Revisto e atualizado em 23/Jul/2019
Egildo Vieira e o GMAP
Maceió (2013) |
Convidado para atuar como “coordenador de cultura”
da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo da Cidade de Piranhas/AL no ano
de 2009, Egildo Vieira, renomado músico piranhense, observou durante meses os integrantes
da Filarmônica Mestre Elísio na intenção de encontrar entre eles potenciais
talentos para a implantação de projetos musicais como, por exemplo, uma
orquestra armorial.
Constituída essencialmente por instrumentos de corda,
percussão e pífanos, essa orquestra armorial na cidade de Piranhas com músicos
piranhenses seria para ele a realização de um sonho. Aliás, define sua música
armorial como música nordestina com um tratamento erudito. Exemplos bem
significativos deste conceito são as peças Dança da Noite,
Romance e Galope e Lamento do São Francisco.
Como luthier, realizou oficinas de confecção
artesanal (e iniciação musical à técnica) de pífanos em junho desse ano. Antes,
como “agitador cultural”, viabilizou (com repertório próprio e os saxofones,
trompetes, trombones e percussão da Filarmônica) a criação do bloco
carnavalesco Cheiro de Saudade. Promovido pela Prefeitura Municipal, o Bloco
Cheiro de Saudade fez vários ensaios públicos, tanto no bar A Fornalha quanto no
CSEP (Clube Social e Esportivo Piranhense). A saída do Cheiro de Saudade foi no sábado
de zé-pereira em 2009 e bisadas até
2012.
As oficinas de pífano, cavaquinho e pandeiro foram um
sucesso. Revelaram talentos que precipitariam a criação do grupo armorial um
ano e meio depois.
Trazidos para o Conservatório Municipal – inaugurado em 18 de outubro no antigo prédio da Cadeia Pública,
recentemente reconstruído –, seus instrumentos exóticos logo chamaram a atenção. Ariano, Cabaixo, Violão Basso, Pirrabecaço,
Marimpífano, Cano-cegonha, além de uma infinidade de pífanos de vários tamanhos
e afinação despertaram a curiosidade de muitos. Todos eles da lavra de Egildo
Vieira que lhes conferia versatilidade musical e valor artístico.
(...)
Na primeira semana de agosto de 2010 Egildo nos
disse que a reitoria da UFAL tinha lhe convidado para se apresentar na aula
inaugural do Campus Delmiro
Gouveia. Sem ainda estar certo de reunir um Regional para acompanhá-lo na
apresentação, pensou então mobilizar aqueles músicos iniciados nos seus
instrumentos e repertório – a saber: Romário (cabaixo) e Roniel (flauta e
pífano), Giso (trombone) e Flávio (trompete), a estes se uniriam dois ou três
percussionistas da Filarmônica Mestre Elísio – e projetar algo, para aquele
evento específico, que fosse musicalmente original, por oposição à “manjada” formação
do regional popular.
Definidos os músicos, esboçou rapidamente o arranjo
para a sua música Cavalo de Flecha –
essencialmente percussiva – tendo o ariano, sob sua condução, como solista. A
segunda música (No Balanço da Cana)
logo se realizou com o duo de metais introduzindo e Egildo no violão e
cantando. Na terceira (o xote Escovando
Caranguejo) o duo de flautas seguia acompanhado pelo duo de metais que ora
trabalhava na base harmônica, ora sucedia como solista. Para encerrar, Egildo
apresentaria o marimpífano com toda a sua versatilidade percussiva e melódica;
o trompete introduzia a Coco na Bahia seguido pelos pífanos em uníssono e os
metais em resposta.
Compúnhamos o Grupo naquele momento: Laércio Ferreira e Ronildo Silveira (percussão), Romário Monteiro (cabaixo), Gisfle Fernando (trombone), Flávio Ventura (copista/trompete) e Paulo Roniel (flauta e pífano).
Compúnhamos o Grupo naquele momento: Laércio Ferreira e Ronildo Silveira (percussão), Romário Monteiro (cabaixo), Gisfle Fernando (trombone), Flávio Ventura (copista/trompete) e Paulo Roniel (flauta e pífano).
Chegado o dia do evento – segunda-feira, dia 9 de
agosto – nos dirigimos a Delmiro Gouveia, alguns um tanto ansiosos por não
imaginarmos como seria a recepção da plateia àquele conjunto musical sui generis. No entanto, quem nos
conduzia era Egildo Vieira. Sua autoconfiança inabalável de profissional
calejado contagiaria a todos nós no momento em que os acordes iniciais do
Armorial soassem.
Apesar de uma contrariação momentânea – um carro
bateu em nossa van numa avenida movimentada de Delmiro –, não nos atrasamos. No
momento oportuno a apresentação foi iniciada e ocorreu na mais completa
tranquilidade, e por ser tranquila não quer dizer que não tivesse vigor, muito
pelo contrário chegou a causar frisson naqueles não iniciados na estética
armorial. Ao final, a Coco na Bahia coroou o episódio; seu swing irresistível –
com Egildo no marimpífano – levantou, literalmente, a plateia.
Assim, nasceu o Grupo Musical Armorial de Piranhas (GMAP) que naquele momento foi apresentado com o nome provisório de “Tabocas e Cabaças”.
Assim, nasceu o Grupo Musical Armorial de Piranhas (GMAP) que naquele momento foi apresentado com o nome provisório de “Tabocas e Cabaças”.
Por causa dessa apresentação inaugural, o grupo foi
convidado para a solenidade na UFAL em Maceió que laureou o grande escritor Ariano Suassuna (idealizador do movimento armorial) com o título de doutor honoris causa, no dia 24 de agosto. Esse evento se deu no Museu
Théo Brandão e o Conjunto (ampliado com a participação de mais um
percussionista da Filarmônica, Dalvo Lima, e o violonista José Cícero da Silva)
se apresentou com seu nome definitivo: GMAP. Na entrada de Ariano Suassuna, tocamos
o Romance da Bela Infanta (obra de domínio público que Egildo disse lhe
fora transmitida pelo próprio Ariano); entre uma e outra fala, Romance e
Galope e, ao final, Coco na Bahia – obras de Egildo Vieira.
Ariano Suassuna se referiu favoravelmente a nossa
apresentação, inclusive por atestar a qualidade intrínseca e o valor permanente
da música que Egildo Vieira produzia, principalmente quando comparada ao
sucesso “artificial” e “descartável” de certa banda famosa naqueles dias que
fora objeto de estudo em artigo publicado na Folha de São Paulo. Ariano ficou perplexo ao ler o artigo. “Com
que adjetivo posso me referir a Beethoven agora depois que alguém ousou chamar
Chimbinha de gênio? ” – expressou-se, indignado.
Graças ao nome de
Egildo Vieira, o GMAP se tornou um patrimônio da cultura piranhense, tendo se apresentado nos principais centros culturais alagoanos: Maceió, Marechal Deodoro e Penedo. Em 2011,
apresentou-se na Fundação Joaquim Nabuco, em Recife. No ano seguinte, mais três
músicos da Filarmônica Mestre Elísio foram integrados. Daniel Santos (trompete)
e Farney Gomes (flauta e pífano) substituíram, respectivamente, a mim (Flávio)
e a Roniel; e Marcelo Caldeira, percussionista, foi também admitido ao elenco.
Mais recentemente Maciel (trompete), Rui (percussão), Jadeilton (flauta/pífano)
e Clerisvaldo (violão) integram o grupo – estes dois últimos faziam parte do
Gmapinho, extensão infanto-juvenil do Armorial.
Em dezembro de 2013, gravou com o renomado artista alagoano Eliezer Setton o clip Alagoas Minha Gente, Alagoas Meu Lugar para o Governo do Estado.
Comentar sobre o Grupo Armorial, sua criação e
desenvolvimento, no contexto das atividades da Filarmônica Mestre Elísio, desde
outubro de 2009, é relevante tendo em vista que no ano de sua criação (2010) todos os integrantes, com
exceção do violonista Cícero, eram da Filarmônica Mestre Elísio. Mesmo
Egildo, que não a integrou, fez parte de toda a história da Filarmônica porque
influenciou na criação da Escola de Música Mestre Elísio, em 1989; inclusive,
enviando material didático de apoio, quando ainda residia em Recife. Não só
isso, ao mesmo tempo em que é* (junto com Bujão/Augusto José Neto, João Gilberto
Cordeiro Folha, Joãozinho Batista, Divacy Pereira, Dorinho/Isidoro Cordeiro, Zé
Norberto “Boca Rica”, Norberto Barbosa, entre outros) a história viva da Banda
de Música do mestre Elísio, no período 1958/62, nele (Egildo Vieira) toda a
tradição converge.
GMAP em Penedo/AL (2011)
*Texto originalmente escrito em julho de 2013