1989 à 1991
Mestre Bubu - Fevereiro de 1991 |
Seu primeiro maestro foi Afrânio Menezes Silva[1]
(ou mestre Bubu, como era comumente conhecido).
Natural de Pão de Açúcar, cidade pródiga na
produção de músicos talentosos, Bubu iniciou as aulas em maio daquele ano. A
Escola de Música era no Centro Social e Esportivo Piranhense (CSEP),
precisamente onde hoje (2013) se instala o Auditório Miguel Arcanjo de
Medeiros. As aulas de iniciação ocorriam a partir de 8 horas e se estendiam por
toda a manhã. As primeiras inscrições eram feitas no prédio da prefeitura.
Setenta e oito alunos se matricularam. Em sua maioria crianças, as quais se
juntaram um número expressivo de jovens (homens e mulheres já “adiantados” em
idade) também animados com a novidade que se lhes foi apresentada: a formação
da Banda de Música.
No tempo oportuno, quando a Escola de Música começou
a revelar seus primeiros talentos, os aprendizes músicos mais adiantados
estudavam dobrados, que é o tipo de música mais comum nas bandas
interioranas.
A primeira apresentação da Banda foi no dia 7 de
setembro daquele ano. Apesar do pouco tempo empregado para viabilizar a
formação de uma banda, o compromisso firmado pelo maestro de fazer a Banda
atuar ainda naquele primeiro ano era imperativo: devia-se apresentar. Para esse
primeiro evento compunham a Banda: Zilvan e Jaime (clarinetas); Jorge e Zé
Carlos (trompetes); Bujão (bombardino) e “Seu” Elias Balaio (trombone); estes dois últimos, remanescentes da antiga
banda do mestre Elísio no período 1958/62. Além deles, se juntavam ao grupo: Zé
Broinha – trompetista renomado – e Damião, trombonista instrutor de fanfarras;
e os percussionistas convocados (da Fanfarra da Escola Cenecista Coronel José
Rodrigues): Negão, Iara e Evaldo (caixa); mais os veteranos Tonho de Inês
(bombo) e Natalício (surdo).
Após essa primeira apresentação outros talentos
iniciados ou convocados por Bubu se revelaram ao longo dos meses seguintes e
foram devidamente integrados à Banda.
Belo (tuba) e Robinho Teixeira
(clarinete/sax-alto); Flavinho (pistom) e Cristóvão (pistom); Mô/Ivanise
(trombone) e Fia/Maria José Galdino (trompa); Tilo/Maria de Fátima Capela (pistom)
e sua irmã Bel/Isabel Capela Bezerra (arquivista); Karine (pistom) e Ana
(surdo), ambas as filhas de Fá e Bujão; Cri (aos seis anos de idade, prodígio
na caixa-tarol) irmão dos trompetistas Jorge e Zé Carlos, filhos de Elias Balaio; Pepê/Jackson da Silva (tarol),
Tiquinho/Francisco Fernandes Guerra (arquivista/pratos), entre outros, vieram a
fazer parte da Banda de Música Mestre Elísio (BMME) dos primeiros anos.
Fevereiro de 1991 |
A Banda tocava principalmente dobrados.
Quando as festividades eram religiosas, ao repertório eram acrescentados hinos.
Depois passou a se apresentar nas datas cívicas – emancipação política do
Município no dia 3 de junho, etc. – além de outras atividades da comunidade. A
principal dessas festas era a da Padroeira que se dá em fins de janeiro ao dia
2 de fevereiro quando músicos de outras cidades eram convidados para “reforçar”
a Banda. Como os de Petrolândia: Miguel, Jardiel e Seu Tico (trompetistas); Etinho (trombonista); e Divacy (saxofone
tenor) – natural de Piranhas e “sobrevivente” da banda do mestre Elísio, mas
radicado há muito em Petrolândia; mais os já citados Brandão e Damião, naturais
de Pão de Açúcar e residentes em Piranhas. Possivelmente outros músicos de Pão
de Açúcar, de onde viera o maestro, sem que se possa nominá-los com segurança.
É preciso registrar que Zé Broinha (José Brandão de
Souza), grande trompetista, era figura quase onipresente nas principais festas
religiosas da cidade. Tocando na Igreja de Nossa Senhora da Saúde regularmente,
impressionava a todos os iniciados da Banda pela expressividade altamente
pessoal de seus acompanhamentos. Foi
grande inspirador daquela geração. Pelo menos para os trompetistas ele era referência
e modelo.
A sede da Banda foi inaugurada no dia 4 de
fevereiro de 1990 na Praça Padre Cícero, no Cabrobó – parte do Centro Histórico
nas imediações da Prefeitura que abrange a Rua José Nunes Araújo em direção à
subida da ladeira até a entrada do Sacão*
e o Alto do Cemitério, em Piranhas de Cima.
Ao longo de sua história, a BMME[2]
teve várias sedes, todas provisórias, segundo a disponibilidade dos imóveis da
prefeitura na sucessão de seus diversos governos, tendo encontrado sua sede
definitiva no dia 18 de outubro de 2009 nas dependências do Conservatório Municipal
de Música Cacilda Damasceno Freitas, recém fundado.
Do Centro Social e Esportivo Piranhense (CSEP) à
Praça Padre Cícero; depois a uma das salas da Escola Estadual Manoel Porfírio
de Brito, na Praça Dr. Itabira de Brito; à antiga Estação Ferroviária, onde
hoje se instala a Biblioteca Pública; à casa onde abrigou a Delegacia, na Rua
Tiradentes (ou Rua do Cartório); ao CSEP outra vez; numa casa entre a Oficina
(Centro de Artesanatos) e o prédio do IPHAN; no segundo pavimento da Estação
Ferroviária, hoje Secretaria de Cultura e Turismo; ao casarão central da Rua do
Comércio; e, finalmente, 20 anos depois, no prédio da antiga Cadeia Pública,
reconstruído em 2009 para abrigar o Conservatório.
...Um momento histórico para a Banda de Música Mestre
Elísio sob a batuta do mestre Bubu foi uma apresentação no dia 13 de junho de 1991,
ocasião em que o Presidente da República Fernando Collor de Melo viera às obras
da Usina Hidrelétrica de Xingó para a solenidade oficial em que o curso do Rio
São Francisco seria mudado. Nesse dia, uma missa em ação de graças foi realizada
no povoado Piau, distrito de Piranhas, que contou com a presença do Presidente
e autoridades diversas (federais, estaduais e municipais) na modesta – porém,
não desimportante – Igreja do Senhor do Bonfim.
A imprensa cobriu intensamente esse evento, o que fez com que naquele
dia os olhos do Brasil se voltassem para a Lapinha
do Sertão[3]; e a
BMME no máximo se contentou em ser mais uma figurante como tantos outros que
figuravam naquele dia caloroso (em todos os sentidos). Por falar nisso, Bujão
(Augusto José Neto) relembra que a Banda ensaiou dias a fio o Hino Nacional
Brasileiro para tocar naquela cerimônia, mas, no momento oportuno, foi impedida
de tocá-lo, advertida pelo cerimonial de que somente as Bandas do Exército e da
Marinha poderiam fazê-lo. Contentamo-nos, assim, em tocar nosso “humilde”
repertório básico.
Nesse mesmo ano (1991), em dezembro, veio a falecer
o mestre Bubu (Afrânio Menezes Silva). Antes, em maio, Seu Elias Balaio
tinha sido vítima de um acidente fatal de automóvel.
Após três anos de trabalho à frente da Banda de
Música Mestre Elísio, Bubu se despede da vida no dia 8 de dezembro. A BMME, no
dia seguinte (segunda-feira), vai ao sepultamento do seu maestro. Todos os
músicos em Pão de Açúcar se solidarizam e tocam no cortejo fúnebre até o
Cemitério Municipal. No momento final é tocado o dobrado Saudades de Minha Terra. Apesar da comoção, havia um clima de confraternização
musical jamais visto pelos músicos da jovem Banda de Música Mestre Elísio,
então com dois anos de idade. Mestre Bubu plantara uma semente musical que
germinando, cresceu e deu frutos para colhê-los aquele que veio consolidar a
Banda: Cícero Francisco de Brito – o Maestro Cafau.
[1] Segundo Seu Aroldo, o
irmão mais velho, Bubu começou a estudar música e tocar com dez ou doze anos –
entre 1946 e 1948. No início, mestre Nozinho o levava junto com outros iniciados
para tocar em Belém, Caiçara e Ilha de São Pedro. Bubu era um hábil
contrabaixista. Naquele tempo, os músicos de Pão de Açúcar quando vinham para a
festa da padroeira em Piranhas, começavam a tocar ainda na embarcação, quando
avistavam de longe os monumentos característicos da cidade: “a Igrejinha, o
Mirante, a Estação” – tal como descrito pela doutora Rosiane no Hino de
Piranhas. Diz-se que era a melhor banda de música do Baixo São Francisco.
Conforme o testemunho de Bujão, os músicos do mestre Nozinho eram práticos em
outros ofícios. Bubu e Zé Broinha, por exemplo, eram alfaiates; Cafau,
sapateiro.
[2] Banda de Música Mestre
Elísio.
[3] Lapinha do Sertão é o nome
pelo qual a cidade de Piranhas é também conhecida. Esse nome deve-se ao fato de a cidade estar
localizada entre serras, assemelhando-se a um presépio estilizado. Alguém teria
notado tal semelhança e deu o nome de “lapinha” que passou para a posteridade.
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