sexta-feira, 28 de janeiro de 2022
domingo, 17 de outubro de 2021
sexta-feira, 14 de maio de 2021
Centenário de falecimento do Maestro Benedito Silva (1859-1921)
Há 100 anos falecia Benedito Raimundo da Silva (*31/08/1859 †14/05/1921), o Benedito Piston, grande compositor e instrumentista maceioense do final do século 19.
Autor do Hino de Alagoas, em parceria com o poeta Luiz Mesquita, o maestro Benedito Silva já teve, neste blog, sua biografia e parte da obra retratada pela pesquisa Billy Magno/F. Ventura, em pelo menos três publicações, desde o ano de 2018.
Para comemorar este centenário, apresentamos o que de sua produção original foi resgatado pelos maestros: Régis Duprat (*Rio de Janeiro, 1930) e Rogério Duprat (1932-2006) na série de discos Três Séculos de Música Brasileira (1978); Luiz Gonzaga Carneiro "Gonzaguinha" (*Paulista, PE, 1928) e o arranjador Osvaldo Pinto Barbosa "Vavá" (*Guarabira, PB, 1933) na série Bandas de Música de Ontem e de Sempre (1983;1990), patrocinada pela Federação Nacional de Associações Atléticas Banco do Brasil (FENAB), com a produção musical do pesquisador José Silas Xavier (*Guarani, MG, 1939); e ainda o que foi gravado pelo pianista Joel Bello Soares (*Rio Largo, AL, 1934) no disco Valsas, Polkas e Mazurkas - A Música Alagoana do Início do Século (1987).
Obs.: A disposição dessas obras segue a ordem cronológica inversa. Com exceção do Hino de Alagoas, os demais áudios são extratos dos discos completos disponíveis no You Tube. Portanto, cada música de Benedito Silva é antecedida/sucedida por obras de autores diversos, todos especialmente alagoanos no caso particular do disco de Joel Bello Soares.
quinta-feira, 4 de março de 2021
terça-feira, 5 de janeiro de 2021
Augusto José Neto Bujão (Piranhas, 2 jun. 1951 – Arapiraca, 4 jan. 2021)
Augusto José Neto "Bujão" no pátio da Igreja de Nossa Senhora da Saúde (anos 1990) (Arquivo: Família Fernandes Fontes) |
Lamentamos profundamente a morte, ocorrida na manhã de ontem, de Augusto José Neto, mais conhecido por todos como Bujão, nosso amigo e colega bombardinista nos primeiros 11 anos da Filarmônica Mestre Elísio.
Filho de Otávio e
Raimunda; irmão de Generva e Ednólia (in memoriam), Rita e Ismael; tio de
Raimundo, Charridy e Ary Cherlinson; esposo de Fátima Fernandes; pai de Ana
Paula e Anne Karine; avô de Augusto, Sabrina, Letícia e Otávio; Bujão foi
mecânico de profissão, mas na atuação musical pôde realizar-se plenamente. E mesmo há 20 anos fora da banda ainda nutria a esperança de voltar
a tocar ainda que por único especial momento.
Pioneiro da FMEJS, foi aluno do mestre Elísio José de Souza (1911-1978) na década de 1960. Estudava saxhorn/trompa e tocava pratos na banda.
No
final da década de 1980, ele (agora no bombardino) e o sr. Elias Balaio (no
trombone), ex-integrantes da antiga banda do mestre Elísio, foram os primeiros
a se disponibilizarem para a restauração da banda municipal. Desta vez,
com a direção de Afrânio Menezes Silva, o mestre Bubu (1936-1991), a banda
estreou em 7 de setembro de 1989 com a participação deles mais os
pão-de-açucarenses, radicados em Piranhas, Zé Broinha (trompete) e Damião
(trombone), instrutor da banda marcial da Escola Cenecista
Cel. José Rodrigues, e os alunos piranhenses do mestre Bubu: Zilvan e Jaime,
clarinetes; os irmãos Jorge e Zé Carlos, trompetes; e alguns percussionistas da
banda marcial.
Mais que um colega de atuação musical, Bujão foi como um pai para todos nós iniciantes da banda de Piranhas naqueles primeiros anos. Incentivava e protegia. Trouxe sua esposa e filhas para a banda: Fátima no surdo, Ana nos arquivos e Karine no trompete.
Seu
ânimo foi tanto com a possibilidade de reativação da banda naquele ano (1989)
que com pouco tempo de aula, no mesmo dia em que mestre Bubu lhe confiou o
bombardino, parou terminantemente de fumar — confidenciou-nos mais tarde.
Em
dado momento, antes de termos sede própria, cedeu o porão de sua casa para os
ensaios do grupo recém-iniciado.
Personalidade
forte e contestadora, comum aos Fontes, não raro apresentava uma atitude conflituosa, porém,
era humilde o suficiente para superar as diferenças em favor de um bem maior: a
relação fraterna necessária para a sobrevivência da banda.
No
ano 2000, por motivo alheio à sua vontade, junto com esposa e filhas,
deixou a Mestre Elísio. Desde então, e muito mais agora, reverenciamos sua história nas bandas de música desta cidade.
À família enlutada nos juntamos neste difícil e imperativo esforço de superar a dor da perda.
Descanse
na Santa Paz do Senhor, Bujão...
sábado, 2 de janeiro de 2021
Maestro Petrúcio Ramos de Souza (1946 - 2021)
SOUZA, Petrúcio Ramos de (Pão de Açúcar - AL, 27/09/1946 - 01/01/2021). Compositor, músico, maestro. Filho de Luiz José dos Santos e Izaura Ramos dos Santos. Estudou no Grupo Escolar Bráulio Cavalcante e Ginásio Dom Antônio Brandão. Teve iniciação musical com o mestre Nozinho, passando a tocar em 1954, quando tinha oito anos de idade, na Filarmônica Guarany de Pão de Açúcar (AL). Tocou: Percussão (1954), saxhorne (1956) e trompete (1957), além de outros. Em 1965, ingressa no 19° Batalhão de Caçadores de Salvador. Já em 01/08/1966, como 3° sargento ingressa na banda de música da Base Aérea de Salvador, assumindo, o comando da corporação musical no período de 1985 a 1996. Foi transferido para a reserva na patente de tenente. Em Salvador, assumiu a coordenação do conjunto musical da TV Itapoan. Fez parte da orquestra do Cassino Tabaris, atuou na Rádio Excelsior. Participou da orquestra do saxofonista Ivanildo dos Santos (saxofone de ouro). Com os irmãos formou orquestra carnavalesca, a Banda Bacana. Em 1988, foi responsável pela revitalização da Filarmônica Guarany, de Pão de Açúcar. Compôs: Benção ao Papa João de Deus e uma coletânea infantil.
quarta-feira, 25 de novembro de 2020
Resultado Final - Prêmio Funarte de Apoio a Bandas de Música 2020
A Funarte divulga hoje, 25, resultado final do Prêmio Funarte de Apoio a Bandas de Música 2020, após publicação no Diário Oficial da União (DOU) — edição 224, seção 1, p. 78, 24 nov. 2020. Foram contempladas 378 bandas.
Mais informações em:
https://www.funarte.gov.br/edital/edital-premio-de-apoio-a-bandas-de-musica-2020/
terça-feira, 10 de novembro de 2020
Selecionados: Etapa II - Prêmio Funarte de Apoio a Bandas de Música 2020
Publicada hoje, 10, a lista dos selecionados do Prêmio Funarte de Apoio a Bandas de Música 2020. Inicialmente, era prevista a seleção de 158 projetos, porém, a premiação atingiu um pouco mais que o dobro das bandas habilitadas:
"Foram contemplados 373 projetos de um total de 378 projetos inscritos. A Comissão de Seleção e os representantes da Funarte decidiram contemplar a maioria dos projetos, como forma de estímulo, mesmo àqueles que obtiveram pontuação abaixo da média. Os projetos foram analisados considerando os parâmetros e especificidades particulares de cada estado brasileiro."
Das bandas de Alagoas, 11 foram selecionadas — a FME entre elas. Daqui a 2 semanas, o resultado final será publicado no Diário Oficial da União, conforme Cronograma abaixo.
Mais informações em:
https://www.funarte.gov.br/edital/edital-premio-de-apoio-a-bandas-de-musica-2020/
sexta-feira, 25 de setembro de 2020
Habilitados - Prêmio Funarte de Apoio a Bandas de Música 2020
A Fundação Nacional de Artes (Funarte) publica hoje, 25, lista dos projetos habilitados no Edital lançado em janeiro. Dos 598 inscritos, 374 -- entre eles, o da FME -- passaram para a próxima fase em que serão selecionados 158 para o prêmio final.
Mais informações em : https://www.funarte.gov.br/musica/premio-funarte-de-apoio-a-bandas-de-musica-2020-divulgado-o-resultado-dos-projetos-habilitados/
domingo, 23 de agosto de 2020
A entrada de Piranhas - João Tuana
A entrada de Piranhas
Samba-exaltação de João Tuana
Último em Alagoas para quem sobe o São Francisco desde a foz, a cerca de 6 horas, ou primeiro para quem desce, a cidade de Piranhas foi um porto em que confluía toda espécie de gente: mercadores, missionários, retirantes dos períodos de escassez severa, aventureiros, artistas etc.
Nesse porto onde destinos vários se cruzavam, foi construída a Estrada de Ferro Paulo Afonso (EFPA) no final do século 19, a interligar através de mais de 100 km de trilhos as localidades de Piranhas, no estado de Alagoas, e Jatobá, em Pernambuco, vencendo por terra a barreira intransponível da cachoeira de Paulo Afonso, que naturalmente interrompia a navegação do rio, pelo menos parcialmente, até o porto de Piranhas ― daqui à foz a navegação é regular.
Essa posição geográfica fez de Piranhas palco da manifestação de diversos artistas em trânsito, que se deixavam demorar, desfrutando dos ares inspiradores da paisagem e da hospitalidade dos nativos, quando não apenas aguardavam a partida do próximo trem ou embarcação que os levassem ao destino pretendido.
Um desses artistas foi o compositor, violonista, emboladeiro e comediante maceioense José Luiz Rodrigues Calazans ― o Jararaca da dupla com Ratinho, Severino Rangel de Carvalho ―, que aos 19 anos fez teatro em Piranhas e ousou se engraçar com uma das filhas do coronel José Rodrigues de Lima. Mal-sucedido em seu intento, o filho do poeta maceioense Ernesto Alves Rodrigues migrou então para Recife, onde conheceu o paraibano (de Itabaiana) Severino Rangel de Carvalho. Ambos integraram o regional Turunas Pernambucanos. Dessa participação no grupo, adotaram nomes de bichos, cabendo Jararaca ao alagoano José Luiz e Ratinho ao paraibano Severino.
Jararaca foi amigo do mestre Nemésio Teixeira e chegou a visitá-lo anos mais tarde quando junto com Ratinho gozava de grande popularidade nacional.
Outro artista em trânsito foi o mato-grossense João Tuana. Compositor hoje esquecido, deixou-nos um presente: o samba-exaltação A entrada de Piranhas. De sua origem indígena e a época da passagem pela cidade, década de 1940, já fomos devidamente informados pela escritora piranhense, poeta, compositora e memorialista, acadêmica da AAL, Rosiane Rodrigues[1] que obviamente as recolheu da tradição oral.
Assim como vários outros compositores residentes ou em trânsito que fizeram questão de registrar musicalmente o momento, João Tuana nos deixou um samba em que revela suas impressões da paisagem ao avistar a cidade encravada no vale do São Francisco.
Se a leitura apenas do título A entrada de Piranhas levantasse dúvida quanto a que entrada ele se refere, se à fluvial, em direção ao poente, ou, contrariamente, à terrestre, a disposição das primeiras imagens nos versos resolvem a questão, pois só a quem chega pelo rio ressalta aos olhos dessa maneira particular os monumentos naturais sobre os quais se instalam alguns marcos, como o cruzeiro (“tem uma pedra e uma cruz”), a capela no sopé do monte à memória de uma trágica história de amor (“Do lado esquerdo, uma capela / de uma pobre donzela” assassinada), e o Mirante (“Do lado direito, distante / se avista um lindo mirante / o século do sonhador”), estrutura piramidal em 5 camadas criada no alto do morro no fim do século 19 para saudar o século 20.
Como a capela fica precisamente na margem direita do São Francisco (estado de Sergipe) e o Mirante na margem esquerda (estado de Alagoas), percebe-se que o compositor tem uma visão panorâmica de quem sobe o rio, cerca de 2 km do porto, para quem o sentido de direção contraria a correnteza.
Mais perto, vê-se a imponente estação ferroviária (“No porto se vê a Estação / ponto de locomoção / é um prédio de valor”), mais bela construção pertencente ao complexo ferroviário criado há 140 anos.
No morro seguinte há a pequena capela de Nosso Senhor do Bonfim (“No alto, a igrejinha / embaixo, a cidadezinha / presépio do Redentor”).
É comum tratar Piranhas por “cidade lapinha”, em alusão ao presépio das festas de Natal e Reis, devido a sua conformação geográfica de povoação que teve de se acomodar às serras tal qual certo presépio estilizado onde os personagens principais são emoldurados numa minúscula paisagem medieval serrana.
Claro que aos pioneiros não ocorria essa noção. Convenientemente se instalaram numa faixa de terra entre a montanha e o rio que lhes possibilitava a criação de animais, produção de alimentos e o tráfego. Posteriormente, com o crescimento da população provocando a ocupação do morro, a paisagem inspirou algum nativo ou viajante com sensibilidade suficiente para fazer associações geográficas, estabelecendo subjetivamente elos paisagísticos, a cunhar termos como “cidade lapinha do São Francisco”.
De qualquer forma, João Tuana foi mais feliz em sua passagem do que um certo compositor, músico clarinetista carioca, momentaneamente contrariado pelo excesso de bebida a que se entregou no bar de Pedro Chico, pelo que foi detido. Deste nem o nome foi preservado, apenas a resenha no anedotário local.
Mestre Nemésio Teixeira, chefe das oficinas da rede ferroviária, acumulou nessa época o cargo de delegado. Com o depoimento do forasteiro que se declarou também músico, o maestro-delegado provocou-o a provar suas qualificações e, entregando-lhe um clarinete, ouviu bela valsa que lhe desarmou de qualquer espírito revanchista, libertando o infortunado colega.
A transcrição do samba A entrada de Piranhas de João Tuana foi feita recentemente do registro de voz da professora Ivanilde Fernandes, enviado por meio eletrônico ao também professor Paulo Jr., aos quais somos gratos.
sábado, 13 de junho de 2020
Lira da Saudade (1975) — por Manoel Passinha
Lira da Saudade
Dobrado de Manoel Passinha
Por F. Ventura
Dedicado à banda Lira da Saudade ― uma extensão da Banda de Música da PMAL ―, o dobrado homônimo foi composto pelo maestro Manoel Passinha no ano de 1975.
Um dos melhores compositores e arranjadores de seu tempo, então com 67 anos de vida, legou à banda alagoana mais uma parte de sua rica produção, desta vez com uma clara disposição para evidenciar um tipo de grupo instrumental em que ele próprio havia se formado.
O “estilo bandinha”, referido na dedicatória da capa original, evoca um modo de se fazer arte musical no interior do estado de Alagoas, reflexo do que se fazia nacionalmente, naquele momento trabalhado por um grupo profissional criado para cultivar à parte os gêneros mais caros às bandas civis e militares dos tempos áureos, antes do estabelecimento na cultura de massa do repertório radiofônico e televisivo que mudaram a indústria do entretenimento definitivamente.
A banda Lira da Saudade, então, surgiu em meados da década de 1970 como um projeto que requisitava uma fração da banda da PMAL para tocar nas praças, normalmente domingo pela manhã, o repertório tradicional formado por dobrados, valsas, sambas, maxixes e choros.
Em 1998 o projeto foi reformulado para a configuração atual tendo o nome alterado para Vem Ver a Banda Tocar e numa primeira fase tentou manter a proposta original. Mais tarde, tal repertório revelou-se antiquado e, percebendo que o povo não mais se identificava com ele, a partir do início dos anos 2000, com um repertório totalmente diferente do que inicialmente havia sido proposto, o projeto se consolidou, porém, hoje é praticamente uma banda de baile.
No entanto, a composição de Passinha resistiu e mais tarde, meados dos anos 1990, pôde ser encontrada na Filarmônica Mestre Elísio de Piranhas. Editada num programa de notação musical em 2016, foi disponibilizada no banco de partituras online da filarmônica. Ultimamente, com o avanço da pesquisa de Billy Magno, que teve acesso a fonte original (Banda da PMAL), houve necessidade de reeditá-la, contextualizando com motivações de sua criação. Afinal, é o que modestamente objetivamos: recuperar a história de músicos essenciais para as bandas da região através da edição e disponibilização de suas obras.
*
Na tonalidade Mi bemol maior, o dobrado Lira da Saudade é estruturado em introdução, tema principal, forte do baixo e trio (no tom da subdominante).
Após uma breve introdução de 8 compassos, o tema é desenvolvido alternando-se cada frase (de 4 compassos), antecedente e consequente, entre madeiras e metais no estilo pergunta e resposta, com as madeiras, inicialmente em dinâmica piano, seguidas com mais ênfase pelos metais simultaneamente ao contracanto dos tenores e baixos. A partir do compasso 16, o tutti é drasticamente interrompido com a leveza de uma frase em crescendo (c. 31-32) e um inevitável movimento para a finalização.
O forte do baixo, seção B, compassos 39-60, onde baixos e tenores cantam em uníssono sob forte marcação rítmico-harmônica de altos e sopranos, geralmente desenhada sobre a célula rítmica da caixa-tarol, característica do gênero marcial.
Particularmente, o forte do baixo funciona como intermezzo ou preparação para o Trio. Complementando essa definição, recorremos às palavras do professor José Campos Reinato[1]: “forte do Baixo é uma melodia solo associada aos instrumentos de timbres graves, com forte marcação do bombo, surdo e pratos”.
Dos vários procedimentos adotados na composição de um dobrado, há quem necessite reexpor o tema principal antes de passar para a seção C, criando uma transição (de 4 ou 8 compassos) em dinâmica fortíssimo que (executada após a reexposição) prepara o Trio ou, do retorno Da Capo al fine, finaliza o dobrado. Citamos como exemplo outros dobrados nesse estilo “bandinha”: Dois Corações, do fluminense Pedro Salgado (1890-1973)[2], escrito em 1920 e Último Adeus (dobrado nº 221), do baiano[3] A. M. do Espírito Santo (1884-1913), ambos de uma geração anterior aos irmãos Passinha, alagoanos de Pão de Açúcar.
De fato, no ano em que Antônio Manuel do Espírito Santo faleceu, aos 28 anos, Manoel Passinha ainda nem havia dado os primeiros passos na arte musical com o maestro Manoel Victorino Filho (1895-1960), o grande mestre Nozinho. A comparação não quer em hipótese alguma estabelecer alguma influência dos compositores citados na técnica de Manoel Passinha, mas tão somente certificar que para o mesmo estilo (dito “bandinha” pelo autor de Lira da Saudade) os procedimentos variam.
Talvez não tivéssemos que ir tão longe para notar essa semelhança de método porque recentemente editamos o Dobrado Nº 9 de Abílio Mendonça (1879-1963), igualmente concebido nesta forma, digamos, didática.
No trio de Lira da Saudade, formulado no tom da subdominante, à melodia de tenor e bombardino em dinâmica piano acompanha clarinetes e flautas com o que nos parece uma citação ao Semper Fidelis, do norte-americano John Philip Sousa (1854-1932) ― que trata esses dois instrumentos nos quatro compassos iniciais do 2º período da seção C de sua regimental march de maneira semelhante, embora Sousa tenha processado sua criação em compasso binário composto e 1 tom e meio abaixo, no mais são tratamentos distintos.
Ainda sobre o trio, a partir do compasso 15, os metais (trombones e trompetes) recuperam a frase inicial de tenor e bombardino, desta vez com mais vigor e forte impulso para a conclusão.
Sobre padrões de tonalidade na composição de dobrados, vale a pena citar outra vez o professor Reinato:
1) Todas as partes (A – B – C) escritas em tom maior; 2) Se a exposição (A) e o forte do baixo (B) estiverem em tom menor, será mantida a mesma armadura no Trio (C), porém em tom maior; 3) Exposição (A) e forte do baixo (B) em tom maior; Trio (C) no tom da subdominante, ou seja: IV grau da escala do mesmo tom; 4) Exposição (A) em tom menor; Variante (B) em tom maior; reexposição de (A); a terceira parte (C), em tom menor; o Trio (D) será em tom maior de (A e C); 5) A exposição (A) em tom maior; a segunda parte (B) no tom da dominante (V grau da escala maior de A); o forte do baixo (C), depois da reexposição de (A), no mesmo tom maior; o Trio (D), no tom da subdominante (IV grau da escala maior de (A e C). 6) A exposição (A) em tom menor; variante (B) em tom maior; reexposição de (A); Trio (C) em tom maior e o forte do baixo (D) em tom maior.
Concluímos, sublinhando o “estilo bandinha” (citado por Passinha na capa original de Lira da Saudade) levar em conta uma instrumentação limitada, onde os arranjos se adequam aos instrumentos de que a banda dispõe, considerando também o nível técnico dos executantes. Neste caso, a forma denota o caráter didático da obra.
Àquela altura, 1975 (ano da composição de Lira da Saudade), Manoel Passinha já havia dado ao repertório de banda ― não apenas de Alagoas, mas de todo o Brasil ― a medida de sua grandeza e potencial criador em composições de vulto, como Brigada Passinha (1937), Melopeo (s/d), Brigada Aristides Borges (1938) e Tenente Oscar Marreta (1946).
Entre a farda e a folia
Por Billy Magno[i]
Manoel Passinha foi brilhante no que se propôs. Músico, maestro e compositor, tornou-se um nome conhecido e celebrado além das fronteiras de Alagoas pela genialidade exposta em seus frevos e dobrados, gravando seu nome na história musical brasileira e, sobretudo, alagoana.
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João Euzebio de Castro e Maria Luiza de Castro já viviam maritalmente quando em dezembro de 1892 nasceu Olindina[4], a primeira filha, declarada ilegítima por não ter o casal ainda formalizado a união perante a igreja e a rigorosa lei vigente no fim do século XIX, o que só ocorreria às seis horas da tarde de 28 de julho de 1894; ele, aos 27 anos, artista[5], natural e residente em Pão de Açúcar, filho legítimo de Carlos José Dias e Luiza Francisca de Assumpção e ela, 28 anos, costureira, natural do termo de Piaçabuçu, filha de Manoel Ferreira Gomes de Barros e Maria das Dores de Barros, finalmente levaram a união a termo, legitimando assim a menina.
No fim desse mesmo ano, em 24 de dezembro, Maria Luiza daria à luz um menino que seria mais tarde conhecido como o maestro Antônio de Castro Passinha, destacado compositor e regente que, iniciando carreira na banda de música local, migraria para a capital Maceió, integrando as fileiras do 20º Batalhão de Caçadores e sua banda de música (surgida em 1920 junto com o batalhão) já em 1922 e, segundo informações encontradas em algumas partituras, era em 1927 músico de 1ª classe (contramestre), tornando-se depois, maestro.
Maestro Antônio de Castro Passinha (Acervo Etevaldo Amorim) |
Consta no Diário Oficial da União (DOU) de 17 de agosto de 1938 que era sargento ajudante (equivalente hoje a 1º sargento) quando faleceu precocemente aos 41 anos de idade, em 2 de agosto de 1936.
Maria de Castro, a terceira filha – nascida em 10 de fevereiro de 1907 e conhecida por todos como Mariquinha – viveu longos anos na Avenida Bráulio Cavalcante[6] na parte chamada Rua de Cima e lá faleceu em 9 de abril de 1996 sem jamais ter se casado.
A principal avenida da cidade, poeirenta e com tamarineiros seculares, ainda não carregava o nome do filho ilustre quando nasceu o caçula do casal.
Rua Visconde do Rio Branco em Pão de Açúcar, atual Av. Bráulio Cavalcante em foto de 1910. (Acervo Etevaldo Amorim) |
Batizado Manoel Capitulino de Castro, o menino viu pela primeira vez a luz do dia em 11 de outubro de 1908[7], um domingo de missa e retreta na cidade mais calorenta do sertão alagoano, a mesma onde nasceram seus irmãos e seu pai.
Pão de Açúcar sempre foi uma cidade com notória vocação artística e naquele início de século XX também era sacudida pela onda cultural da Belle Époque com impacto no movimento literário, revelando escritores e poetas; teatral, com o grupo amador de Luiz Paulo e musical com grandes maestros[8] e suas duas bandas de música.
Banda de música da Sociedade União e Perseverança sob a regência do maestro Abílio Mendonça Belo Monte - atual município de Batalha, 1919. (Acervo Antônio Melo Barbosa) |
Abílio Mendonça (1879-1963) era maestro da Euterpe de Pão de Açúcar, banda ligada aoPolitheama Goulart de Andrade, um pequeno teatro inaugurado em 1910, enquanto Manoel Victorino Filho (1895-1960) seria responsável pouco depois por conduzir a banda da Sociedade União e Perseverança.
Pe. José Soares Pinto (ao centro) com o grupo de teatro amador de Luiz Paulo, em 1916. (Acervo Aldemar de Mendonça) |
Em 1917, subsidiado pelo padre José Soares Pinto (1884-1939) – que também apoiava o teatro de amadores local ensaiado pelo comerciante Luiz Paulo[9] –, o músico excepcional que fora aluno do maestro Emygdio Bezerra Lima (1865-1931) estava formando uma nova banda de música com jovens músicos e ainda alguns veteranos. Existente até hoje, a banda atende pelo nome de Sociedade Musical Guarany desde meados dos anos 1950.
Banda recém-criada por Manoel Victorino Filho, à frente da Igreja do Bonfim Pão de Açúcar, 14-10-1917. (Acervo Antônio Melo Barbosa) |
Nozinho do Guarda[10], como era chamado antes de consagrar-se como o Mestre Nozinho, máxima expressão musical de Pão de Açúcar, era então um jovem de 22 anos que, apesar de músico experiente (trompete, violino e violão), estava ele próprio, naquele momento, iniciando sua trajetória nos segredos da regência e na arte de fazer músicos, ofício que desempenharia com garbo até a sua morte aos 64 anos, tendo Passinha como um de seus primeiros e mais destacados alunos.
Este, antes de completar 9 anos já não tem mais a figura paterna[11] e com a difícil situação passa ajudar a mãe, que sobrevive e sustenta a família com o ofício de costureira.
Alguns relatos dão conta que o menino saía pelas ruas vendendo bolo e, ao passar em frente da oficina do mestre, parava para ouvir extasiado os sons que vinham lá de dentro; por ali se deixava esquecido quando o maestro falava:
− Menino, vá vender seu bolo!
E lá ia ele pelas ruas até que, de tanto repetir-se a cena, certo dia o mestre lhe perguntou se gostaria de aprender música, e é claro que a resposta foi afirmativa.
Talvez o relato seja fantasioso, mas é fato que ele teve lições regulares de teoria e solfejo.
Aos 9 anos, passa a integrar a banda de música junto com Américo de Castro Barbosa (1903-1967) e José de Castro Barbosa (1901-1969), irmãos do maestro, e outros músicos, como Boanerges Bezerra Lima (1901-1965), João Damasceno Lisboa (1900-1990), Francisco Antônio dos Santos (Mestre Chiquinho, 1900-1970), Antônio Marsiglia (1894-1927), Antônio Gonzaga de Oliveira (Antônio de Totô), Manoel Pauferro Filho, Manoel Mãe e Antônio Passinha, seu irmão.
O ensino seguia uma metodologia: primeiro ensinava-se a noção de ritmo num instrumento de percussão, que podia ser o tambor ou a caixa; logo após, o contratempo era assimilado com a trompa; em seguida, vinha a parte de leitura melódica com um instrumento escolhido pelo maestro de acordo com as necessidades da banda. Os mais cobiçados pelos alunos eram o trompete (então chamado de pistom) e o clarinete (saxofones eram raros em bandas do interior); depois apareciam o trombone, o bombardino e a tuba que, forçosamente oferecidos pelos maestros, faziam os alunos aprenderem a clave de fá, mas normalmente eram instrumentos que ficavam a cargo dos músicos mais experientes.
Flautinistas (flautistas) quando havia, clarinetistas (também requinta) e bombardinistas tinham fama de serem bons leitores, sendo aqueles pela razão de que muitas vezes as partes mais difíceis de uma peça ficavam a cargo do clarinete e flautim e estes por conta dos contrapontos muitas vezes carregados e escritos numa tonalidade de difícil execução.
Passinha, que tinha começado na caixa, logo passaria para a trompa e em 1919 é fotografado tocando trombone.
Em busca de melhores condições, ele que vinha de origem humilde, desembarcaria em Maceió no início de 1924 e logo arranjaria seu primeiro trabalho na capital como integrante da orquestra que animava o hoje histórico bloco carnavalesco Cara Dura, começando aí uma relação com o carnaval alagoano que duraria mais de 50 anos.
No ano seguinte, ingressa no serviço militar, integrando como clarinetista a então novíssima banda de música do 20º Batalhão de Caçadores, onde já estava seu irmão.
Quartel do 20º B.C. em seu primeiro endereço no largo Calabar, hoje praça da Faculdade. (Acervo IHGAL - Edberto Ticianeli) |
Em paralelo ao trabalho no quartel, ainda no começo do ano, arranja trabalho como trombonista na Attraction Jazz Band, uma das muitas orquestras que se apresentavam nas salas de cinema antes das sessões ou durante, acompanhando os filmes mudos. Nessa que atuava no Cine Floriano, estavam o seu conterrâneo Américo Castro, recém-chegado, e o pianista Antônio Paurílio (1906-1972)[12], famoso por sua canção Ansiedade que – gravada pelo cantor Alcides Gerardi (1918-1978), em 1952 – tornou-se conhecida nacionalmente.
Após a passagem inicial pelo Exército, Passinha foi músico em diversas dessas orquestras e em outras organizadas para eventos no Teatro Deodoro.
Em 1933, retorna a caserna e inicia uma fase auspiciosa de sua carreira na banda do 20º B.C., revelando-se multi-instrumentista, arranjador, regente, bandleader e compositor, iniciando uma produção musical que se estenderia até o final dos anos 1970 e faria história.
Com suas composições, seu nome vai se tornando conhecido além das divisas alagoanas, como atesta o jornal Diário de Pernambuco do dia 12 de maio de 1938. Em sua coluna chamada Diário Social, escreveu a jornalista Mariteresa:
A banda de música do 30º Batalhão de Caçadores[13] realizará hoje, das 17 às 18:30 na Villa Marechal Floriano Peixoto, uma retreta que obedecerá o seguinte programma: 1ª parte – Neumario, dobrado; Não posso te dizer adeus, fox; Carinhoso, samba; Ali-babá, marcha; Brigada passinha, dobrado.
Em Maceió, na noite de 1º de fevereiro de 1940, vence o 2º Grande Concurso de Marchas Carnavalescas com a marcha Avança a Senha, composta para o bloco carnavalesco Cavaleiro dos Montes[14]. Para se ter uma ideia da força do carnaval naquele tempo, a cidade, então com um índice populacional de 90.253 habitantes, reuniu um público de cerca de 10.000 pessoas para o concurso iniciado às 20:00 no relógio oficial[15]; muita gente até para os padrões atuais. No júri que decidiu o certame estavam figuras experientes, como o criterioso professor Luiz Lavenére (1868-1966), o maestro Eurico Nunes, Afrânio Mello e o Dr. Barretto Cardoso, pela Gazeta de Alagoas, e Mah Barretto, pelo Jornal de Alagoas.
Em 1941, o Rio de Janeiro tomaria conhecimento do seu nome pela hoje esquecida cantora alagoana Wandeth Carneiro, que concedeu uma entrevista à revista Carioca. Ela que estava no Rio há pouco mais de um ano e, na ocasião, atuava na prestigiosa PRE-8 Rádio Nacional, a Rede Globo da época, declarou ao ser questionada sobre quais compositores admirava: “Capiba, Irmãos Valença, Nelson Ferreira e Manoel Passinha; este último de Alagoas e os demais do Recife.”
E é no Recife que nesse mesmo ano, nas comemorações do dia do trabalho, 1º de maio, entre inaugurações de vilas operárias e um grupo escolar no bairro do Rosarinho, a Banda Musical da Força Policial Militar diverte populares com um programa onde se misturam valsas, sambas, frevos e mais uma vez seu dobrado Brigada Passinha.
Em 1946, é 1º sargento músico e por essa época compõe um de seus melhores dobrados, Tenente Oscar Marreta, em homenagem ao militar nascido em 1907, seu companheiro na banda de música do 20º B.C. Esse dobrado conta com inúmeras gravações por todo o país – partituras assinadas pelo autor ainda podem ser encontradas.
Em 16 de setembro de 1948 entra no ar a ZYO-4 Rádio Difusora de Alagoas, inaugurada na marra pelo então governador Silvestre Péricles de Góis Monteiro (1896-1972) diretamente do nº 108 da Rua Pedro Monteiro, um prédio que servia de escola infantil no centro de Maceió. Com a chamada "Caçula das Américas" Alagoas finalmente livrara-se do indesejado apelido de "A zona muda do Brasil". Como todas de sua época, a Difusora também tinha a sua grande orquestra.
Orquestra ZYO-4 sob a regência de Pedro Nicácio de Souza na noite de inauguração, 16-09-1948. Ao centro, José Nicácio no sax tenor. (Acervo MISA e IZP) |
Criada pelo maestro Pedro Nicácio de Souza[16], a Orquestra ZY0-4 contava com os arranjos de dois orquestradores excepcionais: José Nicácio de Souza (1907-1979), irmão do maestro, era então contramestre e arranjador na banda da Polícia Militar de Alagoas (PMAL). Numa das poucas fotos da noite da inauguração é possível vê-lo em ação na orquestra empunhando o sax tenor e Manoel Passinha, músico e arranjador do Exército que tomou parte na inauguração regendo a banda do 20º B.C., uma das atrações daquela noite. Os dois, assim como os músicos da orquestra, alguns cedidos pela banda da PMAL, constavam do quadro de funcionários da emissora desde o dia da estreia, revezando-se nas orquestrações devido à grande demanda de arranjos numa época em que toda a música era feita ao vivo, das vinhetas dos programas aos grandes concertos, passando pelos reclames comerciais. Atuavam sob a direção artística de Aldemar Paiva (1925-2014) nos diversos programas da casa com Passinha ainda fazendo parte do Regional dos Professores.
É na década de 1950 que ele atinge maturidade artística. Logo em 1950 compõe o frevo que o consagraria: Toca pra trás no front vence o concurso de músicas carnavalescas daquele ano, tornando-se um sucesso atemporal.
Quartel do 20º B.C. (hoje 59 BIMtz) na Av. Fernandes Lima, anos 1950. (Acervo Edberto Ticianeli - História de Alagoas) |
Passinha conduz a banda do 20º B.C. em desfile na Av. da Paz (Av. Duque de Caxias), Maceió, anos 50. (Acervo Hélio Fialho) |
Embora só tenha assumido efetivamente a regência da banda de música em 1952[17], Passinha vinha contribuindo de forma destacada como contramestre desde a década anterior – ora compondo e orquestrando, ora regendo. Em 1951, aproveitando alguns músicos da banda, criou a Jazz Band do 20º B.C. para o carnaval e o Sexteto do 20º B.C.[18] para trabalhos diversificados, passando toda a década dividido entre seu trabalho no quartel e as atividades de músico, orquestrador e eventual regente na orquestra da Difusora, liderando sua própria orquestra que atuava sobretudo no período carnavalesco e ainda compondo ano após ano frevos antológicos, todos de grande sucesso como Teu jeito serve, escrito para o carnaval de 1954.
Sexteto do 20º B.C. toca no reveillon do SESI, de 1951 para 1952. Passinha é o 2º ao sax alto e seu vizinho é Racine Bezerra Lima, ao trompete. (Acervo Antônio Melo Barbosa) |
Jazz Band do 20º B.C., em 1952. Passinha é o 1º sentado com o sax alto. (Acervo Edberto Ticianeli - História de Alagoas) |
Bloco carnavalesco Bomba Atômica, formado por músicos militares do 20º B.C. em desfile na Rua do Comércio de Maceió no carnaval de 1953. (Acervo Edberto Ticianeli - História de Alagoas) |
Na virada de 1957 para 1958, esteve animando o reveillon do clube Fênix Alagoana. O colunista Jota Jota em reportagem enviada ao Diário de Pernambuco do dia 5 de janeiro de 1958 assim descreveu o chamado Reveillon do Petróleo:
As 2 horas da madrugada, num ornamentado Jipe, que ostentava a bandeira da Fênix, deu entrada no salão de baile, a figura alegre e querida do “Deus Momo”, encarnada por admiravel folião que é o conhecido e irrequieto Luiz Ramalho, seguido de toda a sua “côrte”. Aplausos prolongados acolheram a chegada do Deus da Folia, enquanto a orquestra do maestro Passinha executava inúmeros frêvos carnavalescos levando todo mundo para um “passo” muito animado e cheio de entusiasmo. Naquele momento o Clube Fênix Alagoana deu o seu Primeiro Grito e Carnaval, recebido com muita alegria e animação”.
Fosse comandando a orquestra de blocos como Bota Fora, que saiu pela última vez em 1958 e Bomba Atômica, formado por militares do 20º B.C. cujo rival era o bloco Vulcão da Polícia Militar, fundado em 1936, ou animando com sua própria orquestra os grandes bailes carnavalescos nos principais clubes de Maceió, Passinha se consolidaria como figura obrigatória e uma das grandes glórias do carnaval de Alagoas.
Ainda em 58, em 20 de setembro era realizada mais uma etapa do 5º Grande Concurso Pernambucano de Bandas de Música do Interior, desta vez na cidade de Limoeiro. Com ampla divulgação e transmissão pelas rádios Tamandaré e Rádio Clube de Pernambuco e com locução de José Santa Cruz então nas Emissoras Associadas e hoje conhecido dublador e comediante na Rede Globo, às 21:00 em sua sede própria que estava lotada e sob a regência do seu maestro José de Pontes Cumaru, a banda de música local, 25 de Setembro, 3ª concorrente do grupo B, com um programa bem escolhido entre valsa, frevo, samba, dobrado e calipso, iniciou seu concerto com o dobrado Melopeo do maestro Manoel Passinha, sendo muito aplaudida e elogiada pela imprensa.
Em 1959, encerra sua carreira militar indo para a reserva remunerada no posto de 1º tenente, sendo posteriormente promovido a capitão.
Passinha e sua orquestra no carnaval do Iate Clube Pajuçara, em 1961. (Acervo Edberto Ticianeli - História de Alagoas) |
Passinha e sua orquestra animam o carnaval do Iate Clube Pajuçara, em 1961. Em pé, Luiz do Banjo toca pandeiro. (Acervo Edberto Ticianeli - História de Alagoas) |
Em 1961, é a vez dos paulistas conhecerem o maestro – um nome famoso e respeitado dentro das corporações militares em todo o país. Em 4 de outubro, o Diário da Noite (SP) anuncia:
Pela Banda Musical do 4º R.I. de Quitauna, sob a regência o 1º sargento contra-mestre Alcides Benedito Vieira. realizar-se-á amanhã quinta-feira no coreto chinês da praça da República das 18 às 20 horas uma retreta que obedecerá ao seguinte programa: 1ª Parte “Brigada Aristides”, dobrado sinfônico de M. Passinha; “Enlouqueci”, samba. N.N.; “Três horas da tarde”, frêvo de Ariston Custodio; da opera “Norma”, de V. Bellini”.
Em 1963, por seu dinamismo e potencial artístico, o maestro seria convidado a conduzir um grupo de músicos que, percebendo a carência de uma formação voltada à prática de música de concerto em Alagoas, decide criar uma orquestra de câmara.
Romeu Macedo França, Manoel Zaluar de Sant'Ana, Fernando Pugliese, Benedito Lins de Oliveira e Danilo Gama Vieira da Silva, dentre outros, fundam a Orquestra de cordas Paganini, ativa até maio de 1979 quando foi encampada pela Fundação Theatro Deodoro (FUNTED), dando origem a Orquestra Filarmônica de Alagoas, extinta em 1987 por um decreto do então governador Fernando Collor de Mello.
Em 4 de dezembro de 1965, devido ao grande sucesso de púbico, a peça de Walter de Oliveira “O Perereca” voltava à cena depois de mais de um mês fora de cartaz. Contava com cenários deslumbrantes, nas palavras jornalista Alberto Jambo. Cerca de 50 personagens agitavam o espetáculo com a participação de mais de uma dezena de músicos sob a regência do maestro Passinha. Executavam um repertório primoroso de compositores como Edu Lobo (nascido em 1943), Vinícius de Moraes (1913-1980) e Dorival Caymmi (1914-2008), dentre outros além do tema original da peça. O espetáculo contava ainda com a participação do conjunto teatral Os Dionysos, responsável pelo seu sucesso e a colaboração do Conservatório de Música, secção de Alagoas.
No ano seguinte, em 2 de outubro, o maestro pernambucano Mário Câncio (1927-2008), que na época mantinha uma coluna no Diário de Pernambuco, noticiou que Alagoas planejava formar uma orquestra sinfônica usando como base os músicos da Orquestra de cordas Paganini, ampliada com músicos contratados nos estados vizinhos. Para isso, os músicos da referida orquestra conversaram com o então prefeito de Maceió, Divaldo Suruagy (1937-2015), que se prontificou a cuidar dos trâmites e levantar fundos. Passinha, como regente da Paganini, era uma escolha natural, mas a empreitada não logrou êxito, tendo de esperar até setembro de 1979.
Jazz Band do 20º BC com Passinha ao clarinete e o naipe de saxofones formado pelos sargentos José Alfredo, Mário e Almeida em foto do início dos anos 60. (Arquivo Maria Suzana Silva) |
Ainda nos anos 1960, funda com o também compositor e saxofonista (tocava também clarinete) Fausto Pereira Pinto (1915-1990) a Orquestra Fausto & Passinha que durante anos animará o carnaval no Iate Clube Pajuçara principalmente, mas também no Jaraguá Tênis Clube e no Clube Fênix Alagoana.
Mesmo estando na reserva jamais deixara de frequentar o quartel, inclusive algumas vezes fardado, como se lá ainda desse expediente, sendo comum encontrá-lo pelos corredores assoviando antigos dobrados.
Passinha (ao centro) com a banda de música do 20º B.C. por ocasião da gravação do LP, em 1970. (Acervo Billy Magno) |
Em 1970 foi peça importante na gravação do LP da banda de música do 20º B.C. sendo quase todo o repertório gravado constituído de peças de sua autoria ou por ele arranjadas. Tanto era sua influência perante a banda que ele aparece na foto da contracapa do LP junto com o maestro e o contramestre da época, o 1º tenente José Aristides Barros e o subtenente Expedito Ferraz, respectivamente.
No início da década, o frevo como trilha sonora principal do carnaval nordestino começa a perder força e entra em crise. As justificativas pela sua possível morte iam desde a falta de talento e interesses dos novos compositores até a má influência da televisão, passando por estações de rádio e gravadoras que não cooperavam.
Em 1972, mais de 2 mil pessoas se aglomeraram no Teatro do Parque em Recife no Festival do Frevo daquele ano. Num certame com mais de 50 frevos inscritos venceu o maracatu Rei de Angola, causando indignação por parte do público e críticas na imprensa. Alguns, como os tropicalistas Gilberto Gil e Caetano Veloso, vinham flertando com o ritmo pernambucano (difundido na Bahia a partir de 1950 por Dodô e Osmar) desde 1968, dando um novo impulso ao modo deles, principalmente Caetano, que gravara com sucesso em 1969 Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu, repetiria a dose em 1971 com Chuva, suor e cerveja, entregue primeiramente a cantora Wanderléa, então em nova fase pós jovem guarda e em 1972 com Um Frevo Novo; mas, essa renovação no ponto de vista de alguns, era vista com reserva e desconfiança por outros mais tradicionalistas como o maestro Nelson Ferreira (1902-1976) que declarou em matéria publicada no Jornal do Brasil (RJ) nos primeiros dias de 1973: “O frevo está para Pernambuco como o fado está para Portugal. O que Caetano está fazendo é pôr letra no frevo de rua que no Recife só tem música. Repito: Só tem música, não tem letra”. E advertia: “Frevo é frevo”.
Passinha também foi lembrado:
Feitos antigamente, pelos maestros das bandas marciais – como o maestro Passinha, do 20º Batalhão de Caçadores de Maceió – ou por modestos compositores de clubes carnavalescos de bairros, o frevo agora é produzido por quem tem dinheiro para gravá-lo em fita. Deixou a rua, seu berço natural, para esconder-se em casas particulares, alegria de uns poucos.
Ele continuou produzindo até o fim da década. É dessa época seus últimos trabalhos: Saudades de Maceió (assim no plural) – registrado em disco pela banda do 20º B.C. em 1970 e pela banda da PMAL em 1977 – é quase uma suíte onde ele se utiliza da canção título do compositor mineiro Lourival Passos (1914-1967) além de cantigas de roda (Cai, Cai, Balão), frevo de sua autoria (Toca pra trás no front) e até música de propaganda da Loja Progresso (de Virgílio Cabral), de outro compositor alagoano: Aristóbulo Cardoso (1889-1945).
Orquestra de Passinha anima o carnaval do Iate Clube Pajuçara, em 1972. (Acervo Edberto Ticianeli - História de Alagoas) |
Lira da Saudade (1975) é um dobrado em estilo bandinha como indica a capa da partitura original, provavelmente inspirado nas suas primeiras impressões musicais vividas ainda em Pão de Açúcar e o dobrado Capitão Jonas Duarte (1978) é, segundo o compositor, “uma homenagem à banda de música da polícia militar na pessoa do seu regente” na ocasião, o capitão Jonas Duarte da Silva (1928-2003).
É notória a sua aproximação com a banda da PMAL desde a década anterior, quando passou a compor frequentemente para os músicos desta corporação.
Pelo lado carnavalesco um de seus últimos frevos foi Dona Xepa, assim batizado por conta da novela homônima exibida pela Rede Globo em 1977, época da composição feita para o carnaval seguinte e gravada no LP ALAFREVO 78 pela Big Banda Show do maestro Ivanildo Rafael (1931-2007), pernambucano de Bonito, que chegara a Maceió em 1974 e vinha reformulando o carnaval de Alagoas desde 1976.
Dona Xepa e o frevo-canção Cidade Sorriso de Edécio Lopes (1933-2009), cantado pelo pernambucano e grande intérprete do frevo Claudionor Germano, foram os destaques do LP e do carnaval de 1978 em Maceió.
Na década seguinte, afastou-se das atividades musicais, mas antes, em 1981, ainda participou como um dos arranjadores[19] do LP HAJAFREVO – Carnaval de Jucá Santos, Roberto Becker e convidados, talvez a última grande produção do carnaval tipicamente alagoano antes da recente retomada, ainda um tanto tímida, porém muito válida.
Se no início dos anos 1970 havia por parte dos compositores e maestros a constatação de que o carnaval estava morrendo (ou mudando na concepção de outros), na década de 1980 ela se acentuou e se confirmou. Salvara-se porém os frevos de Moraes Moreira (1947-2020) gravados por Gal Costa e por ele próprio e o compositor Carlos Fernando com seu projeto “Asas da América”, mesmo sob as críticas de tradicionalistas como Capiba (1904-1997). O veterano compositor declarou: “Isso pra mim é rock”, referindo-se ao modo acelerado e com instrumentos eletrificados com que o frevo passou a ser tratado, aproximando-se da música pop. Com isso, o projeto conseguiu retirá-lo do viés regional e nacionaliza-lo, reunindo num mesmo pacote intérpretes como Alceu Valença, notório divulgador do frevo e afins como Geraldo Azevedo, Elba Ramalho, Zé Ramalho, Caetano, Gil, Jackson do Pandeiro (1919-1982) e até praticantes de outros credos como As Frenéticas, Chico Buarque e o MPB 4, só para citar alguns (a lista de participantes é extensa), mas tudo mudaria para sempre a partir de 1986 com a exportação dos trios elétricos e sua “axé music”, antes uma exclusividade baiana. Em Alagoas, as orquestras resistiam, mas sem o mesmo brilho, sufocadas pela nova onda, foram perdendo espaço e o frevo, sem o protagonismo de outrora ficou restrito aos velhos e saudosos foliões.
Idoso e com problemas de saúde agravados por um atropelamento, Passinha, antes de andar firme e vigoroso, andava agora com dificuldade, praticamente arrastando-se pelas ruas, resumindo sua vida aos amigos e à esposa, na casa de degrau alto onde moravam na antiga Rua Pernambuco Novo, hoje Rua Comendador Teixeira Basto nº 279 no bairro do Prado, região central de Maceió.
Acometido de um AVC agravado por uma pneumonia, faleceu no hospital da Santa Casa de Misericórdia de Maceió as 7:10 de uma quinta-feira, 3 de junho de 1993 aos 84 anos, dos quais 76 foram dedicados à música, deixando viúva a esposa Alice Saboia Porto de Castro com quem se casara em 1933, não tendo filhos.
Vestindo a farda militar e com o quepe sobre seu corpo, foi velado no cemitério de São José, no bairro do Trapiche da Barra, numa cerimônia simples e discreta. Somente sua esposa e poucos amigos foram prestar as últimas homenagens ao velho capitão que tanto alegrou a cidade com sua música nos grandes eventos e carnavais saudosos.
O homem austero, porém, simples, que como grau de escolaridade tinha apenas o curso fundamental, era dotado de uma rara percepção e se destacou pelo seu virtuosismo e seriedade para com a profissão que abraçara. Versátil no fazer musical, iniciou sua vida de músico tocando caixa, trompa, trombone, bombardino, clarinete, saxofone, flautim e o que mais lhe caísse no colo. Fez de tudo um pouco e com os anos transformou-se numa das glórias do carnaval de Alagoas.
Legou à posteridade uma obra vasta e muito bem acabada que ainda precisa ser descoberta, catalogada e estudada, contemplando da música carnavalesca à sinfônica, passando pelos dobrados, que extrapolaram o caráter estritamente militar para ganharem as salas de concerto até a música de propaganda (jingles políticos e institucionais), sem falar na enorme quantidade de arranjos que produziu ao longo dos anos.
Ao completar 50 anos de vida profissional, em 1974, foi tema de uma reportagem do jornal Gazeta de Alagoas:
Hoje, quando o frevo está solto por aí, fazendo o povo esquecer as tristezas, apresentamos uma figura tradicional do carnaval alagoano. Chama-se Manoel Capitulino de Castro, conhecido carnavalescamente como "Passinha", nome famoso e festejado na terra do sururu para quem o carnaval está morrendo.
A matéria discorre também sobre a origem do seu apelido numa versão que parece ter sido contada por ele mesmo: "quando criança deu de presente a uma jovem uma caixa de (uva) passa", porém, o mais provável é que tenha herdado o apelido do irmão Antônio, que já assinava assim e era reconhecido até em documentos oficiais como uma certidão civil de casamento datada de 15 de janeiro de 1917 onde ele como testemunha assina Antônio de Castro Passinha, sendo assim registrado em 1º de setembro desse mesmo ano com quase 23 anos de idade.
A mesma reportagem afirmava que teria composto cerca de 70 dobrados, 100 frevos e inúmeros sambas.
Em pesquisas recentes no arquivo da banda do 59º BIMtz[20] (janeiro de 2019) e da banda da PMAL (janeiro de 2020) constatou-se que é a primeira a depositária de pelo menos 40% da produção de dobrados enquanto no arquivo da segunda foi encontrada uma pequena parte dos frevos, talvez 10%, além de alguns dobrados que também constam no arquivo da primeira. Do arquivo de Antônio Melo Barbosa (1932-2019), em Pão de Açúcar (pesquisado em novembro de 2018), constam alguns dobrados comuns as duas corporações citadas e uma parte da sua produção carnavalesca do período 1949-1958. Em nenhum dos arquivos pesquisados encontrou-se os seus sambas.
É provável que boa parte desse material esteja espalhado pelas bandas de música do Brasil, o que parece mais concreto no caso dos dobrados.
O seu frevo mais famoso e lembrado continua sendo Toca pra trás no front, inspirado na trompa que tem a campana voltada para trás, acabaria por se tornar o prefixo do Bomba Atômica.
Dos seus dobrados, alguns foram registrados em disco por bandas fora de Alagoas comoMelopeo pela Lira Carlos Gomes de Estância (SE), Tenente Oscar Marreta pela banda municipal de Jacareí (SP), Saudação aos colegas pela banda da guarda civil de São Paulo em 1966, além do bolero Maria Tereza e do já citado dobrado (na verdade um pot-pourri) Saudades de Maceió, gravados pela banda da PMAL, respectivamente, em meados dos anos 1960 e em 1977 e também os dobradosBrigada Antônio Passinha e Dr. Jesualdo Ribeiro, gravados pela banda do 20º B.C. em 1970.
Existem ainda registros raros feitos pelo médico e pesquisador Dr. Raimundo Campos (1928-2004)[21] para os seus Arquivos Implacáveis, como um datado de 24 de fevereiro de 1976 onde é possível ouvir a Orquestra Fausto & Passinha desde o seu prefixo carnavalesco até alguns frevos e sambas (as partituras originais estão desaparecidas), há também a orquestra da banda da PMAL sob regência do 1º tenente Alfredo Silva (1921-1990) executando alguns frevos de sua autoria em 1965 e ainda um registro da Orquestra de cordas Paganini sob sua regência feito também nos anos 1960, sendo ainda possível, ouvi-lo de modo surpreendente ao violão acompanhando o barítono Bendito Lins em páginas famosas como Ave Maria, do compositor francês Charles Gounod (1818-1893); Serenata, do austríaco Franz Schubert (1797-1828) e o bolero El Reloj, do mexicano Roberto Cantoral (1935-2010) ou solando nesse mesmo instrumento, em uma nuance pouco conhecida da sua personalidade musical, desde canções da bossa nova como O amor e a rosa – composição de Antônio Maria (1921-1964) com o trompetista Pernambuco (Ayres da Costa Pessoa), lançada em 1960 – até clássicos da música mundial como o tango Jalousie do dinamarquês Jacob Gade (1879-1963) ou Serenata, do italiano Enrico Toselli (1883-1926).
Em abril de 1946, quando era ainda 1º sargento, o compositor, então também 1º sargento na banda do 20º B.C. Ariston Custódio da Silva (1902-1977) lhe dedicou o seu Bolero nº 2, sendo esta, uma das primeiras homenagens que recebeu. Mais tarde, seria homenageado pelo 1° sargento músico José Alfredo da Silva (1922-1968), seu antigo clarinetista na banda do 20º B.C. com o dobrado Capitão Manoel Passinha, também registrado no LP de 1970.
Banda da PMAL em 1977 sob a regência do capitão Jonas Duarte por ocasião da gravação do LP. (Acervo Claudevan Melo) |
Em 1982, por iniciativa do capitão e maestro Ivanildo Rafael, a sala de ensaio da banda de música do agora 59º Batalhão de Infantaria Motorizado (antigo 20º B.C.) passou a se chamar de sala Manoel Passinha em reconhecimento aos relevantes serviços prestados àquela instituição.
Com a criação em 18 de novembro de 2017 da Academia de Letras de Pão de Açúcar (ALEPA), foi homenageado como patrono da cadeira nº 46, ocupada pelo jornalista e pesquisador Wilson Lucena (1956-2019). Coincidentemente, essa homenagem ocorreu exatamente 100 anos após o seu ingresso como aluno na banda de música regida por Mestre Nozinho.
Sua obra, em fase de pesquisa e catalogação, aos poucos vem sendo redescoberta por músicos mais jovens e recentemente voltou a ser executada no carnaval alagoano pela Orquestra Expresso Latino, que rendeu uma homenagem ao compositor no carnaval de 2019 e em 5 de fevereiro de 2020 gravou dois de seus frevos: Toca pra traz do front, até então inédito em registro fonográfico, e Estou Vivo, que já havia sido gravado em 1970. Sobre este frevo, Pedro Lucio Rocha (nascido em 1938), que o conheceu em 1969, narra que se trata de uma resposta a um boato que rapidamente se espalhou sobre sua suposta morte. Seus dobrados, frevos e arranjos, espalhados por todo o país continuam a ser apreciados e executados por bandas de cidades distantes como a Corporação Musical União dos Artistas, de Itu e a Banda Lira, de Serra Negra, ambas cidades paulistas.
De sua extensa produção musical, excetuando-se os diversos arranjos, são composições originais em pequena amostragem:
Dobrados: Brigada Viana, Brigada Passinha[22], Capitão Jonas Duarte, Dr. Jesualdo Ribeiro, Tenente Eury, Melópeo, Tenente Oscar Marreta, Tenente Couto, Raul Alberto da Cunha Pinto, Os gols da vitória (inspirado na vitória da Seleção Brasileira sobre a anfitriã Seleção Sueca por 5x2 na final da copa de 1958), Saudades de Maceió e Lira da Saudade;
Frevos: Toca pra trás no front, Quero ver o graxeiro, Com você eu topo tudo, Quebra galho, Teu jeito serve, Danse na mão, Estou vivo, Banho de gato, Comigo é no "Ferrinho", Melaço, Dona Xepa, Nossa vitória, Tocando com gosto de gás e Saudade que a gente sente, frevo-canção com letra de Reinaldo Cavalcante (1929-2019) que tem dois registros, sendo o primeiro com o cantor pernambucano Expedido Baracho (1935-2017), de 1981 e o segundo com Dydha Lira e Edécio Lopes, de 2001;
Fantasias: Saudades da Minha Terra e Sinfonia de Paulo Afonso;
Foxtrote: Eu te Digo;
Hinos: às cidades de Pão de Açúcar (com versos de Pedro Lucio Rocha em colaboração com o Pe. José Nascimento, 1969) e Olho d´Água das Flores (com versos do prof. Pedro de França Reis, 1971); Hino à Brasília (com versos do poeta Livino Farias Brasão, 1902-1981);
Canções: Alagoas (com versos de Livino Farias Brasão), Cosme e Damião, NPOR e 59º BIMTZ;
Jingles: Pra frente Produban (1970), O Major é o melhor (com Zé do Povo) - Propaganda eleitoral de 1970 da candidatura do Major Luiz Cavalcante.[23]
São Paulo, abril de 2020
[1] REINATO, José Campos. Música ao seu alcance. Campinas: Edição do Autor, 2014. Vol 2, p. 49.
[2] Destacado compositor de dobrados e valsas, Pedro da Cruz Salgado nasceu na localidade de Arrozal do Pirahy, município de Piraí no estado do Rio de Janeiro. É mencionado como “O Rei dos Dobrados”, estando ativo profissionalmente de 1905 até 1972.
[3] Filho de mãe alagoana da cidade de Palmeira, atual Palmeira dos Índios. Esteve durante a vida ligado ao Exército. É compositor de obras reconhecidas e aclamadas no seio das bandas de música de todo o Brasil tanto civis quanto militares.
[4] Olindina de Castro faleceu provavelmente nos anos 1970.
[5] Aqui o termo "artista" pode ser entendido como artesão pois João Euzébio está listado pelo Almanak do Estado das Alagoas de 1894 como fabricante (artesanal) de tamancos.
[6] Se chamou Rua Visconde do Rio Branco até que o prefeito Manoel Afro da Costa Nunes (nascido em 1848) pela lei nº 56 mudou a denominação em 07/01/1913 em homenagem a Bráulio Guatimozim Cavalcante (1887-1912) – formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade do Recife, poeta, dramaturgo, romancista, jornalista, fundador e primeiro diretor artístico do Politheama Goulart de Andrade em 1910 –, assassinado enquanto participava de uma manifestação em prol da candidatura do General Clodoaldo da Fonseca (1860-1936), na Praça dos Martírios em Maceió.
[7] 1904 segundo o escritor Aldemar de Mendonça (1911-1983) em seu livro Monografia de Pão de Açúcar (1977), pag. 151, provavelmente por desconhecer ser ele o caçula e que sua irmã Mariquinha nascera em 1907.
[8] Conviviam na cidade nesse período os maestros Livino Paiva Mazoni (1880-1940), Álvaro Pereira Simas (1881-1961) e ainda Emygdio Bezerra Lima, Abílio Mendonça e o jovem Manoel Victorino Filho. A cidade ainda era visitada pelo maestro nativo José Emiliano de Souza (1858-19??), radicado em Piranhas.
[9] Nasceu em Pão de Açúcar em 24/08/1858, filho de Paulo Rodrigues da Cruz e Antônia Roza de Jesus. Casou-se em primeiras núpcias com Francelina Augusta de Campos com quem teve os filhos: Olivia, Augusto, Eliza, Esther e Nominanda. Após o falecimento de Francelina, casou-se em segundas núpcias no dia 23/06/1914 com Maria Alves da Conceição, natural do Ceará. Comerciante e funcionário público, dedicava-se nas horas vagas ao teatro, sendo considerado um mestre da interpretação na terra de Jaciobá. Dedicou-se também a literatura escrevendo junto com Luiz Accioli em 1912 a primeira biografia de Bráulio Cavalcante, que seria, segundo Aldemar de Mendonça, o primeiro livro publicado em Pão de Açúcar.
[10] Seu pai, Manoel Victorino Barbosa (nascido em 1870), era guarda de linha.
[11] Não se sabe até agora a data exata do falecimento de João Euzébio, entretanto descobriu-se que ele já era falecido quando Maria Luiza requereu o registro de nascimento de Antônio Passinha em 01-09-1917. Faleceu entre 1909 e o início de 1917.
[12] Cujo verdadeiro nome era Antônio Hugo da Silva. Adotou o sobrenome de seu pai, o também músico Hipólito Paurílio da Silva, e às vezes assinava Paurílio Silva.
[13] Criado em 1934 pelo General Manoel Rabelo (o mesmo que empresta seu nome ao famoso dobrado do na época tenente João Nascimento), comandante da então 7ª região militar/7ª divisão de exército com a denominação de 29º Batalhão de Caçadores (29º B.C.) passaria no ano seguinte a se chamar 30º B.C., 21º B.C em 1940 e em 1941 teria a sua denominação mais famosa quando passa a atender por 14º Regimento de Infantaria (14º RI) até 1974 quando passou a se chamar 14º Batalhão de Infantaria Motorizado (14º BIMtz).
[14] Diário de Pernambuco (PE) Edição 27/1940.
[15] Inaugurado em 11 de março de 1922 pelo governador Fernandes Lima (1868-1938), situava-se no cruzamento das ruas do Comércio e Livramento. Apelidado de “Pombal Oficial” por sua estrutura semelhante a uma casa de pombos, seria doado nos anos 1940 à igreja de Nossa Senhora das Graças, onde acredita-se ainda existir parte do equipamento original.
[16] Que também tocava trombone na orquestra de Passinha, nasceu na cidade de Água Preta-PE em 1912. Já em Alagoas, iniciou-se musicalmente com o maestro Pedro Café em Fernão Velho tocando trompete, trombone e bombardino. Em 1929 ingressou no 20º B.C., estando também no 28º B.C. em Aracaju-SE em 1934, depois regeu em um batalhão no Rio de Janeiro e por último no 22º B.C. (atual 15º BIMtz) em João Pessoa-PB onde encerrou a carreira militar em 1961 no posto de tenente. Segundo o pesquisador Wilson Lucena, o maestro Pedro Nicácio ainda vivia em 2016 aos 104 anos de idade.
[17] Segundo Aldemar de Mendonça in Monografia de Pão de Açúcar (1977) pag. 152.
[18] Que contava com o também pão-de-açucarense, seu soldado e futuro capitão, maestro da banda do 19º B.C. em Salvador (BA), Racine Bezerra Lima (1926-2018) ao trompete.
[19] Os outros eram Jonas Duarte (que tocou flauta e regeu a orquestra), Eraldo Trindade, Jalmeriz Pinheiro Galvão (1940-2012), Fausto Pereira Pinto e Edson Porto (1922-1968).
[20] O antigo 20º B.C. é assim denominado desde 1973.
[21] Médico cirurgião formado em 1956 na primeira turma da Faculdade de Medicina de Alagoas, foi responsável por documentar em gravações desde 1964 muito do movimento musical, radiofônico e literário de Alagoas unicamente para seu arquivo pessoal. Acabaria por suprir de certo modo a carência de gravadoras em Maceió, tendo registrado em sua casa artistas locais, nacionais e internacionais em visita a cidade. Produziu registros memoráveis da vida cultural no Estado até pelo menos metade dos anos 1980.
[22] Composto em 1937, homenageia seu irmão falecido um ano antes. Também conhecido por dobrado Brigada Antônio Passinha a partir de sua gravação em 1970.
[23] Luiz de Sousa Cavalcante (1913-2002), candidato a senador em 1970 saiu-se vitorioso e seu jingle de campanha, cantado pela cantora pernambucana Mêves Gama com acompanhamento de orquestra e coro regidos pelo maestro Severino Revorêdo, também pernambucano, foi registrado em disco pela gravadora pernambucana Rozenblith e lançado pelo selo Mocambo.
[i] BILLY MAGNO nome artístico de Williams Magno Barbosa Fialho (Pão de Açúcar-AL 05/07/1978). Músico multi-instrumentista e arranjador. Na adolescência, foi estudar orquestração e regência em Salvador (BA). Iniciou na profissão em 1984 e teve como professores José Ramos dos Santos e Paulo Henrique Lima Brandão (teoria), Petrúcio Ramos de Souza (orquestração e regência), Maria Mercedes Ribeiro Gomes (piano) José Ramos de Souza (saxofone) e Edvaldo Gomes (contraponto), tendo ainda participado de Master Class de arranjo com Cristóvão Bastos, harmonia com Nelson Faria e trilha sonora com David Tygel. Dedicou-se, ao longo do tempo, à causa da música instrumental na qual tem atuado com mais frequência, trabalhando no Brasil e na Europa. Em junho de 2004, passa a viver em São Paulo. (Fonte: <http://abcdasalagoas.com.br/verbetes.php>