sábado, 25 de agosto de 2018

Experiência — Antônio de Castro Passinha (1894-1936)

Revisto e atualizado em 13 de agosto de 2020 às 21h16min.


(Áudio ilustrativo produzido no programa Sibelius com o Noteperformer integrado)

EXPERIÊNCIA

Dobrado de Antônio de Castro Passinha

Por Billy Magno[i]

 Se na primeira versão deste texto a percepção era de que poucas obras do hoje esquecido compositor haviam resistido ao tempo, não existindo até o momento uma análise da sua produção musical, o que impossibilita uma análise em termos quantitativos, ela começou a mudar depois das pesquisas realizadas em novembro de 2018 e janeiro de 2019 respectivamente nos arquivos de Antônio Melo Barbosa (1932-2019) e da Banda de Música do 59º BIMtz, antigo 20º B.C., somando-se ao arquivo da Sociedade Musical Guarany.

Se existia a indagação de que poderia ele, por exemplo, ter deixado obra consideravelmente numerosa, mesmo levando-se em consideração o fato de ter vivido apenas 41 anos e quase a totalidade dessa obra ter sumido na poeira do tempo, muito devido à má conservação dos originais, em mãos de assassinos memoriais ou simplesmente o próprio compositor ter se dedicado pouco ao exercício dessa arte, deixando apenas poucos exemplos da sua genialidade, essa mesma indagação pode ser respondida agora com a gratificante surpresa da descoberta de 20 obras no acervo da banda do 59º BIMtz e todas elas completas mais algumas encontradas no arquivo de Tonho do Mestre, como era então chamado Antônio Melo Barbosa. Ao todo chegou-se ao número de 26 composições assinadas pelo maestro Antônio Passinha (algumas delas são comuns em mais de uma fonte), um número bastante razoável que perfaz um período de pouco mais de uma década de criação (1922-1931) onde predominam os dobrados, mas que também privilegia valsas, hinos, samba e até um curioso fado-tango.

É sabido também que algumas de suas obras se espalharam pelo país, sendo encontradas em lugares tão díspares quanto afastados do centro de sua atuação, como é o caso de Florianópolis-SC, onde foram encontrados dois dobrados de sua autoria no arquivo da Sociedade Musical Amor à Arte (fundada em 1897) e cuja cópia de um deles, o dobrado Sargento Baptista, é de 1927.

O dobrado Tenente Portugal Ramalho[1], que homenageia distinta figura da capital alagoana, foi encontrado com cópia de 1943 na Sociedade Musical Carlos Gomes de Marechal Deodoro-AL, fundada em 1915, cuja proximidade com Maceió, cidade onde viveu e trabalhou o autor, explica a sua existência no arquivo.

Em Pão de Açúcar, cidade onde nasceu o compositor, encontravam-se no arquivo da Sociedade Musical Guarany (fundada em 1918) dois dobrados cuja data nas cópias não comprova o ano exato das composições, mas pode ser usada como uma estimativa.

O dobrado Tenente Nascimento, em cópia de 1926, é lembrado (pelos poucos músicos ainda vivos que o executaram) pela sua difícil tonalidade para banda de música, Mi bemol menor, que exige grande preparo técnico dos executantes. De todos os citados, é o que se encontra em pior estado de conservação dos originais, tendo mesmo que se fazer em algumas partes um verdadeiro trabalho de “arqueologia”, tal qual o fiz quando trabalhei na recuperação de algumas partes entre 1995 e 1996; no entanto, é de fácil recuperação, pois está praticamente completo. O segundo dobrado, chamado Experiência, tem a data de 1928 nas cópias mais antigas e, apesar de mais bem conservado, encontrava-se incompleto, sem as partes dos pistons. Com a pesquisa ele surgiu completo, mas numa cópia de 1954, porém mantivemos aqui a cópia primitiva de 1928 pegando emprestando o que estava faltando.

Dois copistas fizeram todo o trabalho. O primeiro, Davidson Pereira – que se suspeita que seja de Traipu (AL) –, algumas vezes estranhamente grafava seu nome ao contrário: “Nosdivad Arierep”. Copista experiente, foi responsável por colocar no papel outras peças encontradas no arquivo da Guarany, como os dobrados Olyntho Mattos[2], Ricardo Morais (Domingos Queiroz), De Paris a Londres (autor desconhecido) e Nº 155 (Lauro Carmo), todos no ano de 1928.

De acordo com as cópias de 1928 ainda existentes, percebe-se que ele começou a copiar de forma aleatória, sem obedecer a um esquema rígido de ordenamento, iniciando o trabalho pelos instrumentos tradicionalmente de contracanto.

Em 5 de outubro abriu os trabalhos com a primeira e única parte da orquestração escrita nesse dia: o barítono em si bemol, continuando no dia seguinte com a parte de bombardino, que é praticamente a mesma do barítono, somente alterando-se a clave de sol para clave de fá e a tonalidade, de Lá menor para Sol menor e então diversificou o trabalho escrevendo a parte da requinta, que toca em contracanto, contrapondo-se a melodia principal na primeira parte do dobrado e, por fim, foi para a harmonia, escrevendo numa única parte, como era costume na época, 1ª e 2ª trompas em mi bemol.

Não há registro do trabalho no dia 7, talvez por faltarem as partes originais de 1º e 2º clarinetes, 1º e 2º pistons, 1º e 2º trombones, as tubas em si bemol e mi bemol (na época, helicon) e a percussão, mas muito provavelmente pelo dia 7 ter caído num domingo, dia de descanso.

Prosseguiu no dia 8, copiando a parte do 3º clarinete, a única parte que sobrou da orquestração original. Sendo a única parte disponível deste dia de trabalho, tem-se a impressão de que as partes de 1º e 2º clarinete também foram copiadas nesse mesmo dia.

Concluiu o trabalho no dia 9 de outubro, escrevendo numa mesma parte a 2ª e 3ª trompas em mi bemol. As partes faltantes ou ausentes na orquestração de 1928 seriam anos depois refeitas e revistas por Mestre Nozinho, segundo copista deste dobrado.

Manoel Victorino Filho, o abnegado professor e maestro nascido em Neópolis (SE) em 17/10/1895, era filho de Manoel Victorino Barbosa (guarda da linha telegráfica nascido em 1870 e sobrevivente do naufrágio da lancha Moxotó, ocorrido em 10/01/1917) e de Olympia Castro Barbosa.

Aluno do maestro Emygdio Bezerra Lima (1865-1931), foi exímio executante de pistom, violão e violino e esteve à frente da banda de música em Pão de Açúcar (Sociedade União e Perseverança, Pão-de-assucarense e Guarany) por quase 45 anos, de 1917 até a sua morte ocorrida em Maceió em 18/04/1960.

Em 1944 ele faria uma revisão do dobrado, refazendo o que estava faltando e acrescentado novas partes para novos instrumentos como o saxofone alto, que só chegou na banda em 1931.

Em 25 de junho ele refez curiosamente no verso da parte da 2ª e 3ª trompas copiada por Davidson Pereira a parte de 2º clarinete, faltante no original de 1928 talvez já naquele ano.

Passada quase uma semana, em 1º de julho ele acrescenta uma parte para o sax alto, então inexistente na orquestração original.

A última revisão seria feita apenas em 1951, 23 anos após as primeiras cópias. Em 1º de setembro são refeitos numa única parte os trombones e no dia seguinte as partes da tuba em si bemol e tuba em mi bemol, provavelmente porque a esta altura as partes de 1928 já estavam perdidas.

A curiosidade a respeito desse dobrado começa com a data. 1928 é a data estabelecida unicamente porque as partes copiadas neste ano estão em maior número; entretanto, como foi dito no início, isto não comprova a data original, principalmente se levarmos em consideração a parte do baixo em dó[3], escrita por Mestre Nozinho no verso da única parte existente do dobrado Gallieni Ribeiro[4]. A parte do baixo em dó do dobrado Experiência não está datada, mas é uma das poucas que tem o nome completo do compositor, o que muito facilitou o trabalho de identificação, já a parte de Gallieni Ribeiro, no verso, tem data de 15/10/1927, o que gera duas perguntas:

1.      Teria Mestre Nozinho feito uma parte para baixo em dó do dobrado Experiência, e no verso uma parte do mesmo instrumento para o dobrado Gallieni Ribeiro no mesmo ano de 1928, no mesmo mês de outubro, com diferença de uma semana, depois da última cópia de Davidson Pereira e se enganado ao grafar 1927 em vez de 1928?

2.      Seria o dobrado Experiência anterior a 1928, tendo Mestre Nozinho escrito a parte de baixo em dó realmente em 1927, praticamente ao mesmo tempo em que escreveu no verso, o dobrado Gallieni Ribeiro?

Talvez nunca se saiba, mas o questionamento foi aberto porque o tipo de tinta usada para escrever tanto um como outro é igual, dando a impressão que as músicas foram escritas no mesmo período, quase sem espaçamento de tempo, assim como é curioso notar que algumas partes do dobrado Antônio Augusto (com algumas cópias também de 1928), do compositor Manoel Leite, mineiro da cidade de Elói Mendes e famoso pelo dobrado Baptista de Mello, foram mais tarde escritas no verso de Experiência, sendo a única exceção a de barítono em si bemol escrita em 23/09/1928 pelo próprio Mestre Nozinho assim como as partes de bombardino e tuba si bemol escritas em 29/11/1956 no verso das respectivas partes do dobrado Experiência.

Vale ainda ressaltar que em outubro de 1972 quase houve uma quarta revisão do dobrado Experiência feita pelo maestro Afrânio Menezes Silva (1936-1991), àquela altura maestro da Sociedade Musical Guarany, chegando ele a escrever as partes de bombardino e 1ª e 2ª trompas (desta vez separadas), mas o trabalho foi interrompido no início da parte de 1º e 2º trombones e não seguiu adiante.

O dobrado Experiência é um autêntico lado B, pois é fácil apostar que de 1951 a 1972 na quase revisão de Bubu[5] e de lá até a presente data ele não voltou a ser executado, enquanto Antônio Augusto, do mesmo ano e escrito no verso se impôs naturalmente como o lado A, graças a Bubu, que continuou a executá-lo nas procissões e solenidades da Pão de Açúcar dos anos 1970 e 1980 e mesmo depois de sua morte, na fase mais recente da banda nos anos 1990, devido a minha revisão feita em 1997.

O mesmo acontece agora com o dobrado Experiência, revisto e ampliado por mim em fevereiro de 2016, foi dos que menos deu trabalho pois praticamente não havia os tradicionais erros de harmonia ou enganos dos copistas. Na atual revisão foram refeitas as partes que viraram pó de 1º e 2º pistons, revisadas as partes das revisões anteriores e acrescentadas as partes de flautim, sax tenor, sax barítono, 3º pistom e 3º trombone, inexistentes na orquestração original.

Num trabalho de Flávio Ventura (1978), eis que surge agora para as novas gerações, às vésperas de completar 90 anos desde a primeira parte escrita naquela longínqua sexta-feira de outubro, a 1ª edição oficial deste dobrado tão característico dos áureos tempos da produção musical para banda no Brasil, esperando assim que possamos reviver e fazer jus à memória do extraordinário compositor, músico e maestro Antônio de Castro Passinha.

 

São Paulo, julho de 2018[6]


Antônio de Castro Passinha[7]

(1894-1936)

 

Muito é dito sobre o famoso maestro alagoano Manoel Passinha (1908-1993), entretanto, poucos se lembram que ele tinha um irmão músico, o também genial Antônio de Castro Passinha.

O segundo dos quatro filhos[8] do fabricante de tamancos João Euzébio de Castro (nascido em Pão de Açúcar-AL em 1868) e sua esposa, a costureira Maria Luiza de Castro (nascida no termo de Piaçabuçu-AL em 1867), nasceu em Pão de Açúcar-AL em 24/12/1894, tendo como avós paternos Carlos José Dias de Castro e Luiza Francisca de Assumpção e como avós maternos Manoel Ferreira de Barros e Maria das Dores de Barros.

Maestro Antônio de Castro Passinha
(Acervo Etevaldo Amorim)

Pouco se sabe da sua vida e carreira musical, havendo rumores de que tenha sido aluno do maestro Emygdio Bezerra Lima (1865-1931), porém isso não foi comprovado. No relato do maestro Manoel Leandro Simplício (1904-1995)[9], que o conheceu, ele também era multi-instrumentista, mas tinha o trombone como instrumento referencial e é como executante desse instrumento que ele aparece fotografado em 14 de outubro de 1917 como membro da banda recém formada por Manoel Victorino Filho e subsidiada pelo padre José Soares Pinto (1884-1939), também apoiador do teatro amador local.

Banda de música recém-criada por Manoel Victorino Filho, em 14 out. 1917, à frente da Igreja do Bonfim.
(Acervo Antônio Melo Barbosa)


O Nozinho do guarda como era então chamado era então um jovem músico de 22 anos que embora tivesse certa experiência (desde pelo menos 1910) como executante de pistom, violino e violão, era nessa altura (1917) um iniciante na arte da condução e contava com a colaboração de músicos que no futuro se revelariam excepcionais como o próprio Antônio e seu irmão Manoel (então com apenas 9 anos e iniciando longa e prestigiosa carreira); Américo Castro (1903-1967), que depois de uma estadia de 15 anos em Maceió alçaria voo para o Rio de Janeiro onde faria auspiciosa carreira como compositor, arranjador e contrabaixista em orquestras famosas, primeiro com a do maestro Fon-Fon (1900-1951), alagoano de Santa Luzia do Norte e a partir de 1952 com a de Ivan Paulo da Silva (1910-1991), o famoso maestro Carioca; José de Castro Barbosa (1901-1969), que depois de deixar Pão de Açúcar em 1921 por conta de uma desavença com Zé Maia[10] quando era atirador do Tiro de Guerra nº 656, fixou residência no Rio de Janeiro onde foi chefe de orquestra em navios transatlânticos até trocar a música pela advocacia, que exerceu até a sua morte em 1969 e somente retornaria a Pão de Açúcar numa rápida visita em 1949. Ele e Américo eram irmãos do jovem maestro e tocavam respectivamente trombone e clarinete, mas podiam também tocar bombardino e requinta sempre que era necessário. Entre os fiéis estavam Francisco Antônio dos Santos, conhecido como Mestre Chiquinho (1900-1970), que entre outras coisas vivia da arte de fabricar fogos de artifício usados principalmente nas festas juninas e religiosas em geral, sendo por isso também chamado de Chiquinho Fogueteiro. Sua permanência na banda se dá pouco antes de 1917 e vai além da morte de Mestre Nozinho em 1960, chegando ele próprio a reger por um curto período em 1961, mesmo sem ter muita paciência[11]. Inicialmente tocando trompa, passaria na década seguinte a executante do instrumento pelo qual ficaria associado até os seus últimos dias, o bombardino, embora tocasse também trombone. Merece ainda menção os nomes de João Damasceno Lisboa (1900-1990), mais conhecido como pintor, escultor e célebre fotógrafo, autor da famosa fotografia das cabeças de Lampião e seu bando realizada na escadaria de Piranhas em 1938. Tocando trompa em 1917, seria fotografado em 1927 ainda fazendo parte da banda, mas responsável pelo helicon (espécie de tuba em mi bemol, hoje em desuso), e o lendário violonista (dono de um humor impagável) Antônio Marsiglia (1894-1927) tocando pratos.

Assim como seu irmão Manoel, Antônio serviu ao Exército Brasileiro no 20º Batalhão de Caçadores em Maceió, onde ao que parece, inaugurou o batalhão e sua banda de música surgidos em 1920. Até agora, sua ficha funcional não foi localizada nos arquivos do hoje 59º BIMtz, o que revelaria muito da sua trajetória no antigo 20º B.C., mas uma pesquisa realizada no arquivo da banda de música da corporação em janeiro de 2019 revelou rastros deixados nas partituras encontradas. Por elas soube-se que ele já estava na banda em 1922 e que era músico de primeira classe e contramestre em 1927 e que, ao contrário do que se pensava até então, ele não fora transferido para o Rio de Janeiro no início dos anos 1930. Em 1934 permanecia em Maceió e teve o nascimento de sua filha noticiado pelo Diário de Pernambuco em sua edição nº 68 de 25 de março na coluna Notícias de Alagoas: “Está de parabéns o lar do sr. Antônio Passinha, mestre da banda de música do 20º B.C., e de sua senhora d. Silvanira Passinha, com o nascimento de sua filhinha Geovana, fato ocorrido a 11 do corrente”.

Quartel do 20º B.C. em 2 abr. 1934
(Acervo Edberto Ticianeli - História de Alagoas)

Seu posto, conforme o Diário Oficial da União (DOU) de 17/08/1938, era o de sargento ajudante (também chamado de brigada, equivalente depois de 1945 a função de 1º sargento) quando faleceu aos 41 anos em sua casa na Avenida Santos Pacheco, bairro da Levada nº 348 as 13:00 horas de 02/08/1936. Numa época sem os recursos da medicina atual, matou-o uma nefrite crônica[12] e seu corpo foi sepultado no cemitério de São José, no Trapiche da Barra em Maceió. deixou viúva sua esposa Silvanira Barbosa de Castro e cinco filhos: José, Adelmar, Gicelda, Lenilda e Maria Luiza Barbosa de Castro[13]. A pequena Geovana não sobreviveu e por isso não consta da relação de filhos na sua certidão de óbito, cujo declarante foi seu irmão Manoel.

Por ter sido arrebatado da vida ainda muito cedo, o maestro Antônio Passinha não legou obra musical numerosa como a perpetuada por seu irmão, mas seu valor qualitativo é inquestionável e percebido através das partituras que sobreviveram ao tempo e chegaram aos dias atuais, estando a maioria no arquivo da banda de música do hoje 59º BIMtz (20 obras). Em Pão de Açúcar, restou no arquivo da Sociedade Musical Guarany os dobrados Tenente Nascimento (1926) e Experiência (1928), além do hino Deodoro (em homenagem ao marechal Manuel Deodoro da Fonseca, 1827-1892) com poema de Antônio de Freitas Machado (1895-1970), porém, este hino está impossibilitado de recuperação da orquestração pois somente foi encontrada a parte do flautim. No arquivo particular de Antônio Melo Barbosa (1932-2019), pesquisado em novembro de 2018, constam os dobrados Álvaro Mello Filho (1928), Antônio Machado (1927), Clementino Silva (1925), Gallieni Ribeiro (1928) e o (curiosamente classificado como um fado-tango) Fado das Lágrimas (1925); Já o dobrado Tenente Portugal Ramalho, escrito em 1927 em homenagem ao então tenente e anos depois general José Portugal Ramalho, nascido em Maceió-AL em 1895 e falecido em João Pessoa-PB em 1973, sobrevive no arquivo da Sociedade Musical  Carlos Gomes (1915), de Marechal Deodoro-AL, em cópia de 1943 e também na Sociedade Musical  Amor à Arte (1897), de Florianópolis-SC, onde também foi encontrado o dobrado Sargento Baptista, de 1927, bem como do mesmo ano é também o "sambinha" Sanhaço, citado pelo escritor Marcos de Farias Costa[14] em seu artigo "Aqui, Pixinguinha e outros chorões" para a revista Graciliano (p. 46)[15].

Maestro Manoel Passinha em foto da década de 1950.
(Acervo Edberto Ticianeli - História de Alagoas)

Um ano após o seu falecimento, foi homenageado por seu irmão, o maestro Manoel Passinha, com o dobrado Brigada Antônio Passinha, gravado pela banda de música do 20º B.C. em 1970.

Um dado curioso revelado pelo escritor Moacir Medeiros de Sant’Ana em seu livro Benedito Silva e sua época, de 1966: pouco depois do falecimento do maestro Benedito Silva em 1921, foi o maestro Antônio Passinha o depositário de todo o acervo do autor do Hino Alagoano, doado por sua filha Marieta Silva.

Aspecto de Pão de Açúcar em 1888 - Rua da Frente, atual A. Ferreira de Novaes.
(Foto: Adolpho Lindemann)


Banda do 20º B.C. com o maestro Manoel Passinha (ao centro), em 1970.
(Acervo Billy Magno)


A Avenida da Paz em dia festivo (Maceió, 1927).
(Acervo Iba Mendes)


 


Referências

COSTA, Marcos de Farias. Aqui, Pixinguinha e outros chorões. Revista Graciliano. CEPAL/Imprensa Oficial Graciliano Ramos, Maceió, ano IV, n. 9, p. 46, jun./jul. 2011.

LUCENA, Wilson José Lisboa. Tocando Amor e Tradição: A Banda de Música em Alagoas. Maceió: Editora Viva, 2016. vol. 2, p. 147-148.

NOTÍCIAS de Alagoas. Diário de Pernambuco, Recife, ano 109, n. 68, p. 4, 25 mar. 1934.

SANT’ANA, Moacir Medeiros de. Benedito Silva e sua época. Maceió: Arquivo Público de Alagoas, Secretaria de Estado dos Negócios da Educação e Cultura, 1966.



[1] Nascido em 1895 e falecido em 1973 em João Pessoa-PB, chegaria ao generalato. Em Maceió, empresta seu nome a uma rua no bairro de Jatiúca.

[2] Autoria atribuída a Antônio Neves, de Traipu, segundo o maestro Antônio Basílio (1939-2010) em sua última entrevista, concedida ao maestro e pesquisador Nilton Souza (1975) uma semana antes de falecer.

[3] Tuba não transpositora usada na banda por cerca de 20 anos, entre 1926 e 1946.

[4] Encontrado no arquivo particular de Antônio Melo Barbosa (1932-2019) em novembro de 2018, mas em cópia de 1929. Posteriormente, em janeiro de 2019, depois de uma detalhada pesquisa no acervo da banda de música do 59º BIMtz essa e outras obras do compositor foram encontradas completas, inclusive Experiência (em cópia posterior, de 1954), Tenente Nascimento (cópia de 1927) e Tenente Portugal Ramalho (do mesmo período) citados aqui. Com tais descobertas e à luz de novas informações, o texto precisou ser refeito.

[5] Apelido pelo qual era conhecido o maestro Afrânio, em clara referência ao seu instrumento: A tuba.

[6] Texto revisto e atualizado em agosto de 2020. (N. do E.)

[7] À luz de novas evidências, este texto foi revisto e atualizado em agosto de 2020. (N. do E.)

[8] Além de Antônio, os outros filhos eram Olindina (a primogênita, nascida em 1892, Maria (conhecida como Mariquinha, 1907-1996) e Manoel, maestro durante muitos anos da banda do 20º B.C. e que seria conhecido em todo o Brasil, sendo autor de dobrados e frevos antológicos.

[9] Conhecido como Mestre Manuca, foi maestro da banda de música da Polícia Militar de Alagoas. Figura folclórica em Maceió, é muito lembrado por ter sido professor e maestro da banda de música da antiga Escola Técnica Federal de Alagoas (ETFAL), hoje Instituto Federal de Alagoas (IFAL) por muitos anos e responsável por formar três gerações de músicos.

[10] Notório pela violência, entre outros assassinatos foi considerado suspeito de mandar matar o próprio pai, o coronel Lamego Maia, brutalmente assassinado enquanto dormia na calçada de sua casa, um hábito comum em 1924. Irmão do ex-prefeito e ex-deputado Elísio Maia (1914-2001), tanto fez que acabou ele próprio morto em 1927.

[11] Conforme depoimento de Antônio Melo Barbosa (1932-2019) — filho do maestro e herdeiro do seu acervo — em 2 de dezembro de 2018 na casa da sua filha Sheyla Menezes em Maceió.

[12] Doença que afeta os rins fazendo com que o órgão em casos extremos leve o paciente a ser tratado por hemodiálise, mas que era fatal até os anos 1960.

[13] Até agora não foi possível obter informações sobre sua esposa e filhos.

[14] Nasceu em Maceió, Alagoas. Formado em Psicologia, nunca exerceu a carreira, preferindo optar pela poesia.  Fez cursos extracurriculares de tradução e língua alemã. Compositor bissexto, com prêmios e reconhecimentos.

[15] (Costa, 2011).



[i] BILLY MAGNO nome artístico de Williams Magno Barbosa Fialho (Pão de Açúcar-AL 05/07/1978). Músico multi-instrumentista e arranjador. Na adolescência, foi estudar orquestração e regência em Salvador (BA). Iniciou na profissão em 1984 e teve como professores Paulo Henrique Lima Brandão (teoria), Petrúcio Ramos de Souza (orquestração e regência), Maria Mercedes Ribeiro Gomes (piano) e Edvaldo Gomes (contraponto), tendo ainda participado de Master Class de arranjo com Cristóvão Bastos, harmonia com Nelson Faria e trilha sonora com David Tygel. Dedicou-se, ao longo do tempo, à causa da música instrumental na qual tem atuado com mais frequência, trabalhando no Brasil e na Europa. Em junho de 2004, passa a viver em São Paulo. (Fonte: http://abcdasalagoas.com.br/verbetes.php)



domingo, 29 de julho de 2018

Triunfo da Virgem (Marcha de procissão)


(Áudio ilustrativo produzido no programa Sibelius com o Noteperformer integrado)


“A presença da banda militar, no acompanhamento das procissões, fez surgir a necessidade da criação de um estilo de marcha próprio a ser executado durante a realização dos préstitos religiosos. Uma marcha que, diferente do dobrado e da marcha militar, que podem atingir o andamento de duzentos e dez semínimas por minuto, fosse mais lenta, permanecendo o seu andamento de oitenta a cem semínimas por minuto. Um andamento compatível com o passo das irmandades, devotos e seguidores das procissões. Marchas processionais, marcadas pelas pancadas cadenciadas do surdo e o retinir de pratos…” (Leonardo Dantas Silva)


Seu Tico, o copista


Das dezenas de partituras legadas por nosso colega veterano Francisco Costa, o Seu Tico, da cidade de Petrolândia, Triunfo da Virgem foi a primeira marcha de procissão. Santo Antônio e Santa Izabel vieram em seguida enriquecer nosso acervo, além de várias obras de autores diversos, tais como Joaquim Naegele (Gov. Leonel Brizola, Passeio Trágico e Maestro João Macedo), Gilberto Gagliardi (Cidade de Antonina), Pedro Salgado (Maestro João Massaini), J. V. de Brito Filho (Alvorada Brasileira), Mário Zan (IV Centenário), Arlindo Previtale (Dep. Freitas Nobre), Prisco de Freitas (Saudades de Antonina) e ainda anônimos (Lira de Ouro, Miguel Lima Dias, Porto, Passo, Uberaba, etc.) — são exemplos do muito que nos foi generosamente cedido, algumas partituras copiadas integralmente à mão e fotocópias de edições originais.

No caso da marcha religiosa aqui divulgada, não foi possível descobrir autoria. Certamente, não havia indicação na partitura-fonte ou, havendo, poderia estar inelegível. Chama-se atenção para isso porque nosso personagem era zeloso em indicar o autor nas cópias que produzia.

Questionado sobre a origem das partituras religiosas, disse-nos que não eram do acervo da banda local, mas conseguidas com as bandas de Floresta ou Belém do São Francisco quando estas se apresentavam em Petrolândia. Xerocava o que conseguia, mas a boa parte delas dava-se a obrigação de renovar as cópias.

O tipo de copista que, na falta de papel pautado, desenha milimetricamente os pentagramas de todas as partes, não obstante seus problemas de visão, Seu Tico também tocou trompete conosco — um tanto limitado na função, é verdade, porém devotado à Música e ao ambiente em que ela se revela.

Casado com dona Alaíde Costa, é cunhado dos músicos piranhenses Expedito e Elias “Balaio” que integraram o coral sacro da Igreja de Nossa Senhora da Saúde com o Mestre Elísio (1911-1978) na década de 1960, em Piranhas. Elias foi ainda trombonista na banda junto com os sobrinhos Toinho (trompete) e Divacy (clarinete). Este último é hoje o único remanescente ainda ativo daquela banda que resistiu em Piranhas até meados dos anos 1960 graças ao trabalho abnegado do maestro Elísio José de Souza, pernambucano de Jatobá.

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Em Jatobá, distrito de Tacaratu, ficava a última estação da Estrada de Ferro Paulo Afonso — do trem que partia de Piranhas entre os anos de 1882 e 1964. Em 1909 o distrito foi elevado à categoria de cidade e em 1943 mudou o nome para Petrolândia em homenagem ao imperador D. Pedro II.

A cidade velha não existe mais; foi inundada pela represa de Itaparica, obrigando os moradores a mudarem em 1988 para a atual cidade. Antes, em 1964, com a desativação da ferrovia, vários piranhenses haviam se radicado na velha Petrolândia; entre eles, Divacy.

Durante os primeiros 4 anos da Filarmônica Mestre Elísio, à época chamada Banda de Música Mestre Elísio José de Souza, anos 1990-94, éramos reforçados na principal festa (2 de fevereiro) pelos músicos de Petrolândia: Miguel e Jardiel (trompetes); Etinho (trombone) e Divacy (sax-tenor). Seu Tico, a partir de 1993, sempre que vinha para os festejos anuais com a família juntava-se a nós, munido de material próprio (trompete, estante e partituras) e boa disposição para colaborar.

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Em 1938, o maestro Edson da Silva Porto, de passagem pela cidade, criou a primeira banda de música de Petrolândia. Mais tarde, viria se chamar Banda Musical Adolfo Alexandre de Melo. Hoje desativada, teve como último maestro Seu Dédinho (José Costa da Silva) — não por acaso, irmão de nosso copista Tico. Mas, graças à atuação do Maestro Deison Bezerra com a Filarmônica Som do Velho Chico, fundada no ano de 2013, a música instrumental ainda resiste naquela região.

No último dia 1.º de julho, a Mestre Elísio participou das comemorações dos 109 anos de emancipação política de Petrolândia. Oportunamente, homenageamos nosso amigo e colega Francisco Costa da Silva "Seu Tico", hoje aos 84 anos e já afastado das atividades musicais, pelo tempo de dedicação e considerações mútuas.


Maestro Leléo (à esquerda), Francisco Costa "Seu" Tico (ao centro) e 
Augusto Fontes "Bujão" (à direita) apresentando ao público nosso homenageado.
Petrolândia-PE, 1/7/2018.
(Arquivo Filarmônica Mestre Elísio)

Francisco Costa "Seu" Tico e Maestro Leléo.
Petrolândia-PE, 1/7/2018.
(Arquivo Filarmônica Mestre Elísio)
Francisco Costa "Seu" Tico recebe de Augusto Fontes "Bujão" placa comemorativa.
Petrolândia-PE 1/7/2018.
(Arquivo Filarmônica Mestre Elísio)