quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Benedito Raimundo da Silva (1859-1921)

Atualizado em 02 de abril de 2019.




Conhecido em seu tempo por Benedito Piston, Benedito Raimundo da Silva nasceu há exatos 158 anos, em 31/08/1859, na cidade de Maceió.

Músico virtuoso, foi maestro na banda da Sociedade Recreio Filarmônico Artístico e na rival Sociedade Recreio Filarmônico Minerva, entre outras, como: Euterpe Pilarense, Montepio dos Artistas, Tiro Alagoano, Escola de Aprendizes Marinheiros, Euterpe Miguelense, etc.

“Antes de 1895 já havia atingido consagração artística. Autor da música do Hino do Estado de Alagoas, além de vários outros e marchas, polcas, dobrados, mazurcas, maxixes e valsas. Autor das músicas das revistas teatrais Maceió na Rua e Maceió Moderna, de Rodrigues de Mello.” (ABC das Alagoas, 2005, vol. 2, p. 566)

Além do Hino de Alagoas (letra do poeta e jornalista Luiz Mesquita), em 1894, compôs também o Hino do IV centenário do descobrimento do Brasil (classificado em 2.º lugar em concurso realizado no Rio de Janeiro, em 1899) e o Hino do Centenário de Alagoas, em 1917.

Faleceu em Maceió, no dia 14 de maio de 1921.

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No acervo da Mestre Elísio temos do maestro Benedito Silva o Hino de Alagoasversão em Ab (lá bemol maior), datada de entre os anos 1947 e 1956, e a Marcha Fúnebre Nº 2 (cópia de 1963, classificada como marcha de procissão).


 Marcha Fúnebre Nº 2 (Benedito Silva)



Fontes:
BARROS, Francisco Reinaldo Amorim de. ABC das Alagoasdicionário biobliográfico, histórico e geográfico das Alagoas. Brasília: Senado Federal, 2005.




sábado, 19 de agosto de 2017

De Passinha e Anacleto

Nascido na cidade de Pão de Açúcar em outubro de 1908, Manoel Capitulino de Castro, vulgo Manoel Passinha, foi iniciado musicalmente pelo mestre Nozinho/Manoel Vitorino Filho (*1895+1960) que o admitiu criança como caixista na Banda da Sociedade Musical Guarany.

Aos 18 anos, ingressa na Banda de Música do 20.º BC, em Maceió, tocando clarinete. A partir daí, revela-se como multi-instrumentista, compositor, arranjador, regente, band leader, enfim, músico notável que faria história no Estado de Alagoas. 


Faleceu aos 84 anos de idade, em junho de 1993.

De maestro Passinha há no acervo da Filarmônica Mestre Elísio o pot-pourri (diz-se: “popurri”) Saudades de Maceió e o dobrado Lira da Saudade


Particularmente, conhecia mais da obra dele através do maestro Cafau que emprestara LP da Banda da Polícia Militar de Alagoas, gravado na década de 1970, com músicas e arranjos de Manoel Passinha. Não apenas dele, havia também um arranjo originalíssimo do também pão-de-açucarense Anacleto José de Souza, dos Ramos (família de ilustres músicos), feito para o sucesso de Wando à época: o samba-canção Moça.

Saudades de Maceió
ainda hoje integra nosso repertório. Aliás, é facilmente reconhecível, principalmente pelos conterrâneos residentes na capital, e sempre solicitada na principal festa da cidade, em fevereiro, também chamada pelos músicos de “nove noites”. A rigor, são 11 dias (1 tarde, 9 noites e manhã e tarde do 11.º dia). Sem contar as matinas eventuais, são 12 eventos consecutivos realizados entre a última semana de janeiro e a primeira de fevereiro.

Moça
 é mais uma das várias partituras compartilhadas via Pão de Açúcar e integrou nosso repertório no tempo em que fazíamos a transição para um estilo eclético, com MPB e música regional. Até então o que nos definia era o fato de sermos uma banda exclusivamente de dobrados, hinos cívicos, religiosos e canções marciais. 


(Áudio ilustrativo produzido no programa Sibelius com o Noteperformer integrado)


sexta-feira, 11 de agosto de 2017

O Dobrado


Dobrados — Pesquisa, restauração, arranjos e regência 

Régis Duprat e Rogério Duprat


Matéria original do site ::Acervo Origens, do Cacai Nunes, postada em 27/04/2011: 


O dobrado é um gênero musical interessantíssimo. Primeiramente, porque todo mundo acha que conhece, principalmente os músicos; mas, na realidade, o dobrado é pouquíssimo conhecido, fato constatado pelas escassas referências bibliográficas sobre o gênero. O que todos sabem é que dobrados são músicas tocadas por bandas militares. Os dobrados, portanto, têm algo a ver com a atividade militar, mesmo que isso pareça uma afirmação meio sem nexo. Mas, voltando no tempo, acharemos a lógica disso.
Desde sua origem, as tropas militares marcham, a pé ou a cavalo. Dependendo da ocasião ou da situação tática, a cadência da marcha varia; a marcação dessa cadência sempre foi feita por bombos e tambores, acompanhados por pífanos, flautins, trombetas e outros instrumentos. Ao longo do tempo, o termo marcha passou a designar, além do deslocar-se a pé ou montado, a música produzida pelo grupo que marcava a cadência.
As cadências variam conforme as situações táticas; há basicamente três cadências para os deslocamentos da infantaria: o passo de estrada, que é uma marcha lenta e pesada, utilizada em percursos longos; o passo de parada ou passo dobrado, marcha bem mais rápida, com andamento próximo ao dobro do anterior, utilizada em desfiles, continências e paradas militares; e o passo acelerado, marcha de ataque para a tomada de pontos do terreno.
As três cadências, nas tropas de cavalaria, correspondem ao passo, ao trote e ao galope. A marcação do tempo, no metrônomo, para as cadências, seria a seguinte: 68 a 76 bpm, para o passo de estrada; 112 a 124 bpm para o passo dobrado; e 160 bpm, para o passo acelerado ou galope. Com o tempo, o termo "passo dobrado", que designava o andamento das marchas rápidas, passou a designar todas as marchas das paradas, continências e desfiles.
O passo dobrado é, musical e literalmente, o passo doppio dos italianos, o paso doble dos espanhóis, o pas-redoublé dos franceses ou simplesmente a march de ingleses e alemães.
Em todos os países, as marchas militares foram incorporando características nacionais. Por exemplo, as marchas inglesas são mais rápidas do que as latinas, que são também mais rápidas do que as norte-americanas. No Brasil, sendo as marchas executadas em todo o território nacional, elas ficaram expostas às influências de vários outros gêneros brasileiros. Lentamente, então, foi se consolidando uma marcha brasileira, que recebeu a denominação genérica de dobrado.
O dobrado brasileiro foi adquirindo características próprias, que o afastaram do passo dobrado e de outras marchas europeias; desse modo, o dobrado foi se tornando a marcha brasileira.
No final do século XIX, o dobrado já possuía características melódicas, harmônicas, formais e contrapontísticas que o distinguiam de outros gêneros musicais, permitindo assim a sua inclusão no rol dos gêneros musicais genuinamente brasileiros. Os dobrados, no Brasil, são tocados não somente por bandas militares, mas por bandas de coretos com várias formações instrumentais. Essas bandas são, historicamente, uma das principais escolas de instrumentistas brasileiros, principalmente de sopro.
O disco da postagem de hoje, produzido no final da década de 1970, resultou de pesquisa realizada por Régis e Rogério Duprat, dois dos mais renomados musicólogos do Brasil; embora tenha o selo da Copacabana, o disco foi produzido por Marcus Pereira (que mais uma vez estava à frente de um trabalho realmente importante para a música brasileira).
O disco tem dobrados brasileiros típicos. Reparem que as primeiras músicas têm andamento mais acelerado. Sobre isso, o próprio Régis Duprat explica na contracapa: “o ritmo, então, torna-se mais cômodo, mais lânguido; fixa-se o seu andamento por volta de 110 passos por minuto. Poderíamos explicá-lo por seus conluios com a languidez do lundu, do tanguinho, do maxixe, e pela tropicalização generalizada que os gêneros ganharam nestes Brasis.”


sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Luiz Gonzaga da Silva [Piranhas/AL, 1919; Niterói/RJ, 2006]



Luiz Gonzaga da Silva
Radicado no Rio de Janeiro, a partir do ano de 1945, Luiz Gonzaga da Silva (*1919+2006) foi violonista, compositor, luthier e professor, com passagem pelo Conservatório de Niterói e várias outras instituições, membro da Associação Brasileira de Violões (ABV), diretor musical da Sociedade Artística e Musical do Brasil (S.A.M.B.) e membro do Conselho Regional da Ordem dos Músicos do Brasil — aliás, foi um dos primeiros professores de violão licenciados por essa instituição.

Nascido em Piranhas, Alagoas, há exatamente (09 de agosto) 98 anos, mudou-se ainda criança com os pais para a cidade de Delmiro Gouveia, onde iniciou seus estudos musicais aos 9 anos de idade. Aos 12, já tocava, além de violão, tuba e bombardino na banda de música da Companhia Agro Fabril Mercantil, do maestro João Ribeiro.

Atua musicalmente nesta região do alto sertão alagoano, além de cidades circunvizinhas na Bahia e Pernambuco até os 25 anos quando, acometido de doença “intratável” para a medicina local, vai em busca de melhoras em Aracaju e de lá para o Rio de Janeiro, onde encontrou a cura, estudos aprofundados na arte do violão, trabalho e reconhecimento por parte da comunidade violonística fluminense.


Banda de Música da Cia. Agro-Fabril Mercantil, Delmiro Gouveia/AL.

No ano de 1998, o músico Wagner Meirelles gravou pela primeira vez músicas do Luiz Gonzaga alagoano e a partir daí desenvolveu todo um trabalho de divulgação da história e obras do compositor, inclusive transformando essa pesquisa em sua tese de mestrado (2009), orientada por Turíbio Santos.

Em 2000, produziu o CD Fazendo Música, pelo selo Niterói, com 16 peças de Luiz Gonzaga da Silva, interpretadas por Célio Silveira (Choro “A” e Choro “B”), Marcos Llerena (Choramingo nº 14 e Um Falso Amor), Arthur Gouveia (Capelinha e Gingando), Sérgio Knust (Candura e Lealdade), Francisco Frias (Choramingo nº 9 e Saudade), Edgar de Oliveira (Ilda Cristina e Capricho n° 1) e Graça Alan (Colibri e Samba Sincopado). Além de produzir, Wagner ainda toca as duas primeiras faixas: Brasil-Espanha e Aprazível.




Em 2008,  a editora da Universidade Federal Fluminense (EDUFF) publicou o álbum Luiz Gonzaga da Silva — 20 peças para violão solo. O editor assim define a obra e o artista:


"Esta edição oferece 20 peças selecionadas de um acervo de mais de 500 obras, contribuindo para a difusão de um dos criadores e instrumentistas mais representativos da história musical brasileira contemporânea. Alagoano, Luiz Gonzaga escolheu o Grande Rio como foco do desenvolvimento de uma trajetória, iniciada na infância e adolescência no coração do interior do Nordeste, que exerceu fortes influências sociológicas e antropológicas, enriquecendo seu trabalho como compositor, professor e artesão".


Não obstante sua origem piranhense, identifico Luiz Gonzaga da Silva mais com a cultura musical de bandas da cidade de Delmiro Gouveia por ter ele “nascido para a música” em terras delmirenses através do maestro João Ribeiro, da banda de música da Companhia Agro-Fabril Mercantil, quando ainda muito jovem foi com a família lá residir.

Interessante notar que nas passagens em que o pesquisador Wagner Meirelles cita entrevista (p. 20) concedida, por exemplo, à AABB de Niterói, em 1994, Luiz Gonzaga da Silva refere-se à cidade natal como “antiga cidade de Piranhas, ‘hoje’ [1994] Floriano Peixoto”. Isto realmente ocorreu em 17 de outubro de 1939, através do decreto-lei federal nº 1686 que mudava o nome da cidade para Floriano Peixoto. Em 17 de setembro de 1949 pela lei nº 1473, portanto, cerca de 4 anos depois de Luiz Gonzaga da Silva trocar a cidade de Delmiro Gouveia pelo Rio de Janeiro, Floriano Peixoto voltou à antiga denominação: Piranhas. E assim permanece.

Concluindo, retransmito as palavras abalizadas de Fábio Zanon, outro grande violonista brasileiro, transcritas no livro do Wagner Meirelles Gonzaga e o Violão — Do cangaço à universidade:

"Personagens dos mais fascinantes que produziram música, enriqueceram o ambiente violonístico e alimentaram o anedotário da música carioca vieram do Nordeste; o fato não é de se estranhar, já que, na primeira metade do século XX, o Rio oferecia um mercado incomparável, não só no rádio e na noite, mas também na instrução musical e na formação de músicos. Assim, muito do sotaque inconfundível do samba, do choro e do violão-solo carioca foi mimetizado com a bagagem criativa trazida por migrantes nordestinos, como os cearenses Satyro Bilhar e José Menezes, os pernambucanos Quincas Laranjeiras e João Pernambuco, os maranhenses Turíbio Santos e João Pedro Borges, os baianos Nicanor Teixeira e Décio Arapiraca e o alagoano Luiz Gonzaga da Silva".


Por F. Ventura, agosto de 2017