sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Luiz Gonzaga da Silva [Piranhas/AL, 1919; Niterói/RJ, 2006]



Luiz Gonzaga da Silva
Radicado no Rio de Janeiro, a partir do ano de 1945, Luiz Gonzaga da Silva (*1919+2006) foi violonista, compositor, luthier e professor, com passagem pelo Conservatório de Niterói e várias outras instituições, membro da Associação Brasileira de Violões (ABV), diretor musical da Sociedade Artística e Musical do Brasil (S.A.M.B.) e membro do Conselho Regional da Ordem dos Músicos do Brasil — aliás, foi um dos primeiros professores de violão licenciados por essa instituição.

Nascido em Piranhas, Alagoas, há exatamente (09 de agosto) 98 anos, mudou-se ainda criança com os pais para a cidade de Delmiro Gouveia, onde iniciou seus estudos musicais aos 9 anos de idade. Aos 12, já tocava, além de violão, tuba e bombardino na banda de música da Companhia Agro Fabril Mercantil, do maestro João Ribeiro.

Atua musicalmente nesta região do alto sertão alagoano, além de cidades circunvizinhas na Bahia e Pernambuco até os 25 anos quando, acometido de doença “intratável” para a medicina local, vai em busca de melhoras em Aracaju e de lá para o Rio de Janeiro, onde encontrou a cura, estudos aprofundados na arte do violão, trabalho e reconhecimento por parte da comunidade violonística fluminense.


Banda de Música da Cia. Agro-Fabril Mercantil, Delmiro Gouveia/AL.

No ano de 1998, o músico Wagner Meirelles gravou pela primeira vez músicas do Luiz Gonzaga alagoano e a partir daí desenvolveu todo um trabalho de divulgação da história e obras do compositor, inclusive transformando essa pesquisa em sua tese de mestrado (2009), orientada por Turíbio Santos.

Em 2000, produziu o CD Fazendo Música, pelo selo Niterói, com 16 peças de Luiz Gonzaga da Silva, interpretadas por Célio Silveira (Choro “A” e Choro “B”), Marcos Llerena (Choramingo nº 14 e Um Falso Amor), Arthur Gouveia (Capelinha e Gingando), Sérgio Knust (Candura e Lealdade), Francisco Frias (Choramingo nº 9 e Saudade), Edgar de Oliveira (Ilda Cristina e Capricho n° 1) e Graça Alan (Colibri e Samba Sincopado). Além de produzir, Wagner ainda toca as duas primeiras faixas: Brasil-Espanha e Aprazível.




Em 2008,  a editora da Universidade Federal Fluminense (EDUFF) publicou o álbum Luiz Gonzaga da Silva — 20 peças para violão solo. O editor assim define a obra e o artista:


"Esta edição oferece 20 peças selecionadas de um acervo de mais de 500 obras, contribuindo para a difusão de um dos criadores e instrumentistas mais representativos da história musical brasileira contemporânea. Alagoano, Luiz Gonzaga escolheu o Grande Rio como foco do desenvolvimento de uma trajetória, iniciada na infância e adolescência no coração do interior do Nordeste, que exerceu fortes influências sociológicas e antropológicas, enriquecendo seu trabalho como compositor, professor e artesão".


Não obstante sua origem piranhense, identifico Luiz Gonzaga da Silva mais com a cultura musical de bandas da cidade de Delmiro Gouveia por ter ele “nascido para a música” em terras delmirenses através do maestro João Ribeiro, da banda de música da Companhia Agro-Fabril Mercantil, quando ainda muito jovem foi com a família lá residir.

Interessante notar que nas passagens em que o pesquisador Wagner Meirelles cita entrevista (p. 20) concedida, por exemplo, à AABB de Niterói, em 1994, Luiz Gonzaga da Silva refere-se à cidade natal como “antiga cidade de Piranhas, ‘hoje’ [1994] Floriano Peixoto”. Isto realmente ocorreu em 17 de outubro de 1939, através do decreto-lei federal nº 1686 que mudava o nome da cidade para Floriano Peixoto. Em 17 de setembro de 1949 pela lei nº 1473, portanto, cerca de 4 anos depois de Luiz Gonzaga da Silva trocar a cidade de Delmiro Gouveia pelo Rio de Janeiro, Floriano Peixoto voltou à antiga denominação: Piranhas. E assim permanece.

Concluindo, retransmito as palavras abalizadas de Fábio Zanon, outro grande violonista brasileiro, transcritas no livro do Wagner Meirelles Gonzaga e o Violão — Do cangaço à universidade:

"Personagens dos mais fascinantes que produziram música, enriqueceram o ambiente violonístico e alimentaram o anedotário da música carioca vieram do Nordeste; o fato não é de se estranhar, já que, na primeira metade do século XX, o Rio oferecia um mercado incomparável, não só no rádio e na noite, mas também na instrução musical e na formação de músicos. Assim, muito do sotaque inconfundível do samba, do choro e do violão-solo carioca foi mimetizado com a bagagem criativa trazida por migrantes nordestinos, como os cearenses Satyro Bilhar e José Menezes, os pernambucanos Quincas Laranjeiras e João Pernambuco, os maranhenses Turíbio Santos e João Pedro Borges, os baianos Nicanor Teixeira e Décio Arapiraca e o alagoano Luiz Gonzaga da Silva".


Por F. Ventura, agosto de 2017



9 comentários:

  1. Respostas
    1. E o melhor,no mês de seu nascimento.

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    2. Valeu, Wagner!
      Tivemos acesso à sua pesquisa através do atual secretário de cultura Jairo Oliveira e ficamos surpresos que a trajetória desse nosso conterrâneo seja tão desconhecida aqui na região.
      Resgatamos no blog a memória dos mestres músicos do passado e a história do Luiz Gonzaga alagoano não poderia ficar de fora.
      Incorporamos ao texto os arquivos musicais disponíveis na Net, assim todos que se interessarem pela história poderão, principalmente, ouvir a música do Gonzaga, maravilhosamente interpretada.
      Calhou de publicarmos o artigo na mesma semana em que ele completaria 98 anos!
      Obrigado por resgatar a história desse mestre sertanejo saído dessa região quando Piranhas ainda se chamava Floriano Peixoto!

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    3. Olá maestro,teria como ajudar junto a prefeitura de piranhas no tocante ao resgate da obra do Gonzaga para o centenário do compositor?

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  2. Orgulho de ser neta desse desse músico, desse pai ,avô maravilhoso! Te amo meu avô, NUNCA vou te esquecer! 😍

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  3. Estou recomeçando a sonhar com.a continuação da pesquisa e divulgação da obra desse magbifico ser humano...
    Se puderem.fazee contato lá da prefeitura...

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  4. É realmente uma pena,só temos mentirosos na política, fica pra próxima encarnação ou depois de 100 ou mais anos, fiz minha parte

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  5. Que pena....muita falta de responsabilidade política na região

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