terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Depois do Acampamento (1915) - por Abílio Mendonça

Revisto e atualizado em 14/07/2021 às 19h22min.


(Áudio ilustrativo produzido no programa Sibelius com o Noteperformer integrado)


Depois do Acampamento

Dobrado de Abílio Mendonça (1879-1963)

 

O maestro Abílio de Carvalho Mendonça ficou na memória afetiva da população pão-de-açucarense como um grande seresteiro que, na primeira metade do século XX, atuou como músico de filarmônica e regente admirado, mas o compositor de banda que ele também foi, ignorávamos até há pouco tempo. Graças a um contemporâneo seu, 16 anos mais jovem, conhecido mais tarde por Mestre Nozinho – colecionador apaixonado do material que sustenta seu ofício –, pudemos recuperar parte de sua obra e reabilitar sua imagem e relevância na história das bandas do sertão.

A atividade musical de Mestre Abílio não se limitou à cidade de Pão de Açúcar; trabalhou em Santana do Ipanema, na década de 1930 e, por volta de 1940, em Neópolis, estado de Sergipe.

Mestre Nozinho faleceu em 1960; Mestre Abílio sobreviveu-lhe ainda três anos, mas deve a seu colega mais novo a permanência no acervo de bandas da cidade de Pão de Açúcar de duas obras suas – os dobrados Nº 9 (1914) e Depois do Acampamento (1915). Estas tiveram a sorte de passar à salvaguarda de quem não apenas herdou o talento musical do pai, mas, principalmente, o zelo pela memória musical da cidade, representada em partituras e fotografias – Tonho do Mestre (1932-2019). A essa coleção chamamos de Acervo Antônio Melo Barbosa.

Recuperado em janeiro e publicado em maio de 2019, o Dobrado Nº 9 é uma modesta contribuição ao repertório de bandas quando comparado a seu similar em tonalidade e forma Depois do Acampamento, mais amplo e arrojado.

Na tonalidade Si bemol menor (Bbm) e estrutura padrão A-B-C, Depois do Acampamento guarda afinidade formal com dobrados tradicionais do compositor de Sargento Caveira e Cisne Branco (Sargento Calhau - dobrado nº 215), o baiano Antônio Manoel do Espírito Santo (1884-1913) – filho de baiano com uma alagoana da cidade de Palmeira dos Índios. Na esteira da tradição, temos ainda o dobrado General Manuel Rabello – autoria de João Nascimento, maestro ligado a Aeronáutica, embora tenha iniciado carreira no Exército, em 1919.

Ao tema principal (seção A) em tom menor, sucedem-se duas seções (B-C) no tom relativo maior. Uma transição no tom da dominante prepara a seção B seguida pela repetição da introdução. No Trio (seção C), tenores e baixos reproduzem a melodia de caráter marcial solene, acompanhados por marcação cerrada a tempo de sopranos e contraltos. Convencionalmente, conclui-se com retorno Da capo al fine senza repetizione[1].

Das partes mais antigas, quatro são datadas de 9 de junho de 1915: clarinete, pistom 1, trombones 1-2 e bateria. A de trompas Mib 2-3 indica apenas mês e ano. Partes de barítono, trompa 1, baixos Mib e Sib não indicam o ano de cópia. Mais tarde, em 1945, são preparadas partes para requinta, clarinete 2, sax alto (27/jan.) e bombardino (03/fev.).


Pesquisa: Billy Magno, 2018-19.
Dobrado Depois do Acampamento -- parte para 1º clarinete do copista Manoel Ferreira.
(Acervo Antônio Melo Barbosa)


Inexiste a partitura completa, que deve ter sido negligenciada pelos copistas, como a maioria das partituras, se não todas, das obras que temos lidado. Ou sua raridade se explica pelo fato de ser material exclusivo do compositor/regente. Nessa condição, tinha menos chance de sobreviver do que as partes cavadas – estas, sim, duplicadas ou triplicadas segundo a necessidade da banda à época.

Dos copistas, Manoel Ferreira assina clarinete 1 e trompas Mib 2-3; José Castro Barbosa (1901-1969), trombones 1-2; Manoel Pauferro Filho, embora não creditado, é identificado por comparação da grafia e assina tubas Sib e Mib, onde nesta se lê: “Pertence au loro Lourival Simas[2] - Pão de Assucar, 22 de julho de 1915”; e Mestre Nozinho (Manoel Victorino Filho), a parte de pistom 1 (9/jun./15) e duas das mais recentes (1945) – sax alto (27/jan.) e bombardino (3/fev.). Pela análise da grafia, atribuímos a ele ainda a de requinta e clarinete 2, sem data, mas possivelmente do mesmo ano, 1945. Do mesmo modo, a parte de barítono 1, não creditada, é a única escrita pelo próprio compositor e, apesar de não datada, também faz parte das primitivas. Um insondável Sr. Serafino subscreve a de bateria, em 9 de junho 1915.

É de se observar a função do barítono (então designado 1º barítono). Por preferência do compositor, aqui ele auxilia os dois trombones como se fosse um terceiro, diferente da maioria das instrumentações da época, onde normalmente ele dobraria o bombardino, função que agora cabe ao sax tenor, como é explicado mais adiante.

No total, o arranjo tem 21 páginas, sendo 13 partes cavadas para 17 instrumentos (trompas 2-3, trombones 1-2 e bateria são reduções). Considerando a instrumentação padrão, faltam aos “originais” partes para flautim/flauta, clarinete 3, saxofones tenor e barítono, trompetes 2-3 e trombone 3, as quais foram acrescentadas nesta edição, obedecendo ao seguinte esquema: flautas dobram requinta; sax tenor, o bombardino; sax barítono, a tuba; e nos naipes a 3, modera-se a distribuição das vozes de modo a não descaracterizar as intenções do compositor. Tais partes não eram comuns ao padrão das bandas de música do interior, sendo mais comum a instrumentação aos pares (2 pistons, 2 clarinetes, 2 trombones, 2 trompas). No caso dos saxofones alto e tenor em Pão de Açúcar, eles chegariam bem mais tarde, em 1931 e 1953, respectivamente.

Importante saber que o copista/clarinetista Manoel Ferreira indica que o dobrado Depois do Acampamento foi “mestrado” por Emídio Bezerra Lima (1865-1931) – forte indicativo de que a composição do mestre Abílio Mendonça fora dada em primeira mão pelo então maestro da banda da Sociedade União e Perseverança (SUP).

Significativa a atuação, nessa data (1915), dos irmãos Castro Barbosa, José e Manoel Victorino, encarregados de produzir cópias da composição original de Mestre Abílio. Três anos mais tarde, Manoel Victorino Filho assume o protagonismo na Música da região com a criação da Sociedade Musical Guarany, banda mais longeva (ainda em atividade) de todas as formações de banda já havidas na cidade de Pão de Açúcar e, mesmo após 30 anos de falecido, terá irradiada sua influência  para a cidade vizinha, Piranhas, através de dois dos seus ex-alunos, Bubu (Afrânio Menezes Silva, 1936-1991) e Cafau (Cícero Francisco de Brito, 1938-2009), que atuarão na Banda de Música Mestre Elísio, inicialmente assimilando parte do acervo e a prática do mesmo repertório fixado pelo Mestre 40 anos antes.


   


Abílio de Carvalho Mendonça

O maestro boêmio

Por Billy Magno[i]

 

Poucos encarnaram tão bem o espírito libertário da arte e mantiveram acesa tanto tempo a chama sagrada da melodia como Abílio Ignacio de Carvalho Mendonça. De natureza boêmia e alma inquieta, rompeu com as convenções sociais de seu tempo, vivendo de forma livre e independente. Se a sua vida pudesse ser descrita pelo nome de uma música, esta certamente seria a valsa do famoso compositor austríaco Johann Strauss II (1825-1899) chamada Vinho, Mulheres e Música (Wein Wueib und Gesang, no original em alemão), as coisas que mais amou em sua existência.


Pesquisa: Billy Magno, 2018.
Maestro Abílio Mendonça (1922)
(Acervo Lygia Maciel Mendonça)

Terceiro dos quatro filhos[3] do casal Manoel Joaquim Ignácio de Carvalho Mendonça de origem portuguesa (nascido em 1847 em Pernambuco) e Maria Constância das Dores (nascida em 1845 na freguesia de Tapera, estado da Bahia), de origem indígena, nasceu Abílio Ignacio[4] a 2 de junho de 1879 em Floresta do Navio, na época uma pequena vila em solo pernambucano localizada na região da bacia do rio São Francisco, distante 433 km da capital Recife.


Pesquisa: Billy Magno, 2018.
Manoel Joaquim Ignácio de Carvalho Mendonça, 
em 4 maio 1877. (Acervo Lygia Maciel Mendonça)


Manoel fora renegado pela família que, não aceitando seu casamento, o abandonara, voltando para Portugal, deixando-o sem aporte financeiro. Devido a precariedade dos arquivos não foi possível saber como ele sustentou a família durante toda a década de 1870, supondo-se que viviam de modo precário, mas com o decreto imperial nº 6.918 baixado em 1º de junho de 1878 determinando a construção de uma via férrea ligando as partes navegáveis do rio São Francisco entre a povoação de Piranhas na província de Alagoas e a localidade de Jatobá no vizinho estado de Pernambuco, a situação melhoraria.  A Estrada de Ferro Paulo Afonso começou a se tornar realidade quando teve suas obras iniciadas em 23 de outubro do mesmo ano, empregando na sua construção principalmente emigrantes fugindo da seca que assolava o norte-nordeste desde o ano anterior e se prolongaria até o ano seguinte. Esse foi o destino de Manoel e sua família que parecem ter chegado à vila de Piranhas em fins de 1879 ou início de 1880, indo trabalhar na construção da ferrovia. Trabalhava no primeiro trecho com 28 km de extensão entre Piranhas e Olho D'Água, todo ele em território alagoano quando em 17 de julho de 1880 no local chamado passagem do Cipó[ii], entre as onze horas e o meio-dia, deu-se o terrível acidente que deixou um saldo de 13 vítimas fatais, 2 feridas em estado grave e 5 contusas. Uma das pessoas feridas em estado grave foi o major João Marinho de Novaes e Mello, que fraturou uma perna pela coxa e recebeu outras contusões; faleceria pouco tempo depois, em 1º de maio de 1883. Entre os mortos estavam seu irmão o Dr. Antônio Ferreira de Novaes e Mello[iii], o comerciante pernambucano Maturino Barrozo de Mello e 11 trabalhadores, dentre estes, Manoel com apenas 33 anos de idade.[iv]


Pesquisa: Billy Magno, 2018
Passagem do Cipó -- local do acidente, em 1880. (Foto: Ignácio Mendo)

Após o ocorrido, sua viúva Maria Constância fixa residência em Pão de Açúcar. Chega em 1882[5], com os quatro filhos: Maria Emília (de 11 anos), Joaquim (5), Abílio (3) e Manoel com apenas 2 anos de idade[6]. Na nova cidade, para prover o sustento da família, trabalha arduamente como costureira.

Órfão de pai com apenas 1 ano, aos 11 também perderia a mãe. Maria Constância faleceria aos 45 anos em 13 de outubro de 1890. Foi declarante do óbito sua filha Maria Emília que, aos 19 anos, ainda não era alfabetizada (assim como os outros) e por isso não pôde assinar a certidão – assinou-a Francisco Antônio de Amorim.


Pesquisa: Billy Magno, 2018
Pão de Açúcar em 1888: Rua da Frente, atual Avenida Ferreira de Novaes. (Foto:  Adolpho Lindemann)


A partir desse momento supõe-se que a responsabilidade de cuidar dos menores recaiu sobre Maria Emília. Não é difícil imaginar toda a sorte de dificuldades que passariam os quatro, pelo menos por um período, e isso marcaria Abílio tão profundamente que ele praticamente não abordava o assunto, como se quisesse abafar esse início complicado de sua passagem por este mundo, mas que influenciaria para sempre a sua postura e conduta perante a vida.

Quis a sorte que numa curva da sua estrada o seu destino cruzasse com o de uma figura que tudo indica seria determinante na sua formação como homem e artista: José Emiliano de Souza[v] era um homem ligado a área jurídica, maestro e professor de primeiras letras na Pão de Açúcar da última década do século XIX e foi talvez o primeiro a perceber e incentivar o seu talento tornando-se mais que um tutor, praticamente um pai, responsável por alfabetizá-lo (já adolescente) e desenvolver sua aptidão musical, lhe ensinando os segredos da arte de Carlos Gomes (1836-1896), como conclui esta pesquisa. Passado esse período preparatório, surge Abílio aos 21 anos como músico na banda de música regida pelo maestro José Emiliano e mantida pelo Sr. Lucas Evangelista da Silva (nascido em 1852), a qual fora abrilhantar o assentamento do cruzeiro de madeira no morro do cavalete em 1º de janeiro de 1900 pela passagem do século. Não é possível determinar qual instrumento ele tocava nessa banda, mas há indícios de que fosse executante de bombardino.


Pesquisa: Billy Magno, 2018.
A banda de música da Sociedade União e Perseverança recepciona o governador Euclides Malta 
na sua visita a Pão de Açúcar em 30/07/1907. (Acervo Etevaldo Amorim)


Novas evidências sobre sua trajetória musical surgem no ano de 1910 quando é citado pelo jornal A Ideia já como maestro da banda de música da Sociedade União e Perseverança (SUP)[vi] por ocasião da visita do maestro José Emiliano, então radicado em Piranhas, “chamado a funcionar na 6ª noite da brilhante festividade do S.S. Coração de Jesus, cuja noite estava no encargo do corpo commercial desta cidade” – conforme carta datada de 8 de junho de 1910. Entre os vários agradecimentos do maestro, um é especialmente destinado à “destinta corporação musical regida pelo hábil maestro Abílio Mendonça” (A IDEIA, nº 31/1910).


Pesquisa: Billy Magno, 2018.
Maestro José Emiliano de Souza (à esquerda) e Abílio na banda regida pelo J. Emiliano em 1900.

Em 15 de abril de 1911 regeu o primeiro concerto da Euterpe de Pão de Açúcar, com instrumentos adquiridos em Recife, em cerimônia realizada no Politheama J. M. Goulart de Andrade[vii], onde discursaram Bráulio Cavalcante (1887-1912) e o promotor público Dr. Luiz Medeiros, “que em vibrantes palavras fez a apologia da música” (A IDEIA, nº 70/1911). Esta banda de música, que pertenceu ao velho teatro Politheama, ao que tudo indica teve vida efêmera, porém menos que a permanência de Abílio como seu regente, já que em setembro ele transferiu sua residência para a vila de Sant’Anna (atual cidade de Santana do Ipanema), a fim de reger uma banda de música naquela localidade (A IDEIA, nº 91/1911).

Não se sabe o que ocorreu, mas de volta a Pão de Açúcar um mês depois, em 18 de outubro, alegando motivo de força maior como justificativa, escreve uma carta endereçada aos santanenses publicada no dia 22 pelo jornal A Ideia na coluna chamada Ineditoriaes:

“Abilio Mendonça e Carolina Maciel Mendonça[7] tendo se retirado, por motivo de força maior do vosso centro social vem de longe agradecer a maneira cavalheirosa como os acolhestes, o beneficios e carinhos que lhes prodigalisastes, fazendo penhora das mais innolvidaveis, o da sua mais sincera amisade”. (A IDEIA, nº 97/1911)

 

Parece ser desse período ou pouco depois a alcunha de “Mestre”, que carregaria até o fim da vida.

Pesquisa: Billy Magno, 2018.
Banda de música da Sociedade União e Perseverança sob a regência do maestro Abílio Mendonça,
 em Belo Monte (atual município de Batalha ), 8 set.1919. (Acervo Antônio Melo Barbosa)


Apesar de ter sido nos primeiros tempos músico de banda de música, compositor de peças para tal formação e eventualmente professor e maestro entre a primeira e quarta década do século XX, Mestre Abílio hoje é mais lembrado e admirado pela sua bela voz de tenor que, segundo seu filho, o escritor Aldemar de Mendonça[viii], “educada em conservatório teria a consagração de um cantor de fama nacional”, além do violão, que executava com maestria, sendo na opinião do lendário violonista Adail Simas (1912-1995)[ix] – ele que era filho do clarinetista e maestro Álvaro Pereira Simas (1881-1961), amigo e contemporâneo de Mestre Abílio na banda ainda no início do século XX – o maior violonista que conhecera depois de Manoel Bezerra Lima, o genial Nezinho Cego (1883-1945)[x].  Assim, ele participou a partir de 1919 de uma reunião de músicos que culminou na formação do conjunto chamado A Batuta, ainda existente em 1926. Deste conjunto fizeram parte o maestro Manoel Victorino Filho (o Mestre Nozinho, 1895-1960) e seu irmão Américo Castro (1903-1967) – violinos, o clarinetista José Bento Lima (1899-1965)[xi] e os violões de Josué Duarte de Albuquerque (1893-1975)[xii], do poeta José Mendes Guimarães (1899-1968)[xiii], de Elpídio Fonseca, Antônio Marsiglia (1894-1927)[xiv], o ganzá de Álvaro Melo (1891-1963) e a voz de Darcy Gomes da Silva (1907-1941), entre outros, como o na época trombonista José Castro Barbosa (conhecido por Duda)[xv], que não está no registro fotográfico do conjunto feito em 20 de junho de 1922 mas é citado pelo escritor Gervásio Francisco dos Santos (1916-1981) em seu livro Um lugar no passado.

Pesquisa: Billy Magno, 2018.
Conjunto musical A Batuta, em 20 de junho de 1922. (Acervo Antônio Melo Barbosa)


Gervásio menciona também uma República (residência coletiva) formada por “jovens que trabalhavam no comércio e que representavam a elite de então. O prédio que marcou época como República, tornando-se um símbolo de Pão de Açúcar, foi um pequeno sobrado de parede amarela, portas e janelas verdes, que existia na Rua Ferreira de Novais, que era mais conhecido como sobradinho da Rua da Frente”. E continua em outro trecho: “Os dias de maior frequência eram os domingos por ser o dia em que todos estavam de folga, além disso o ambiente constituía um ótimo passatempo, não só pelas palestras agradáveis, como pelas execuções dos chorinhos brejeiros do Conjunto Batuta, complementadas pela voz do tenor e seresteiro Abílio de Carvalho Mendonça”.

Entre os que lá residiam, estavam Carlos Serafim dos Anjos  (1905-1994) — que seria prefeito entre 1948 e 1950 —, José Gonçalves de Andrade Filho (Nozinho Andrade, 1910-1997), José Tavares Filho (Zuza Tavares), João Marques de Albuquerque, Manoel Pastor da Veiga Filho (Nequito, 1904-1969), Mário Soares Vieira, João Pires de Carvalho (1906-1963) e Darcy Gomes, estes dois, colegas do maestro no referido conjunto musical.

Não poderia ele, boêmio como era, deixar de comparecer aos festejos de Momo, tomando parte no bloco carnavalesco Filhos da Candinha, onde estavam quase todos os seus companheiros que faziam parte da Batuta: Mestre Nozinho, Zequinha Guimarães, João Pires de Carvalho, Mathias Pires de Carvalho (1902-1931), Josué Duarte e Darcy Gomes e ainda outros representantes da elite da sociedade local: Odilon Pires de Carvalho (1901-1961), João Damasceno Lisboa (1900-1990)[xvi], Otaviano Oliveira (1908-1993), João Damasceno Souza (João Barateiro), Augusto de Freitas Machado (1895-1987)[xvii], Antônio de Freitas Machado (1895-1970)[xviii], Gervásio Francisco dos Santos, Lauro Marques de Albuquerque[xix], João Marques de Albuquerque, Júlio de Freitas Machado[xx], Afonso Lisboa, Francisco Ferreira (Mestre Chico)[xxi], Mario Soares Vieira[xxii], entre tantos, além de seus filhos Agenor e Dema (como era chamado Aldemar).

Mestre Abílio ainda retornaria a Santana do Ipanema (agora uma cidade) quando em meados de 1935 por iniciativa de Nicodemos Nobre os músicos remanescentes das duas antigas bandas de música Aratanha (1918-1924) e Carapeba (1914-1926) se reuniram sob sua regência para formarem a banda de música Santa Cecília. Como ele não esquentava lugar, logo esta banda passou a ser dirigida por Miguel Rodrigues Bulhões (1903-1995) –  um dos músicos fundadores da Aratanha, que por sua vez em 1940 passou a batuta para o lendário José Ricardo Sobrinho[xxiii] (1919-1947), que a dirigiu até 1943 – com a volta de Abílio para Neópolis, cidade sergipana, talvez vindo daí a amizade com Sabino Romariz (1873-1913) dada a proximidade de Neópolis com Penedo em Alagoas, terra do poeta ou porque este também andara por Pão de Açúcar em 1910.


Pesquisa: Billy Magno, 2018.
O poeta Sabino Romariz, em 1910.
(Foto: Revista O Malho Nº 418, 17 set. 1910)


Pesquisa: Billy Magno, 2018.
      Cel. Antônio Rodrigues de Souza, o primogênito.
(Acervo Lygia Maciel Mendonça)


Como todo boêmio que se preza, viveu sempre envolto às mulheres, deixando vários filhos. Do seu breve relacionamento com Cecília Maria de Souza nasceu seu primeiro filho: Antônio Rodrigues de Souza (1902-1965), coronel da Polícia Militar da Bahia. Do seu casamento em 30 de maio de 1903 com América Maciel Mendonça (nascida em 13 de abril de 1884), a quem chamava carinhosamente de Sinhazinha nasceram 24 e desses criaram-se 9: Agenor de Carvalho Mendonça (1906-1987), Ancila Maciel Brabo (1909-1947), Aldemar de Mendonça (1911-1983), Fernando Maciel Mendonça (1913-1974), Elisa Maciel Tavares (1914-1975), Alayde Pires de Carvalho (Lalá, 1916-2014 – que depois do desquite passou a assinar Maciel de Carvalho), Durval Maciel Mendonça (Vavá, 1918-1988), Maria Amélia Maciel Mendonça (1923-2001) e Alano Maciel Mendonça (1928-1945); e com Adalgiza dos Santos Borges nasceram Maria de Lourdes dos Santos Mendonça (1941-2005), Neide dos Santos Mendonça (1943-2014), Ary Santos Mendonça (1948-2016)[xxiv] e a última de todos os filhos: Graciene Ancila Mendonça Porto, a única que está viva e atualmente se divide entre a cidade de Propriá, no vizinho estado de Sergipe e a capital Aracaju. Vê-se no nome da última filha uma singela homenagem prestada por Mestre Abílio a sua primeira filha – Ancila, nascida a 2 de fevereiro de 1909 – havia falecido em 4 de junho de 1947 com apenas 38 anos deixando o marido, o militar (e primeiro instrutor do Tiro de Guerra nº 656vinte anos antes) José Ferreira Brabo e os três filhos: Waldeck e os gêmeos José Ney e Maria Lúcia, que na ocasião tinham pouco mais de dois anos (nasceram em janeiro de 1945).


Pesquisa: Billy Magno, 2018.
A família Maciel Mendonça, em 1946 -- 1ª fila da esq. para dir.: Dema, Fernando é o 3º seguido por Vavá e Ancila,
Maria Amélia é a 7ª, Sinhasinha é a 6º da segunda fila. (Acervo Lygia Maciel Mendonça)


Pesquisa: Billy Magno, 2018.
Agenor (anos 50), Elisa (anos 70) e Alayde "Lalá" (anos 90). 

Por um breve período, provavelmente entre meados e fim dos anos 1950, acompanhado da nova família que formou com Adalgiza, passa a residir em Propriá, cidade próxima a Neópolis onde havia ele regido a banda de música muitos anos atrás. Não deu certo. Com mais de 70 anos, o velho Abílio já não tinha mais condições de cuidar da família e decidiu voltar à Pão de Açúcar, sozinho. Adalgiza ficara e anos depois partiria para o Rio de Janeiro onde viveria com os filhos durante alguns anos, regressando à Propriá definitivamente, onde faleceu em meados dos anos 1980 (possivelmente 1987).


Pesquisa: Billy Magno, 2018.
Adalgiza (3ª companheira de Mestre Abílio Mendonça) e seus filhos Maria, Neide, Ary e Graciene.

Avesso ao convívio familiar, não dava importância aos que lhe censuravam o comportamento distante, bastando-lhe apenas a cumplicidade dos que, assim como ele, encontravam satisfação nas madrugadas.

Apesar do modo como viveu, para o também maestro Petrúcio Ramos de Souza[xxv], que o conheceu quando era adolescente, Mestre Abílio foi antes de tudo um romântico.


Pesquisa: Billy Magno, 2018.
Marcus Vinícius nos anos 60. (Acervo Billy Magno)


Seu temperamento, em parte, foi herdado pelo neto Marcus Vinícius[xxvi], que além da boemia, herdou a bela voz, o violão e o gosto pela poesia. Num de seus poemas, intitulado Pão de Açúcar, Marcus, que como literato assinava Ícaro, homenageia vultos históricos de elevada importância para a cultura pão-de-açucarense tais como poetas, escritores, músicos e artistas plásticos.

 



PÃO DE AÇÚCAR

Por Marcus Vinícius Maciel Mendonça (Ícaro)

 

Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.

 

Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.

 

Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.

 

Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.

Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele ritmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)

 

Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.

 

Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.

 

Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa joia.

 

Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

                                  

                                              

Publicado no livro Pão de Açúcar, cem anos de poesia (1999).            

 

*


Foi numa noite enluarada, como tantas que amou, que o romântico seresteiro partiu. Era 30 de dezembro de 1963 quando às 21:00 horas, em sua residência na rua Professora Rosália Sampaio Bezerra em Pão de Açúcar, despediu-se deste mundo aos 84 anos de idade sem deixar riqueza material. Sinhazinha, com quem fora casado por cerca de 30 anos entre idas e vindas havia partido pouco antes em 5 de outubro e ele, por uma dessas coincidências da vida, nasceu e morreu numa segunda-feira.


Pesquisa: Billy Magno, 2018.
Adherbal de Arecippo
(Acervo Etevaldo Amorim)


Segundo Adherbal de Arecippo[xxvii], que o conheceu e foi seu aluno de música quando vivia em Pão de Açúcar, Mestre Abílio também era um artista na confecção de calçados para homens e mulheres, “Dos mais lindos, dos mais aprimorados” nas suas próprias palavras. Este ofício era o seu ganha-pão[xxviii], assim como foi a função de secretário municipal que exerceria na administração do prefeito (e clarinetista nas horas vagas) João Damasceno Souza (João Barateiro), entre 1923 e 1925, e deixaria devido a pífia remuneração, razão pela qual retornaria à antiga profissão de sapateiro, pois na época e ainda hoje no Brasil o artista muitas vezes se vê obrigado a ter uma segunda forma de ganho para sobreviver (e nisso, como em muitas outras coisas também não evoluímos).

O próprio Adherbal o relembrou numa crônica para o Jornal de Alagoas publicada em 24 de julho de 1974 onde escreveu: “Viveu cantando, sempre cantando. E sem crimes nem pecados, sem ambições nem egoísmo, sem inveja nem ciúmes, deve ele ter entrado no céu a solfejar: Eu tenho uma estrela radiante de artista e nem por impérios tal estrela eu dou.”[xxix]

Estes versos são a sua melhor definição.

 São Paulo, março de 2019[8]


   



[1] Da introdução, toca-se a seção A, sem repetição, até a barra final ( |) ou indicação da palavra “Fim”.

[2] Tubista nascido em Pão de Açúcar em 1889 e falecido em Recife em 1969.

[3] Os outros eram Maria Emília (n. 1871), Joaquim Ignácio (n. 1877) e Manoel Ignácio (n. 1880).

[4] Abílio Ignácio de Carvalho Mendonça é o nome encontrado na certidão de óbito de sua mãe em 1890. Não se sabe quando ele deixou de assinar o Ignácio, mas documentos encontrados recentemente dão conta de que não mais se assinava assim já em 1902.

[5] Segundo Aldemar de Mendonça. Porém, é provável que tenha mudado para Pão de Açúcar ainda em 1880.

[6] Maria Emília de Carvalho Mendonça e Joaquim Ignácio de Carvalho Mendonça nasceram em Pernambuco, provavelmente também em Floresta do Navio, assim como Abílio, enquanto Manoel Ignacio de Carvalho Mendonça, registrado com o mesmo nome do pai, nasceu na vila de Piranhas-AL, provavelmente em março ou abril de 1880. Mané Medonho, como ficou conhecido, de medonho não tinha nada; ao contrário disso, era um rapaz considerado bonito, segundo sua sobrinha-neta Lygia Maciel Mendonça (n. 1944), filha de Aldemar de Mendonça. Era soldado de polícia quando se casou com Maria da Glória Maranduba (nascida em 1881) em Pão de Açúcar-AL na tarde de 27/07/1901. Em 15/08/1903 nasceria sua filha Adalgiza, falecida com dois meses e dez dias. Algum tempo depois mudou-se para Traipu-AL, onde fixou residência. Não há registro sobre Maria Emília e Joaquim Ignácio após 1890; supõe-se que haviam deixado Pão de Açúcar.

[7] Cremos tratar-se de um engano do redator pois sua esposa chamava-se América (Sinhazinha) e ele não teve nenhuma filha com o nome de Carolina.

[8] À luz de novas evidências, este texto foi revisto e atualizado em abril de 2021. (N. do E.)



[i] BILLY MAGNO nome artístico de Williams Magno Barbosa Fialho (Pão de Açúcar-AL 05/07/1978). Músico multi-instrumentista e arranjador. Na adolescência, foi estudar orquestração e regência em Salvador (BA). Iniciou na profissão em 1984 e teve como professores José Ramos dos Santos e Paulo Henrique Lima Brandão (teoria), Petrúcio Ramos de Souza (orquestração e regência), Maria Mercedes Ribeiro Gomes (piano) José Ramos de Souza (saxofone) e Edvaldo Gomes (contraponto), tendo ainda participado de Master Class de arranjo com Cristóvão Bastos, harmonia com Nelson Faria e trilha sonora com David Tygel. Dedicou-se, ao longo do tempo, à causa da música instrumental na qual tem atuado com mais frequência, trabalhando no Brasil e na Europa. Em junho de 2004, passa a viver em São Paulo. (Fonte: <http://abcdasalagoas.com.br/verbetes.php>)

[ii] A passagem do Cipó aparece numa carta datada de 21/07/1880 publicada na seção Correspondência, do Jornal do Penedo, assinada por um certo Fontenelle, correspondente do jornal na cidade de Pão de Açúcar. Já o Correio Paulistano e o Jornal de Recife, que repercutiram o artigo publicado originalmente em 18/07/1880 no pequeno periódico A Locomotiva, da cidade de Piranhas, referem-se a um lugar denominado Nova Olinda, distante 5 km de Piranhas.

[iii] Nasceu em Pão de Açúcar 05/12/1856, filho do Major João Machado de Novaes e Mello (1820-1892) e de D. Maria José Leite Sampaio. Aos 23 anos, já era Deputado Provincial em Alagoas, integrando as hostes do Partido Liberal. Seu pai, que em 05/10/1889 foi agraciado com o título de Barão de Piaçabuçu, era destacado líder do Partido Liberal e chefe político daquela Região. Ao morrer era promotor público da comarca de Capivari, na província de São Paulo. Em 24/07/1880 na igreja da Sé em São Paulo as 8:00 h, a mando do também alagoano José Francisco Soares, uma missa foi celebrada em sufrágio da sua alma.

[iv] O acidente teve repercussão nacional. Jornais nos mais diferentes pontos do país a exemplo do Correio Paulistano e Jornal da Tarde, de São Paulo (SP), Gazeta da Tarde, do Rio de Janeiro (RJ), Gazeta do Norte, de Fortaleza (CE), Jornal do Recife (PE), O Iniciador, de Corumbá (MT) e do Baependyano, de Baependi (MG) repercutia os artigos produzidos pelos alagoanos Jornal do Penedo e A Locomotiva – este da cidade de Piranhas além dos inúmeros telegramas enviados às autoridades a partir de Maceió. Divulgou-se inicialmente 30 e depois 35 vítimas, somente depois se conheceria o número real.  O maquinista alemão, responsabilizado pelo desastre foi imediatamente detido para averiguações. Dias depois, o presidente da província recomendou ao juiz de direito da comarca de Pão de Açúcar Dr. Jovino Antero, que procedesse inquérito sobre o desastre e nomeou uma comissão composta por Theophilo Fernandes dos Santos, tenente-coronel Agapito de Lemos Medeiros e o engenheiro mecânico Eduardo Lima, todos residentes em Penedo.

[v] JOSÉ EMILIANO DE SOUZA (Pão de Açúcar - AL, 1858 - ?) ― Professor, juiz de paz e músico (regente e compositor). Filho de Antônio Bernardes de Souza e Izabel Maria de Jesus Souza, casou-se em 18 de agosto de 1894 com Emília do Amaral Canuto (n. 1867), natural de Lagoa Funda (PE). Tiveram dois filhos: Izabel (n. 1892) e José (1899-1901). Pertenceu ao conselho municipal na gestão do intendente Serafim Soares Pinto (1858-1943), o qual foi testemunha de seu casamento. Foi juiz de paz em Palmeira dos Índios (1895) e suplente de juiz substituto em Água Branca (1916). Tinha um irmão, também professor de música em 1880, chamado Joaquim. Radicado em Piranhas, provavelmente a partir de 1903, foi professor de ensino primário e mestre de banda também nesse município.

[vi] Inexistem maiores informações sobre esta sociedade e sua banda de música tais como ano de fundação ou extinção, mas evidências deixadas nas partituras dão conta que ela já existia em 1905 e seguia existindo em 1919 quando é citada pela última vez. Outras informações citam os maestros Livino Paiva Mazoni (1905), Abílio Mendonça (1910) e Emídio Bezerra Lima (1915) se alternando na regência bem como os músicos Antônio Francisco dos Santos (nascido em 1892, alcançaria o posto de maestro da banda de música da PM no Rio de Janeiro em 1918 e mesmo aposentado continuava a compor em 1970) ao bombardino em 1905, Manoel Victorino Filho que dela fazia parte em 1911 como pistonista e é apontado como maestro em 1917, Manoel Ferreira (2º clarinetista) e Lourival Simas (1889-1969), tubista, atuantes em 1915 e Américo Castro Barbosa que constava como executante de requinta em 1919.

[vii] Inaugurado em 09/10/1910, seu nome era uma homenagem ao engenheiro, geógrafo, jornalista, poeta, cronista, romancista e teatrólogo José Maria Goulart de Andrade (1881-1936). Tinha lotação de 500 lugares (apenas 200 foram ocupados na inauguração) e teve Bráulio Cavalcante como primeiro diretor artístico. Situava-se na rua Aurora (atual rua Antônio de Freitas Machado) nº 130, onde hoje estão as ruínas do Cine Palace (que funcionou até 1992).

[viii] Nascido em 21/05/1911, também cantava, tocava violão e fazia versos. Aos 15 anos em 1926 chega a Santos-SP levado pelo tio Segismundo Maciel (1889-1951) que lá chegara em 1910 e se dedicava a fotografia e a pintura. Não resistindo a saudade, regressa à terra natal e toma parte no Tiro de Guerra nº 656 mesmo sem “apreciar a farda” como ele mesmo dizia. Foi por muitos anos agente do IBGE em Pão de Açúcar e a partir de dezembro de 1955 em Maceió, depois retornou a Pão de Açúcar como conta sua filha Lygia: “Ele achava ruim cumprir horário e usar gravata e em Pão de Açúcar era mais informal. Ficou vindo (à Maceió) todo mês e Mocinha (sua esposa) ia (a Pão de Açúcar) de vez em quando e isso durou um bom tempo”. O fato de trabalhar no IBGE (onde se aposentou) lhe facilitou o trabalho de intensa pesquisa que desenvolveu a partir de 1944 sobre a origem e formação da Terra de Jaciobá e seus personagens, inclusive com valiosas informações sobre solo, fauna e flora que culminaria no lançamento 30 anos depois do livro Pão de Açúcar - História e Efemérides e a sua continuação com a Monografia de Pão de Açúcar, concluída em 1975. Com a morte de seu filho Marcus Vinícius em 1976 o lançamento foi prorrogado e feita nova revisão para o lançamento em 1977 que não ocorreu. Dema faleceu aos 71 anos numa terça-feira de carnaval 15/02/1983 vítima de diabetes.  A sua monografia só seria publicada postumamente em 2010 por iniciativa de Lygia, que bancou a prensagem e do escritor Etevaldo Amorim (nascido em 1957) que em 2004 também reeditou “Pão de Açúcar - História e Efemérides”. Graças ao seu trabalho pioneiro, hoje nos é possível saber sobre nossas origens, numa contribuição cultural importantíssima e de valor incalculável.

[ix] Em depoimento a Flavio Almeida registrado em vídeo em 1992.

[x] Por vezes creditado como Manoelito Bezerra Lima (assim virou nome de rua em Pão de Açúcar), Manoel Lima ou Manoel de Lima – este último nome mais comum nos jornais e nos Turunas da Mauricéia, onde tomaram parte, dentre outros, o cantor Augusto Calheiros (1891-1956), alagoano nascido em Murici, e o pernambucano virtuose do bandolim Luperce Miranda (1905-1977).

[xi] Filho de Roza Izabel de Lima e pai ignorado, José Bento Lima, mais conhecido por Bentinho, nasceu em 1899 em local incerto. Algumas fontes se referem a ele como sendo baiano, enquanto outras afirmam que nasceu em Pão de Açúcar-AL. Sua esposa era Maria da Soledade Ribeiro Lima (1903-1970). Em 01-03-1922, nasce em Pão de Açúcar sua primeira filha, Beatriz Lima da Silva (falecida em Porto Alegre/RS, em 28-04-2001), casada com Etelvino Vieira da Silva (Boquim/SE, 1922 – Canoas/RS, 2004). Parece que a partir de meados da década de 1920 dividiu seus afazeres entre os estados de Alagoas e Bahia pois, em 30-07-1927 nasce em Salvador a sua segunda filha, Miriam Ribeiro Lima, lá falecida em 11-03-2019. Bentinho, além de músico, foi funcionário público e comerciante, mantendo (em Pão de Açúcar) uma loja de tecidos na Rua Silva Maia, antigo Beco de “seu” Aprígio. Em meados dos anos 1930, passa a ministrar aulas de música em São Miguel dos Campos — município do leste alagoano —, concorrendo em 1939 para o aperfeiçoamento musical do futuro maestro Bráulio Pimentel (n. 1926). Na segunda metade dos anos 1950, está na cidade baiana de Paulo Afonso, onde compõe em 1957 a valsa Alma Dóris. Em 1958, visita Pão de Açúcar, reencontrando o maestro Manoel Victorino Filho pela última vez. Faleceu na capital baiana em 1965. Deixou algumas composições entre os gêneros valsa, dobrado, choro e marcha carnavalesca.

[xii] Trabalhou durante anos como tabelião no cartório de registro civil de Pão de Açúcar até se aposentar, quando passou a função para sua filha Lúcia de Castro Duarte.

[xiii]  Comerciante. Como poeta se assinava Bem Gun. Teve algumas de suas poesias editadas no livro Pão de Açúcar-Cem anos de poesia, coletânea de poemas pão-de-açucarenses organizada por Etevaldo Amorim em 1999.

[xiv]  Faleceu de moléstia cardíaca. Dado ao humorismo, conta Aldemar de Mendonça que "quando lhe punham a vela na mão, sentindo os estertores da morte, coerente à vida que levava, solfejou ainda as primeiras notas do hino nacional".

[xv] Nasceu em 9 de outubro de 1901 e era irmão do maestro Manoel Victorino Filho (Mestre Nozinho), de Geny Castro Barbosa e de Américo de Castro Barbosa. Executava o trombone e assim como seus irmãos o violino. Por motivos políticos deixa Pão de Açúcar em 1921 indo viver no Rio de Janeiro. Como músico percorreu a Europa liderando orquestras em navios transatlânticos. Em 1945 formou -se em direito abandonando a profissão de músico e passando a exercer a advocacia até falecer em 18-06-1969.

[xvi] Conhecido como Joãozinho de Sia Marica ou Joãozinho retratista, foi uma espécie de Leonardo Da Vinci sertanejo, pois dominava a arte em suas várias formas, tais como pintura, escultura, fotografia e música, além de ser um pioneiro do cinema em Pão de Açúcar ao abrir em 1933 o cinema São José (que funcionava na esquina da Rua Aurora – hoje Antônio de Freitas Machado – com a Rua Silva Maia) em sociedade com Antônio da Silva Pereira.

[xvii]  De tradicional família pão-de-açucarense, iniciou-se na vida política em 1932 como prefeito de Pão de Açúcar, cargo que exerceria ainda mais três vezes até 1977. Foi ainda deputado em três legislaturas e ministro do tribunal de contas de Alagoas.

[xviii] Industrial e farmacêutico, é hoje mais lembrado como educador, jornalista e poeta sob o pseudônimo Vinícius Ligianus. Era primo de Augusto Machado.

[xix] Nascido em 25/07/1905, não é sabida a data de seu falecimento. Poeta primoroso, usava o pseudônimo João Villa-Baixa e posteriormente Décio Nestal.

[xx] Nasceu em 1896. Em 27/06/1918 casa-se com Tercilia de Freitas Machado (1897-1961). Pioneiro do futebol em Pão de Açúcar sendo o primeiro presidente do Ypiranga Sport Club em 1930. Era irmão de Augusto Machado e primo de Antônio de Freitas Machado.

[xxi] Músico clarinetista, foi aluno de Mestre Nozinho integrando a banda de música em 1927 como executante de requinta. Fez parte do Tiro de Guerra nº 656 e anos depois serviu como músico e maestro a Força Aérea Brasileira (FAB) na Base Aérea do Galeão no Rio de janeiro onde faleceu.

[xxii] Ferido por um tiro disparado por um soldado da PM em 25/01/1936 na vila Alecrim, faleceria dois dias depois.

[xxiii] Nascido em Santana do Ipanema, foi um dos alunos de Miguel Bulhões e seu sucessor na regência da banda de música Santa Cecília. Em 1947, quando animava um baile de carnaval na cidade alagoana de São Miguel dos Campos foi, junto com seus músicos, vítima de envenenamento por adversários do prefeito que o contratara. Faleceu na cidade natal dois meses depois contando apenas 28 anos de idade.

[xxiv] Ary Mendonça como se tornou conhecido nasceu em Pão de Açúcar-AL em 30/06/1948. Também herdou o talento musical do pai e aprendeu com ele as primeiras notas musicais chegando a tocar trompa na banda de música, passando depois para o trompete até decidir-se pelo violão, instrumento muito identificado com o velho Abílio. Com a morte do pai em 1963, mudou-se com a família para a cidade de Propriá no vizinho estado de Sergipe e depois para o Rio de Janeiro, onde revelou-se compositor participando em 1968 do festival “O Brasil canta no Rio”, considerado o primeiro festival nacional de MPB com produção e transmissão da TV Excelsior com a música “Aparecida”, defendida por Carminha Mascarenhas e uma das dez classificadas, tendo sido gravada também na Europa. Em 1970, no V Festival Internacional da Canção (FIC), transmitido pela Rede Globo de Televisão, teve a composição “Anonimato” selecionada, porém, não pôde defendê-la por estar viajando. Em 1974 compôs “O russo da camisa seis” dedicada ao jogador Marinho que havia sido convocado pela seleção para a Copa do Mundo daquele ano. Em 1980 compôs “Salve o campeão brasileiro - Mengão”, aproveitando a boa campanha do Flamengo no Campeonato Brasileiro daquele ano, mesmo sendo Torcedor do Botafogo. Em 1982 participou da mostra “SEIS E MEIA LUBRAX” de música popular na categoria de compositores, concorrendo com nomes importantes do cenário musical como os cariocas Darcy da Serrinha e Darcy de Paulo, o paraibano Pedro Osmar e o também carioca Mario Adnet – hoje reconhecido por seu trabalho junto ao maestro Moacir Santos (1926-2006). Ary estudou harmonia superior no Instituto Villa Lobos no final dos anos 1970 e numa entrevista concedida ao Jornal dos Sports em 1980 revelou que pretendia estudar improvisação jazzística com o guitarrista Hélio Delmiro (nascido em 1947).  Após breve período no hospital faleceu em 09/03/2016.

[xxv] Nasceu em Pão de Açúcar em 27/09/1946. Quinto de sete irmãos todos músicos, foi outro dos alunos de Mestre Nozinho, principiando na banda de música em 1954 como percussionista. Em 1956 era trompista passando em 1957 para o trompete, instrumento que adotou em caráter definitivo. Em 1965 na capital baiana, senta praça no 19º B.C. como clarinetista e em 1966 passa a integrar o quadro de músicos da banda de música da Base Aérea de Salvador, assumindo a regência em 1985, sucedendo o maestro Anacleto José de Souza (nascido em 1939), seu irmão. Passa à reserva remunerada em 1996 no posto de Tenente após destacada e brilhante atuação. Retornando à terra natal, inicia em 1999 a revitalização da Sociedade Musical Guarany com um trabalho primoroso que em pouco tempo renderá bons frutos, alçando a banda ao patamar de uma das melhores do estado de Alagoas, destacando-se pela disciplina, afinação e qualidade de repertório. Esse trabalho duraria até 2009, quando, alegando motivos pessoais decide se afastar da direção da Guarany. O maestro Petrúcio continua hoje em plena atividade musical à frente da sua Orquestra de Baile da Bahia e agora conduzindo a banda de música da PM baiana do mesmo tablado que um dia fora ocupado por seu irmão, o também trompetista José César Ramos de Souza (1949-2006).

[xxvi] Marcus Vinícius Maciel Mendonça nasceu em Pão de Açúcar em 14/02/1937. Filho de Aldemar de Mendonça e Zelina Maciel Mendonça conhecida como Mocinha (1919-1999). Em 1949 transferiu-se para Maceió. Desenhista, jornalista, poeta e compositor, passou à posteridade como poeta, jornalista e cantor. Como desenhista em 1955, conquistou seu primeiro emprego no extinto Fomento Agrícola, órgão ligado ao Ministério da Agricultura. Como jornalista, escreveu nos jornais Diário de Alagoas (1959-1964) e Gazeta de Alagoas (1964-1970) como editor encarregado da coluna social (na época chamada de Sociedade). Foi um dos colunistas mais influentes de seu tempo e figura requisitada em eventos sociais, reuniões, festas e bailes nos melhores clubes da capital alagoana. Dona de bela voz e violão afinado, Teve como parceiros de boemia figuras do quilate de Setton Neto (1920-1994), Juvenal Lopes (1930-1999), Aldemar Paiva (1925-2014) e Nelson Almeida (1912-1982), entre tantos outros. Faleceu ainda jovem, vitimado por um câncer aos 39 anos, as onze horas da noite de 07/05/1976 em Maceió. Em 1981 seria homenageado com o frevo-canção Lembrança de Marcus Vinícius, composto por Claudio Jucá Santos (nascido em 1933) e gravado por Dydha Lyra (nascido em 1951). Num dos versos, uma emblemática descrição: “Dentro da noite escura, lembrava a figura do velho Noel" (citando outro boêmio inveterado: Noel Rosa, nascido no Rio de Janeiro em 1910 e lá falecido em 1937, coincidentemente o ano de nascimento de Marcus).

[xxvii] Nasceu em São José da Laje em 15/04/1904 e viveu em Pão de Açúcar entre 1910 e 1922, período em que seu pai, o Dr. Antônio Arecippo de Barros Teixeira, que também era músico (flautista), pontificou como juiz de direito. Formou-se em comércio em 1926 e direito em 1956. Escreveu em diversos jornais como: O Semeador, O Estado, A Província, Correio de Maceió, Diário de Maceió, Jornal de Alagoas e Gazeta de Alagoas. Nesses dois manteve por muito tempo a coluna "Gente do meu tempo", onde relembrava personagens do período de sua infância e adolescência vividos na cidade. Faleceu em Maceió em 24/02/1994.

[xxviii] Antigamente e principalmente em cidades do interior, os músicos mantinham uma segunda profissão usada como meio de subsistência. As mais comuns entre a classe eram profissões humildes como as de alfaiate e sapateiro, tendo ainda em cidades ribeirinhas a opção pelo ofício de pescador.

[xxix] Versos do poema Minha Estrela de Sabino Romariz.


domingo, 22 de dezembro de 2019

FME no Prêmio Destaques do Ano 2019


Na noite de sexta-feira (20), a AR Assessoria e Eventos realizou  em Piranhas /AL o Destaques do Ano “Caminho do São Francisco” 2019

Filarmônica Mestre Elísio foi um dos homenageados entre artistas, autoridades, dirigentes lojistas e personalidades que se destacaram neste ano.


A FME agradece.


 Fotos: Mel Nunes


















segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Dobrado Américo C. Barbosa (1919) — por Benedicto Raymundo da Silva

Revisto e atualizado em 27 de agosto de 2020 às 12h24min


(Áudio ilustrativo produzido no programa Sibelius com o Noteperformer integrado)

Américo Castro Barbosa
(1903-1967)
Por Billy Magno[i]

"Em Pão de Açúcar todo mundo é músico". A frase atribuída ao magistrado e músico Dr. Antônio Arecippo de Barros Teixeira (1868-1928), que chegara a cidade em 1910 e lá viveria até 1922, não era um exagero e sim uma constatação.
Naquele início de século XX a plaga de Jaciobá segundo o escritor Aldemar de Mendonça (1911-1983) era despertada por suas duas bandas de música: a Sociedade União e Perseverança — regida em épocas distintas pelos maestros Livino de Paiva Mazoni, conhecido como Livino Bahia (1880-1940) em 1905, Abílio Mendonça (1879-1963) em 1910, Emídio Bezerra Lima (1865-1931) em 1915 e Manoel Victorino Filho (1895-1960) a partir de 1917 — e a Euterpe de Pão de Açúcar regida por Abílio Mendonça em 1911, cada uma contribuindo para que em pouco tempo a cidade se convertesse num centro musical pronto a exportar músicos para os mais distintos e distantes pontos do país.
Foi nesse cenário que anos antes em 3 de dezembro de 1903 veio ao mundo Américo Castro Barbosa, fruto da união do casal Manoel Victorino Barbosa — um guarda de linha que anos depois, em 1917, seria um dos poucos sobreviventes do naufrágio da lancha Moxotó que afundara devido à forte tempestade no rio São Francisco[1] — e a senhora Olympia Castro Barbosa.
Tinha como irmãos o já citado Manoel Victorino Filho, chamado na juventude de Nozinho (ou Nouzinho) do guarda e que se tornará ao longo do tempo o Mestre Nozinho, incansável fazedor de músicos a partir de 1917, José Castro Barbosa, conhecido como Duda (1901-1969) e Genny Castro Barbosa, que mesmo não exercendo a profissão também era copista.
Todos tinham sólida formação musical e como instrumento comum o violino, sendo que cada um, com exceção de Genny, também se destacava num instrumento de sopro: Nozinho era executante de pistom, Duda tocava trombone e também bombardino, enquanto Américo (chamado de Mimi) se dedicava ao clarinete e a requinta.
Ele, ao que tudo indica, ingressara na banda Sociedade União e Perseverança ainda muito jovem, por volta de 1914.
Já em 1917 é fotografado ao lado dos irmãos numa das primeiras formações da banda que contava ainda com o escultor e fotógrafo João Lisboa (1900-1990) tocando helicon (instrumento hoje em desuso) e em 1919 constava como executante de requinta, além do clarinete.
Nesse mesmo ano se torna copista, passando para a pauta uma infinidade de valsas, maxixes e dobrados, muitos deles de autoria do notório compositor alagoano Benedicto Raymundo da Silva (1859-1921) e outros de autores desconhecidos.
Ainda nesse ano, junto com os irmãos e outros músicos como o clarinetista José Bento Lima, o maestro Abílio Mendonça e músicos diletantes como Álvaro Melo (1891-1963), o tabelião Josué Duarte de Albuquerque (1893-1975), o comerciante e poeta José Mendes Guimarães (1899-1968) e vários outros, formam um grupo denominado A Batuta, que interpretavam valsas, sambas e choros brejeiros, além de outros gêneros em voga na época.
O trabalho como copista e músico de banda permanece até mais ou menos 1922 quando se transfere para Maceió.
Na capital do estado passa a assinar Américo Castro suprimindo o Barbosa e sobrevive tocando em pequenas orquestras e jazz bands que atuam principalmente em cinemas como o Cine Floriano, Capitólio, Odeon, Delícia e Ideal. Nessas orquestras terá a companhia do pianista e compositor Antônio Paurílio (1906-1972) e de conterrâneos como o violinista e artista plástico Zaluar Sant’Ana (nascido em 1904), seu colega de infância e Manoel Passinha (1908-1993), multi-instrumentista, futuro compositor e maestro, chegado à capital em 1924 e que no ano seguinte integrará as fileiras da banda de música do 20º B.C., sendo licenciado pouco depois, mas que de 1933 a 1959 integrará novamente o quadro de músicos, assumindo a batuta em meados dos anos 1940 e tendo seu nome definitivamente ligado a banda do 20.
Américo, em pouco tempo se torna um profícuo e versátil compositor, escrevendo marchas, dobrados, valsas, maxixes, tangos, foxes e choros.
Em 1929, tem a valsa Sentimentos do Coração, com letra do poeta Fernandes da Costa, editada; forma sua própria orquestra, a A.C. Jazz Band e compõe Miss Alagoas — uma valsa jazz (jazz waltz) — por ocasião do festejado concurso patrocinado pelo Jornal de Alagoas, ocorrido em 20 de março na Academia do Comércio em que se sagrou campeã a bela Helena de Miranda Taveiros.
Em 1937, compõe para o carnaval, em parceria com Wandeck Lemos, uma marcha que chamou de Chamego; era a dupla Sabiá (Wandeck) e Curió (Américo).
Em 1938, fica em segundo lugar no concurso de marchas para o carnaval daquele ano promovido pelo Jornal de Alagoas com o frevo-canção "Eu fiz que não vi", música e letra suas e um grande sucesso pela Jazz Band Capitólio, vencendo o certame o compositor Aristóbulo Cardoso (1889-1945) com a marcha "Buena Dicha".
Desde o final de 37 Américo havia se transferido para o Rio de Janeiro. Na então capital federal e cultural do país é acolhido por seu irmão Duda que tinha chegado em 1921 e agora tocava seu trombone em orquestras de navios transatlânticos (abandonaria a profissão em 1945 passando a exercer a advocacia). Breve arranjaria emprego com outro alagoano, Octaviano Romeiro[2], chegado uma década antes e agora conhecido como o famoso chefe de orquestra Fon-Fon, que o contrata, agora como contrabaixista.
Américo então passa a excursionar com a orquestra e a gravar com regularidade e em 1941 sai em turnê pela argentina, permanecendo um ano. Na volta, a orquestra é contratada pela Odeon, ficando encarregada de acompanhar as gravações dos artistas da gravadora.
De 1942 a 1947 Américo, como membro regular da orquestra que tinha músicos excepcionais — como o clarinetista Aristides Zacarias (1911-2000), o trompetista Pernambuco (Ayres da Costa Pessoa, nascido em 1918), o pianista Fats Elpídio (1913-1975) e o baterista Moisés Friedman, entre outros —, participa de gravações com os grandes cartazes da época: Francisco Alves (1898-1952), Ataulpho Alves (1909-1969), Aracy de Almeida (1914-1988), Dircinha Batista (1922-1999), Emilinha Borba (1923-2005) e as duplas Jararaca (1896-1977) e Ratinho (1896-1972) e Joel (1913-1993) e Gaúcho (1911-1970) entre outros.
Em 1946, tem seu choro "Aguenta a Mão" gravado com sucesso pela orquestra na Continental e no ano seguinte segue com Fon-Fon em turnê pela Europa onde gravam um disco pelo selo London em 1950: Fon-Fon et la musique du Brésil ironicamente nunca seria editado no Brasil.
Com o falecimento do maestro em plena turnê, retorna ao Brasil e passa a integrar a orquestra do maestro Carioca (Ivan Paulo da Silva, 1910-1991) então contratada da rádio Tupi do Rio de Janeiro e no ano seguinte tocam em Montevideo no Uruguai com bastante sucesso.
Em 1954 participa de um conjunto formado somente para gravações sob liderança de Juca do Acordeom[3] que registra pela gravadora Sinter o seu Corridinho n.º 100 em parceria com Ary Vieira e em julho tem a sua composição Baião da despedida, também com Ary lançada em selo Columbia pela cantora Claudete Soares (nascida em 1937), então iniciando carreira.
Não encontramos nenhuma informação sobre suas atividades nos últimos doze anos até falecer em 1967 deixando várias composições, muitas ainda inéditas.




Dobrado Américo Castro Barbosa
De Benedicto Raymundo da Silva (1919)
                                                          
O Acervo Antônio Melo Barbosa é a rica fonte que embasa as edições que realizamos desde fevereiro de 2018 e tornamos públicas em banco de partituras on-line. As partituras têm revelado mais do que simplesmente um repertório de época, mais do que o processo de criação de uma peça musical de finalidade didática ou para um evento específico, uma data festiva do calendário municipal. Revelam, por exemplo, que no ano de 1919, um adolescente de 15 anos, músico recém-iniciado e copista da banda recém-criada por seu irmão mais velho, teve a honra de dar seu nome a um produto musical de nada mais nada menos que o maior compositor de música para bandas já nascido em Alagoas, o extraordinário Benedicto Raymundo da Silva (1859-1921).
Sabemos que, em Maceió, o compositor, nessa época com 60 anos de idade, já em fim de carreira, vendia sua produção para subsistência da família e, aparentemente, não mantinha controle para fins de levantamento do patrimônio musical a partir do momento em que entregava sua peça para o comprador. O fato é que o dobrado Américo Castro não se encontra listado entre as obras de Benedicto Silva no livro Benedito Silva e sua época (1966) do pesquisador Moacir Medeiros de Santana. 
A presença do magistrado-músico Antônio Arecippo de Barros Teixeira (1868-1928) na cidade de Pão de Açúcar no período 1910-1922, provavelmente explica a ocorrência de várias obras de Benedicto Silva no acervo pão-de-açucarense.
Vindo da cidade de São José da Laje, a 100 km de Maceió, para assumir o posto de juiz titular de Pão de Açúcar, dr. Arecippo frequentava a capital nas férias e possivelmente gozava da amizade do compositor maceioense desde a década de 1880, época de sua formação intelectual e musical, do Colégio Bom Jesus e do Liceu Alagoano, e ainda colaborador de jornais.
O compositor e regente, então conhecido por Benedicto Piston, vivia o auge de sua carreira e mereceria homenagem de seu admirador de São José da Laje que ao criar em 1904 sua própria banda nomeou-a Benedicto Silva ou Beneditina. Pelo menos é o que deduzimos quando entramos em contato com essas partituras centenárias e, somando ao testemunho dos contemporâneos (que escreveram sobre a cidade e os citadinos) mais as informações recolhidas na tradição oral, reconstruímos os passos dos personagens que as nomeiam, copiam, arranjam, enfim, subscrevem as partituras, revelando o ambiente que as produziram mais do que pode sugerir apenas a notação das frequências sonoras e símbolos num pentagrama.
 Portanto, o dobrado Américo Castro Barbosa surge nesse momento em que a cidade de Pão de Açúcar vivia o processo de efervescência musical com a atuação dos maestros Livino Mazoni, Abílio Mendonça, Emídio Bezerra Lima e Manoel Victorino Filho[4] — que preparam o ambiente mais tarde reconhecido como celeiro de grandes músicos.
Por enquanto, interessa-nos o período de formação musical do copista Américo nesta localidade no sertão de Alagoas às margens do Rio São Francisco, outrora conhecida pelo poético nome “Jaciobá - Espelho da Lua”, como a chamavam os índios Uramaris na época do descobrimento.
No início do século XX os Castro Barbosa viviam sua primeira geração de família de músicos violinistas que também dominavam instrumentos de sopro: os irmãos Manoel, José, Américo e Genny.
Manoel se tornaria um ícone da música nesta região do Baixo São Francisco, o grande Mestre Nozinho, formador de mais de uma centena de músicos que fizeram nome nas orquestras e bandas militares Brasil afora; José, que em Pão de Açúcar era chamado de  “Duda”, revela-se mais tarde, no Rio de Janeiro, bandleader em navios transatlânticos até 1945, quando troca a música pela advocacia e passa a atender como o Dr. José Barbosa; Genny, a despeito de seu talento, não exercia música profissionalmente (e era a única a não tocar instrumento de sopro), já Américo marcará presença no cenário nacional como compositor e contrabaixista, coadjuvando na banda de outro alagoano célebre, o maestro Fon-Fon[5].
Em 1919, o jovem clarinetista Américo auxiliava o irmão mestre de banda quando, em 31 de outubro, iniciou a cópia do dobrado Américo Castro Barbosa pelas partes de requinta, 1.º clarinete, 1.º pistom, barítono, bombardino, baixo em si bemol e bateria; em seguida, 2.º clarinete e 2.º pistom, no dia 1.º de novembro. Desse dia há ainda cópias para trombones e helicon não assinadas que, pela análise da grafia, reputamos ao Mestre Nozinho. A escrita dele difere da de Américo na extensão das hastes (bem mais longas), colchetes à esquerda e nas notas das linhas suplementares o traço não atravessa a cabeça da nota ou haste, seguindo sempre do centro para a direita (de quem vê). O traço de Mestre Nozinho é caracteristicamente mais econômico, o que, obviamente, resulta numa partitura com menos manchas.
Ajuntada à cópia de Américo chegou a nós partes extras com datas variadas e copistas não identificados (um deles deixou somente as inicias M F S), como uma nova parte para o segundo pistom escrita na década de 1940 (provavelmente, 1945) por Gilda Melo Castro (1927-1960), filha do maestro; parte reduzida para 4 trompas com data de 12 de novembro de 1923, baixo em dó datada de 13 de agosto de 1926 e baixo si bemol de 18 de agosto de 1928; estas três últimas copiadas por Mestre Nozinho que, posteriormente, em 18 de junho de 1945, acrescenta uma parte para saxofone alto. Aliás, a introdução dos saxofones na banda de Pão de Açúcar ocorreu somente em 1931 com a chegada do saxofone alto e mais ou menos 35 anos depois das primeiras cópias desses arranjos encontrados no acervo de Tonho do Mestre chegaria o saxofone tenor. A instrumentação padrão constituía-se de requinta, clarinetes, pistons, trombones, saxhornes alto (trompa em mi bemol) e barítono em si bemol, bombardino, helicon, caixa, bombo e prato a 2.
Na forma padrão A-B-A-C, o dobrado Américo Castro Barbosa apresenta-se na tonalidade de Lá bemol maior. Após uma breve introdução, a seção A se desenvolve do compasso 10 ao 31, quando para a seção B modula no tom da dominante para retornar ao compasso 26 e fazer o salto para a Coda (compasso 74).  Curiosamente, não há ritornelos nas seções A-B e o retorno se dá para a segunda parte da seção A (compasso 26) e não como é mais comum para o compasso inicial da seção. Um interlúdio (compassos 74-92) em que os tenores e baixos em uníssono são acompanhados pelos altos num ostinato ritmo característico antecede a preparação para o Trio no tom da subdominante. Uma frase sincopada soa no baixo seguida pelo tuttipreparando a seção C (o Trio), ambiente em que os trompetes em uníssono entoam a melodia principal simultaneamente à contramelodia das madeiras que se movimentam em sentido oposto.
Para além desse serviço de recuperação de um acervo musical, mais do que restaurar partituras antigas, pretendemos com essas edições contar a história das bandas (da cidade de Pão de Açúcar, em particular) através da assimilação desse repertório, seus usos nas datas capitais para a cultura local e como elas resistiram ao tempo e aos humores dos colecionadores particulares até sua redescoberta e o processo de recuperação e disponibilização para a banda atual. Resgatando o ambiente histórico e personagens envolvidos, adaptamos as peças para a banda moderna, o que implica acrescentar instrumentos que não eram comuns na banda de origem, para a qual foram arranjadas — como, por exemplo, flauta e saxofones alto, tenor e barítono.
Resgatamos, assim, mais uma obra do compositor fundamental para a história das bandas em Alagoas, restaurada e disponibilizada para as bandas no tempo exato em que se comemora 160 anos de seu nascimento — maestro Benedicto Raymundo da Silva.



Benedicto Raymundo da Silva

Cronologia

 

1859 – Filho de Francisco Antônio da Silva e Luiza Romana da Conceição[6], Benedicto Raymundo da Silva nasce a 31 de agosto na cidade de Maceió.

1870 – Destaca-se, aos 11 anos, como jovem instrumentista iniciado pelo pai que desde muito cedo, mesmo antes de o filho ter vida escolar, encarrega-se de sua educação musical.                                                                                          
1877 – Integra a Banda dos Artistas, da Sociedade Recreio Filarmônico Artístico (fundada em 15 de agosto de 1876), do notável maestro Valério de Farias Pinheiro (185? -1895). Pistonista virtuoso, passa a ser conhecido pelo nome artístico de Benedicto Piston.

1884 – Assume a regência da Filarmônica dos Artistas, substituindo o maestro Valério Pinheiro que mudara sua residência para a cidade do Pilar, onde dirige a Euterpe Pilarense (fundada em 1880).
                                                                                       
1885 – Transfere-se para a Sociedade Filarmônica Minerva (fundada em 1.º de novembro de 1885), conduzindo essa corporação até 15 de março de 1887[7].

1887 – Readmitido pela Sociedade Filarmônica Minerva, protagoniza (em outubro), junto com o maestro Valério Pinheiro, da mais célebre batalha musical já travada por duas bandas alagoanas. É a partir deste ano que seu nome passa a aparecer nos jornais com maior frequência, tanto por mérito artístico quanto pelo episódio com o professor Valério que havia regressado a Maceió e conduzia, na ocasião, a Filarmônica dos Artistas na Festa dos Martírios.

1888 – Inspirado na abolição da escravatura, compõe o que hoje é uma das suas mais antigas produções impressas, a grande valsa para piano O Brasil Livre.

1889 – É impressa a polca Cysne Maceioense pela Tipographia e Lytographia Norte (Maceió).
10 de setembro: envolve-se em nova contenda quando a Banda de Música Minerva e a Filarmônica dos Artistas “estiveram na iminência de se encontrarem e decidirem-se por meio de armas de que cada uma estava melhor provida", segundo notícia publicada no jornal O Liberal do dia seguinte e em parte contestada dias depois pela diretoria da "Minerva". (SANT’ANA, 1966)

1890 – É regente da Banda de Música da Escola Central, educandário fundado em 1887 pela Sociedade Libertadora Alagoana, inicialmente destinado à educação dos escravos e de menores abandonados e dirigida – sem nenhuma remuneração – pelo professor Francisco Domingues da Silva, grande abolicionista alagoano. 

1892 – De seu casamento com Odorica Augusta da Silva, nasce às 14 horas do dia 4 de outubro, na Rua Barão de Maceió, o filho Benedicto.

1893 – Conduz a Sociedade Filarmônica Minerva na abertura da temporada de concertos, em 30 de julho, no jardim da Praça da Matriz. Ainda neste ano, passa a reger a Banda de Música da Sociedade Beneficente Euterpe Alagoana, substituindo Pedro Adolpho Diniz Maceió (maestro e clarinetista falecido em 1906).

1894 – Vence a concorrência pública para a escolha da música do hino oficial do estado de Alagoas. Foram apresentadas, perante comissão julgadora e público numeroso, 9 composições, no dia 27 de maio. Apesar da aclamação popular obtida pela composição de Benedicto Silva, o governador Gabino Besouro (1851-1930)[8] aguardou o juízo da comissão especialmente formada e, no dia 6 de junho de 1894, assina o decreto-lei que institui a música do maestro Benedicto Raymundo da Silva e versos do bacharel e poeta Luiz Mesquita (1861-1918) como hino oficial do Estado de Alagoas.

1895 – Dirige a banda da Sociedade Beneficente Euterpe Alagoana. No dia 4 de novembro, nasce seu filho Carlos.

1896 – A 22 de outubro nasce João, seu terceiro filho da união com dona Odorica.

1898 – É mencionado por O Orbe — que notifica a popularidade de sua obra, na edição de 30 de setembro — com um inusual prenome composto, nos seguintes termos: “Os discursos eram seguidos da execução do bello hymno do Estado das Alagoas, composição do maestro Benedicto Hippolyto Raymundo da Silva”. Em 24 de dezembro, nasce-lhe o quarto filho, Manoel.

1899 – Conduz a Banda da Escola de Aprendizes Marinheiros, onde vem ser seu aluno o jovem João Ulysses Moreira[9], tocando pistom.

1900 – Em 2 de fevereiro à rua Pedro Paulino, então residência do casal Silva, Odorica dá à luz Maria, conhecida mais tarde por Marieta.

1901 – No dia 9 de março, nasce Elysio Rodrigues da Silva, o sexto filho.

1903 – Em Recife, é rescindido seu contrato de ensaiador do 40.º Batalhão de Infantaria[10]. No estado do Amazonas, é saudado pelo jornal manauense O Debate, que o felicita por proporcionar à comunidade a execução de rico repertório[11].
De volta a Maceió, em 20 de setembro, é contratado para reger a banda do batalhão policial (hoje banda de música da PM-AL) pelo seu comandante, o tenente-coronel Salustiano Sarmento, onde permanecerá até 28 de agosto do ano seguinte.

1904 – É impressa pela Casa Préalle & Cia (Recife) a valsa As Proezas de Ataíde.

1906 – Publica pela primeira vez uma composição num veículo de circulação nacional. A valsa O Malho sai na edição n.º 200 do dia 14 de julho da revista homônima carioca. É a primeira publicação de uma série que alternadamente se manterá até 1917.

1908 – Colabora com o autor teatral Manuel Rodrigues de Melo (1876-1946)[12] na revista de costumes Maceió na Rua, estreada com grande sucesso em 13 de fevereiro no antigo Teatro Maceioense[13].

1909 – Publica na edição do dia 29 de maio da revista O Malho (Rio de Janeiro) a valsa Álvaro Craveiro. Antes, em abril, compõe o Hino do Tiro Alagoano.
         11 de outubro: a Ordem do dia N.º 22 que incorpora o Tiro Alagoano (criado em 1908) à Confederação Brasileira de Tiros de Guerra, também inclui o maestro Benedicto Silva no efetivo, como músico, no posto de 2.º tenente da 1.ª Companhia, do 1.º Batalhão (o 20.º B.C.).

1911 – Na edição de 11 de março de O Malho, apresenta a valsa Pedro Taveiros.
15 de abril: estreia, no recém-inaugurado Teatro Deodoro, a nova revista de Rodrigues de Melo Maceió Moderno, para a qual compôs 22 músicas.
13 de maio: é publicada n’O Malho mais uma valsa de sua autoria: José Soares dos Prazeres

1912 – Com a extinção da Banda do Batalhão de Polícia, onde era maestro contratado, tem por encerrada sua carreira de regente de banda.

1916 – Na edição n.º 710 de 22 de abril de O Malho, apresenta a valsa Nina Taveiros.
Antes, em março, no domingo de carnaval, o Clube do Sururu desfila entoando sua canção composta por Benedicto Silva em parceria com o dr. Virgílio Guedes[14]. “Para musicar suas canções, o Sururu pagou ao Benedicto Silva a quantia de 50$000 [50 mil réis], uma pequena fortuna para a época. ” (LIMA JUNIOR, 1953)

1917 – Compõe a marcha Gabino Besouro.
            Na edição n.º 750, de 27 de janeiro de 1917, da revista O Malho, apresenta o schottisch X.X., classificado no concurso musical organizado pela revista, em 1916, sob o n.º 40 do grupo II. Esta é a última vez que uma obra sua é publicada pela revista carioca, encerrando assim um ciclo de 11 anos.
            16 de setembro: em evento cívico no Teatro Deodoro, é executado o Hino do Centenário (da emancipação política de Alagoas), composto especialmente para esta data, com letra de Jaime de Altavila[15].

1920 – Compõe neste ano o que será uma de suas últimas obras, o dobrado Regresso do 20.º B.C. a Alagoas, quando da volta deste batalhão da viagem à Bahia para onde seguira com o intuito de abafar uma revolução.

1921 – Falece no dia 14 de maio. A câmara de vereadores de Maceió o homenageará postumamente, conferindo a uma rua no bairro de Bebedouro o nome do grande maestro alagoano.

1922 – Através de um projeto de lei do deputado José Avelino Silva, é concedida pela câmara de deputados de Alagoas uma pensão vitalícia a viúva Odorica Augusta da Silva.

1947 – Em 28 de novembro, é concedido o prêmio Benedicto Silva ao melhor valor artístico dos calouros de 1946. Oferecido pela direção do colégio Guido de Fontgalland, o prêmio é conquistado pelo estudante Geraldo de Majela Melo Fortes[16].

1957 – O Hino do Estado de Alagoas, composto há 63 anos, é gravado pela Banda da Polícia Militar de Pernambuco.

1966 – O pesquisador Moacir Medeiros de Sant’Ana[17] publica estudo biobibliográfico inédito, intitulado Benedito Silva e sua época, em que avalia o maestro como “o mais brilhante e fecundo talento musical de Alagoas, (...) um indisciplinado que rompeu com alguns esquemas da música popular em voga, assim como as convenções da sociedade da época”. (SOARES, 1999. p. 72)

1978 – Os maestros Regis e Rogério Duprat, em pesquisas realizadas para a série Três séculos de música brasileira – valsas e polcas, gravam para a Copacabana discos as valsas Francisco Calheiros (Francisca na anotação de Moacir Medeiros de Sant’Ana), de 1893, e Ferreira D’Almeida (na pesquisa realizada por eles, datada de 1904).

1983 – A Banda de Música da FENABB (Federação nacional das associações atléticas Banco do Brasil) registra no LP Banda de Música de ontem e de sempre o schottisch Os Boêmios.
           Numa ação conjunta da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Arquivo Público de Alagoas (APA) e Secretaria de Cultura (SEC) é publicado o livro Benedito Silva – Valsas – Polcas – Schottisch, contendo algumas de suas composições para piano.
            
1991 – A Banda de Música da FENABB registra no LP Banda de Música de ontem e de sempre Vol. II a polca José e Ritinha brincando – composição de 1913.




REFERÊNCIAS


ABC DAS ALAGOAS on-line. Disponível em: <http://abcdasalagoas.com.br/verbetes.php> Acesso em: 29 de novembro de 2018.

BARROS, Francisco Reinaldo Amorim de. ABC das Alagoas: Dicionário Biobibliográfico, Histórico e Geográfico das Alagoas. Edições do Senado Federal: Brasília, 2005. PDF. Disponível em: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/1104> Acesso em: 2 de maio de 2018.

DEBATE: ÓRGÃO POPULAR (AM), O. Ano 1903. Edição 0001. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/716618/7> Acesso em: 14 de dezembro de 2018.

DICIONÁRIO CRAVO-ALBIN. Fon-Fon. Disponível em: < http://dicionariompb.com.br/fon-fon> Acesso em: 30 de agosto de 2019.

LIMA JUNIOR, Félix. Carnaval de 1903 em Maceió. Diário de Pernambuco, Recife, 15 fev. 1953. 2ª seção, Edição 00039. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/029033_13/14675> Acesso em: 2 de dezembro de 2018.

LUCENA, Wilson José Lisboa. Tocando amor e tradição – As bandas de música em Alagoas. Maceió: Editora Viva, 2016.

MANGIONE – 80 Anos de Música Brasileira. Américo de Castro Barbosa (Américo Castro). Disponível em: <http://mangionemusicas.com/catalogo.asp?searchBy=6&searchValue=Am%E9rico%20de%20Castro%20Barbosa> Acesso em: 30 de agosto de 2019.

MOCIDADE: REVISTA PARA A MOCIDADE ESTUDIOSA (AL). Ano 1948. Edição 00011. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/761648/367> Acesso em: 02 de dezembro de 2018.

PROVÍNCIA: ÓRGÃO DO PARTIDO LIBERAL (PE), A. Ano 1903. N.º 173. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/128066_01/13803> Acesso em: 02 de dezembro de 2018.

SANT’ANA, Moacir Medeiros de. Benedito Silva e sua época. Maceió: SENEC/Arquivo Público de Alagoas, 1966.

SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA-AL. Hino de Alagoas. Disponível em: <http://www.cultura.al.gov.br/politicas-e-acoes/pro-bandas/hino-de-alagoas> Acesso em: 24 de agosto de 2017.

SOARES, Joel Bello. Alagoas e seus músicos. Brasília: Thesaurus, 1999.




[1] A localização exata do naufrágio ocorrido em 10 de janeiro é em frente ao morro do Belmonte, no povoado de Bom Sucesso, estado de Sergipe.
[2] Santa Luzia do Norte - AL *31/01/1900 (ou 1903, 1905, ou ainda 1908, o ano é incerto assim como seu nome) - Atenas-GR +10/08/1951.
[3] Nascido Abdalla Chalub no estado de Minas Gerais em 03/12/1927, foi criado no Rio de Janeiro e faleceu em Brasília-DF em 1969.
[4] O escritor Wilson Lucena (1956-2019) ainda cita como maestro Lucilo Melo. Não conseguimos maiores informações sobre Lucillão, como era conhecido, mas existem indícios de que se trata de Lucillo Lopes de Mello, nascido em 1889. Segundo o padre Reginaldo Soares de Melo em seu livro "Belo Monte, subsídios para a história", ele regeu uma banda de música na cidade de Belo Monte (AL) por volta de 1910 junto com Livino de Paiva Mazoni (1880-1940) e tinha um filho chamado Germano.
Outro músico pioneiro que merece menção honrosa é o clarinetista, maestro e compositor Álvaro Pereira Simas (nascido em 1880) que ocasionalmente também regeu nessa época e em 1960, por ocasião do funeral de Mestre Nozinho.
[5] MONTEIRO, Otaviano Romero dito FON-FON (Santa Luzia do Norte AL 31/1/ 1908 - Atenas Grécia 10/8/1951) Compositor, regente arranjador e instrumentista. (BARROS, Francisco Reynaldo Amorim de. ABC das Alagoas - Dicionário Biobibliográfico, Histórico e Geográfico de Alagoas. Brasília: Edições do Senado Federal, 2005. Vol. 62-B. Tomo II G-Z. p. 292)
[6] Contrariamente ao que escreve Moacir Medeiros de Sant’Ana no livro Benedito Silva e sua época (1965), e em conformidade com a recente pesquisa de Billy Magno, que localizou os registros de nascimento dos primeiros filhos do casamento de Benedicto R. da Silva com Odorica Augusta — Benedicto (1892), Carlos (1895), João (1896), Manoel (1898), Marieta (1900) e Elysio (1901) —, revimos o nome da mãe do Maestro, que na edição anterior, anexada à partitura do Dobrado Nº 2 (disponível em http://bit.ly/2KewuXA ), consta como “Ana Maria da Conceição”. Segundo Sant’Ana, a informação fora extraída do alistamento para o Exército publicado n’O Liberal de novembro de 1878, embora tivesse conhecimento de que o deputado Avelino Silva em seu projeto de pensão para Odorica (após a morte do Maestro, em 1921) afirma ser o nome da matriarca “Luiza” e não “Ana Maria”.
[7] Seu desligamento foi noticiado na edição nº 58 do jornal Gutenberg de 18 de março: “A Sociedade Filarmônica Minerva faz ciente a todos os seus consórcios, e ao público em geral, que por motivos não estranhos a todos estes, deixou de amestrar esta filarmônica o professor Benedicto Raymundo da Silva desde 15 do corrente. Maceió 16 de março de 87”. (GUTENBERG, 1887)
[8] Gabino Suzano de Araújo Besouro (Penedo-AL, 22/06/1851 - Rio de Janeiro-DF, 31/01/1930). Governador, deputado federal, engenheiro e militar veterano da guerra do Paraguai. (Fonte: ABC das Alagoas on-line, 2018)
[9] João Ulysses Moreira (São Miguel dos Campos, 11/06/1882 – Maceió, 15/07/1955). Este revelar-se-á grande músico e compositor, exercendo cargos de relevância em várias instituições, como a direção musical da Companhia de Fiação e Tecidos Alagoana, na década de 1940. Dentre os alunos mais destacados do professor João Ulysses, destaca-se o pianista, professor e pesquisador Joel Bello Soares.
[10] PROVÍNCIA: ÓRGÃO DO PARTIDO LIBERAL (PE), A. Ano 1903. Nº 00173 (1). Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/128066_01/13803> Acesso em: 02 de dezembro de 2018.
[11] DEBATE: ÓRGÃO POPULAR (AM), O. Ano 1903. Edição 0001. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/716618/7> Acesso em: 14 de dezembro de 2018.
[12] MELO, Rodrigues de (...) Teatrólogo, jornalista, compositor, cantor sacro, deputado estadual, promotor público, advogado. (ABC das Alagoas, 2005. Vol. 2, p. 251)
[13] O Teatro Maceioense funcionou de 1846 a 1911.
[14] GUEDES, Virgílio ... Correia Lima (Maceió-AL, 2/1/1884 – Maceió-AL, 18/1/1940) Poeta, professor, jornalista, funcionário público, advogado. (ABC das Alagoas, 2005. Vol. 2, p. 43)
[15] ALTAVILA, Jaime de - nome literário de Anfilófio de Oliveira Melo (Maceió-AL, 16 ou 17/10/1895 – Maceió, 26/3/1970). Professor, escritor, poeta, promotor público, juiz federal e político. (ABC das Alagoas, 2005. Vol. 1, p. 60)
[16] MOCIDADE, 1948. p. 22.
[17] SANT’ANA, Moacir Medeiros de (Maceió AL 25/9/1932). Historiador, professor, bacharel em ciências jurídicas e sociais. (...) Membro da AAL onde ocupa a cadeira 29. Sócio do IHGA (...).  Sócio honorário da AML. (ABC das Alagoas, 2005. Vol. 2, p. 516)


[i] BILLY MAGNO nome artístico de Williams Magno Barbosa Fialho (Pão de Açúcar-AL 05/07/1978). Músico multi-instrumentista e arranjador. Na adolescência, foi estudar orquestração e regência em Salvador (BA). Iniciou na profissão em 1984 e teve como professores José Ramos dos Santos e Paulo Henrique Lima Brandão (teoria), Petrúcio Ramos de Souza (orquestração e regência), Maria Mercedes Ribeiro Gomes (piano) José Ramos de Souza (saxofone) e Edvaldo Gomes (contraponto), tendo ainda participado de Master Class de arranjo com Cristóvão Bastos, harmonia com Nelson Faria e trilha sonora com David Tygel. Dedicou-se, ao longo do tempo, à causa da música instrumental na qual tem atuado com mais frequência, trabalhando no Brasil e na Europa. Em junho de 2004, passa a viver em São Paulo. (Fonte: <http://abcdasalagoas.com.br/verbetes.php>)