Revisto e atualizado em 27 de agosto de 2020 às 12h24min
(Áudio ilustrativo produzido no programa Sibelius com o Noteperformer integrado)
Américo Castro Barbosa
(1903-1967)
Por
Billy Magno[i]
"Em
Pão de Açúcar todo mundo é músico". A frase atribuída ao magistrado e músico Dr.
Antônio Arecippo de Barros Teixeira (1868-1928), que chegara a cidade em 1910 e
lá viveria até 1922, não era um exagero e sim uma
constatação.
Naquele
início de século XX a plaga de Jaciobá segundo o escritor Aldemar de Mendonça
(1911-1983) era despertada por suas duas bandas de música: a Sociedade União e
Perseverança — regida em épocas distintas pelos maestros Livino de Paiva Mazoni, conhecido como Livino Bahia (1880-1940) em 1905, Abílio Mendonça (1879-1963) em 1910,
Emídio Bezerra Lima (1865-1931) em 1915 e Manoel Victorino Filho (1895-1960) a
partir de 1917 — e a Euterpe de Pão de Açúcar regida por Abílio Mendonça em
1911, cada uma contribuindo para que em pouco tempo a cidade se convertesse num
centro musical pronto a exportar músicos para os mais distintos e distantes
pontos do país.
Foi
nesse cenário que anos antes em 3 de dezembro de 1903 veio ao mundo Américo
Castro Barbosa, fruto da união do casal Manoel Victorino Barbosa — um guarda de
linha que anos depois, em 1917, seria um dos poucos sobreviventes do naufrágio
da lancha Moxotó que afundara devido à forte tempestade no rio São Francisco[1]
— e a senhora Olympia Castro Barbosa.
Tinha
como irmãos o já citado Manoel Victorino Filho, chamado na juventude de Nozinho
(ou Nouzinho) do guarda e que se tornará ao longo do tempo o Mestre Nozinho,
incansável fazedor de músicos a partir de 1917, José Castro Barbosa, conhecido
como Duda (1901-1969) e Genny Castro Barbosa, que mesmo não exercendo a
profissão também era copista.
Todos
tinham sólida formação musical e como instrumento comum o violino, sendo que
cada um, com exceção de Genny, também se destacava num instrumento de sopro:
Nozinho era executante de pistom, Duda tocava trombone e também bombardino,
enquanto Américo (chamado de Mimi) se dedicava ao clarinete e a
requinta.
Ele,
ao que tudo indica, ingressara na banda Sociedade União e Perseverança ainda
muito jovem, por volta de 1914.
Já
em 1917 é fotografado ao lado dos irmãos numa das primeiras formações da banda
que contava ainda com o escultor e fotógrafo João Lisboa (1900-1990) tocando
helicon (instrumento hoje em desuso) e em 1919 constava como executante de
requinta, além do clarinete.
Nesse
mesmo ano se torna copista, passando para a pauta uma infinidade de valsas,
maxixes e dobrados, muitos deles de autoria do notório compositor alagoano
Benedicto Raymundo da Silva (1859-1921) e outros de autores desconhecidos.
Ainda
nesse ano, junto com os irmãos e outros músicos como o clarinetista José Bento
Lima, o maestro Abílio Mendonça e músicos diletantes como Álvaro Melo
(1891-1963), o tabelião Josué Duarte de Albuquerque (1893-1975), o comerciante e
poeta José Mendes Guimarães (1899-1968) e vários outros, formam um grupo
denominado A Batuta, que interpretavam valsas, sambas e choros brejeiros,
além de outros gêneros em voga na época.
O
trabalho como copista e músico de banda permanece até mais ou menos 1922 quando
se transfere para Maceió.
Na
capital do estado passa a assinar Américo Castro suprimindo o Barbosa e
sobrevive tocando em pequenas orquestras e jazz bands que atuam
principalmente em cinemas como o Cine Floriano, Capitólio, Odeon, Delícia e
Ideal. Nessas orquestras terá a companhia do pianista e compositor Antônio
Paurílio (1906-1972) e de conterrâneos como o violinista e artista plástico Zaluar Sant’Ana
(nascido em 1904), seu colega de infância e Manoel Passinha (1908-1993),
multi-instrumentista, futuro compositor e maestro, chegado à capital em 1924 e
que no ano seguinte integrará as fileiras da banda de música do 20º B.C., sendo
licenciado pouco depois, mas que de 1933 a 1959 integrará novamente o quadro de
músicos, assumindo a batuta em meados dos anos 1940 e tendo seu nome
definitivamente ligado a banda do 20.
Américo,
em pouco tempo se torna um profícuo e versátil compositor, escrevendo marchas,
dobrados, valsas, maxixes, tangos, foxes e choros.
Em
1929, tem a valsa Sentimentos do Coração, com letra do poeta Fernandes da
Costa, editada; forma sua própria orquestra, a A.C. Jazz Band e compõe Miss
Alagoas — uma valsa jazz (jazz waltz) — por ocasião do festejado
concurso patrocinado pelo Jornal de Alagoas, ocorrido em 20 de março na Academia
do Comércio em que se sagrou campeã a bela Helena de Miranda
Taveiros.
Em
1937, compõe para o carnaval, em parceria com Wandeck Lemos, uma marcha que
chamou de Chamego; era a dupla Sabiá (Wandeck) e Curió (Américo).
Em
1938, fica em segundo lugar no concurso de marchas para o carnaval daquele ano
promovido pelo Jornal de Alagoas com o frevo-canção "Eu fiz que não vi", música
e letra suas e um grande sucesso pela Jazz Band Capitólio, vencendo o certame o
compositor Aristóbulo Cardoso (1889-1945) com a marcha "Buena
Dicha".
Desde
o final de 37 Américo havia se transferido para o Rio de Janeiro. Na então
capital federal e cultural do país é acolhido por seu irmão Duda que tinha
chegado em 1921 e agora tocava seu trombone em orquestras de navios
transatlânticos (abandonaria a profissão em 1945 passando a exercer a
advocacia). Breve arranjaria emprego com outro alagoano, Octaviano Romeiro[2],
chegado uma década antes e agora conhecido como o famoso chefe de orquestra
Fon-Fon, que o contrata, agora como contrabaixista.
Américo
então passa a excursionar com a orquestra e a gravar com regularidade e em 1941
sai em turnê pela argentina, permanecendo um ano. Na volta, a orquestra é
contratada pela Odeon, ficando encarregada de acompanhar as gravações dos
artistas da gravadora.
De
1942 a 1947 Américo, como membro regular da orquestra que tinha músicos
excepcionais — como o clarinetista Aristides Zacarias (1911-2000), o trompetista
Pernambuco (Ayres da Costa Pessoa, nascido em 1918), o pianista Fats Elpídio
(1913-1975) e o baterista Moisés Friedman, entre outros —, participa de
gravações com os grandes cartazes da época: Francisco Alves (1898-1952),
Ataulpho Alves (1909-1969), Aracy de Almeida (1914-1988), Dircinha Batista
(1922-1999), Emilinha Borba (1923-2005) e as duplas Jararaca (1896-1977) e
Ratinho (1896-1972) e Joel (1913-1993) e Gaúcho (1911-1970) entre outros.
Em
1946, tem seu choro "Aguenta a Mão" gravado com sucesso pela orquestra na
Continental e no ano seguinte segue com Fon-Fon em turnê pela Europa onde gravam
um disco pelo selo London em 1950: Fon-Fon et la musique du Brésil
ironicamente nunca seria editado no Brasil.
Com
o falecimento do maestro em plena turnê, retorna ao Brasil e passa a integrar a
orquestra do maestro Carioca (Ivan Paulo da Silva, 1910-1991) então contratada
da rádio Tupi do Rio de Janeiro e no ano seguinte tocam em Montevideo no Uruguai
com bastante sucesso.
Em
1954 participa de um conjunto formado somente para gravações sob liderança de
Juca do Acordeom[3]
que registra pela gravadora Sinter o seu Corridinho n.º 100 em parceria
com Ary Vieira e em julho tem a sua composição Baião da despedida, também
com Ary lançada em selo Columbia pela cantora Claudete Soares (nascida em 1937),
então iniciando carreira.
Não
encontramos nenhuma informação sobre suas atividades nos últimos doze anos até
falecer em 1967 deixando várias composições, muitas ainda
inéditas.
♫
Dobrado Américo Castro
Barbosa
De Benedicto Raymundo da Silva
(1919)
O
Acervo Antônio Melo Barbosa é a rica fonte que embasa as edições que realizamos
desde fevereiro de 2018 e tornamos públicas em banco de partituras on-line. As partituras têm revelado mais
do que simplesmente um repertório de época, mais do que o processo de criação de
uma peça musical de finalidade didática ou para um evento específico, uma data
festiva do calendário municipal. Revelam, por exemplo, que no ano de 1919, um
adolescente de 15 anos, músico recém-iniciado e copista da banda recém-criada
por seu irmão mais velho, teve a honra de dar seu nome a um produto musical de
nada mais nada menos que o maior compositor de música para bandas já nascido em
Alagoas, o extraordinário Benedicto Raymundo da Silva (1859-1921).
Sabemos
que, em Maceió, o compositor, nessa época com 60 anos de idade, já em fim de
carreira, vendia sua produção para subsistência da família e, aparentemente, não
mantinha controle para fins de levantamento do patrimônio musical a partir do
momento em que entregava sua peça para o comprador. O fato é que o dobrado Américo Castro não se encontra listado
entre as obras de Benedicto Silva no livro Benedito Silva e sua época (1966) do
pesquisador Moacir Medeiros de Santana.
A
presença do magistrado-músico Antônio Arecippo de Barros Teixeira (1868-1928) na
cidade de Pão de Açúcar no período 1910-1922, provavelmente explica a ocorrência
de várias obras de Benedicto Silva no acervo pão-de-açucarense.
Vindo
da cidade de São José da Laje, a 100 km de Maceió, para assumir o posto de juiz
titular de Pão de Açúcar, dr. Arecippo frequentava a capital nas férias e
possivelmente gozava da amizade do compositor maceioense desde a década de 1880,
época de sua formação intelectual e musical, do Colégio Bom Jesus e do Liceu
Alagoano, e ainda colaborador de jornais.
O
compositor e regente, então conhecido por Benedicto Piston, vivia o auge de sua
carreira e mereceria homenagem de seu admirador de São José da Laje que ao criar
em 1904 sua própria banda nomeou-a Benedicto Silva ou Beneditina. Pelo menos é o
que deduzimos quando entramos em contato com essas partituras centenárias e,
somando ao testemunho dos contemporâneos (que escreveram sobre a cidade e os
citadinos) mais as informações recolhidas na tradição oral, reconstruímos os
passos dos personagens que as nomeiam, copiam, arranjam, enfim, subscrevem as
partituras, revelando o ambiente que as produziram mais do que pode sugerir
apenas a notação das frequências sonoras e símbolos num
pentagrama.
Portanto, o dobrado Américo Castro
Barbosa surge nesse momento em que a cidade de Pão de Açúcar vivia o
processo de efervescência musical com a atuação dos maestros Livino Mazoni,
Abílio Mendonça, Emídio Bezerra Lima e Manoel Victorino Filho[4]
— que preparam o ambiente mais tarde reconhecido como celeiro de grandes
músicos.
Por
enquanto, interessa-nos o período de formação musical do copista Américo nesta
localidade no sertão de Alagoas às margens do Rio São Francisco, outrora
conhecida pelo poético nome “Jaciobá - Espelho da Lua”, como a chamavam os
índios Uramaris na época do descobrimento.
No
início do século XX os Castro Barbosa viviam sua primeira geração de família de
músicos violinistas que também dominavam instrumentos de sopro: os irmãos
Manoel, José, Américo e Genny.
Manoel
se tornaria um ícone da música nesta região do Baixo São Francisco, o grande
Mestre Nozinho, formador de mais de uma centena de músicos que fizeram nome nas
orquestras e bandas militares Brasil afora; José, que em Pão de Açúcar era
chamado de “Duda”, revela-se mais tarde,
no Rio de Janeiro, bandleader em navios transatlânticos até
1945, quando troca a música pela advocacia e passa a atender como o Dr. José
Barbosa; Genny, a despeito de seu talento, não exercia música profissionalmente (e era a única a não tocar instrumento de sopro),
já Américo marcará presença no cenário nacional como compositor e
contrabaixista, coadjuvando na banda de outro alagoano célebre, o maestro
Fon-Fon[5].
Em
1919, o jovem clarinetista Américo auxiliava o irmão mestre de banda quando, em
31 de outubro, iniciou a cópia do dobrado Américo Castro Barbosa pelas partes de requinta, 1.º clarinete, 1.º pistom,
barítono, bombardino, baixo em si bemol e bateria; em seguida, 2.º clarinete e
2.º pistom, no dia 1.º de novembro. Desse dia há ainda cópias para trombones e
helicon não assinadas que, pela análise da grafia, reputamos ao Mestre Nozinho.
A escrita dele difere da de Américo na extensão das hastes (bem mais longas),
colchetes à esquerda e nas notas das linhas suplementares o traço não atravessa
a cabeça da nota ou haste, seguindo sempre do centro para a direita (de quem
vê). O traço de Mestre Nozinho é caracteristicamente mais econômico, o que,
obviamente, resulta numa partitura com menos manchas.
Ajuntada
à cópia de Américo chegou a nós partes extras com datas variadas e copistas não
identificados (um deles deixou somente as inicias M F S), como uma nova parte
para o segundo pistom escrita na década de 1940 (provavelmente, 1945) por Gilda
Melo Castro (1927-1960), filha do maestro; parte reduzida para 4 trompas com
data de 12 de novembro de 1923, baixo em dó datada de 13 de agosto de 1926 e
baixo si bemol de 18 de agosto de 1928; estas três últimas copiadas por Mestre
Nozinho que, posteriormente, em 18 de junho de 1945, acrescenta uma parte para
saxofone alto. Aliás, a introdução dos saxofones na banda de Pão de Açúcar
ocorreu somente em 1931 com a chegada do saxofone alto e mais ou menos 35 anos
depois das primeiras cópias desses arranjos encontrados no acervo de Tonho do
Mestre chegaria o saxofone tenor. A instrumentação padrão constituía-se de
requinta, clarinetes, pistons, trombones, saxhornes alto (trompa em mi bemol) e
barítono em si bemol, bombardino, helicon, caixa, bombo e prato a 2.
Na
forma padrão A-B-A-C, o dobrado Américo Castro Barbosa apresenta-se na
tonalidade de Lá bemol maior. Após uma breve introdução, a seção A se desenvolve
do compasso 10 ao 31, quando para a seção B modula no tom da dominante para
retornar ao compasso 26 e fazer o salto para a Coda (compasso 74). Curiosamente, não há ritornelos nas seções
A-B e o retorno se dá para a segunda parte da seção A (compasso 26) e não como é
mais comum para o compasso inicial da seção. Um interlúdio (compassos 74-92) em
que os tenores e baixos em uníssono são acompanhados pelos altos num ostinato
ritmo característico antecede a preparação para o Trio no tom da subdominante.
Uma frase sincopada soa no baixo seguida pelo tutti, preparando a seção C (o Trio), ambiente em que os trompetes
em uníssono entoam a melodia principal simultaneamente à contramelodia das madeiras que se
movimentam em sentido oposto.
Para
além desse serviço de recuperação de um acervo musical, mais do que restaurar
partituras antigas, pretendemos com essas edições contar a história das bandas
(da cidade de Pão de Açúcar, em particular) através da assimilação desse
repertório, seus usos nas datas capitais para a cultura local e como elas
resistiram ao tempo e aos humores dos colecionadores particulares até sua
redescoberta e o processo de recuperação e disponibilização para a banda atual.
Resgatando o ambiente histórico e personagens envolvidos, adaptamos as peças
para a banda moderna, o que implica acrescentar instrumentos que não eram comuns
na banda de origem, para a qual foram arranjadas — como, por exemplo, flauta e saxofones
alto, tenor e barítono.
Resgatamos,
assim, mais uma obra do compositor fundamental para a história das bandas em
Alagoas, restaurada e disponibilizada para as bandas no tempo exato em que se
comemora 160 anos de seu nascimento — maestro Benedicto Raymundo da Silva.
♫
Benedicto Raymundo da
Silva
Cronologia
1859
– Filho de Francisco Antônio da Silva e
Luiza Romana da Conceição[6],
Benedicto Raymundo da Silva nasce a 31 de agosto na cidade de
Maceió.
1870
– Destaca-se, aos 11 anos, como jovem
instrumentista iniciado pelo pai que desde muito cedo, mesmo antes de o filho
ter vida escolar, encarrega-se de sua educação musical.
1877
– Integra a Banda dos Artistas, da
Sociedade Recreio Filarmônico Artístico (fundada em 15 de agosto de 1876), do
notável maestro Valério de Farias Pinheiro (185? -1895). Pistonista virtuoso,
passa a ser conhecido pelo nome artístico de Benedicto
Piston.
1884
– Assume a regência da Filarmônica dos
Artistas, substituindo o maestro Valério Pinheiro que mudara sua residência para
a cidade do Pilar, onde dirige a Euterpe Pilarense (fundada em 1880).
1885 – Transfere-se
para a Sociedade Filarmônica Minerva (fundada em 1.º de novembro de 1885),
conduzindo essa corporação até 15 de março de 1887[7].
1887
– Readmitido pela Sociedade Filarmônica
Minerva, protagoniza (em outubro), junto com o maestro Valério Pinheiro, da mais
célebre batalha musical já travada por duas bandas alagoanas. É a partir deste
ano que seu nome passa a aparecer nos jornais com maior frequência, tanto por
mérito artístico quanto pelo episódio com o professor Valério que havia
regressado a Maceió e conduzia, na ocasião, a Filarmônica dos Artistas na Festa
dos Martírios.
1888
– Inspirado na abolição da escravatura,
compõe o que hoje é uma das suas mais antigas produções impressas, a grande
valsa para piano O Brasil
Livre.
1889
– É impressa a polca Cysne Maceioense pela Tipographia e
Lytographia Norte (Maceió).
10 de setembro: envolve-se em nova contenda quando a Banda
de Música Minerva e a Filarmônica dos Artistas “estiveram na iminência de se
encontrarem e decidirem-se por meio de armas de que cada uma estava melhor
provida", segundo notícia publicada no jornal O Liberal do dia seguinte e em
parte contestada dias depois pela diretoria da "Minerva". (SANT’ANA,
1966)
1890
– É regente da Banda de Música da Escola
Central, educandário fundado em 1887 pela Sociedade Libertadora Alagoana,
inicialmente destinado à educação dos escravos e de menores abandonados e
dirigida – sem nenhuma remuneração – pelo professor Francisco Domingues da
Silva, grande abolicionista alagoano.
1892
– De seu casamento com Odorica Augusta da
Silva, nasce às 14 horas do dia 4 de outubro, na Rua Barão de Maceió, o filho
Benedicto.
1893 – Conduz a Sociedade Filarmônica
Minerva na abertura da temporada de concertos, em 30 de julho, no jardim da
Praça da Matriz. Ainda neste ano, passa a reger a Banda de Música da Sociedade
Beneficente Euterpe Alagoana, substituindo Pedro Adolpho Diniz Maceió (maestro e
clarinetista falecido em 1906).
1894 – Vence a concorrência pública para a
escolha da música do hino oficial do estado de Alagoas. Foram apresentadas,
perante comissão julgadora e público numeroso, 9 composições, no dia 27 de maio.
Apesar da aclamação popular obtida pela composição de Benedicto Silva, o
governador Gabino Besouro (1851-1930)[8]
aguardou o juízo da comissão especialmente formada e, no dia 6 de junho de 1894,
assina o decreto-lei que institui a música do maestro Benedicto Raymundo da
Silva e versos do bacharel e poeta Luiz Mesquita (1861-1918) como hino oficial
do Estado de Alagoas.
1895
– Dirige a banda da Sociedade Beneficente
Euterpe Alagoana. No dia 4 de novembro, nasce seu filho
Carlos.
1896
– A 22 de outubro nasce João, seu terceiro
filho da união com dona Odorica.
1898 –
É mencionado por O Orbe — que notifica a
popularidade de sua obra, na edição de 30 de setembro — com um inusual prenome
composto, nos seguintes termos: “Os discursos eram seguidos da execução do bello
hymno do Estado das Alagoas, composição do maestro Benedicto Hippolyto Raymundo
da Silva”. Em 24 de dezembro, nasce-lhe o quarto filho, Manoel.
1899 – Conduz a Banda
da Escola de Aprendizes Marinheiros, onde vem ser seu aluno o jovem João Ulysses
Moreira[9], tocando pistom.
1900 – Em 2 de fevereiro à rua Pedro Paulino, então residência do casal Silva, Odorica dá à luz Maria, conhecida mais tarde por Marieta.
1901 – No dia 9 de março, nasce Elysio Rodrigues da Silva, o sexto filho.
1903 – Em Recife, é rescindido seu
contrato de ensaiador do 40.º Batalhão de Infantaria[10].
No estado do Amazonas, é saudado pelo jornal manauense O Debate, que o felicita
por proporcionar à comunidade a execução de rico repertório[11].
De volta a Maceió, em 20 de
setembro, é contratado para reger a banda do batalhão policial (hoje banda de
música da PM-AL) pelo seu comandante, o tenente-coronel Salustiano Sarmento,
onde permanecerá até 28 de agosto do ano seguinte.
1904 – É impressa pela Casa Préalle &
Cia (Recife) a valsa As Proezas de Ataíde.
1906 – Publica pela primeira vez uma
composição num veículo de circulação nacional. A valsa O Malho sai na
edição n.º 200 do dia 14 de julho da revista homônima carioca. É a primeira
publicação de uma série que alternadamente se manterá até
1917.
1908 – Colabora com o autor teatral Manuel
Rodrigues de Melo (1876-1946)[12]
na revista de costumes Maceió na Rua, estreada com grande sucesso em 13
de fevereiro no antigo Teatro Maceioense[13].
1909
– Publica na edição do dia 29 de maio da
revista O Malho (Rio de Janeiro) a valsa Álvaro Craveiro. Antes, em abril, compõe
o Hino do Tiro
Alagoano.
11 de outubro: a Ordem do dia N.º 22 que incorpora o Tiro
Alagoano (criado em 1908) à Confederação Brasileira de Tiros de Guerra, também
inclui o maestro Benedicto Silva no efetivo, como músico, no posto de 2.º
tenente da 1.ª Companhia, do 1.º Batalhão (o 20.º B.C.).
1911 –
Na edição de 11 de março de O Malho,
apresenta a valsa Pedro
Taveiros.
15 de abril: estreia, no
recém-inaugurado Teatro Deodoro, a nova revista de Rodrigues de Melo Maceió
Moderno, para a qual compôs 22 músicas.
13 de maio: é publicada n’O Malho mais uma valsa de sua
autoria: José Soares dos
Prazeres.
1912 – Com a extinção da Banda do Batalhão
de Polícia, onde era maestro contratado, tem por encerrada sua carreira de
regente de banda.
1916 – Na edição n.º 710 de 22 de abril de
O Malho, apresenta a valsa Nina Taveiros.
Antes, em março, no domingo de
carnaval, o Clube do Sururu desfila entoando sua canção composta por Benedicto
Silva em parceria com o dr. Virgílio Guedes[14].
“Para musicar suas canções, o Sururu pagou ao Benedicto Silva a quantia de
50$000 [50 mil réis], uma pequena fortuna para a época. ” (LIMA JUNIOR,
1953)
1917 – Compõe a marcha Gabino
Besouro.
Na edição n.º 750, de 27 de janeiro de 1917, da revista O Malho,
apresenta o schottisch X.X., classificado no concurso
musical organizado pela revista, em 1916, sob o n.º 40 do grupo II. Esta é a
última vez que uma obra sua é publicada pela revista carioca, encerrando assim
um ciclo de 11 anos.
16 de setembro: em evento cívico no
Teatro Deodoro, é executado o Hino do Centenário (da emancipação política
de Alagoas), composto especialmente para esta data, com letra de Jaime de
Altavila[15].
1920 – Compõe neste ano o que será uma de
suas últimas obras, o dobrado Regresso do 20.º B.C. a Alagoas, quando da volta deste batalhão da
viagem à Bahia para onde seguira com o intuito de abafar uma
revolução.
1921
– Falece no dia 14 de maio. A câmara de
vereadores de Maceió o homenageará postumamente, conferindo a uma rua no bairro
de Bebedouro o nome do grande maestro alagoano.
1922
– Através de um projeto de lei do deputado
José Avelino Silva, é concedida pela câmara de deputados de Alagoas uma pensão
vitalícia a viúva Odorica Augusta da Silva.
1947 – Em 28 de novembro, é concedido o
prêmio Benedicto Silva ao melhor valor artístico dos calouros de 1946. Oferecido
pela direção do colégio Guido de Fontgalland, o prêmio é conquistado pelo
estudante Geraldo de Majela Melo Fortes[16].
1957 – O Hino do Estado de
Alagoas, composto há 63 anos, é gravado pela Banda da Polícia Militar de
Pernambuco.
1966 – O pesquisador Moacir Medeiros de
Sant’Ana[17]
publica estudo biobibliográfico inédito, intitulado Benedito Silva e sua
época, em que avalia o maestro como “o mais brilhante e fecundo talento
musical de Alagoas, (...) um indisciplinado que rompeu com alguns esquemas da
música popular em voga, assim como as convenções da sociedade da época”.
(SOARES, 1999. p. 72)
1978
– Os
maestros Regis e Rogério Duprat, em pesquisas realizadas para a série Três séculos de música brasileira – valsas e
polcas, gravam para a Copacabana discos as valsas Francisco Calheiros (Francisca na
anotação de Moacir Medeiros de Sant’Ana), de 1893, e Ferreira D’Almeida (na pesquisa
realizada por eles, datada de 1904).
1983
– A
Banda de Música da FENABB (Federação nacional das associações atléticas Banco do
Brasil) registra no LP Banda de Música de ontem e de sempre o
schottisch Os Boêmios.
Numa
ação conjunta da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Arquivo Público de
Alagoas (APA) e Secretaria de Cultura (SEC) é publicado o livro Benedito Silva – Valsas – Polcas –
Schottisch, contendo algumas de suas composições para piano.
1991
– A
Banda de Música da FENABB registra no LP Banda de Música de ontem e de sempre Vol.
II a polca José e Ritinha brincando – composição de
1913.
♫
REFERÊNCIAS
ABC DAS ALAGOAS
on-line. Disponível em:
<http://abcdasalagoas.com.br/verbetes.php> Acesso em: 29 de novembro de
2018.
BARROS, Francisco
Reinaldo Amorim de. ABC das Alagoas:
Dicionário Biobibliográfico, Histórico e Geográfico das Alagoas. Edições do
Senado Federal: Brasília, 2005. PDF. Disponível em:
<http://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/1104> Acesso em: 2 de maio de
2018.
DEBATE: ÓRGÃO
POPULAR (AM), O. Ano 1903. Edição 0001. Disponível
em: <http://memoria.bn.br/DocReader/716618/7> Acesso em: 14 de dezembro de
2018.
DICIONÁRIO
CRAVO-ALBIN. Fon-Fon. Disponível em: <
http://dicionariompb.com.br/fon-fon> Acesso em: 30 de agosto de
2019.
LIMA
JUNIOR, Félix. Carnaval de 1903 em Maceió. Diário de
Pernambuco, Recife, 15 fev. 1953. 2ª seção, Edição 00039. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/029033_13/14675> Acesso em: 2 de dezembro
de 2018.
LUCENA, Wilson José
Lisboa. Tocando amor e tradição – As
bandas de música em Alagoas. Maceió: Editora Viva,
2016.
MANGIONE – 80 Anos
de Música Brasileira. Américo de Castro Barbosa (Américo
Castro). Disponível em:
<http://mangionemusicas.com/catalogo.asp?searchBy=6&searchValue=Am%E9rico%20de%20Castro%20Barbosa>
Acesso em: 30 de agosto de 2019.
MOCIDADE: REVISTA
PARA A MOCIDADE ESTUDIOSA (AL). Ano 1948. Edição
00011. Disponível
em: <http://memoria.bn.br/DocReader/761648/367> Acesso em: 02 de dezembro
de 2018.
PROVÍNCIA:
ÓRGÃO DO PARTIDO LIBERAL (PE), A.
Ano 1903. N.º 173. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/128066_01/13803> Acesso em: 02 de dezembro
de 2018.
SANT’ANA,
Moacir Medeiros de. Benedito Silva e sua
época. Maceió: SENEC/Arquivo Público de Alagoas, 1966.
SECRETARIA DE
ESTADO DA CULTURA-AL. Hino de Alagoas. Disponível em:
<http://www.cultura.al.gov.br/politicas-e-acoes/pro-bandas/hino-de-alagoas>
Acesso em: 24 de agosto de 2017.
SOARES,
Joel Bello. Alagoas e seus músicos.
Brasília: Thesaurus, 1999.
[1] A localização exata do naufrágio ocorrido em 10 de
janeiro é em frente ao morro do Belmonte, no povoado de Bom Sucesso, estado de
Sergipe.
[2] Santa Luzia do Norte - AL *31/01/1900 (ou 1903, 1905, ou
ainda 1908, o ano é incerto assim como seu nome) - Atenas-GR
+10/08/1951.
[3] Nascido Abdalla Chalub no estado de Minas Gerais em
03/12/1927, foi criado no Rio de Janeiro e faleceu em Brasília-DF em
1969.
[4] O escritor Wilson Lucena (1956-2019) ainda cita como
maestro Lucilo Melo. Não conseguimos maiores informações sobre Lucillão, como era
conhecido, mas existem indícios de que se trata de Lucillo Lopes de Mello, nascido em 1889. Segundo o padre Reginaldo Soares de Melo em seu livro "Belo Monte, subsídios para a história", ele regeu uma banda de música na cidade de Belo Monte (AL)
por volta de 1910 junto com Livino de Paiva Mazoni (1880-1940) e tinha um filho chamado
Germano.
Outro músico pioneiro que merece menção honrosa é o
clarinetista, maestro e compositor Álvaro Pereira Simas (nascido em 1880) que
ocasionalmente também regeu nessa época e em 1960, por ocasião do funeral de
Mestre Nozinho.
[5] MONTEIRO, Otaviano Romero dito FON-FON (Santa Luzia do
Norte AL 31/1/ 1908 - Atenas Grécia 10/8/1951) Compositor, regente arranjador e
instrumentista. (BARROS, Francisco Reynaldo Amorim de. ABC das Alagoas - Dicionário
Biobibliográfico, Histórico e Geográfico de Alagoas. Brasília: Edições do
Senado Federal, 2005. Vol. 62-B. Tomo II G-Z. p.
292)
[6] Contrariamente ao que escreve Moacir Medeiros de
Sant’Ana no livro Benedito Silva e sua
época (1965), e em conformidade com a recente pesquisa de Billy Magno, que
localizou os registros de nascimento dos primeiros filhos do casamento de
Benedicto R. da Silva com Odorica Augusta — Benedicto (1892), Carlos (1895), João (1896), Manoel (1898), Marieta (1900) e Elysio (1901) —, revimos o nome da mãe do Maestro, que na edição anterior, anexada
à partitura do Dobrado Nº 2
(disponível em http://bit.ly/2KewuXA ), consta como
“Ana Maria da Conceição”. Segundo Sant’Ana, a informação fora extraída do
alistamento para o Exército publicado n’O Liberal de novembro de 1878, embora
tivesse conhecimento de que o deputado Avelino Silva em seu projeto de pensão
para Odorica (após a morte do Maestro, em 1921) afirma ser o nome da matriarca
“Luiza” e não “Ana Maria”.
[7] Seu desligamento foi noticiado na edição nº 58 do jornal
Gutenberg de 18 de março: “A Sociedade Filarmônica Minerva faz ciente a todos os
seus consórcios, e ao público em geral, que por motivos não estranhos a todos
estes, deixou de amestrar esta filarmônica o professor Benedicto Raymundo da
Silva desde 15 do corrente. Maceió 16 de março de 87”. (GUTENBERG,
1887)
[8] Gabino Suzano de Araújo
Besouro (Penedo-AL, 22/06/1851 - Rio de Janeiro-DF, 31/01/1930). Governador,
deputado federal, engenheiro e militar veterano da guerra do Paraguai. (Fonte:
ABC das Alagoas on-line,
2018)
[9] João Ulysses Moreira (São Miguel dos Campos, 11/06/1882
– Maceió, 15/07/1955). Este revelar-se-á grande
músico e compositor, exercendo cargos de relevância em várias instituições, como
a direção musical da Companhia de Fiação e Tecidos Alagoana, na década de 1940.
Dentre os alunos mais destacados do professor João Ulysses, destaca-se o
pianista, professor e pesquisador Joel Bello
Soares.
[10] PROVÍNCIA: ÓRGÃO DO PARTIDO LIBERAL (PE), A. Ano 1903.
Nº 00173 (1). Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/128066_01/13803> Acesso em: 02 de dezembro
de 2018.
[11] DEBATE: ÓRGÃO POPULAR (AM), O. Ano 1903. Edição 0001.
Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/716618/7> Acesso em: 14 de
dezembro de 2018.
[12] MELO, Rodrigues de (...) Teatrólogo, jornalista,
compositor, cantor sacro, deputado estadual, promotor público, advogado. (ABC das Alagoas, 2005. Vol. 2, p.
251)
[13] O Teatro Maceioense funcionou de 1846 a
1911.
[14] GUEDES, Virgílio ... Correia Lima (Maceió-AL, 2/1/1884 –
Maceió-AL, 18/1/1940) Poeta, professor, jornalista, funcionário público,
advogado. (ABC das Alagoas, 2005.
Vol. 2, p. 43)
[15] ALTAVILA, Jaime de - nome literário de Anfilófio de
Oliveira Melo (Maceió-AL, 16 ou 17/10/1895 – Maceió, 26/3/1970). Professor,
escritor, poeta, promotor público, juiz federal e político. (ABC das Alagoas, 2005. Vol. 1, p.
60)
[16] MOCIDADE, 1948. p. 22.
[17] SANT’ANA, Moacir Medeiros de (Maceió AL 25/9/1932).
Historiador, professor, bacharel em ciências jurídicas e sociais. (...) Membro
da AAL onde ocupa a cadeira 29. Sócio do IHGA (...). Sócio honorário da AML. (ABC das Alagoas, 2005. Vol. 2, p.
516)
[i]
BILLY
MAGNO nome artístico de Williams Magno Barbosa Fialho (Pão de
Açúcar-AL 05/07/1978). Músico multi-instrumentista e arranjador. Na
adolescência, foi estudar orquestração e regência em Salvador (BA). Iniciou na
profissão em 1984 e teve como professores José Ramos dos Santos e Paulo Henrique
Lima Brandão (teoria), Petrúcio Ramos de Souza (orquestração e regência), Maria
Mercedes Ribeiro Gomes (piano) José Ramos de Souza (saxofone) e Edvaldo Gomes
(contraponto), tendo ainda participado de Master Class de arranjo com Cristóvão
Bastos, harmonia com Nelson Faria e trilha sonora com David Tygel. Dedicou-se,
ao longo do tempo, à causa da música instrumental na qual tem atuado com mais
frequência, trabalhando no Brasil e na Europa. Em junho de 2004, passa a viver
em São Paulo. (Fonte:
<http://abcdasalagoas.com.br/verbetes.php>)