sábado, 22 de outubro de 2016

Nota de agradecimento

Ontem, sexta-feira, 21 de outubro, tivemos a grata satisfação de vivenciar um concerto memorável da Filarmônica Mestre Elísio. Promovido pelo Serviço Social do Comércio (SESC/AL) que durante a semana realizou em Piranhas oficinas de capacitação e aprimoramento técnico com músicos piranhenses e de cidades circunvizinhas, o concerto de conclusão de curso entra para a história da banda municipal.

Inicialmente fomos agraciados com a apresentação do Grupo Musical Armorial de Piranhas (GMAP), criado pelo inesquecível Egildo Vieira em agosto de 2010. Três peças de autoria de Egildo foram executadas: Forró, Solo da Terra e Romance e Galope.
Após, sob a regência de nosso maestro Willamy Franciel, ouvimos o belíssimo dobrado Silvio Romero de autoria do Zé Machado.

Em seguida, o maestro Felipe Teixeira rege a filarmônica nas obras trabalhadas durante a semana: Ouro Negro (dobrado) e Estrela de Friburgo (polca) obras do grande Joaquim Naegele — solo de Jorge Trompete; Fantaisie pour  Saxophone Alto (Jules Demersseman/Arr. Josef Hastreiter) — solo de Kleber Dessoles; e, para encerrar, Suite Pernambucana de Bolso do genial José Ursicino da Silva/Duda.

Falta-nos palavra para descrever tamanha satisfação. Em vários momentos a audiência aplaudiu de pé.  Agradecemos a cada um que se dispôs a prestigiar este evento. Agradecemos especialmente ao SESC/AL na pessoa de Júlio César (analista em música) pela realização desse curso e a todos os professores envolvidos: Jose Luan Veiga (arranjo e coordenação pedagógica), Felipe Teixeira (regência), Kleber Dessoles (madeiras), Jorge Trompete (metais I), Ronald Ferreira (metais II), Antônio Falcão (percussão) e Elizaubo Wandemberguer (luteria). Agradecemos também a diretora de cultura Jaqueline Rodrigues.

Dias 17 a 19 de novembro a Filarmônica Mestre Elísio participará, no contexto das atividades do SESC, da VII Jornada Pedagógica para Músicos de Banda* realizada pela UFAL e parceiros.


Obrigado SESC, Júlio, Luan, Felipe, Kleber, Jorge, Rony, Antônio e Elizaubo; obrigado aos músicos da Mestre Elísio e solidários participantes de Delmiro Gouveia, Olho d'Água do Casado e Água Branca pelo espetacular concerto.




*Participação cancelada

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Comunicado

Comunicamos aos músicos do município e cidades circunvizinhas que nos dias 17 a 21 de outubro/16 serão  realizadas na cidade de Piranhas oficinas do Projeto Bandas de Música do Serviço Social do Comércio (SESC/AL). 

As atividades para os músicos da Filarmônica Mestre Elísio serão extensíveis aos músicos "instrumentistas de sopro e percussão" da região. Os interessados deverão preencher formulário de inscrição e fornecer cópias de RG, CPF e comprovante de residência até o dia 14/10 (8h às 12h — 14h às 16h).

Com a coordenação de Júlio César (analista em música do Sesc/AL), estes são os mestres que ministrarão as oficinas:


  • Maestro Felipe Teixeira (Regência)
  • J. Luan Veiga (Arranjo)
  • Kleber Dessoles (Madeiras: flauta, clarinete e saxofones)
  • Jorge Trompete (Metais I: trompete e trompa)
  • Rony Ferreira (Metais II: trombone, bombardino e tuba)
  • Antonio Falcão (Percussão)
  • Elizaubo Wandemberguer (Lutheria)


As atividades (teóricas, no período da manhã, e práticas, às tardes) serão realizadas na Sede da Filarmônica Mestre Elísio (Conservatório Municipal, Avenida Antônio Rodrigues Pereira s/n, Centro Histórico) e no Auditório Miguel Arcanjo de Medeiros (Esplanada do Recinto).

Concluído o curso, no dia 21 ainda haverá apresentação da filarmônica com os mestres no Centro Histórico.

Posteriormente, dias 17 a 19 de novembro na cidade de Marechal Deodoro, participaremos da VII Jornada Pedagógica para Músicos de Banda*, promovida pela Universidade Federal de Alagoas, Federação de Bandas de Música e Fanfarras/AL e SESC.

*Participação cancelada.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

GMAP (Grupo Musical Armorial de Piranhas) – Origens

Revisto e atualizado em 23/Jul/2019


Egildo Vieira e o GMAP

Maceió (2013)
Convidado para atuar como “coordenador de cultura” da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo da Cidade de Piranhas/AL no ano de 2009, Egildo Vieira, renomado músico piranhense, observou durante meses os integrantes da Filarmônica Mestre Elísio na intenção de encontrar entre eles potenciais talentos para a implantação de projetos musicais como, por exemplo, uma orquestra armorial.
Constituída essencialmente por instrumentos de corda, percussão e pífanos, essa orquestra armorial na cidade de Piranhas com músicos piranhenses seria para ele a realização de um sonho. Aliás, define sua música armorial como música nordestina com um tratamento erudito. Exemplos bem significativos deste conceito são as peças Dança da Noite, Romance e Galope e Lamento do São Francisco.
Como luthier, realizou oficinas de confecção artesanal (e iniciação musical à técnica) de pífanos em junho desse ano. Antes, como “agitador cultural”, viabilizou (com repertório próprio e os saxofones, trompetes, trombones e percussão da Filarmônica) a criação do bloco carnavalesco Cheiro de Saudade. Promovido pela Prefeitura Municipal, o Bloco Cheiro de Saudade fez vários ensaios públicos, tanto no bar A Fornalha quanto no CSEP (Clube Social e Esportivo Piranhense). A saída do Cheiro de Saudade foi no sábado de zé-pereira em 2009 e bisadas até 2012.
As oficinas de pífano, cavaquinho e pandeiro foram um sucesso. Revelaram talentos que precipitariam a criação do grupo armorial um ano e meio depois.
Trazidos para o Conservatório Municipal – inaugurado em 18 de outubro no antigo prédio da Cadeia Pública, recentemente reconstruído –, seus instrumentos exóticos logo chamaram a atenção. Ariano, Cabaixo, Violão Basso, Pirrabecaço, Marimpífano, Cano-cegonha, além de uma infinidade de pífanos de vários tamanhos e afinação despertaram a curiosidade de muitos. Todos eles da lavra de Egildo Vieira que lhes conferia versatilidade musical e valor artístico.
(...)

Na primeira semana de agosto de 2010 Egildo nos disse que a reitoria da UFAL tinha lhe convidado para se apresentar na aula inaugural do Campus Delmiro Gouveia. Sem ainda estar certo de reunir um Regional para acompanhá-lo na apresentação, pensou então mobilizar aqueles músicos iniciados nos seus instrumentos e repertório – a saber: Romário (cabaixo) e Roniel (flauta e pífano), Giso (trombone) e Flávio (trompete), a estes se uniriam dois ou três percussionistas da Filarmônica Mestre Elísio – e projetar algo, para aquele evento específico, que fosse musicalmente original, por oposição à “manjada” formação do regional popular.
Definidos os músicos, esboçou rapidamente o arranjo para a sua música Cavalo de Flecha – essencialmente percussiva – tendo o ariano, sob sua condução, como solista. A segunda música (No Balanço da Cana) logo se realizou com o duo de metais introduzindo e Egildo no violão e cantando. Na terceira (o xote Escovando Caranguejo) o duo de flautas seguia acompanhado pelo duo de metais que ora trabalhava na base harmônica, ora sucedia como solista. Para encerrar, Egildo apresentaria o marimpífano com toda a sua versatilidade percussiva e melódica; o trompete introduzia a Coco na Bahia seguido pelos pífanos em uníssono e os metais em resposta.

Compúnhamos o Grupo naquele momento: Laércio Ferreira e Ronildo Silveira (percussão), Romário Monteiro (cabaixo), Gisfle Fernando (trombone), Flávio Ventura (copista/trompete) e Paulo Roniel (flauta e pífano).
Chegado o dia do evento – segunda-feira, dia 9 de agosto – nos dirigimos a Delmiro Gouveia, alguns um tanto ansiosos por não imaginarmos como seria a recepção da plateia àquele conjunto musical sui generis. No entanto, quem nos conduzia era Egildo Vieira. Sua autoconfiança inabalável de profissional calejado contagiaria a todos nós no momento em que os acordes iniciais do Armorial soassem.
Apesar de uma contrariação momentânea – um carro bateu em nossa van numa avenida movimentada de Delmiro –, não nos atrasamos. No momento oportuno a apresentação foi iniciada e ocorreu na mais completa tranquilidade, e por ser tranquila não quer dizer que não tivesse vigor, muito pelo contrário chegou a causar frisson naqueles não iniciados na estética armorial. Ao final, a Coco na Bahia coroou o episódio; seu swing irresistível – com Egildo no marimpífano – levantou, literalmente, a plateia. 

Assim, nasceu o Grupo Musical Armorial de Piranhas (GMAP) que naquele momento foi apresentado com o nome provisório de “Tabocas e Cabaças”.
Por causa dessa apresentação inaugural, o grupo foi convidado para a solenidade na UFAL em Maceió que laureou o grande escritor Ariano Suassuna (idealizador do movimento armorial) com o título de doutor honoris causa, no dia 24 de agosto. Esse evento se deu no Museu Théo Brandão e o Conjunto (ampliado com a participação de mais um percussionista da Filarmônica, Dalvo Lima, e o violonista José Cícero da Silva) se apresentou com seu nome definitivo: GMAP. Na entrada de Ariano Suassuna, tocamos o Romance da Bela Infanta (obra de domínio público que Egildo disse lhe fora transmitida pelo próprio Ariano); entre uma e outra fala, Romance e Galope e, ao final, Coco na Bahia – obras de Egildo Vieira.
Ariano Suassuna se referiu favoravelmente a nossa apresentação, inclusive por atestar a qualidade intrínseca e o valor permanente da música que Egildo Vieira produzia, principalmente quando comparada ao sucesso “artificial” e “descartável” de certa banda famosa naqueles dias que fora objeto de estudo em artigo publicado na Folha de São Paulo. Ariano ficou perplexo ao ler o artigo. “Com que adjetivo posso me referir a Beethoven agora depois que alguém ousou chamar Chimbinha de gênio? ” – expressou-se, indignado.



Graças ao nome de Egildo Vieira, o GMAP se tornou um patrimônio da cultura piranhense, tendo se apresentado nos principais centros culturais alagoanos: Maceió, Marechal Deodoro e Penedo. Em 2011, apresentou-se na Fundação Joaquim Nabuco, em Recife. No ano seguinte, mais três músicos da Filarmônica Mestre Elísio foram integrados. Daniel Santos (trompete) e Farney Gomes (flauta e pífano) substituíram, respectivamente, a mim (Flávio) e a Roniel; e Marcelo Caldeira, percussionista, foi também admitido ao elenco. Mais recentemente Maciel (trompete), Rui (percussão), Jadeilton (flauta/pífano) e Clerisvaldo (violão) integram o grupo – estes dois últimos faziam parte do Gmapinho, extensão infanto-juvenil do Armorial. 


Em dezembro de 2013, gravou com o renomado artista alagoano Eliezer Setton o clip Alagoas Minha Gente, Alagoas Meu Lugar para o Governo do Estado.




Comentar sobre o Grupo Armorial, sua criação e desenvolvimento, no contexto das atividades da Filarmônica Mestre Elísio, desde outubro de 2009, é relevante tendo em vista que no ano de sua criação (2010) todos os integrantes, com exceção do violonista Cícero, eram da Filarmônica Mestre Elísio. Mesmo Egildo, que não a integrou, fez parte de toda a história da Filarmônica porque influenciou na criação da Escola de Música Mestre Elísio, em 1989; inclusive, enviando material didático de apoio, quando ainda residia em Recife. Não só isso, ao mesmo tempo em que é* (junto com Bujão/Augusto José Neto, João Gilberto Cordeiro Folha, Joãozinho Batista, Divacy Pereira, Dorinho/Isidoro Cordeiro, Zé Norberto “Boca Rica”, Norberto Barbosa, entre outros) a história viva da Banda de Música do mestre Elísio, no período 1958/62, nele (Egildo Vieira) toda a tradição converge.



GMAP em Penedo/AL (2011)




*Texto originalmente escrito em julho de 2013


quarta-feira, 6 de julho de 2016

Mestre Bubu

1989 à 1991


Mestre Bubu - Fevereiro de 1991
Criada em 1989, a Escola de Música Mestre Elísio desempenhou um trabalho imprescindível no sentido de constituir músicos (inclusive mobilizando os veteranos de grupos anteriores e, futuramente, aqueles provenientes de outras cidades) para a banda de música que meses mais tarde desse mesmo ano viria a estrear.
Seu primeiro maestro foi Afrânio Menezes Silva[1] (ou mestre Bubu, como era comumente conhecido).
Natural de Pão de Açúcar, cidade pródiga na produção de músicos talentosos, Bubu iniciou as aulas em maio daquele ano. A Escola de Música era no Centro Social e Esportivo Piranhense (CSEP), precisamente onde hoje (2013) se instala o Auditório Miguel Arcanjo de Medeiros. As aulas de iniciação ocorriam a partir de 8 horas e se estendiam por toda a manhã. As primeiras inscrições eram feitas no prédio da prefeitura. Setenta e oito alunos se matricularam. Em sua maioria crianças, as quais se juntaram um número expressivo de jovens (homens e mulheres já “adiantados” em idade) também animados com a novidade que se lhes foi apresentada: a formação da Banda de Música.
No tempo oportuno, quando a Escola de Música começou a revelar seus primeiros talentos, os aprendizes músicos mais adiantados estudavam dobrados, que é o tipo de música mais comum nas bandas interioranas.
A primeira apresentação da Banda foi no dia 7 de setembro daquele ano. Apesar do pouco tempo empregado para viabilizar a formação de uma banda, o compromisso firmado pelo maestro de fazer a Banda atuar ainda naquele primeiro ano era imperativo: devia-se apresentar. Para esse primeiro evento compunham a Banda: Zilvan e Jaime (clarinetas); Jorge e Zé Carlos (trompetes); Bujão (bombardino) e “Seu” Elias Balaio (trombone); estes dois últimos, remanescentes da antiga banda do mestre Elísio no período 1958/62. Além deles, se juntavam ao grupo: Zé Broinha – trompetista renomado – e Damião, trombonista instrutor de fanfarras; e os percussionistas convocados (da Fanfarra da Escola Cenecista Coronel José Rodrigues): Negão, Iara e Evaldo (caixa); mais os veteranos Tonho de Inês (bombo) e Natalício (surdo).
Após essa primeira apresentação outros talentos iniciados ou convocados por Bubu se revelaram ao longo dos meses seguintes e foram devidamente integrados à Banda.
Belo (tuba) e Robinho Teixeira (clarinete/sax-alto); Flavinho (pistom) e Cristóvão (pistom); Mô/Ivanise (trombone) e Fia/Maria José Galdino (trompa); Tilo/Maria de Fátima Capela (pistom) e sua irmã Bel/Isabel Capela Bezerra (arquivista); Karine (pistom) e Ana (surdo), ambas as filhas de Fá e Bujão; Cri (aos seis anos de idade, prodígio na caixa-tarol) irmão dos trompetistas Jorge e Zé Carlos, filhos de Elias Balaio; Pepê/Jackson da Silva (tarol), Tiquinho/Francisco Fernandes Guerra (arquivista/pratos), entre outros, vieram a fazer parte da Banda de Música Mestre Elísio (BMME) dos primeiros anos.


Fevereiro de 1991

A Banda tocava principalmente dobrados. Quando as festividades eram religiosas, ao repertório eram acrescentados hinos. Depois passou a se apresentar nas datas cívicas – emancipação política do Município no dia 3 de junho, etc. – além de outras atividades da comunidade. A principal dessas festas era a da Padroeira que se dá em fins de janeiro ao dia 2 de fevereiro quando músicos de outras cidades eram convidados para “reforçar” a Banda. Como os de Petrolândia: Miguel, Jardiel e Seu Tico (trompetistas); Etinho (trombonista); e Divacy (saxofone tenor) – natural de Piranhas e “sobrevivente” da banda do mestre Elísio, mas radicado há muito em Petrolândia; mais os já citados Brandão e Damião, naturais de Pão de Açúcar e residentes em Piranhas. Possivelmente outros músicos de Pão de Açúcar, de onde viera o maestro, sem que se possa nominá-los com segurança.
É preciso registrar que Zé Broinha (José Brandão de Souza), grande trompetista, era figura quase onipresente nas principais festas religiosas da cidade. Tocando na Igreja de Nossa Senhora da Saúde regularmente, impressionava a todos os iniciados da Banda pela expressividade altamente pessoal de seus acompanhamentos. Foi grande inspirador daquela geração. Pelo menos para os trompetistas ele era referência e modelo.
A sede da Banda foi inaugurada no dia 4 de fevereiro de 1990 na Praça Padre Cícero, no Cabrobó – parte do Centro Histórico nas imediações da Prefeitura que abrange a Rua José Nunes Araújo em direção à subida da ladeira até a entrada do Sacão* e o Alto do Cemitério, em Piranhas de Cima.
Ao longo de sua história, a BMME[2] teve várias sedes, todas provisórias, segundo a disponibilidade dos imóveis da prefeitura na sucessão de seus diversos governos, tendo encontrado sua sede definitiva no dia 18 de outubro de 2009 nas dependências do Conservatório Municipal de Música Cacilda Damasceno Freitas, recém fundado.
Do Centro Social e Esportivo Piranhense (CSEP) à Praça Padre Cícero; depois a uma das salas da Escola Estadual Manoel Porfírio de Brito, na Praça Dr. Itabira de Brito; à antiga Estação Ferroviária, onde hoje se instala a Biblioteca Pública; à casa onde abrigou a Delegacia, na Rua Tiradentes (ou Rua do Cartório); ao CSEP outra vez; numa casa entre a Oficina (Centro de Artesanatos) e o prédio do IPHAN; no segundo pavimento da Estação Ferroviária, hoje Secretaria de Cultura e Turismo; ao casarão central da Rua do Comércio; e, finalmente, 20 anos depois, no prédio da antiga Cadeia Pública, reconstruído em 2009 para abrigar o Conservatório.
...Um momento histórico para a Banda de Música Mestre Elísio sob a batuta do mestre Bubu foi uma apresentação no dia 13 de junho de 1991, ocasião em que o Presidente da República Fernando Collor de Melo viera às obras da Usina Hidrelétrica de Xingó para a solenidade oficial em que o curso do Rio São Francisco seria mudado. Nesse dia, uma missa em ação de graças foi realizada no povoado Piau, distrito de Piranhas, que contou com a presença do Presidente e autoridades diversas (federais, estaduais e municipais) na modesta – porém, não desimportante – Igreja do Senhor do Bonfim.  A imprensa cobriu intensamente esse evento, o que fez com que naquele dia os olhos do Brasil se voltassem para a Lapinha do Sertão[3]; e a BMME no máximo se contentou em ser mais uma figurante como tantos outros que figuravam naquele dia caloroso (em todos os sentidos). Por falar nisso, Bujão (Augusto José Neto) relembra que a Banda ensaiou dias a fio o Hino Nacional Brasileiro para tocar naquela cerimônia, mas, no momento oportuno, foi impedida de tocá-lo, advertida pelo cerimonial de que somente as Bandas do Exército e da Marinha poderiam fazê-lo. Contentamo-nos, assim, em tocar nosso “humilde” repertório básico.
Nesse mesmo ano (1991), em dezembro, veio a falecer o mestre Bubu (Afrânio Menezes Silva). Antes, em maio, Seu Elias Balaio tinha sido vítima de um acidente fatal de automóvel.
Após três anos de trabalho à frente da Banda de Música Mestre Elísio, Bubu se despede da vida no dia 8 de dezembro. A BMME, no dia seguinte (segunda-feira), vai ao sepultamento do seu maestro. Todos os músicos em Pão de Açúcar se solidarizam e tocam no cortejo fúnebre até o Cemitério Municipal. No momento final é tocado o dobrado Saudades de Minha Terra. Apesar da comoção, havia um clima de confraternização musical jamais visto pelos músicos da jovem Banda de Música Mestre Elísio, então com dois anos de idade. Mestre Bubu plantara uma semente musical que germinando, cresceu e deu frutos para colhê-los aquele que veio consolidar a Banda: Cícero Francisco de Brito – o Maestro Cafau.




[1] Segundo Seu Aroldo, o irmão mais velho, Bubu começou a estudar música e tocar com dez ou doze anos – entre 1946 e 1948. No início, mestre Nozinho o levava junto com outros iniciados para tocar em Belém, Caiçara e Ilha de São Pedro. Bubu era um hábil contrabaixista. Naquele tempo, os músicos de Pão de Açúcar quando vinham para a festa da padroeira em Piranhas, começavam a tocar ainda na embarcação, quando avistavam de longe os monumentos característicos da cidade: “a Igrejinha, o Mirante, a Estação” – tal como descrito pela doutora Rosiane no Hino de Piranhas. Diz-se que era a melhor banda de música do Baixo São Francisco. Conforme o testemunho de Bujão, os músicos do mestre Nozinho eram práticos em outros ofícios. Bubu e Zé Broinha, por exemplo, eram alfaiates; Cafau, sapateiro.
[2] Banda de Música Mestre Elísio.
[3] Lapinha do Sertão é o nome pelo qual a cidade de Piranhas é também conhecida. Esse  nome deve-se ao fato de a cidade estar localizada entre serras, assemelhando-se a um presépio estilizado. Alguém teria notado tal semelhança e deu o nome de “lapinha” que passou para a posteridade.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Egildo Vieira – Mestre armorial no sertão de Alagoas



O músico multi-instrumentista e compositor Egildo Vieira do Nascimento nasceu na cidade de Piranhas/AL em 20 de julho de 1947. Sua iniciação musical se deu a partir dos cinco anos de idade com o mestre Nemézio Teixeira. Mais tarde passou a integrar a banda de música do mestre Elísio José de Souza. Paralelamente, junto com os amigos e colegas conterrâneos Rosiane Rodrigues (sanfona) e João Gilberto Cordeiro Folha (trombone), criou na década de 1960 um grupo de iê-iê-iê chamado The Boys Life. Tocava clarinete e saxofone.

Em meados da década de 1960, vai concluir os estudos regulares no Colégio Diocesano de Penedo/AL e, posteriormente, no Liceu Estadual, em Maceió. No final da década, já estabelecido em Maceió, integra o grupo LSD (Luz Som Dimensão) em que também figuravam o cantor Djavan, em início de carreira, e o baterista Beto Batera (falecido em 2010); este viria nas décadas de 1970 e 80 tocar com Roberto Carlos, Moacir Franco e Waldik Soriano, entre outros. Beto é irmão mais velho do hoje renomado baterista alagoano Carlos Balla. O LSD tocava em praças, clubes, praias, palanques, até igrejas,  geralmente interpretando os Beatles.

Antes de alcançar renome nacional, Egildo Vieira integrou orquestras de baile, como a do Iate Clube Pajuçara, em Maceió. No início da década de 1970, integrando o GAPEMA (Grupo Artístico de Pesquisas Musicais de Alagoas), participa do Festival de Música de Goiânia/GO. Ariano Suassuna, que procurava um flautista para integrar seu grupo de música armorial, ao ter conhecimento de sua bem sucedida atuação através de jornal alagoano, convida-o para integrar o Quinteto Armorial.

Com o Quinteto Armorial percorreu todo o Brasil. Na época de lançamento do primeiro disco (Do Romance ao Galope Nordestino, 1974) o grupo foi recebido com entusiasmo  pelo crítico José Ramos Tinhorão em artigo do Jornal do Brasil de dezembro de 1974:
"Quantas vezes, na história de qualquer país do mundo, se conseguiu fundir em uma dúzia de peças musicais o regional no universal e o popular no erudito? A julgar pela trajetória da cultura ocidental (...) esses momentos (...) não foram muitos. Por isso mesmo, o aparecimento de um desses raros exemplos no Brasil (...) só pode ser saudado como milagre. O milagre, no caso, é representado pelas músicas do LP Quinteto Armorial -Do Romance ao Galope Nordestino (...). Ao som da viola sertaneja do compositor Antônio Madureira, da rabeca de Antônio Nóbrega, do violão de Edilson Eulálio, do pífano e flauta de Egildo Vieira e do marimbau de Fernando Torres, composições como "Revoada" e "Ponteio Acutilado" transportam numa ponte de quatro séculos a Renascença para o Nordeste, para repetir a experiência fantástica da fusão da plangente monodia do marimbau dos cegos com a polifonia do violão, esse descendente do alaúde, enquanto a viola soa cortante e metálica como um clavicórdio". (...) "A revelação musical do Quinteto Armorial vem mostrar que, das profundezas da criação popular, também se pode tirar uma cultura autenticamente nacional. Quem ouvir dirá se não estamos com a razão. Mas, pelo amor de Deus, não deixem de ouvir". [Jornal do Brasil, 10 de dezembro de 1974]
Participou dos grupos LSD, Gapema (Grupo Artístico de Pesquisas Musicais de Alagoas), Quinteto Armorial, Conjunto Pernambucano de Choro, Orquestra de Pau e Corda, Som da Terra, Ororubá, entre outros.

Graduado em música pela Universidade Federal de Pernambuco, lecionou em cursos de extensão.

Ministrou palestras e oficinas de pífano por todo o Brasil e a partir de 2009, baseado em Piranhas, pretendeu tornar a cidade referência nacional na confecção artesanal aliada à prática musical desse instrumento, desejando com isso resgatar a cultura regional dos grupos de pífano e percussão, então menos preservados em Alagoas do que já fora.

Quando integrou a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, idealizou o Conservatório Municipal Cacilda Damasceno Freitas (inaugurado em 18 de outubro de 2009) e criou o Bloco Cheiro de Saudade (2009-2012), o Grupo Musical Armorial de Piranhas (GMAP, 2010) e o Grupo Chorões de Piranhas (2010), além de uma extensão do grupo armorial para crianças chamado  Gmapinho” (2011).

Luthier renomado confeccionava seus próprios instrumentos. Sua matéria prima era composta por elementos retirados da natureza: taquaras, cabaças, quenga de coco, entre outros. Seus pífanos, frutos de anos de pesquisa, para os quais desenvolveu uma escala (tabela de digitação básica) própria, eram vendidos em todo o território nacional e também para o exterior Europa e Estados Unidos.

Em 17 de janeiro de 2014, foi homenageado pelo Governo do Estado de Alagoas que lhe conferiu a comenda Cavaleiro da Ordem do Mérito dos Palmares.

Faleceu no dia 30 de julho de 2015 na cidade de Maceió. Velório e sepultamento ocorreram na tarde do dia 31 em sua cidade natal, no sertão  de Alagoas.





 Maestro Egildo Vieira - Revista Piranhas
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terça-feira, 7 de junho de 2016

Maestro Cafau (*1938+2009)




Cícero Francisco de Brito (Maestro Cafau) era natural de Pão de Açúcar. Subtenente reformado da Polícia Militar de Sergipe, foi uma figura legendária. Comandou a Filarmônica Mestre Elísio por 16 anos e meio até ser “compulsoriamente” afastado para tratar da saúde. Ficou maestro emérito.

Em fevereiro de 1991 Cafau viera tocar carnaval com Zé Broinha e Damião. Naquela oportunidade, foi convidado a “reforçar” a Banda na festa da Padroeira. Tocou sax-tenor. Sequer podia imaginar que dez meses depois viria definitivamente para Piranhas, então como maestro.

Músico militar, Cafau fora primeiro clarinetista da Banda da Polícia Militar de Sergipe durante 30 anos. Chegou a regê-la. E, por ser militar, também fora delegado em Porto da Folha/SE e ainda maestro da Banda dessa cidade. Embora ele mesmo se subestimasse, era um excelente músico.

(...)








sexta-feira, 3 de junho de 2016

Filarmônica Mestre Elísio - 27 anos


Filarmônica Mestre Elísio



Ativa desde 1989, a Filarmônica Mestre Elísio deve seu nome à figura do eminente maestro Elísio José de Souza, pernambucano que veio a atuar no município de Piranhas/AL nos anos findos da década de 1950 e começos de 1960. Antes de sua atuação na Banda da cidade, àquela época inativa, o mestre Nemézio Teixeira já se estabelecera professor de música na região, iniciando musicalmente toda uma geração de jovens piranhenses, entre os quais, a Dr.ª Rosiane Rodrigues Cavalcanti – médica e compositora – e Egildo Vieira, renomado músico alagoano de saudosa memória.

Mestre Nemézio (falecido no ano de 1979) foi digno representante de uma linhagem notável de mestres músicos no sertão alagoano – como o mestre Nozinho/Manoel Vitorino Filho (1895-1960) em Pão de Açúcar na primeira metade do século XX ou o mestre Vieirinha (Manoel Vieira Ramos, na década de 1930 em Piranhas) ou ainda o maestro José Emiliano atuante em Piranhas e Água Branca no limiar do século.

Dos músicos iniciados ou iniciantes daquela época, integraram a banda do mestre Elísio: Bujão, Jackson, Afonsinho e Toinho seu irmão, percussionistas; Elias “Balaio” e Ezequias filho do mestre Elísio (trombones); João Gilberto (bombardino); Joãozinho Batista, Toinho “de Expedito Balaio” e Jason (trompetes); Zé Norberto “Boca Rica” (sax-alto); Dorinho, Divacy, Norberto e Egildo (clarinetas).

Bujão (Augusto José Neto) tocava pratos nessa época, estudou trompa e viria quase trinta anos depois tocar bombardino na banda reativada. Seu Elias “Balaio” também voltaria quando adulto a tocar na banda de Piranhas. Importante notar que eram todos crianças ou adolescentes na época do mestre Elísio.

Em 1989, na administração Inácio Loiola Damasceno Freitas, a banda do município é reativada à memória do maestro Elísio José de Souza, falecido em julho de 1978 na cidade de Delmiro Gouveia.

De Pão de Açúcar vieram, para tornar viável essa última formação, os dois primeiros maestros: Bubu (Afrânio Menezes Silva), de maio de 1989 a dezembro de 1991 e Cafau (Cícero Francisco de Brito), em dois períodos distintos, de janeiro de 1992 a dezembro de 1996 e, posteriormente, de agosto de 1998 a agosto de 2009. O mestre Damião Ferreira Lima, outro pão-de-açucarense distinto, instrutor de  fanfarras, dirige a banda de janeiro de 1997 a meados de 1998. A partir do afastamento de maestro Cafau, em 2009, seu filho Cicinho (maestro Cícero Campos) assume o comando até dezembro de 2013. Atualmente, a Filarmônica Mestre Elísio é capitaneada pelo maestro Leleo (Willamy Franciel dos Santos Isidoro).





terça-feira, 19 de abril de 2016

Entrega de Certificados FEBAMFAL


No dia 19 de abril deste ano recebemos a visita do ilustre presidente da Federação das Bandas de Música e Fanfarras de Alagoas (FEBAMFAL), maestro Luiz Carlos Sandes Paranhos. Na oportunidade, os músicos da Filarmônica Mestre Elísio foram homenageados com os certificados da Federação para aqueles em atividade na banda há mais de 5 anos.

O evento ocorreu a partir das 19 horas no Auditório Miguel Arcanjo de Medeiros, no Centro Histórico. Na abertura, ouvimos o GMAP (Grupo Musical Armorial de Piranhas) apresentar quatro obras de Egildo Vieira: Forró, Solo da Terra, Lamento do São Francisco e Escovando Caranguejo.




Antes da entrega dos certificados, a Mestre Elísio executou as peças Sílvio Romero (José Machado), Theme from New York, New York (John Kander/Arr. Frank Cofield), Suíte Nordestina (Duda) e Thriller (Rod Temperton/Arr. Luiz Paranhos). Nesta última, tivemos a honra de sermos regidos pelo Maestro Paranhos (arranjador da peça)  a quem agradecemos desde então e sempre  pelo esforço de reconhecer o mérito dos músicos piranhenses que atuam na Filarmônica Mestre Elísio, alguns desde o ano de sua ativação em 1989.