sábado, 23 de agosto de 2025

UMA RIVALIDADE DOURADA: CORNET (PISTOM) VS. TROMPETE



A palavra pistom é frequentemente usada como um sinônimo para o cornet ou cornetim, que na língua francesa é chamado de cornet à pistons (corneta de pistões).

O cornet é um instrumento de sopro da família dos metais, assim como o trompete. A grande diferença é o formato do tubo: o trompete tem uma tubagem mais cilíndrica; o cornet tem uma tubagem mais cônica.

Essa diferença no formato do tubo dá ao cornet um som mais suave, menos brilhante e mais fácil de tocar que o do trompete, especialmente nas notas mais graves.  Em algumas regiões e épocas, o termo pistom se referia especificamente ao cornet, que era muito popular nas bandas de música e orquestras. No Brasil, historicamente, a palavra pistom foi usada para ambos os instrumentos.

Uma Rivalidade Dourada: Cornet (Pistom) vs. Trompete

Por décadas, o mundo da música foi palco de uma rivalidade acirrada entre dois dos mais nobres instrumentos de metal: o cornet e o trompete. A disputa, que se desenrolou no final do século XIX e início do século XX, não era apenas sobre qual soava melhor, mas sobre qual era o verdadeiro rei das bandas de concerto.

O cornet era o instrumento preferido para a maioria das bandas. Seu som mais suave e a agilidade nas passagens rápidas o tornavam ideal para as melodias líricas e solos virtuosísticos das marchas e dobrados.

O trompete, por outro lado, ainda era visto por muitos como um instrumento mais rude, com som mais forte e penetrante, geralmente usado para fanfarras e na orquestra sinfônica.

A Preferência de Herbert L. Clarke

Herbert L. Clarke, um dos maiores cornetistas da história, era um defensor ferrenho do cornet. Ele acreditava que o trompete era inadequado para o papel de solista e que seu som era menos expressivo. Embora ele tenha tocado trompete em orquestras sinfônicas em alguns momentos de sua carreira (incluindo na Filarmônica de Nova York), ele via o cornet como o instrumento superior para as exigências técnicas e expressivas das bandas de concerto.

Essa preferência de Clarke, um dos músicos mais influentes de sua época, cimentou ainda mais o lugar do cornet nas bandas americanas por muitos anos.

O Cornet: O Rei Indiscutível das Bandas

No auge de sua popularidade, o cornet, ou como era popularmente chamado no Brasil, o pistom, era a voz principal das bandas de música. A maioria dos virtuoses da época, como o lendário Herbert L. Clarke, não escondia seu desdém pelo trompete, que ele considerava um instrumento grosseiro e pouco refinado para os solos complexos que ele executava.

A preferência não era por acaso. O cornet tem uma tubagem mais cônica (estreita no início e mais larga no final), o que lhe confere um som mais suave, redondo e lírico. Além disso, seu formato o tornava mais ágil para passagens rápidas e melodias fluidas, características essenciais nas marchas, valsas e polcas que dominavam os repertórios das bandas.

Para os seus defensores, o cornet era o instrumento perfeito para a expressão musical, a verdadeira "voz" da melodia.

O Trompete: A Fanfarra e o Futuro

Enquanto o cornet reinava nas bandas, o trompete era relegado a um papel mais secundário. Com sua tubagem mais cilíndrica, seu som é mais penetrante, forte e claro. Por isso, ele era tradicionalmente usado em orquestras para fanfarras e passagens majestosas que exigiam um brilho sonoro marcante.

A visão de que o trompete era inferior para a melodia começou a mudar no início do século XX. O surgimento de novos gêneros musicais, como o jazz, pedia um instrumento com uma voz mais cortante e um som que pudesse se destacar em um conjunto. Foi o trompete que se mostrou ideal para essa função.

Músicos como Louis Armstrong popularizaram o trompete como um instrumento de solo de uma forma que nunca havia sido vista, mostrando ao mundo sua incrível capacidade de improvisação e expressão. Ao mesmo tempo, melhorias na fabricação do instrumento o tornaram mais ágil, desafiando a antiga supremacia do cornet.

O Veredito e o Legado

A rivalidade teve um vencedor claro: o trompete. Com o tempo, ele substituiu o cornet (pistom) como o instrumento padrão na maioria das bandas e orquestras.

No entanto, a disputa não foi sobre qual instrumento era "melhor", mas sobre qual era mais adequado para as necessidades de uma era em constante mudança.


QUIZ: https://g.co/gemini/share/6d909d89b0f9

________________________________
Fonte:

Uma Rivalidade Dourada: Corneto (Pistom) vs. Trompete. https://gemini.google.com

MATTE, Jean-Luc. Typologie des instruments à embouchure. In: JEAN-LUC MATTE. [S.l.], 2011. Disponível em: http://jeanluc.matte.free.fr/articles/typologie/typologie.htm#32322. 

PAULO CASTAGNA, F. B. e. Trombetas, Clarins, Pistões e Cornetas no Século XIX e as Fontes para a História dos Instrumentos de Sopro no Brasil. Música Hodie, Goiânia, v. 5, n. 1, 2008. DOI: 10.5216/mh.v5i1.2651. Disponível em: https://revistas.ufg.br/musica/article/view/2651. Acesso em: 23 ago. 2025.



quinta-feira, 21 de agosto de 2025

QUIZ 1

Quiz Interativo

Quiz: Dia do Clarinetista

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

13/8. DIA DO CLARINETISTA


Johann Christoph Denner: O Pai do Clarinete

Johann Christoph Denner (13 de agosto de 1655 – 26 de abril de 1707) foi um renomado fabricante de instrumentos de sopro de madeira da era Barroca, nascido em Leipzig, Alemanha. Sua família, originalmente de afinadores de trompas, mudou-se para Nuremberg em 1666, onde Denner estabeleceu sua própria oficina em 1678. Ele se tornou conhecido por sua excepcional habilidade na fabricação de instrumentos como flautas doces, oboés e fagotes, que eram muito valorizados na Europa da época.



A Invenção do Clarinete

A maior contribuição de Denner para a história da música foi, sem dúvida, a invenção do clarinete. No final do século XVII e início do século XVIII, ele trabalhou no aprimoramento do chalumeau, um instrumento de palheta simples popular na época.

O chalumeau, embora tivesse um som agradável no registro grave, era limitado em sua extensão e versatilidade. Denner, com sua expertise e curiosidade, fez modificações cruciais que transformaram o instrumento:

  1. Adição de uma chave de registro: Esta foi a inovação mais importante. Ao adicionar uma chave na parte superior traseira do instrumento, Denner permitiu que o chalumeau produzisse notas em um registro agudo, expandindo dramaticamente sua extensão sonora. Essa chave de registro, ao sobre soprar, fazia com que o instrumento saltasse uma décima segunda (intervalo de uma oitava e uma quinta), criando um novo registro sonoro.

  2. Melhorias na boquilha e na campânula: Ele também refinou o design da boquilha e fez alterações na forma do sino (campânula), contribuindo para a qualidade e projeção do som.


O Primeiro Clarinete

Estima-se que as primeiras versões do clarinete, como o conhecemos, surgiram por volta de 1700. Os primeiros clarinetes de Denner tinham geralmente duas chaves. Embora a primeira referência documentada a um clarinete seja uma fatura do seu filho Jacob Denner datada de 1710 (três anos após a morte de J.C. Denner), é amplamente aceito que Johann Christoph Denner foi o visionário por trás de sua criação.


Legado

O trabalho de Johann Christoph Denner lançou as bases para o desenvolvimento contínuo do clarinete. Seus filhos, Jacob e Johann David Denner, continuaram o legado da família na fabricação de instrumentos. A invenção de Denner abriu caminho para futuras inovações, como as de Iwan Müller e, posteriormente, do sistema Boehm, que solidificaram o clarinete como um dos instrumentos mais expressivos e versáteis na música clássica, jazz e muitos outros gêneros. Por sua genialidade e impacto duradouro, Johann Christoph Denner é justamente reconhecido como o pai do clarinete.

O sistema Boehm para o clarinete foi padronizado por Hyacinthe Klosé e Louis-Auguste Buffet.


A Origem do Sistema Boehm

O nome "Boehm" vem de Theobald Boehm, um flautista e inventor alemão que, na década de 1830, revolucionou o design da flauta transversal. Ele criou um sistema inovador de chaves e orifícios com anéis que permitia uma maior precisão na afinação e uma digitação mais fácil e lógica.


Adaptação para o Clarinete

Inspirados pelas inovações de Boehm para a flauta, o clarinetista francês Hyacinthe Klosé (professor do Conservatório de Paris) e o fabricante de instrumentos Louis-Auguste Buffet trabalharam juntos para adaptar esse sistema ao clarinete. Entre 1839 e 1843, eles desenvolveram o que hoje conhecemos como o "Sistema Boehm para Clarinete".

As principais adaptações incluíram:

  • A utilização de chaves de anel, que permitiam abrir e fechar vários orifícios com um único movimento do dedo.

  • A relocação de alguns orifícios para melhorar a afinação e a sonoridade.

  • Um sistema de digitação mais intuitivo e menos complexo, eliminando a necessidade de "dedilhados cruzados" problemáticos que existiam nos sistemas anteriores (como o sistema Müller).

O sistema Boehm se tornou o padrão na maioria dos países, exceto em algumas regiões da Alemanha e Áustria, onde o sistema Oehler ainda é popular.

Então, embora Theobald Boehm tenha criado o sistema para a flauta, foram Klosé e Buffet que o adaptaram e padronizaram para o clarinete, tornando-o o sistema dominante para o instrumento em grande parte do mundo.