador. Na
adolescência, foi estudar orquestração e regência em Salvador (BA). Iniciou na
profissão em 1984 e teve como professores Paulo Henrique Lima Brandão (teoria),
Petrúcio Ramos de Souza (orquestração e regência), Maria Mercedes Ribeiro Gomes
(piano) e Edvaldo Gomes (contraponto), tendo ainda participado de Master Class de arranjo com Cristóvão
Bastos, harmonia com Nelson Faria e trilha sonora com David Tygel. Dedicou-se,
ao longo do tempo, à causa da música instrumental na qual tem atuado com mais
frequência, trabalhando no Brasil e na Europa. Em junho de 2004, passa a viver
em São Paulo. (http://abcdasalagoas.com.br/verbetes.php)