quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Mestre Elísio — por J. G. C. Fôlha




"Mestre Elízio"[1]
Por João Gilberto Cordeiro Fôlha[2]

    Como toda cidade interiorana e antiga, aliás uma tradição brasileira, Piranhas tinha, na década de 1960, sua bandinha de música, mantida, precariamente, pela Prefeitura Municipal.
        Em verdade, aquela tradicional bandinha, se sustentava pela abnegação de seus componentes e, dentre estes, se destacava a figura do Maestro Elízio, chamado carinhosamente por todos nós como Mestre Elízio que, com seus conhecimentos musicais, nos transmitia, com galhardia, as primeiras notas até a execução do famoso dobrado "O Guarani".
        Apesar de sua humildade, aquela figura, pela tenacidade e capacidade, impunha-nos um respeito ímpar, principalmente quando, perfilados, passávamos pelas antigas ruas de Piranhas, em qualquer solenidade, quer seja cívica, religiosa ou carnavalesca.
        Para se ter uma idéia de sua sensibilidade musical lembro-me de um episódio que comprova a minha assertiva. Face os seus poucos recursos financeiros, o Mestre Elízio, nas horas vagas, era também sapateiro. Estando ele em sua tenda, na própria sede da bandinha, pregueando o solado de um sapato, tentava eu executar o dobrado "Dois Corações, solfejando meu velho e saudoso bombardino. Durante a execução falhei, confesso, poucas vezes e estas poucas vezes foram detectadas, ao longe, pelo grande Mestre. Qualquer falha que dávamos na execução de nossas músicas era "in loco", observada por ele, até o velho bombo, sob a tutela de Afonsinho, quando não atentava para a partitura respectiva, a observação viria a seguir.
        Outras passagens interessantes poderíamos citar, mas recordo-me que, certa feita, o Mestre Elízio em uma das novenas da festa da nossa padroeira (...) não apareceu na igreja com as partituras sacras. Resolvemos, então, usando, como a gente diz vulgarmente, "de ouvido", eu, Egildo, Dorinho, Joãozinho[3] e as cantoras da igreja, capitaneadas por Cacilda[4], dar início àquela novena. Lá para as tantas, adentrava o Mestre no salão da igreja ressacado para valer e, imaginem, deu um verdadeiro "show" nos seus pupilos.
        Assim era o Mestre Elízio. Um bom pai, amigo, sapateiro de primeira linha, o grande maestro da bandinha de Piranhas.
Cursava eu o terceiro ano de Direito, na velha Faculdade de Direito de Alagoas, e, pelo fato de estar no exercício do cargo de Adjunto de Promotor, na Comarca de Piranhas, me deslocava todas as terças-feiras para ali, fazendo o percurso Maceió/Delmiro Gouveia e depois Piranhas. O percurso Maceió/ Delmiro era feito no ônibus "corujão", cognominação esta pelo seu horário, ou seja, sempre pela madrugada. Pois bem, uma dessas vezes, chegava em Delmiro às 3 horas da matina e, enquanto aguardava o transporte seguinte, ouvia, ao longe, o som perfeito de um piston que executava uma música pelo meu Mestre Elízio. Curiosamente, procurei encontrar o local de onde vinha aquele tão perfeito "acorde".
Vejam vocês me deparei, num pequeno barzinho, com a figura do meu grande Mestre que, (...) juntamente com mais dois companheiros, continuava, mesmo já no ocaso de sua existência, a mostrar o grande músico e o grande boêmio que era.
Ao sentir minha presença, não se conteve o velho Mestre. Nos abraçamos e juntos choramos. Procuramos lembrar os velhos tempos de bandinha. Sensibilizado ainda mais fiquei quando o Mestre Elízio voltou-se para os seus companheiros (...) e disse: "Vocês estão vendo o melhor músico de minha bandinha de Piranhas". E continuou: "Hoje você vai ser Doutor, mas para mim continua o menino que ensinei a tocar bombardino e trombone".
As palavras do Mestre mostravam apenas a bondade que detinha em seu coração. O respeito que tinha pelo ser humano e, acima de tudo, a postura do sertanejo, principalmente de Piranhas, que prima pela sinceridade e hospitalidade.
        Foi a última vez que nos encontramos. Veio, mais tarde, a perecer o meu velho e grande Mestre Elízio. Deus o quis levar para sua orquestra, talvez não para ser o Maestro, mas para ser um grande músico, que através de suas execuções, venha irradiar, em todos nós aqui, a paz, a felicidade e o amor.





[1] Transcrição do jornal O Cacto n.º XIV. Piranhas, fevereiro de 1985. (in: Piranhas  Retrato de uma Cidade. Rodrigues Cavalcanti, Rosiane. Maceió, Edições Catavento, 1999, p. 105.
[2] Advogado, residente em Maceió, filho de Seu Afrânio Cordeiro e dona Lili Fôlha.
[3] Egildo Vieira (1947-2015), Isidoro Cordeiro e João Batista.
[4] Cacilda Damasceno Freitas (in memoriam), tabeliã, cantora da igreja e patronesse de eventos culturais; mãe do desembargador Washington Luiz e do deputado, ex-prefeito da cidade de Piranhas e fundador da Escola de Música Mestre Elísio José de Souza, em 1989, Inácio Loiola Damasceno Freitas.


sábado, 6 de janeiro de 2018

BFME — Calendário 2018

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Apresentações fixas/ano:
  • 21/01; 24/01 a 02/02 — Festa da Padroeira Nossa Sr.ª da Saúde — Local: Igreja Matriz, Centro Histórico.
  • 25/02* — Festa de Bom Jesus dos Navegantes — Local: Distrito de Entremontes.
  • 03/06 — Emancipação Política do Município de Piranhas/AL.
  • 13/06 — Festa de Santo Antônio — Local: Piranhas de Baixo.
  • 20/07 — Festa de Pe. Cícero — Local: Cabrobó.
  • 26 a 29/07 — Seminário Sertão Cangaço — Local: Auditório Miguel Arcanjo de Medeiros, Centro Histórico.
  • 07/09 — Independência do Brasil.
  • 16/09 — Emancipação Política de Alagoas.
  • 04/10 — Festa de São Francisco — Local: Bairro Xingó.
  • 28/10* — Festa de Senhor do Bonfim — Local: Distrito de Piau.
  • 15/11 — II Encontro de Bandas [org. AMPA] — Local: Esplanada do Recinto, Centro Histórico.
  • 28/11* — Festa de Nossa Sr.ª das Graças — Local: Bairro Fazendinha.
  • 08/12 — Festa de Nossa Sr.ª da Conceição — Local: Distrito de Entremontes.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Dona Emília Queiroz, viúva de Mestre Elísio, falece aos 102 anos





Emília é de família tradicional na cidade, onde dedicou sua vida ao evangelho, sendo matriarca de uma grande família de obreiros no Estado de Alagoas e Bahia. Na Igreja Assembleia de Deus, Emília foi Professora da Escola Dominical, dirigente do Círculo de Oração e de conjuntos musicais, a anciã também era poetisa.

O corpo será velado na Igreja Assembleia de Deus (sede) na cidade de Paulo Afonso – BA. (Radar89)

Dona Emília Queiroz foi esposa de mestre Elísio José de Souza (1911-1978).

Casados desde junho de 1930, tiveram nove filhos, dois dos quais músicos: Ezequias e Everaldo (Lalau).

Mais tarde, mestre Elísio, sapateiro e reconhecido trompetista, mudou-se com a família para a cidade de Penedo, onde passou a integrar a Sociedade Musical Penedense.

Com dona Emília gravemente doente, a família muda-se de Penedo.

Reside ainda três anos em São Paulo.

Retornando a Delmiro Gouveia, mestre Elísio integra a banda de música da Companhia Agro Fabril Mercantil, inicialmente como trompetista -- após, maestro.

Em 1956, vem a família Queiroz de Souza residir na cidade de Piranhas, onde o mestre constituiu uma nova formação da banda municipal.

No final da década de 1960, retornam para Delmiro Gouveia, definitivamente.

Sobrevivendo ao mestre 39 anos, dona Emília Queiroz faleceu no último domingo, 17 de dezembro, na cidade de Paulo Afonso/BA. 


Fontes:



quarta-feira, 15 de novembro de 2017

AMPA - Tributo ao Maestro Cafau (15/11/2017)

A Associação dos Músicos de Piranhas foi criada em agosto deste ano com função, comum a toda sociedade deste tipo, de congregar os músicos da região (cantores, compositores, instrumentistas, maestros, produtores) em torno de objetivos comuns.

Preservar a memória dos vários músicos do passado que, vivendo e trabalhando na cidade de Piranhas, contribuíram significativamente para nossa cultura musical é também nossa obrigação.

Hoje, 15 de novembro, no dia do aniversário do Maestro Cafau, temos a satisfação de realizar esta homenagem, reconhecendo os relevantes serviços prestados por ele à cidade de Piranhas. Sua atuação foi fundamental para que a banda municipal se mantivesse ativa durante os 17 anos em que ele aqui viveu.

Agradecemos a todos os que se envolveram direta e indiretamente na realização deste evento. À diretoria e associados da AMPA, ao apoio institucional da Prefeitura Municipal de Piranhas e da Sociedade Filarmônica Padre Manoel Araújo (Presid. Odair José da Silva), empresários da rede hoteleira e demais comerciantes:


Pref. Maristela Sena Dias
Sec. Jairo Oliveira
Sec. Lia Barbosa
Sec. Non
Sr. Álvaro Moreira

Ver. Danilo Leite
Ver. Josimar de Maristela
Ver. Margarida de Renato 
Ver. Messias Pedrinha
Ver. Renato Rodrigues

Enfim, a todos que se sensibilizaram com esta iniciativa...

Tributo ao Maestro Cafau>

Pela compreensão e esforço em tornar viável esta homenagem agradecemos, especialmente, aos maestros Antônio Silva com a Filarmônica Padre Manoel Araújo (da cidade de Ribeirópolis, Sergipe), Petrúcio Ramos com a Orquestra Jaciobá (de Pão de Açúcar) e Willamy Franciel com a Filarmônica Mestre Elísio.

À família (filha e netos) do homenageado, ao público presente,

MUITÍSSIMO OBRIGADO!!!


quinta-feira, 9 de novembro de 2017

AMPA homenageia Maestro Cafau


No dia 15 de novembro, a Associação dos Músicos de Piranhas (AMPA), recém estabelecida, realizará seu primeiro evento na cidade.

Na Esplanada do Recinto, Centro Histórico, a partir das 19 horas, três bandas convidadas se apresentarão em tributo ao maestro Cafau/Cícero Francisco de Brito que aqui se estabeleceu no ano de 1992 para realizar o trabalho de consolidação da Banda de Música Mestre Elísio José de Souza, hoje Filarmônica Mestre Elísio, onde permaneceu até o ano de 2009.

Presidida pelo saxofonista Farney, a AMPA convidou os maestros Antônio Silva (Filarmônica Padre Manuel Araújo, Ribeirópolis/SE), Petrúcio Ramos (Orquestra Jaciobá, Pão de Açúcar), além do maestro Willamy Franciel (Filarmônica Mestre Elísio, Piranhas) para realizarem um concerto especial nessa noite.


Breve histórico das bandas:


  • Filarmônica Padre Manoel Araújo

A Filarmônica Padre Manoel Araújo, da cidade de Ribeirópolis/SE, foi fundada em janeiro de 2001. Estreou em julho do mesmo ano. Seu maestro é o músico, subtenente da reserva do Exército, Antônio Silva dos Santos  (1949), da cidade de Barra dos Coqueiros.

Tem participação ativa em vários encontros de banda no Estado de Sergipe e concursos em nível nacional. Venceu vários deles.

É atualmente gerida pela Sociedade Filarmônica Padre Manoel Araújo, criada em 2005. O presidente da associação Odair José da Silva é também o atual presidente da Federação de Fanfarras e Bandas de Sergipe.

Seu nome homenageia um padre, falecido em 2016, que teve atuação marcante na cidade durante mais de 20 anos. .



Da esquerda para a direita: Laércio (diretor musical da AMPA),
Odair (presidente da Sociedade Filarmônica Padre Manoel Araújo),
Maestro Antônio Silva, Farney (presidente da AMPA) e Romário (da comissão do evento)
(Ribeirópolis/SE, em 17/11/2017)

Sede da Filarmônica Padre Manoel Araújo
(Ribeirópolis/SE, em 17/11/2017)


Padre Manoel Araújo (in memoriam)



  • Orquestra Jaciobá

A  Orquestra Jaciobá, da cidade de Pão de Açúcar é fruto da atuação abnegada do maestro Petrúcio Ramos (1946), sub-oficial da reserva da Aeronáutica Brasileira.

Ultimamente sediada na casa do maestro, a Jaciobá sucede a Sociedade Musical Guarany, criada pelo maestro Manoel Vitorino Filho (mestre Nozinho) em 1918. Da Guarany saíram os primeiros maestros da Filarmônica Mestre Elísio (Bubu e Cafau).

Diretoria da AMPA visita Maestro Petrúcio Ramos (ao centro):
 Laércio (à esquerda), Farney (à direita), Romário (acima) e o amigo Pirré.
(Pão de Açúcar/AL, em 17/10/2017)



  • Filarmônica Mestre Elísio

Criada em fevereiro de 1989 e legalmente constituída em novembro de 2016, a Filarmônica Mestre Elísio  reverencia o maestro de origem pernambucana Elísio José de Souza (1911-1978) que atuou em Piranhas nas décadas de 1950 e 60.

Maestros da Mestre Elísio em seus 28 anos de história: Afrânio Menezes Silva Bubu (1989-91), Cícero Francisco de Brito Cafau (1992-96 e 1998-2009), Damião Ferreira Lima (1997-98), Cícero Campos de Brito (2009-13) e Willamy Franciel dos Santos Isidoro (a partir de 2014).



Maestro Cafau (in memoriam) na sede da Filarmônica Mestre Elísio à época,
antiga estação da rede ferroviária.
(Piranhas/AL, 2004)

Sede atual da Filarmônica Mestre Elísio
(Piranhas/AL, 2016)


Maestro Willamy Franciel
(Foto: Álvaro Moreira, 2014)

Maestro Cafau e Orquestra de Frevo
Da esquerda para a direita: Jorge (trombone), Farney (sax-alto), Thiago (percussão), Gilmar (sax-tenor), Ivan (percussão), Meminho (percussão), Sandrinho (trombone), Lobo (percussão), Maciel (trompete), Cristóvão (sax-alto), Jonas 
(sax-alto); atrás: Pedro (trompete), Andinho (sax-alto) e Giso (trombone).


Instagram: https://www.instagram.com/ampa2017/



sábado, 16 de setembro de 2017

Alagoas +200 Anos




Comemorando 200 anos de emancipação política, trazemos à memória alguns dos mais representativos músicos já nascidos nestas terras.

Após o hino estadual, composto em 1894 por Benedito Raimundo da Silva (Maceió, 1859-1921) com letra do poeta jornalista Luiz Mesquita (1861-1918), na bela interpretação de Eliezer Setton, veremos a seguir: Heckel Tavares (Satuba/AL, 1896 - Rio de Janeiro, 1969), Misael Domingues da Silva (Marechal Deodoro, 1857 - Recife/PE, 1932) e, republicando aqui vídeo do mês passado, Luiz Gonzaga da Silva (Piranhas/AL, 1919 - Niterói/RJ, 2006), natural da cidade de Piranhas, redescoberto por seus conterrâneos através da pesquisa do músico niteroiense Wagner Meirelles. 

Além deles, Otaviano Romero Monteiro, o Maestro Fon-Fon (Santa Luzia do Norte/AL, 1908 - Atenas, Grécia, 1951), compositor, maestro e instrumentista, e ainda Manoel Passinha (Pão de Açúcar, 1908 - Maceió, 1993), maestro, destacado compositor de dobrados, entre outros gêneros.

Por fim, bônus para o documentário Narrativas em Movimento, produzido no ano passado pela Núcleo Zero que, ao final, faz homenagem ao flautista e compositor alagoano Egildo Vieira (Piranhas, 1947 -  Maceió, 2015).

As circunstâncias da emancipação no dia 16 de setembro de 1817 podem ser verificadas em diversas fontes on-line, mas para um conhecimento mais autorizado que questiona a versão corrente de que o território de Alagoas foi desmembrado de Pernambuco como punição pela revolução de 1817, sugiro o seguinte:


"Sussuarana" (1928), primeiro grande sucesso de Heckel Tavares em parceria com o poeta, teatrólogo, 
letrista Luiz Peixoto, nas vozes de dois ícones da MPB: Maria Bethânia e Nana Caymmi.

Em 1978 (?) a pianista Sônia Maria Vieira gravou o LP "Sônia Maria Vieira Revela Misael Domingues"
{01 – Bésinha; 02 – Revelação (1:21); 03 – Gentil (07:09); 04 – Lágrimas de um anjo (9:43); 05 – Nilza (12:03);
 06 – Brazileira (15:07); 07 – Yolita (16:26); 08 – Doux Souveniirs (19:22); 09 – Polka dos Calouros (21:54); 
10 – Bellezas do Recife (24:06); 11 – Olha o urso (26:40);  12 – Saudade (28:30)}

Luiz Gonzaga da Silva interpretado por: Wagner Meirelles (Brasil-Espanha e Aprazível), Célio Silveira
(Choro “A” e Choro “B”), Marcos Llerena (Choramingo nº 14 e Um Falso Amor), Arthur Gouveia
(Capelinha e Gingando), Sérgio Knust (Candura e Lealdade), Francisco Frias (Choramingo nº 9 e Saudade),
Edgar de Oliveira (Ilda Cristina e Capricho n° 1) e Graça Alan (Colibri e Samba Sincopado).

Choro "Murmurando", de Maestro Fon-Fon, em interpretação do Choro da Manguaba

De Manoel Passinha: o dobrado "Melópeo", Lira Carlos Gomes (Estância/SE).


Bônus: Narrativas em Movimento (Piranhas, 2016)




F. Ventura, 16/09/2017


quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Benedito Raimundo da Silva (1859-1921)

Atualizado em 02 de abril de 2019.




Conhecido em seu tempo por Benedito Piston, Benedito Raimundo da Silva nasceu há exatos 158 anos, em 31/08/1859, na cidade de Maceió.

Músico virtuoso, foi maestro na banda da Sociedade Recreio Filarmônico Artístico e na rival Sociedade Recreio Filarmônico Minerva, entre outras, como: Euterpe Pilarense, Montepio dos Artistas, Tiro Alagoano, Escola de Aprendizes Marinheiros, Euterpe Miguelense, etc.

“Antes de 1895 já havia atingido consagração artística. Autor da música do Hino do Estado de Alagoas, além de vários outros e marchas, polcas, dobrados, mazurcas, maxixes e valsas. Autor das músicas das revistas teatrais Maceió na Rua e Maceió Moderna, de Rodrigues de Mello.” (ABC das Alagoas, 2005, vol. 2, p. 566)

Além do Hino de Alagoas (letra do poeta e jornalista Luiz Mesquita), em 1894, compôs também o Hino do IV centenário do descobrimento do Brasil (classificado em 2.º lugar em concurso realizado no Rio de Janeiro, em 1899) e o Hino do Centenário de Alagoas, em 1917.

Faleceu em Maceió, no dia 14 de maio de 1921.

....


No acervo da Mestre Elísio temos do maestro Benedito Silva o Hino de Alagoasversão em Ab (lá bemol maior), datada de entre os anos 1947 e 1956, e a Marcha Fúnebre Nº 2 (cópia de 1963, classificada como marcha de procissão).


 Marcha Fúnebre Nº 2 (Benedito Silva)



Fontes:
BARROS, Francisco Reinaldo Amorim de. ABC das Alagoasdicionário biobliográfico, histórico e geográfico das Alagoas. Brasília: Senado Federal, 2005.




sábado, 19 de agosto de 2017

De Passinha e Anacleto

Nascido na cidade de Pão de Açúcar em outubro de 1908, Manoel Capitulino de Castro, vulgo Manoel Passinha, foi iniciado musicalmente pelo mestre Nozinho/Manoel Vitorino Filho (*1895+1960) que o admitiu criança como caixista na Banda da Sociedade Musical Guarany.

Aos 18 anos, ingressa na Banda de Música do 20.º BC, em Maceió, tocando clarinete. A partir daí, revela-se como multi-instrumentista, compositor, arranjador, regente, band leader, enfim, músico notável que faria história no Estado de Alagoas. 


Faleceu aos 84 anos de idade, em junho de 1993.

De maestro Passinha há no acervo da Filarmônica Mestre Elísio o pot-pourri (diz-se: “popurri”) Saudades de Maceió e o dobrado Lira da Saudade


Particularmente, conhecia mais da obra dele através do maestro Cafau que emprestara LP da Banda da Polícia Militar de Alagoas, gravado na década de 1970, com músicas e arranjos de Manoel Passinha. Não apenas dele, havia também um arranjo originalíssimo do também pão-de-açucarense Anacleto José de Souza, dos Ramos (família de ilustres músicos), feito para o sucesso de Wando à época: o samba-canção Moça.

Saudades de Maceió
ainda hoje integra nosso repertório. Aliás, é facilmente reconhecível, principalmente pelos conterrâneos residentes na capital, e sempre solicitada na principal festa da cidade, em fevereiro, também chamada pelos músicos de “nove noites”. A rigor, são 11 dias (1 tarde, 9 noites e manhã e tarde do 11.º dia). Sem contar as matinas eventuais, são 12 eventos consecutivos realizados entre a última semana de janeiro e a primeira de fevereiro.

Moça
 é mais uma das várias partituras compartilhadas via Pão de Açúcar e integrou nosso repertório no tempo em que fazíamos a transição para um estilo eclético, com MPB e música regional. Até então o que nos definia era o fato de sermos uma banda exclusivamente de dobrados, hinos cívicos, religiosos e canções marciais. 


(Áudio ilustrativo produzido no programa Sibelius com o Noteperformer integrado)


sexta-feira, 11 de agosto de 2017

O Dobrado


Dobrados — Pesquisa, restauração, arranjos e regência 

Régis Duprat e Rogério Duprat


Matéria original do site ::Acervo Origens, do Cacai Nunes, postada em 27/04/2011: 


O dobrado é um gênero musical interessantíssimo. Primeiramente, porque todo mundo acha que conhece, principalmente os músicos; mas, na realidade, o dobrado é pouquíssimo conhecido, fato constatado pelas escassas referências bibliográficas sobre o gênero. O que todos sabem é que dobrados são músicas tocadas por bandas militares. Os dobrados, portanto, têm algo a ver com a atividade militar, mesmo que isso pareça uma afirmação meio sem nexo. Mas, voltando no tempo, acharemos a lógica disso.
Desde sua origem, as tropas militares marcham, a pé ou a cavalo. Dependendo da ocasião ou da situação tática, a cadência da marcha varia; a marcação dessa cadência sempre foi feita por bombos e tambores, acompanhados por pífanos, flautins, trombetas e outros instrumentos. Ao longo do tempo, o termo marcha passou a designar, além do deslocar-se a pé ou montado, a música produzida pelo grupo que marcava a cadência.
As cadências variam conforme as situações táticas; há basicamente três cadências para os deslocamentos da infantaria: o passo de estrada, que é uma marcha lenta e pesada, utilizada em percursos longos; o passo de parada ou passo dobrado, marcha bem mais rápida, com andamento próximo ao dobro do anterior, utilizada em desfiles, continências e paradas militares; e o passo acelerado, marcha de ataque para a tomada de pontos do terreno.
As três cadências, nas tropas de cavalaria, correspondem ao passo, ao trote e ao galope. A marcação do tempo, no metrônomo, para as cadências, seria a seguinte: 68 a 76 bpm, para o passo de estrada; 112 a 124 bpm para o passo dobrado; e 160 bpm, para o passo acelerado ou galope. Com o tempo, o termo "passo dobrado", que designava o andamento das marchas rápidas, passou a designar todas as marchas das paradas, continências e desfiles.
O passo dobrado é, musical e literalmente, o passo doppio dos italianos, o paso doble dos espanhóis, o pas-redoublé dos franceses ou simplesmente a march de ingleses e alemães.
Em todos os países, as marchas militares foram incorporando características nacionais. Por exemplo, as marchas inglesas são mais rápidas do que as latinas, que são também mais rápidas do que as norte-americanas. No Brasil, sendo as marchas executadas em todo o território nacional, elas ficaram expostas às influências de vários outros gêneros brasileiros. Lentamente, então, foi se consolidando uma marcha brasileira, que recebeu a denominação genérica de dobrado.
O dobrado brasileiro foi adquirindo características próprias, que o afastaram do passo dobrado e de outras marchas europeias; desse modo, o dobrado foi se tornando a marcha brasileira.
No final do século XIX, o dobrado já possuía características melódicas, harmônicas, formais e contrapontísticas que o distinguiam de outros gêneros musicais, permitindo assim a sua inclusão no rol dos gêneros musicais genuinamente brasileiros. Os dobrados, no Brasil, são tocados não somente por bandas militares, mas por bandas de coretos com várias formações instrumentais. Essas bandas são, historicamente, uma das principais escolas de instrumentistas brasileiros, principalmente de sopro.
O disco da postagem de hoje, produzido no final da década de 1970, resultou de pesquisa realizada por Régis e Rogério Duprat, dois dos mais renomados musicólogos do Brasil; embora tenha o selo da Copacabana, o disco foi produzido por Marcus Pereira (que mais uma vez estava à frente de um trabalho realmente importante para a música brasileira).
O disco tem dobrados brasileiros típicos. Reparem que as primeiras músicas têm andamento mais acelerado. Sobre isso, o próprio Régis Duprat explica na contracapa: “o ritmo, então, torna-se mais cômodo, mais lânguido; fixa-se o seu andamento por volta de 110 passos por minuto. Poderíamos explicá-lo por seus conluios com a languidez do lundu, do tanguinho, do maxixe, e pela tropicalização generalizada que os gêneros ganharam nestes Brasis.”


sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Luiz Gonzaga da Silva [Piranhas/AL, 1919; Niterói/RJ, 2006]



Luiz Gonzaga da Silva
Radicado no Rio de Janeiro, a partir do ano de 1945, Luiz Gonzaga da Silva (*1919+2006) foi violonista, compositor, luthier e professor, com passagem pelo Conservatório de Niterói e várias outras instituições, membro da Associação Brasileira de Violões (ABV), diretor musical da Sociedade Artística e Musical do Brasil (S.A.M.B.) e membro do Conselho Regional da Ordem dos Músicos do Brasil — aliás, foi um dos primeiros professores de violão licenciados por essa instituição.

Nascido em Piranhas, Alagoas, há exatamente (09 de agosto) 98 anos, mudou-se ainda criança com os pais para a cidade de Delmiro Gouveia, onde iniciou seus estudos musicais aos 9 anos de idade. Aos 12, já tocava, além de violão, tuba e bombardino na banda de música da Companhia Agro Fabril Mercantil, do maestro João Ribeiro.

Atua musicalmente nesta região do alto sertão alagoano, além de cidades circunvizinhas na Bahia e Pernambuco até os 25 anos quando, acometido de doença “intratável” para a medicina local, vai em busca de melhoras em Aracaju e de lá para o Rio de Janeiro, onde encontrou a cura, estudos aprofundados na arte do violão, trabalho e reconhecimento por parte da comunidade violonística fluminense.


Banda de Música da Cia. Agro-Fabril Mercantil, Delmiro Gouveia/AL.

No ano de 1998, o músico Wagner Meirelles gravou pela primeira vez músicas do Luiz Gonzaga alagoano e a partir daí desenvolveu todo um trabalho de divulgação da história e obras do compositor, inclusive transformando essa pesquisa em sua tese de mestrado (2009), orientada por Turíbio Santos.

Em 2000, produziu o CD Fazendo Música, pelo selo Niterói, com 16 peças de Luiz Gonzaga da Silva, interpretadas por Célio Silveira (Choro “A” e Choro “B”), Marcos Llerena (Choramingo nº 14 e Um Falso Amor), Arthur Gouveia (Capelinha e Gingando), Sérgio Knust (Candura e Lealdade), Francisco Frias (Choramingo nº 9 e Saudade), Edgar de Oliveira (Ilda Cristina e Capricho n° 1) e Graça Alan (Colibri e Samba Sincopado). Além de produzir, Wagner ainda toca as duas primeiras faixas: Brasil-Espanha e Aprazível.




Em 2008,  a editora da Universidade Federal Fluminense (EDUFF) publicou o álbum Luiz Gonzaga da Silva — 20 peças para violão solo. O editor assim define a obra e o artista:


"Esta edição oferece 20 peças selecionadas de um acervo de mais de 500 obras, contribuindo para a difusão de um dos criadores e instrumentistas mais representativos da história musical brasileira contemporânea. Alagoano, Luiz Gonzaga escolheu o Grande Rio como foco do desenvolvimento de uma trajetória, iniciada na infância e adolescência no coração do interior do Nordeste, que exerceu fortes influências sociológicas e antropológicas, enriquecendo seu trabalho como compositor, professor e artesão".


Não obstante sua origem piranhense, identifico Luiz Gonzaga da Silva mais com a cultura musical de bandas da cidade de Delmiro Gouveia por ter ele “nascido para a música” em terras delmirenses através do maestro João Ribeiro, da banda de música da Companhia Agro-Fabril Mercantil, quando ainda muito jovem foi com a família lá residir.

Interessante notar que nas passagens em que o pesquisador Wagner Meirelles cita entrevista (p. 20) concedida, por exemplo, à AABB de Niterói, em 1994, Luiz Gonzaga da Silva refere-se à cidade natal como “antiga cidade de Piranhas, ‘hoje’ [1994] Floriano Peixoto”. Isto realmente ocorreu em 17 de outubro de 1939, através do decreto-lei federal nº 1686 que mudava o nome da cidade para Floriano Peixoto. Em 17 de setembro de 1949 pela lei nº 1473, portanto, cerca de 4 anos depois de Luiz Gonzaga da Silva trocar a cidade de Delmiro Gouveia pelo Rio de Janeiro, Floriano Peixoto voltou à antiga denominação: Piranhas. E assim permanece.

Concluindo, retransmito as palavras abalizadas de Fábio Zanon, outro grande violonista brasileiro, transcritas no livro do Wagner Meirelles Gonzaga e o Violão — Do cangaço à universidade:

"Personagens dos mais fascinantes que produziram música, enriqueceram o ambiente violonístico e alimentaram o anedotário da música carioca vieram do Nordeste; o fato não é de se estranhar, já que, na primeira metade do século XX, o Rio oferecia um mercado incomparável, não só no rádio e na noite, mas também na instrução musical e na formação de músicos. Assim, muito do sotaque inconfundível do samba, do choro e do violão-solo carioca foi mimetizado com a bagagem criativa trazida por migrantes nordestinos, como os cearenses Satyro Bilhar e José Menezes, os pernambucanos Quincas Laranjeiras e João Pernambuco, os maranhenses Turíbio Santos e João Pedro Borges, os baianos Nicanor Teixeira e Décio Arapiraca e o alagoano Luiz Gonzaga da Silva".


Por F. Ventura, agosto de 2017