terça-feira, 3 de junho de 2025

PIRANHAS 138 ANOS: ENTRE A LENDA E OS FATOS

—  Vá ao “porto da piranha” e traga o meu cutelo!

Essa frase não poderia ser mais trivial; porém, é dotada do senso de localização geográfica que torna os nomes célebres.

Ao chegar em casa com a pescaria do dia, o pescador, por óbvio, lembrou-se da faca que havia deixado na margem do rio e pediu ao filho que a buscasse.

Não se sabe em que data isso teria acontecido. Do tempo em que se chamou Tapera, nome de origem tupi-guarani para qualquer lugarejo constituído por habitações precárias, como as de taipa, o fato é  que no início do século XIX esse local se chamava Porto de Piranhas; em 1885, Freguesia de Piranhas; em 1887, Vila de Piranhas; e em 1891, distrito-sede do município de Piranhas; cidade na década de 1930.

Em 1939, um decreto-lei federal mudou seu nome para Marechal Floriano, em reverência ao cinquentenário da Proclamação da República e ao centenário de nascimento do alagoano Marechal Floriano Vieira Peixoto (1839-1895), segundo presidente do Brasil. Essa mesma lei mudou o nome da cidade de Alagoas, primeira capital do estado, para Marechal Deodoro.

Dez anos depois, o novo nome ainda não havia se consolidado e o “marechal de ferro” — cognome adquirido pela repressão à Revolta da Armada (1893-1894) e à Revolução Federalista (1893-1895) — perdeu seu laurel sertanejo, legado pela política ufanista, retornando o lugar por força de nova lei à antiga denominação: Piranhas.

Em termos de resistência cultural toponímica, Deodoro triunfou no litoral (pudera! em sua terra natal), Floriano fracassou no sertão, a cerca de 300 km da Vila de Ipioca, no entorno de Maceió, onde nasceu. Mas seu nome resiste na toponímia nacional, como nos estados de Santa Catarina (Florianópolis), Rio Grande do Sul (Floriano Peixoto) e Espírito Santo (Marechal Floriano), além de dezenas de logradouros país afora.

Por aqui, venceu o costume indígena de dar nome de fenômenos, bichos e coisas aos lugares. Piranha, do tupi pi’rãya ou pi’rãi, o voraz peixe-diabo de dentes afiados capaz de em pouco tempo descarnar animais muito maiores, figuradamente dos tipos ditos “marechais” também.

E assim, debitados os fatos precisamente datados a partir da década de 1850, à posteridade é legado o mito fundador dessa cidade no sertão das Alagoas com uma narrativa transmitida pela tradição de um evento considerado histórico, mas cuja autenticidade  é improvável.

Alguém inspirado no simbolismo das associações geográficas evocadas pelos seus morros mais tarde a chamou poeticamente de “lapinha”, qual imagem de presépio: a Lapinha do Sertão.

  

F. Ventura (2024)




quarta-feira, 28 de maio de 2025

O DOBRADO ALAGOANO

No Brasil, a origem do dobrado remonta ao século XIX, influenciado pelas marchas militares europeias. Contudo, ao longo do tempo, o gênero adquiriu características próprias, sendo executado pelas bandas militares e civis. No contexto alagoano, compositores e maestros locais contribuíram para a formação de um repertório vibrante, que ressoaram nas praças e avenidas.

Essencialmente, o dobrado é uma marcha militar com uma estrutura formal que geralmente inclui introdução, partes melódicas contrastantes e um trio, que é uma seção mais lírica e expressiva. A instrumentação é tipicamente composta por metais (trompetes, saxhornes, trombones, tubas, bombardinos), madeiras (clarinetes, flautas, saxofones) e percussão (caixa, bumbo, pratos), conferindo-lhe a sonoridade imponente que o caracteriza.

Alagoas também contribuiu para a perpetuação e interpretação desse gênero. As bandas de música das instituições militares e civis alagoanas são guardiãs desse repertório, conservando tanto os dobrados clássicos brasileiros quanto aqueles que ganharam destaque nas tradições locais. A dedicação de maestros e músicos alagoanos garante que essa herança musical continue preservada.

O panorama dos compositores alagoanos conta com nomes de peso, como o maceioense Benedito Raimundo da Silva (1859-1921), popularmente conhecido em sua época como Benedito Piston. Ele foi um prolífico autor de cerca de 300 obras, das quais 25% são dobrados. Igualmente notáveis são os pão-de-açucarenses Manoel Passinha (1908-1993) e Antônio Francisco dos Santos (1892-197?), autores de "Brigada Passinha" e "Comandante Narciso", respectivamente.

O maestro Tenente Antônio Francisco dos Santos foi ensaiador geral de bandas militares no então Estado da Guanabara. Autor de mais de 40 dobrados e marchas militares, que fazem parte do repertório de diversas bandas no Brasil, incluindo o conhecido dobrado "Comandante Narciso", que teve sucesso até na Espanha, é considerado uma das figuras ilustres da historiografia musical nacional.


Identificar compositores de dobrados especificamente alagoanos, cujas obras sejam amplamente reconhecidas e atribuídas como "dobrados alagoanos" de destaque, pode ser um pouco desafiador, pois muitos dobrados circulam nacionalmente e a autoria nem sempre é restrita a um único estado. No entanto, é possível citar músicos e maestros alagoanos que tiveram uma forte ligação com as bandas militares e civis do estado e que compuseram ou arranjaram obras no gênero dobrado.

Uma obra de referência para nosso repertório alagoano é o pot-pourri marcial "Saudades de Maceió", de M. Passinha.

É importante notar que o repertório de dobrados nas bandas militares e civis em Alagoas frequentemente inclui obras de compositores nacionais renomados, como Pedro Salgado (1890-1973), Joaquim Naegele (1899-1995)Antônio Manoel do Espírito Santo (1884-1913), compositor baiano filho de uma alagoana de Palmeira dos Índios. No entanto, os músicos e maestros alagoanos citados acima são exemplos de como o estado tem seus próprios talentos que enriqueceram a tradição.


quarta-feira, 14 de maio de 2025

I, II E III ENCONTROS DE ESCRITORES E LEITORES PIRANHENSES: UMA CRONOLOGIA


Com inspiração nas atividades das academias de letras e artes dos sertões sergipano e alagoano, o I Encontro de Escritores e Leitores Piranhenses & Convidados floresceu como uma iniciativa da escritora local Fabrine Fernandes¹. Em 24 de novembro de 2018, o Auditório Miguel Arcanjo pulsou com a presença dos participantes, marcando o lançamento da primeira Antologia que reuniu 68 autores, tendo 16 textos em prosa e 52 poemas.

O entusiasmo gerado impulsionou a realização da segunda edição. Em 26 de outubro de 2019, um novo chamamento público culminou em um evento enriquecido pela palestra do Prof. Dr. Márcio Ferreira da Silva, da UFAL Campus Sertão. Com 14 textos em prosa e 38 poemas, a segunda Antologia reuniu 52 autores.

Em 1.º de maio deste ano, a Academia Piranhense de Letras e Artes (APLA), que agora tem Fabrine Fernandes como sua mais recente membra efetiva na cadeira n.º 15, sob o patronato de Beatriz Brandão Lisboa, anunciou o edital para o III Encontro de Escritores e Leitores Piranhenses & Convidados. A idealizadora cedeu formalmente a organização do evento à APLA e naturalmente mantém-se à frente da coordenação editorial da Nova Antologia, cujo lançamento está previsto para a primeira semana de dezembro, em que celebramos o quinto aniversário da Academia.

As inscrições estão abertas até 31/7/2025. Acesso em: https://bit.ly/edital-apla




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¹ F. M. Fernandes é autora dos livros:
  • Enquanto eu... te amava. Joinville: Clube de Autores, 2017.
  • Enquanto eu me apaixonava. Joinville: Clube de Autores, 2019.
  • Enquanto eu te Esquecia. Joinville: Clube de Autores, 2024.

III ENCONTRO DE ESCRITORES E LEITORES PIRANHENSES & CONVIDADOS

quarta-feira, 7 de maio de 2025

INSCRIÇÕES ABERTAS PARA A OFICINA DE ENSINO COLETIVO


Piranhas, AL – Estão abertas as inscrições para a oficina de Ensino Coletivo nas Bandas do Alto Sertão. A iniciativa visa fortalecer as práticas pedagógicas de ensino musical em grupo, direcionada a músicos, maestros, educadores musicais e estudantes de música da região do Alto Sertão alagoano.

Durante os dois dias de imersão, a oficina oferecerá momentos de discussão, atividades em grupo e a troca de experiências entre os participantes, fomentando a criação de redes de colaboração e o aprimoramento das bandas.

O projeto é realizado com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), do Governo Federal, através do Ministério da Cultura (Minc), operacionalizado pelo Governo de Alagoas, por meio da Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult).

Serviço:

🗓️ Data: 16-17/5/2025

Horário: 9h às 17h

📍Local: Conservatório Municipal de Música Cacilda Damasceno Freitas

 

Inscrições em: https://forms.gle/rV6273rgYUA4LJKV7


Nota de agradecimento

Expressamos nossa gratidão aos professores Augusto Moralez e Kleber Dessoles, do projeto "Circulação em Alagoas Duo Moralez-Dessoles", pela apresentação musical realizada na sede da Filarmônica Mestre Elísio no último sábado, 3 de maio. 

Do mesmo modo, a Wellington Pinheiro e Wilbert Fialho, do projeto "Circulando Melodias - Circuito de Música Instrumental", pela apresentação da última terça-feira, 6 de maio, também em nossa sede.

A qualidade e dedicação que vocês demonstraram foram verdadeiramente inspiradoras e proporcionaram uma experiência inesquecível para todos os presentes.

Esse compromisso com a música e a educação são verdadeiramente valorizados e apreciados. 

domingo, 4 de maio de 2025

CIRCULANDO MELODIAS NESTA TERÇA-FEIRA EM PIRANHAS

 

Circulando Melodias - Circuito de Música Instrumental

Criado pelo músico Wellington Pinheiro, o projeto "Circulando Melodias - Circuito de Música Instrumental", tem foco a realização de oficinas e apresentações de chorinho e acontecerá a sua primeira edição no dia 06.05.2025, terça feira, no Conservatório de Música Cacilda Damasceno Freitas no centro histórico da cidade de Piranhas, seguindo depois para mais 03 municípios de Alagoas. 

O projeto consiste na realização de uma oficina ministrada pelos músicos Wellington Pinheiro ( *40 anos de carreira* ) e Wilbert Fialho ( *mestre e música pela UFBA* ) para músicos em geral e chorões onde serão apresentadas técnicas, contação de histórias sobre músicas, personalidades e curiosidades do estilo musical que resultará no intercâmbio entre os músicos da cidade e os oficineiros que se apresentaram juntos para o público ao final das oficinas. 

O objetivo do projeto "Circulando Melodias - Circuito de Música Instrumental" é divulgar e expandir o choro que foi declarado Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil em 29 de fevereiro de 2024, durante a 103ª reunião do Conselho Consultivo do Iphan. O reconhecimento do choro como Patrimônio Cultural Imaterial busca valorizar e proteger essa manifestação cultural, reconhecendo sua importância para a identidade brasileira. O choro conhecido por ser um gênero musical improvisado, com instrumentos como bandolim, flauta, violão de 7 cordas, pandeiro, cavaquinho e clarinete, geralmente tocado em rodas, surgiu no Rio de Janeiro, por volta de 1870, com o lançamento da canção "Flor Amorosa" por Joaquim Callado. 

Este projeto é realizado com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), do Governo Federal, através do Ministério da Cultura (MiniC), operacionalizado pelo Governo de Alagoas, por meio da Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult/AL) contemplado no EDITAL DE FOMENTO À MÚSICA – CARLOS ALBERTO MOURA GAMA (CARLOS MOURA).

Natural da cidade de Penedo, Wellington Pinheiro, 61 anos, já tocou com Nelson Gonçalves, Luiz Airão, Jamelão, Adilson Ramos, Odair José, Carlos Galhardo, Ademilde Fonseca (Rainha do Choro) junto com Regional do Canhoto da Paraíba, Noite Ilustrada, João Nogueira, Moacir Luz dentre outros. Ainda no meio artístico, chegou a trabalhar com alguns humoristas, como Chico Anysio e Zé Lezin, representando muitas vezes o Estado de Alagoas na Feira dos Estados, em Brasília. 

Wilbert Fialho é Músico/Violonista, Mestre em Música pela UFBA, Licenciado em Música pela UFAL, Produtor Musical, Compositor e arranjador musical.


Serviço:

Projeto GRATUITO: "Circulando Melodias - Circuito de Música Instrumental"

Onde: Conservatório de Música Cacilda Damasceno Freitas no centro histórico da cidade de Piranhas.

Quando: Terça Feira dia 06.05.2025 

Oficinas: das 14 às 16h

Apresentação: Wellington Pinheiro e Wilbert Fialho às 19h